SUMÁRIO O PARASITA SOLITÁRIA OU TÊNIA É ADQUIRIDO PELO HOMEM ATRAVÉS DO CONSUMO DE CARNES CRUAS OU MAL COZIDAS... 1 1. INTRODUÇÃO... 1 2. TENÍASE HUMANA (SOLITÁRIA)... 3 2.1. COMO OS INDIVÍDUOS ADQUIREM A SOLITÁRIA... 3 2.2. A TENÍASE PROVOCA TRANSTORNOS NO INTESTINO HUMANO... 4 2.3. OS SINAIS DE INFECÇÃO COM AS TÊNIAS... 5 2.4. TRATAMENTO DA TENÍASE... 6 3. CISTICERCOSE... 7 3.1. O AGENTE CAUSADOR DA CISTICERCOSE SÃO OS OVOS DAS TÊNIAS... 8 3.2. POSSIBILIDADES DE INGESTÃO DOS OVOS DAS TÊNIAS... 9 3.3. COMO SE FORMAM AS VESÍCULAS DA CISTICERCOSE... 11 3.4. NO HOMEM A CISTICERCOSE PODE TER CONSEQÜÊNCIAS GRAVES... 12 3.5. TRATAMENTO PARA A CISTICERCOSE... 13 4. COMO EVITAR A CISTICERCOSE NO HOMEM... 14 5. IDENTIFICAÇÃO DA CISTICERCOSE NAS CARCAÇAS DE BOVINOS E SUÍNOS... 15 6. CARCAÇAS COM CISTICERCOSE PODEM SER TRATADAS... 15 7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA... 17
O PARASITA SOLITÁRIA OU TÊNIA É ADQUIRIDO PELO HOMEM ATRAVÉS DO CONSUMO DE CARNES CRUAS OU MAL COZIDAS 1 INTRODUÇÃO Gustavo José von Glehn Santos* Maria Cristina Bressan*** Aline Mori* Jean Carlo Cury Manfredini* Carla Angélica Turine** Peter Bitencourt Faria* Teníase é uma doença parasitária causada por dois tipos de parasitas: a Taenia saginata e a Taenia solium. A enfermidade pode ser encontrada em todas as partes do mundo onde a população tem o hábito de comer carne de porco ou de boi, de forma crua ou mal cozida. Dessas, a Taenia saginata acomete um número maior de pessoas, enquanto a Taenia solium não acomete judeus e islâmicos, pois esses não comem carne suína. A falta de cuidados com a higiene pessoal, o hábito de alimentação com carnes cruas ou mal cozidas e condições precárias de saneamento básico podem causar não só a teníase, que é a doença resultada da presença do parasita situado no * Alunos de graduação do Curso de Medicina Veterinária / UFLA ** Alunos de graduação do Curso de Medicina / FAMEMA / SP *** Professora do Departamento de Ciência dos Alimentos / UFLA
intestino humano, como também a cisticercose que é a forma larvária do parasita nos tecidos musculares. Indivíduos acometidos da cisticercose possuem vesículas (cisticercos) em diversos órgãos e tecidos do organismo, como por exemplo músculos e tecidos nervosos. Na forma nervosa, quando há acometimento do sistema nervoso, essa doença pode causar danos irreparáveis à saúde do homem, levando-o inclusive à morte. A incidência dessa doença é maior nos países do terceiro mundo, sendo resultante dos seguintes fatores: a) falta de saneamento básico e desconhecimento de medidas higiênico-sanitárias da população; b) manejo inadequado na criação dos animais domésticos, o que aumenta a disseminação da doença; c) ausência de inspeção sanitária em carcaças bovinas e suínas no momento do abate. O consumo de carnes não inspecionadas pelos órgãos competentes, como por exemplo a Inspeção Federal (SIF), Estadual ou Municipal, representa riscos ao consumidor. O presente trabalho destina-se a esclarecer de forma simples os meios de transmissão da teníase e cisticercose para o homem, bem como seus sintomas, medidas profiláticas e orientações para o tratamento.
2 TENÍASE HUMANA (SOLITÁRIA) As Taenias são chamadas de solitárias porque antigamente acreditava-se que este verme habitava sozinho o intestino do homem, em razão do seu grande comprimento, podendo atingir até 9 metros. Atualmente sabe-se que é comum a presença de mais de uma tênia parasitando o mesmo hospedeiro. A infecção humana pela fase adulta da tênia (o verme propriamente dito) é conhecida por teníase, causada pela Taenia solium, cujo ciclo completa-se em animais da espécie suína ou pela Taenia saginata, cujo ciclo se completa na espécie bovina. 2.1 Como os indivíduos adquirem a solitária A teníase no homem só ocorre quando este ingere carne bovina ou suína contendo cisticercos viáveis. Os bovinos e suínos se infectam quando se alimentam de pastagens, silagens ou rações contaminadas com ovos da Taenia saginata ou Taenia solium. Os hábitos relacionados com as crenças, religiões e raças podem favorecer o consumo de carne crua ou mal cozida, que se estiverem infectadas com a forma larvar (cisticerco) da Taenia
saginata, no caso de bovino, e Taenia solium, nos suínos, podem levar o homem a adquirir a teníase. No meio rural, a parasitose por solitária é uma doença que assume grande importância devido à sua alta freqüência e aos malefícios que causa à saúde. Nesse meio, as pessoas contraem e desenvolvem as tênias mais facilmente, pois estão em contato mais próximo com as formas de transmissão, difícil acesso à rede de esgoto e à infra-estrutura básica. 2.2 A teníase provoca transtornos no intestino humano O parasita na forma larvária (cisticerco) fixa-se na parede do intestino através de tentáculos localizados na região de sua cabeça, permanecendo no intestino do hospedeiro por um período de aproximadamente 3 a 4 meses, quando atinge a fase adulta. No intestino, a tênia exerce ação irritativa e traumática que resulta em ligeira reação inflamatória, tendo como conseqüência a diarréia. A tênia também pode se alojar em outras regiões no intestino, resultando em complicações como apendicite.
2.3 Os sinais de infecção com as tênias A teníase, de um modo geral, não apresenta sintomas clínicos característicos. Contudo, são freqüentes os sinais clínicos como: sangramentos intestinais, processos alérgicos, dores abdominais, diarréia alternada com períodos de constipação e alargamento do abdômen. Outros sinais apresentados por portadores de teníase são o aumento do apetite, desmaios, tonturas e mal-estar. À medida que o verme cresce dentro do intestino, ele passa a consumir o alimento que é ingerido pelo seu portador, competindo nutricionalmente com o mesmo. Isso resulta em fraqueza, perda de peso e desnutrição para o hospedeiro. A tênia, no intestino humano, ao atingir a maturidade, inicia um processo de liberação de segmentos de seu corpo contendo ovos. Esses segmentos, também chamados de proglotes, possuem coloração esbranquiçada e musculatura própria, o que permite a eles movimentação própria. A presença desses segmentos dotados de movimentos nas fezes ou na região do ânus pode ser indicadora da doença. Nesse caso, a pessoa portadora deve procurar o posto de saúde para a realização do diagnóstico e tratamento segundo orientação médica.
As pessoas com o hábito de comer carne crua ou mal passada e apresentando os sinais descritos no item anterior, devem procurar o posto de saúde para exame e diagnóstico. O exame de fezes é o caminho mais seguro para o diagnóstico definitivo. 2.4 Tratamento da teníase Atualmente, o tratamento para teníase é bastante simples. Existem vários medicamentos que podem ser usados em dose única e que apresentam resultados eficientes. Contudo, devem ser recomendados por profissional da área da saúde, após realização do exame de fezes. Os medicamentos, denominados tenicidas, possuem ação eficiente e rápida, permitindo a eliminação dos vermes nas fezes. Contudo, nem sempre ocorre a eliminação total do parasita. Nesse caso, é necessário aguardar 2 a 3 meses para observar se a pessoa reiniciou a eliminação das proglotes nas fezes. Após esse período, é possível confirmar o êxito ou não do tratamento.
3 CISTICERCOSE A cisticercose acomete o homem quando este, ao invés de comer a carne com canjiquinha, come diretamente os ovos das solitárias. Portanto, a cisticercose é uma doença causada pela ingestão direta dos ovos ou proglotes liberados pelas tênias. Após a ingestão dos ovos ou proglotes, esses vão para o intestino do homem e, logo em seguida, ganham a circulação sangüínea, migrando para tecidos especializados do corpo com altas taxas de oxigenação, como músculos, coração e sistema nervoso. Os ovos, ao atingirem sua localização final (músculos, nervos e coração), crescem por até seis meses, quando então tornam-se maduros (cisticercos) e apresentam o tamanho de aproximadamente 1,2 cm. Após esse período, os cisticercos tornam-se inviáveis, entretanto, permanecem no interior dos músculos e nervos comprimindo os tecidos e, ou órgãos adjacentes, causando o mau funcionamento dos mesmos. Quando ocorre a ingestão dos ovos da Taenia pelos animais, estes também desenvolvem a cisticercose. A presença dos cisticercos na musculatura dos animais recebe o nome popular de canjiquinha, canjica, pipoca, sagu e outros. Nos animais, a cisticercose é importante na transmissão da teníase para os seres humanos.
3.1 O agente causador da cisticercose são os ovos das tênias Os agentes causadores da cisticercose no homem são os ovos da Taenia solium. Esses ovos apresentam elevada resistência no ambiente, que é ainda maior quando estão em contato com água. No entanto, outras condições podem causar a inativação dos ovos da tênia conforme listadas a seguir: À temperatura de 60ºC, são necessários 10 minutos para a inativação dos ovos. À fervura, 5 segundos. Em pastos, nas condições naturais do campo, os ovos das Taenias podem sobreviver até 159 dias. Os processos biológicos de fermentação e putrefação não destroem facilmente os ovos. Admite-se que em digestores empregados para depuração de esgotos, os ovos sejam destruídos em 20 dias a 35º C. Os ovos resistem à ação do mertiolate e do formol comercial.
3.2 Possibilidades de ingestão dos ovos das tênias A via de transmissão de maior importância na disseminação da cisticercose ao homem é constituída pela ingestão de alimentos contaminados com os ovos maduros das tênias. A contaminação dos animais ocorre pelo pastejo em locais contaminados com fezes humanas de portadores de teníase. A criação de suínos não tecnificada ou em condições precárias de higiene permitem que o animal tenha acesso a fezes humanas contaminadas. Esses fatos evidenciam o importante papel que o homem desempenha no processo de disseminação da doença para os animais. Entretanto, quando os hábitos higiênicos são adequados, a doença não aparece. A cisticercose no homem é decorrente da ingestão dos ovos da Taenia solium que se encontram no ambiente. Estes ovos podem ser ingeridos através de alimentos e, ou água contaminados com fezes humanas contendo ovos de tênias. Outra forma de contaminação é o uso de esgoto contaminado, o qual é tratado de forma inadequada, sendo utilizado como fertilizante ou adubo na agricultura.
Os cuidados necessários para a prevenção da cisticercose em humanos inicia-se com a eliminação das possibilidades de ingestão dos ovos da Taenia que encontram-se no ambiente. Para isso, é necessário tomar as seguintes medidas: evitar beber água de lagoas ou poços próximos a redes de esgoto a céu aberto ou mesmo fossas. Toda a água consumida pela família deve ser filtrada ou mesmo fervida. todas as verduras devem ser lavadas antes das refeições com água sem contaminação. os alimentos não devem permanecer expostos ao ambiente, pois os ovos da solitária podem contaminar os alimentos através do contato com as patas de insetos como moscas e baratas. as mães devem ter o cuidado de cortar as unhas dos filhos, orientando-os para evitar o mau hábito de roer as unhas ou mesmo colocar as mãos na boca. Dessa forma podem ser eliminados os meios de transmissão da cisticercose para o homem.
3.3 Como se formam as vesículas da cisticercose A ingestão de ovos maduros, isoladamente ou em massa, é indispensável para que a infecção seja efetivada. Ao atingir o estômago e o intestino, os ovos se transformam em larvas e passam para a circulação sangüínea, que é por onde o cisticerco chega a seu local definitivo: tecidos com acentuada irrigação e oxigenação. Ao atingirem os músculos, as larvas abandonam a circulação sangüínea e imobilizam-se nas fibras musculares, onde evoluirão até completar sua forma vesicular chamada de Cysticercus. Os tecidos freqüentemente parasitados são os músculos da língua, masseteres, coração, peito e o diafragma. Os cisticercos podem ainda ser encontrados em pontos diferentes do corpo. Nesse caso, o parasita poderá localizar-se, em regiões delicadas do corpo, como câmara anterior do olho, sistema nervoso, pulmão e fígado. A visualização do cisticerco a olho nu, nos músculos, pode ser feita por volta de 10 dias após a infecção, sob a forma de vesículas esbranquiçadas, de aspecto globuloso, com diâmetro de 1 a 2 milímetros. Por volta do quadragésimo dia (6ª semana)
da infecção, a vesícula já apresenta a forma característica. Entretanto, o cisticerco estará completamente desenvolvido entre a 12ª e 15ª semanas. O consumidor deve estar atento à possível presença de cisticercos ou canjiquinha nas carnes adquiridas nos estabelecimentos comerciais. Em caso de constatação dessa contaminação, o consumidor, munido da nota fiscal e do produto, deve formalizar a reclamação ao órgão responsável pela proteção ao consumidor (PROCON Serviço de previsto pelo Código de Defesa do Consumidor criada em 1992). 3.4 No homem, a cisticercose pode ter conseqüências graves A localização do cisticerco no globo ocular pode resultar em perda da visão. Quando essa localização é cerebral, as conseqüências da cisticercose são imprevisíveis. Desses casos, alguns não manifestam nenhum sintoma por longos anos e em outros ocorrem paralisias, convulsões e disfunções nervosas, que podem levar o homem infectado à morte num período curto de tempo. O tempo de vida do cisticerco é longo. Admite-se que quando localizado em músculos estriados, degenera e calcifica-
se em 9 a 12 meses após a infecção. Entretanto, no sistema nervoso esse período pode ser aumentado para 12 a 20 meses. O quadro sintomatológico é, na maioria das vezes, inaparente. Entretanto, quando os cisticercos localizam-se em pontos diferentes dos usuais, interferindo na atividade fisiológica de algum órgão ou no caso de infecções intensas, podem ser observadas algumas manifestações como: dores de cabeça com vômitos, ataques nervosos (convulsões), delírios, desânimo e alucinações, quando os cisticercos localizam-se no cérebro; palpitações e dificuldade para respirar, quando presentes nos músculos do coração ou da respiração; e perda ou alteração da visão, quando no globo ocular. 3.5 Tratamento para a cisticercose São desconhecidas medicações eficientes e seguras para o tratamento da cisticercose. Em humanos, após diagnóstico, pode ser realizada cirurgia como forma de tratamento, devendo este procedimento ser recomendado por um médico.
4 COMO EVITAR A CISTICERCOSE NO HOMEM Como medidas preventivas, é preciso considerar vários aspectos: identificação dos portadores da tênia, através de exames de fezes ou quando houver relato de eliminação de proglotes do parasita por algum indivíduo; tratamento da teníase deve ser realizado com medicação adequada e acompanhamento para verificar o êxito no mesmo; não lançar esgotos ou dejetos nos cursos d água ou em campos de criação, sem antes garantir a fermentação prévia dos mesmos; defecar em locais apropriados como banheiro ou casinha, ambos com fossa; evitar que os animais tenham acesso a esgotos ou restos de material fecal ao ar livre; não utilizar água contaminada de esgoto para irrigação de plantações, tampouco devem ser utilizadas fezes humanas sem tratamento com o objetivo de adubar; medidas de higiene alimentar devem ser tomadas, visando a evitar ingestão de ovos de Taenia solium com alimentos, conforme descrito na página 13;
a higiene das mãos deve ser feita após as defecações; e a carne para consumo humano deve ser proveniente de estabelecimento inspecionado. 5 IDENTIFICAÇÃO DA CISTICERCOSE NAS CARCAÇAS DE BOVINOS E SUÍNOS Os músculos pesquisados na inspeção de rotina para identificação da cisticercose são os músculos da língua, do esôfago, da mandíbula (masséter) e do coração (miocárdio). Em casos de confirmação do diagnóstico, os músculos dos membros anteriores, peito, pescoço e diafragma também são inspecionados para avaliar a extensão da cisticercose na carcaça do animal. 6 CARCAÇAS COM CISTICERCOSE PODEM SER TRATADAS Uma das enfermidades de maior incidência em estabelecimentos fiscalizados pelo o Serviço de Inspeção Federal é a cisticercose. Nesses casos, as carcaças apreendidas pela inspeção são destinadas a diversos tratamentos, conforme a extensão da infestação:
a) se a carcaça é totalmente condenada, vai para a graxaria, onde o material será esterilizado e vai servir de adubo ou componente de ração animal, na forma de farinha; b) quando as carcaças são parcialmente aproveitáveis, essas são tratadas pelo: calor: aquecimento acima de 60º C, no interior da massa muscular, é eficiente na inativação do cisticerco; frio: o congelamento a -10º C por 10 dias inativa o cisticerco; e sal: a salga em salmoura saturada por 21 dias, ou 10 dias, caso a salga seja feita em temperatura de no máximo 1ºC, sem oscilação, permite o aproveitamento da carne. Essas providências, sem dúvida, resultam em um controle efetivo da cisticercose e, por conseqüência, das teníases. Entretanto, é válido reforçar que hábitos de higiene devem ser constantemente difundidos, permitindo que haja uma melhora nas condições de trabalho e de vida.
7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BROWN, H. W., Basic clinical parasitology, 4ª edição, Editora Appliton-Century-Crofts, Nova York, EUA, 1980. HUBBERT, W. T., HAGSTAD, H. V., SPANGLER, E., HINTON, M. H., HUGLES, K. L., Food safety and quality assurance, 2ª edição, pag. 158 à 159. NEVES, D. P., Parasitologia humana, 5ª edição, Livraria Atheneu, cap. 22, pag. 171 à 180, São Paulo, 1983. PESSOA, S. B., Parasitologia médica, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1967, 943 p. REY, L., Bases da parasitologia médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992, 349 p. SANTOS, W., SIQUEIRA, I. M. C., CARVALHO, L. F. R., SOUZA, R. M., SANTOS, C. M. P., Revista nacional da carne, nº 251, Editora Dipemar, pag. 28 à 29, janeiro, 1998.
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