Atuação do enfermeiro durante o atendimento pré-hospitalar a vítimas de queimaduras

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Atuação do enfermeiro durante o atendimento pré-hospitalar a vítimas de queimaduras Patrícia Mascagni Prudente Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. Rosana Chami Gentil Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora. RESUMO Profissionais que trabalham na área da saúde, em especial os que trabalham com Atendimento Pré Hospitalar, devem ter conhecimentos para atender à vítima queimada, pois os primeiros cuidados à vítima de queimadura constituem determinante fundamental no êxito final do tratamento, contribuindo decisivamente para redução da morbidade e da mortalidade, este trabalho tem como objetivo descrever a atuação do enfermeiro no Atendimento Pré Hospitalar à paciente queimados. Trata-se de um estudo de descritivo, o qual foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica. O atendimento inicial à vítima queimada deve ser feito levando-se em consideração que também pode haver outros traumas envolvidos, o enfermeiro deve realizar o A, B, C, D e E, a avaliação secundária, dar assistência as feridas provocadas pelas queimaduras, controlar a dor e encaminhar a vítima para o hospital de destino, o mais precocemente possível. Descritores: Queimaduras; Enfermagem; Atendimento pré-hospitalar. Prudente PM. Gentil RC. Atuação do enfermeiro durante o atendimento pré-hospitlar a vítimas de queimaduras. INTRODUÇÃO As queimaduras são lesões freqüentes e mesmo quando não levam a óbito, produzem grande sofrimento físico e muitas vezes requerem tratamentos que duram meses ou mesmo anos, além disso, seqüelas físicas e psicológicas são comuns. O prognóstico e a gravidade de uma queimadura estão diretamente relacionados com a extensão da superfície corporal acometida e com a profundidade da ferida, existindo, ainda, alguns fatores que podem contribuir de maneira indireta como a idade crianças abaixo de cinco anos e adultos acima de 50 anos; o sexo indivíduos do sexo masculino apresentam maior incidência de queimaduras; a incapacidade física conseqüente a algumas patologias, tais como a obesidade, as doenças neurológicas e cardiovasculares; os problemas psiquiátricos como abuso de álcool ou de drogas, alterações comportamentais; ambientais como estresse familiar, isolamento social e fatores sócio-econômicos desfavoráveis (1). Embora as queimaduras ocorram em qualquer grupo etário, a incidência é maior em ambas as extremidades do espectro etário. Os indivíduos com menos de 2 anos e aqueles com mais de 60 tem uma mortalidade mais elevada do que os outros grupos etários com queimaduras de intensidade semelhante. Uma criança com menos de 2 anos de idade é mais sensível a infecção por causa da resposta imunológica imatura. As pessoas mais velhas podem ter processos degenerativos que complicam a recuperação e que podem ser agravados pelo estresse da queimadura. Como regra geral, as crianças com queimaduras de 10% ou mais e todos os adultos cujas lesões respondem por 12% a 15% ou mais da superfície corporal total exigirão hospitalização (1). A preocupação em prestar assistência ao paciente queimado vem de longa data. Durante a segunda guerra Mundial, devido ao grande número de pacientes queimados foi criado o primeiro centro de Tratamento de Queimados (CTQ) e, posteriormente, vários serviços dessa natureza foram implantados em todo o mundo. No Brasil, o tratamento dos pacientes queimados, até a década de quarenta, era desenvolvido por profissionais não especializados que, por sua vez, não percebiam a importância de um tratamento diferenciado na recuperação de pacientes queimados (2). 74

A assistência de enfermagem ao grande queimado é complexa, necessita de uma abrangência de conhecimentos técnicos, reciclados na proporção do avanço das pesquisas e da tecnologia, visando assim diminuir a taxa de mortalidade, o período de internação, as complicações e seqüelas físicopsicológicas, bem como promover o retorno e a reintegração do acidentado à família e à comunidade (3). O Atendimento Pré Hospitalar é aquele realizado no local do acidente por profissionais capacitados em atender situações de emergência, sendo assim, estes profissionais devem estar tecnicamente preparados para atender pacientes graves. Segundo Carvalho (4), o objetivo do atendimento préhospitalar é a ressuscitação da vítima de trauma, assegurando que a mesma tenha tratamento rápido e definitivo das múltiplas lesões, permitindo que ela se recupere totalmente e se reintegre à sua função na sociedade. Além disso todo traumatizado deve ser encaminhado para o hospital certo no tempo certo, além de que o atendimento pré hospitalar deva ser o mais curto possível, suficiente apenas para estabilização da vítima e sua remoção para o hospital que disponha de infra-estrutura capaz de fornecer o tratamento definitivo, de acordo com a gravidade das lesões. Durante o atendimento pré-hospitalar o enfermeiro participa da previsão de necessidades da vítima, definindo prioridades, iniciando intervenções necessárias, fazendo a estabilização, reavaliando o estado geral e realizando o transporte da vítima para o tratamento definitivo (5). Segundo Paiva (2), a sobrevida das vítimas de queimaduras aumentou e atualmente é possível recuperar vítimas com até 85% de superfície corporal queimada, sendo assim um tratamento inicial adequado vai abreviar e otimizar as condições que a equipe de saúde encontra para recuperar o paciente, assim como a sua melhora e o seu retorno à vida sócio econômica no mais breve período de tempo. Montar um eixo de raciocínio e um eixo de condutas visando evitar equívocos cometidos e mais comumente observados na chegada de tais pacientes em serviços especializados poderá melhorar o prognóstico de tais pacientes. Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, no Brasil acontecem um milhão de casos de queimaduras a cada ano, 200 mil são atendidos em serviços de emergência, e 40 mil demandam hospitalização. As queimaduras estão entre as principais causas externas de morte registradas no Brasil, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes de transporte e homicídios. Estudo conduzido no Distrito Federal demonstrou taxa de mortalidade de 6,2 % entre os queimados internados em hospital de emergência (6). Segundo Vale (6), partindo do pressuposto de que 90% das queimaduras poderiam ser evitadas, medidas preventivas se impõem para diminuir sua incidência e dependem de educação e legislação. As medidas educativas de prevenção consistem em orientar desde cedo asa crianças a evitar situações de risco para queimaduras no ambiente doméstico, em incluir nos currículos escolares o ensino de prevenção de acidentes, entre eles as queimaduras, além de campanhas preventivas gerais voltadas para toda população. As normas legislativas contêm basicamente as medidas compulsórias de instalação de equipamentos de prevenção de incêndio em prédios públicos e privados, assim como equipamentos de segurança no trabalho. Para a área da saúde, uma medida legal de extrema importância foi a proibição da comercialização do álcool etílico líquido (6). Profissionais que trabalham na área da saúde, em especial os que trabalham com Atendimento Pré Hospitalar, devem ter conhecimentos específicos para atender à vítima queimada, pois os primeiros cuidados adequados dispensados à vítima de queimadura constituem determinante fundamental no êxito final do tratamento, contribuindo decisivamente para redução da morbidade e da mortalidade (6). Sendo assim, qual a atuação do enfermeiro junto à equipe de saúde no atendimento pré hospitalar à vítimas de queimadura? Este trabalho busca descrever a atuação do enfermeiro no Atendimento Pré Hospitalar à paciente queimados, pois a correta abordagem inicial da vítima de queimadura é essencial para o prognóstico a curto e longo prazo. OBJETIVO Descrever a atuação do enfermeiro no atendimento préhospitalar ao paciente vítima de queimadura. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de descritivo, o qual foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica de trabalhos publicados em periódicos indexados em base de dados MEDLINE, BDENF e SciELO, no período de 1993 a 2005. Foram utilizados os seguintes descritores para a pesquisa: queimaduras, enfermagem, atendimento préhospitalar, primeiros socorros, enfermagem em emergência. Além dos artigos foram consultados livros da área de Enfermagem, Emergência e Dermatologia, além de livros obtidos na biblioteca da Universidade de São Paulo e na biblioteca da escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Foi realizada também, pesquisa junto à rede de informações Internet e selecionados textos por sua relevância. RESULTADOS E DISCUSSÃO Fisiopatologia da vítima de queimadura A pele é o mais extenso órgão do corpo humano, protegendo-o contra invasão de microorganismos, contra perdas excessivas de água e eletrólitos e contra traumas físicos. Participa da produção de hormônios e secreção de substâncias, da metabolização de vitamina D, na termoregulação e na recepção de estímulos do ambiente. A queimadura é uma lesão complexa que compromete a integridade da pele, assim, a função de todos os sistemas do corpo estará afetada e as defesas do organismo estarão limitadas, podendo prejudicar o equilíbrio corporal normal de fluidos/eletrólitos, a temperatura, o equilíbrio térmico, a função articular, a habilidade manual e aparência física da 75

vítima (7). Além das alterações locais de caráter macroscópico, dependendo da gravidade da queimadura, poderão ocorrer alterações no funcionamento dos órgãos que não foram diretamente afetados. Assim, a fisiologia dos sistemas urinário, circulatório, digestivo e respiratório poderá ser igualmente alterada (2). Classificação das queimaduras As queimaduras podem ser classificadas de acordo com sua causa, profundidade, dimensão, localização e gravidade. Segundo Oliveira (8), de acordo com as causas, as queimaduras podem ser classificadas em: - térmicas: são as queimaduras mais comuns, causadas pelo calor, podem ser causadas por gases, sólidos ou líquidos quentes. - químicas: são causadas por ácidos ou álcalis e podem ser graves; necessitam de um correto atendimento préhospitalar, pois o manejo inadequado pode agravar as lesões. - elétricas: são muitas vezes queimaduras graves, geralmente as lesões internas, no trajeto da corrente elétrica através do organismo, são extensas, enquanto as lesões das áreas de entrada e saída da corrente elétrica na superfície cutânea são pequenas. - causadas por radiação: podem ser causadas pelos raios ultravioletas (UV), pelos Raios X ou por radiações ionizantes. As dimensões e a profundidade de uma queimadura são uma função do agente que gerou a queimadura, de sua temperatura e da duração da exposição. Para proceder ao primeiro atendimento e prevenir complicações no paciente queimado é fundamental a classificação de lesão quanto à dimensão, a profundidade e a gravidade (9). Quanto à profundidade, a queimadura é classificada em graus: primeiro, segundo ou terceiro; ou conforme a profundidade da pele lesada, descrevendo as queimaduras em termo de espessura parcial ou espessura total. As queimaduras de primeiro grau envolvem exclusivamente a camada epidérmica da pele. A pele queimada fica dolorosa e avermelhada e não há formação de bolhas. Em sete dias ocorre uma cicatrização sem fibroses (9). As queimaduras de espessura parcial ou queimaduras de segundo grau, são subdivididas em superficiais e profundas. Nas queimaduras de segundo grau superficiais, são comprometidas a epiderme e parte da derme, as camadas mais profundas da derme são poupadas, da mesma forma que os folículos pilosos e as glândulas sudoríparas e sebáceas. Formam-se bolhas, sob as quais a pele fica vermelha e úmida, e as queimaduras são muito dolorosas ao toque. Caso as bolhas se rompam, a ferida permanece úmida. As feridas cicatrizam de 14 a 21 dias e podem ou não deixar uma cicatriz (9). As queimaduras profundas de segundo grau envolvem as camadas mais profundas da derme, ocorrendo lesão dos folículos pilosos e das glândulas sebáceas e sudoríparas, podem ser difíceis de diferenciar das queimaduras de terceiro grau. A pele tem um aspecto bolhoso e chamuscado, e fica hipersensível. A cicatrização demora entre 3 e 4 semanas e existe alguma cicatriz residual, relacionada à intensidade e à profundidade da lesão (1). As queimaduras de terceiro grau, ou de espessura total, envolvem toda a espessura da pele, a epiderme, a derme e até a gordura subcutânea. A pele fica chamuscada, pálida, indolor e com consistência de couro. Esse tipo de queimadura não cicatriza espontaneamente. São necessários correção cirúrgica e/ou enxertos cutâneos e permanecem cicatrizes residuais significativas (9). A American Burn Association elaborou uma classificação das queimaduras que as dividem em queimaduras de grande, moderado ou pequeno porte. As queimaduras de grande porte são definidas como aquelas de segundo grau em mais de 25% da SCT na faixa etária de 10 e 50 anos, ou mais de 20% da SCT em crianças com menos de 10 anos ou adultos com mais de 50 e queimaduras de terceiro grau que atingem mais de 10% da SCT em qualquer pessoa (9). As queimaduras moderadas são aquelas de segundo grau que atingem de 15 a 25% da SCT na faixa etária de 10 a 50 anos, de 10 a 20% da SCT em crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 50 e queimaduras de terceiro grau que atingem 10% ou menos da SCT em qualquer pessoa (9). As queimaduras de pequeno porte, que implicam tratamento ambulatorial, envolvem uma SCT de menos de 15% na faixa etária de 10 a 50 anos ou de 10% em crianças com menos de 10 anos ou adultos com mais de 50 (9). Métodos para cálculo da área queimada As dimensões de uma queimadura são quantificadas como um percentual da superfície corporal total (SCT), para esse cálculo, os métodos mais utilizados são os seguintes: - Diagrama de Lund e Browder neste método, o corpo é dividido em pequenas áreas para indicar a extensão da queimadura; a idade da vítima é analisada, visto que existe uma diferença acentuada entre o perímetro cefálico de uma criança e de um adulto, e fazer a classificação da extensão baseada na generalização dos membros pode ocasionar superestimação da região queimada, conseqüentemente, capaz de prejudicar o tratamento (2). - Regra dos nove - neste método o corpo é dividido em segmentos que correspondem, aproximadamente, a 9% da SCT ou a múltiplos de 9%. A regra dos nove faz uma aproximação das porcentagens da SCT em adultos. Nos lactentes e nas crianças, a cabeça corresponde a uma percentagem maior da SCT e as pernas, a um percentual menor (9). - Método da superfície palmar - baseia-se no fato de a região dorsal da mão do paciente corresponder a aproximadamente 1% da SCT. O percentual de SCT queimado é avaliado pela estimativa da quantidade de mãos equivalentes ao total da queimadura (9). A localização da queimadura é importante para a cicatrização e reabilitação geral, vítimas de queimaduras no rosto, olhos, orelhas, mãos, pés, ou área genital, mesmo que sejam de menor grau, exigem geralmente hospitalização e cuidados especiais, por que essas são áreas importantes onde se desejam cicatrizações rápidas, não infectadas, com fibrose 76

mínima. As queimaduras faciais podem envolver edema e apresentar problemas para os cuidados com as vias aéreas. As queimaduras do períneo são difíceis, quando não impossíveis de evitar infecção. O edema também pode ser um problema e o paciente necessita ser sondado o mais rápido possível (1). Assistência de enfermagem pré hospitalar à vítima de queimadura O desenvolvimento de um sistema de atendimento ao trauma baseou-se nas lições aprendidas durante os conflitos militares do século XX, na I e II Guerras Mundiais, nas Guerras do Vietnã e da Coréia. A experiência de guerra neste século demonstrou que a estabilização da vítima no local da ocorrência da lesão e o seu transporte rápido diminui tanto a mortalidade como a morbidade. Uma abordagem sistematizada ao tratamento dos feridos de batalha demonstrou ser altamente eficiente (5). Nos países desenvolvidos, há mais de vinte anos, existem serviços de atendimento pré-hospitalar e, no Brasil, em algumas cidades, iniciaram-se esforços para implementá-los ou ainda, para desenvolverem e aprimorarem os já existentes. Na cidade de São Paulo temos hoje dois serviços públicos de atendimento pré hospitalar que atuam no atendimento direto à vitimas de agravo a saúde, por trauma ou clínico. São estes, Sistema 192 da secretaria de saúde do Município de São Paulo e Sistema 193 da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública SAMU Resgate (5). O SAMU Resgate 193 e o sistema 192 possuem Unidades de Suporte Básico tripuladas por profissionais treinados em técnicas não invasivas de suporte a vida, e de Suporte Avançado que são compostos por médicos e enfermeiros, com equipamentos e materiais específicos, necessários para realização de procedimentos invasivos, cujo objetivo é prestar assistência a casos de maior complexidade e gravidade (5). O tipo de trabalho desenvolvido pela equipe de enfermagem no atendimento pré-hospitalar é uma prática nova para os padrões de enfermagem tradicionais. A atuação do enfermeiro no atendimento pré hospitalar à vítima queimada deverá considerar a vítima como portadora de lesões traumáticas (politraumatizada), porque freqüentemente existem lesões associadas. As prioridades no cuidado as vítimas de queimaduras seguem os mesmos princípios e prioridades que para qualquer vítima de trauma: - Segurança da equipe: A primeira preocupação da equipe deve ser com sua própria segurança, e isto se aplica a qualquer situação, mas deve ser reforçada ao se atender vítimas de queimaduras que estejam em ambientes hostis. Deve-se ter cuidados com chamas, gases tóxicos e fumaça, e para o risco de desabamento e explosões (8). - Interrupção da queimadura: é o segundo passo no atendimento à vítima e deve ser feito na seguinte seqüência: - extinguir as chamas sobre a vítima ou suas roupas; - remover a vítima do ambiente hostil; - promover o resfriamento da lesão e de fragmentos de roupas ou substâncias como o asfalto, que estejam aderidos ao corpo do queimado. Avaliação Primária e Secundária Deve se realizar o atendimento primário segundo o A, B, C, D e E, como em outros tipos de trauma e logo após realizar a avaliação secundária. A Vias Aéreas: as queimaduras que envolvem as vias aéreas são graves e podem levar à obstrução das vias aéreas superiores. - Deve-se ter em mente que uma via respiratória tem um potencial para edemaciamento rápido, mesmo que na avaliação inicial, seu estado seja aceitável. Caso a respiração não esteja adequada, o paciente deve ser intubado e ventilado (9). B Respiração: Muitos pacientes morrem como resultado de uma queimadura por que inalam os subprodutos da combustão, inalam gases tóxicos ou por estarem em ambientes com baixo nível de oxigênio por muito tempo, não pelas queimaduras propriamente ditas. Muitas vezes esses efeitos podem não se mostrar com sinais e sintomas alarmantes, logo após o trauma. O paciente deve receber uma máscara com oxigênio a 100%, na presunção de que tenha havido envenenamento por monóxido de carbono (9). Os indicadores de lesão por inalação incluem queimaduras faciais, chamuscamento de cílios e das vibrissas nasais, depósito de carbono e alterações inflamatórias agudas na orofaringe, escarro carbonado, história de confusão mental e/ou de confinamento no local do incêndio, história de explosão com queimaduras da cabeça e do tronco (8). Sempre que exista uma lesão por inalação, está indicada a transferência para um centro de queimados. Se o tempo de transporte é prolongado, a intubação deve ser realizada antes do transporte, para proteger as vias aéreas. C Circulação : o grande queimado perde fluídos através das áreas queimadas e também devido à formação de edema. Isto pode levar ao choque hipovolêmico que se desenvolve gradualmente. Quando o quadro de choque é precoce, logo após a queimadura, normalmente está associado à outras lesões e / ou hemorragias, levando à hipovolemia, e não à queimadura (8). Após estabelecer a via aérea e identificar e tratar as lesões que implicam em risco iminente de vida, o enfermeiro deve providenciar um acesso venoso com um cateter de grande calibre (no mínimo > 16G) introduzindo em uma veia periférica e iniciar a reposição de fluídos. Se a extensão não permitir a introdução do cateter através de pele íntegra, ainda assim não se deve titubear em puncionar uma veia acessível através da pele queimada. Tendo em vista a alta incidência de flebites e flebites sépticas nas veias safenas, os membros superiores são preferíveis aos inferiores para o acesso venoso (10). Qualquer fórmula de reposição volêmica fornece apenas uma estimativa da necessidade hidroeletrolítica da vítima. Ainda que existam várias fórmulas para reposição volêmica, a fórmula de Parkland serve como um bom procedimento 77

de atendimento em casos graves no ambiente pré-hospitalar, porque não depende de achados laboratoriais. Essa fórmula indica que o paciente deve receber 4 ml de fluído nas primeiras 24 horas para cada 1% de área corpórea queimada, de segundo ou terceiro grau por kilo de peso do paciente. A metade desse total deverá ser administrada nas primeiras 8 horas. Reposição de volume nas primeiras 24 horas = 4 ml x % de superfície corpórea queimada x peso (kg) (ATLS, 1997). Todos os pacientes com queimaduras superiores a 20% - 30% da SCT devem ter um cateter de demora introduzido para a medida exata do débito urinário (1). D Avaliação Neurológica: o enfermeiro deve avaliar o estado neurológico da vítima pois alterações da consciência podem ocorrer devido à hipóxia ou à intoxicação por monóxido de carbono, além é claro, de lesões associadas à queimadura. E Exposição: a vítima queimada deve ter suas roupas retiradas como qualquer outra vítima de trauma; deve-se, porém, ter cuidado porque podem estar aderidas à queimadura, neste caso devem ser retiradas apenas no hospital por profissionais habilitados. Os grandes queimados são especialmente suscetíveis à hipotermia e todo cuidado deve ser tomado para evitá-la; a vítima sempre deve ser coberta após ter suas roupas retiradas (8). Avaliação Secundária: segue a seqüência tradicional do exame da cabeça aos pés. A profundidade e extensão das queimaduras devem ser melhor avaliadas neste momento. A dor que o paciente queimado experimenta está relacionada com a gravidade da queimadura. Queimaduras de terceiro grau são indolores devido à destruição das terminações nervosas; no entanto, queimaduras de segundo grau produzem muita dor. Como queimaduras de segundo grau estão habitualmente associadas à queimaduras de terceiro grau, paciente com queimadura desse nível podem sentir dores muito fortes. Analgésicos, como a morfina ou óxido nitroso, podem ser utilizados para aliviar a dor. Morfina pode causar vasodilatação, especialmente se houver hipovolemia e nesses casos a reanimação com volume deve ser adequada. Relatase que a morfina é metabolizada mais rapidamente na presença de queimaduras e sua dose deve ser corrigida. Tanto a morfina quanto o óxido nitroso podem levar a depressão ventilatória. O Fentanil tem se tornado mais popular porque não provoca as alterações hemodinâmicas e ventilatórias da morfina. O uso de qualquer analgésico deve ser baseado nas condições gerais do paciente, não apenas pela quantidade de dor; contudo, a dor deve ser tratada de forma adequada. Assistência de Enfermagem às feridas provocadas pelas queimaduras Curativos só devem ser realizados após se completar a abordagem inicial da vítima pelo A, B, C, D e E. Os curativos tem diversas funções: diminuem a dor; diminuem o risco de contaminação; evitam a perda de calor. Deve-se cobrir a área com compressas estéreis e utilizar especialmente tecidos que não deixem resíduos na ferida. A colocação de curativos contensivos, após a avaliação da área queimada, no atendimento pré-hospitalar, poderá ser retardada, visando inclusive à avaliação por parte de especialistas no hospital de destino (8). Nas queimaduras de pequena extensão podem ser utilizados curativos úmidos com soro fisiológico frio. As queimaduras de terceiro grau não devem ser cobertas com curativos úmidos porque são, em sua maior parte, indolores (8). O uso do soro fisiológico é recomendado para evitar a contaminação da ferida, mas, na sua ausência, pode-se usar água limpa. Já nas queimaduras extensas, o uso de curativos úmidos frios pode levar à hipotermia porque a pele queimada perde a capacidade de auxiliar na regulação da temperatura corporal e a vítima fica suscetível à perda de calor; quando usados não devem cobrir mais do que 10% da superfície corporal. Quando houver hemorragia associada usam-se curativos compressivos habituais. Não se deve remover roupas firmemente aderidas nem se romper bolhas. Os curativos devem ser espessos e firmes (8). No caso de queimaduras químicas, o enfermeiro deve tomar cuidado para não se tornar uma vítima, na maioria dos casos, a diluição e a lavagem da área atingida com grande quantidade de água ou soro, é o primeiro passo do atendimento. Agentes neutralizantes não devem ser utilizados e o tempo exato de irrigação da pele não pode ser previsto, portanto a lavagem deve ser iniciada na cena e mantida até a chegada ao hospital. Se o produto químico é em pó seco, a maior parte possível deve ser escovada antes de ser lavado, para se diminuir sua concentração. Enquanto o processo de lavagem estiver em progresso, todas as roupas devem ser retiradas. Os calçados devem ser removidos precocemente para evitar acúmulo de água, que pode conter concentração do produto químico em questão (8). Nas queimaduras elétricas, a lesão é causada pela eletricidade que atravessando os tecidos, se converte em calor. As extremidades do corpo geralmente sofrem maior dano, pois têm menor diâmetro e resultam em maior fluxo de corrente. A corrente elétrica pode causar, imediatamente, arritmias cardíacas graves e parada respiratória. Ao atender a vítima deve-se primeiramente avaliar a segurança da cena, realizar o A, B, C e se necessário iniciar manobras de ressuscitação cardio pulmomar; monitorizar o paciente e transportá-lo o mais rápido possível para avaliação médica, pis é impossível dizer a extensão dos danos no atendimento pré hospitalar CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho conclui que as queimaduras são lesões freqüentes e quando não levam a óbito produzem grande sofrimento físico e requerem tratamentos que duram meses ou mesmo anos, além disso, seqüelas físicas e psicológicas são comuns. A assistência de enfermagem ao grande queimado é complexa, necessita de uma abrangência de conhecimentos técnicos, reciclados na proporção do avanço das pesquisas e da tecnologia, visando assim diminuir a taxa de mortalidade, o período de internação, as complicações e seqüelas físicopsicológicas, bem como promover o retorno e a reintegração 78

do acidentado à família e à comunidade. No atendimento pré-hospitalar o enfermeiro participa da previsão de necessidades da vítima, definindo prioridades, iniciando intervenções necessárias, fazendo a estabilização, reavaliando o estado geral e realizando o transporte da vítima para o tratamento definitivo. O atendimento pré-hospitalar, realizado pela equipe de saúde, que abrange o enfermeiro, é fundamental, pois os primeiros cuidados adequados dispensados à vítima de queimadura constituem determinante fundamental no êxito final do tratamento, contribuindo decisivamente para redução da morbidade e da mortalidade (6). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Hudak CM, Gallo BM. Cuidados Intensivos de Enfermagem uma abordagem holística. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 1997. 2 Paiva SS. Paciente queimado : o primeiro atendimento em um serviço público de emergência [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997. 3 Menezes ELM, Silva MJ. O grande queimado. In. Assistência de Enfermagem ao Paciente Gravemente Enfermo. São Paulo: Atheneu; 2003. p. 561-71. 4 Carvalho MG. Assistência de Enfermagem no atendimento Pré Hospitalar a vítimas de queimaduras. In. Atendimento Pré Hospitalar para Enfermagem Suporte Básico de Vida. São Paulo: Iatria; 2004. p. 125-35. 5 Thomaz RR, Lima FV. Atuação do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar na cidade de São Paulo. In. Acta Paul Enferm 1999. 6 Vale ECS. Primeiro atendimento em queimaduras: a abordagem do dermatologista. In. Anais Brasileiros de Dermatologia, 2005. 7 Hofen ET. Primeiros socorros para estudantes. São Paulo: Manole; 2002. 8 Oliveira ER. Queimaduras e hipotermia. In. Trauma Atendimento Pré Hospitalar. São Paulo: Atheneu; 2001. p. 229-41. 9 Tintinallu EJ. Queimaduras térmicas. In. Emergências Médicas American College of Emergency Physiciain. Rio de Janeiro: McGraw Hill; 1996. p. 893-912. 10 ATLS Suporte avançado de vida no trauma para médicos. Colégio Americano de Cirurgiões Comitê de Trauma, 1997. p. 273 287. 79