Depressão. Manual Informativo



Documentos relacionados
DEPRESSÃO - Segundo a Classificação Internacional das Doenças (CID) 10ª revisão

O que é Distúrbio Bipolar Bipolar Disorder Source - NIMH

Prevenção em saúde mental

A seguir enumeramos algumas caracteristicas do TBH:

CONCEITO EPISÓDIO MANÍACO 03/02/2014. Episódios depressivos e maníacos. Evolução recorrente. Plena recuperação nas intercrises

DEPRESSÃO. O que você precisa saber. Fênix Associação Pró-Saúde Mental

DEPRESSÃO CONHECENDO SEU INIMIGO

22ª JORNADA DA AMINT NOVEMBRO/2008 DEPRESSÃO E TRABALHO. MARIA CRISTINA PALHARES MACHADO PSIQUIATRA MÉDICA DO TRABALHO mcris1989@hotmail.

Sumário. 1 O início do enigma: o diagnóstico e suas angústias Transtorno bipolar: a doença da instabilidade... 16

Fonte: Jornal Carreira & Sucesso - 151ª Edição

(inicia no slide 17) Bipolaridade

Transtorno de Ansiedade. Manual Informativo

Ansiedade Resumo de diretriz NHG M62 (fevereiro 2012)

PONTOS FUNDAMENTAIS QUE O MÉDICO DO TRABALHO PRECISA SABER SOBRE O TRABALHADOR COM TRANSTORNO MENTAL

PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DO TABAGISMO

Como saber que meu filho é dependente químico e o que fazer. A importância de todos os familiares no processo de recuperação.

Transtorno Bipolar. Entendendo e ajudando aqueles com mudanças as extremas de humor

A Saúde mental é componente chave de uma vida saudável.

Dependência Química: Descrição da doença e conceito

DEPRESSÃO. Tristeza vs Depressão «Será que estou deprimido?» «Depressão?! O que é?»

TRANSTORNOS ANSIOSOS. Prof. Humberto Müller Saúde Mental

EDITORIAL EDITORIAL ÍNDICE

Tratamento da dependência do uso de drogas

Transtorno Bipolar Aspectos do Diagnóstico e Tratamento. Alexandre Pereira

Transtorno Bipolar UHN. Bipolar Disorder - Portuguese. Informação para pacientes e seus familiares

Qualidade de vida no Trabalho

Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência

QUESTIONÁRIO: VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS NOME: CLASSIFIQUE EM VERDADEIRO (V) OU FALSO (F) AS SENTENÇAS ABAIXO:

Depressão Resumo de diretriz NHG M44 (junho 2012)

Trabalho voluntário na Casa Ronald McDonald

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

DEPRESSÃO NO ÂMBITO DA. Felicialle Pereira da Silva Nov. 2015

A Saúde Mental dos Trabalhadores da Saúde

TRAUMA PSÍQUICO ORIENTAÇÕES GERAIS AOS MÉDICOS NÚCLEO DE ESTUDOS E TRATAMENTO DO TRAUMA (NET TRAUMA)

Perguntas mais frequentes sobre. transtorno. bipolar do humor. Dra. Sonia Palma

Bipolaridade Curso Profissional de Técnico de Apoio Psicossocial- 2º ano Módulo nº5- Semiologia Psíquica Portefólio de Psicopatologia Ana Carrilho-

Modelo de Atenção às Condições Crônicas. Seminário II. Laboratório de Atenção às Condições Crônicas. O caso da depressão. Gustavo Pradi Adam

INVENTÁRIO DE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA (AVALIADO POR CLÍNICOS) (IDS-C)

VALÊNCIAS FÍSICAS. 2. VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO: Tempo que é requerido para ir de um ponto a outro o mais rapidamente possível.

DEPRESSÃO CONHECENDO SEU INIMIGO

EXERCÍCIO E DIABETES

Experiência com o tratamento de Dependentes Químicos

Psicoterapia e Psicofarmacologia. Como optar ou associá-las? Hewdy Lobo Ribeiro Psiquiatra Forense e Psicogeriatra AMBULIM e ProMulher IPq - USP

Fundada em Gestão Comportamental. Educação para a saúde Gestão de crise

SAUDE MENTAL DA MULHER NOS CICLOS DE VIDA

Simulação de psicoses em perícia psiquiátrica

Suplementar após s 10 anos de regulamentação

Saúde Mental do Trabalhador. Grazieli Barbier Barros Terapeuta Ocupacional Especialista em Saúde Pública e da família.

Depressão UHN. Depression - Portuguese

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Todos sabemos a importância de uma boa noite de sono. O que nem todos sabem é que alternância entre o dormir e estar acordado resulta da ação

CUIDAR DE CUIDADORES: PROGRAMA DE TREINAMENTO PARA CUIDADORES DE IDOSOS DEPENDENTES

SECRETARIA DE RESSOCIALIZAÇÃO. Programa de Alívio e Relaxamento do Estresse

Cuidados paliativos e a assistência ao luto

Pacto Europeu. para a Saúde. Conferência de alto nível da ue. Bruxelas, de junho de 2008

TEA Módulo 4 Aula 5. Tics e Síndrome de Tourette

TOC E A INTERFERÊNCIA NA VIDA SOCIAL DO PACIENTE

ABUSO DO CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS, UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA. Senhor Presidente,

PONTA DELGADA AÇORES 08 a 10 de MAIO de 2013 Emmanuel Fortes S. Cavalcanti 3º Vice Presidente CFM - Brasil

Quando o medo transborda

BOLETIM INFORMATIVO MAR/ABRIL 2013 [Edição 6]

O que você deve saber sobre

Equipe: Ronaldo Laranjeira Helena Sakiyama Maria de Fátima Rato Padin Sandro Mitsuhiro Clarice Sandi Madruga

Como tem sido seus estudos? Tem conseguido manter a disciplina necessária para assegurar o nível de aprendizado exigido?

Depressão e Espiritualidade. Roberto Lúcio Vieira de Souza Médico Psiquiatra Diretor Técnico do Hospital Espírita André Luiz (BH)

Cefaleia crónica diária

Homeopatia. Copyrights - Movimento Nacional de Valorização e Divulgação da Homeopatia mnvdh@terra.com.br 2

Opções de tratamento. Desintoxicação e acompanhamento no Posto de Saúde; Desintoxicação no Domicílio;

Esta categoria global inclui as variedades comuns de esquizofrenia, juntamente com

Comorbidades: Transtorno de AnsiedadeeDependênciaQuímica

Capítulo 50: centro de atenção psicossocial de álcool e drogas

Neurociência e Saúde Mental

FIBROMIALGIA EXERCÍCIO FÍSICO: ESSENCIAL AO TRATAMENTO. Maj. Carlos Eugenio Parolini médico do NAIS do 37 BPM

CASO CLINICO. Sexo: Masculino - Peso : 90 KIlos Altura: 1,90m

CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALEIAS (IHS 2004)

Dr. Ailton Luis da Silva. Tel: (11)

Atendimento Domiciliar

VIVER BEM OS RINS DO SEU FABRÍCIO AGENOR DOENÇAS RENAIS

1 IDENTIFICAÇÃO 2 E CAUSA O QUE É O ESTRESSE? EDITORIAL INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO EDITORIAL ÍNDICE COMBATA O ESTRESSE COMO IDENTIFICAR O ESTRESSE?

Afinal de contas, o que é ansiedade? Mas ser ansioso não é normal? Ansiedade é uma doença?

ENTREVISTA MOTIVACIONAL

Assistência Farmacêutica na Depressão

0 ponto - Não há perda de memória óbvia. Esquecimentos irregulares que não interferem com as atividades diárias

Doença de Alzheimer sob um olhar bidimensional. ABRAz Caxias do Sul-RS Coordenação: Silvana Poltronieri Lamers Fernanda Bianca Ortiz

Regulamento Institucional do Serviço de Apoio Psicopedagógico SAPP

ATIVIDADE FÍSICA ASILAR. Departamento de Psicologia e Educação Física

Avaliação. Formulação de Caso BETANIA MARQUES DUTRA. MSc. Psicologia. Esp. Neusopsicologia. Esp.Psicopedagogia. Terapeuta Cognitivo-Comportamental

Prevalência de Doença Mental Numa População com Deficiência Intelectual. Centro de Recuperação de Menores D. Manuel Trindade Salgueiro

Engenharia de Software III

HISTÓRICO HISTÓRICO. HIPÓCRATES, ac. ARETEO, dc BAILLARGER, 1854 FALRET, 1854 KRAEPELIN, 1899 LEONHARD ANGST-PERRIS, 1966 DSM-III, 1980

GUARDA NACIONAL REPUBLICANA COMANDO DA ADMINISTRAÇÃO DOS RECURSOS INTERNOS DIRECÇÃO DE RECURSOS HUMANOS CENTRO DE PSICOLOGIA E INTERVENÇÃO SOCIAL

Fundação Cardeal Cerejeira Depressão na Pessoa Idosa

LEITURA CORPORAL DO COMPORTAMENTO AGRESSIVO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

TRAUMA PSÍQUICO ORIENTAÇÕES GERAIS AOS MÉDICOS NÚCLEO DE ESTUDOS E TRATAMENTO DO TRAUMA (NET-TRAUMA)

Abuso e dependência ao álcool e outras drogas e sua relação com o suicídio

ANAMNESE PSIQUIÁTRICA

Jogos. Redes Sociais e Econômicas. Prof. André Vignatti

FALANDO ABERTAMENTE SOBRE SUICÍDIO

Transcrição:

Depressão Manual Informativo O que é? Sintomas e riscos associados Como prevenir o suicídio? Depressão e outras doenças: comorbidade Diagnóstico Tratamento: dificuldades e variantes O apoio dos familiares e amigos O trabalho da Abrata de informação e apoio

Apresentação O conteúdo deste livreto foi elaborado pela Associação de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos ABRATA, que agradece o trabalho voluntário do Dr. Teng Chei Tung, presidente do seu Conselho Científico como coordenador do grupo de colaboradores voluntários, membros do Conselho Científico e convidados, todos especialistas na área de saúde mental, Drs. : Alexandrina Meleiro, Ângela Scippa, Elisabeth Sene-Costa, Martha Helena Noal, Luis Pereira Justo, Rodrigo Silva Dias, Sônia M. Palma e Teng Chei Tung. O que é? Distinguir uma reação normal de tristeza da depressão não é uma tarefa fácil. A tristeza é um sentimento universal, natural e fisiológico, que expressa dor ou sofrimento e, ao contrário da depressão, não compromete significativamente as outras funções mentais e nem o funcionamento global do indivíduo. Trata-se de uma doença médica, como outra qualquer, e que possui critérios específicos para seu diagnóstico. Seus sintomas já foram relatados em textos bíblicos do Antigo Testamento, no qual o Rei Saul de Israel teria cometido suicídio em um dos seus episódios de depressão. Os mesmos sintomas foram descritos na Ilíada de Homero. As alterações de humor são patológicas quando são respostas exageradas de estímulos correspondentes ou fora do contexto cultural daquele indivíduo, o que acarreta, em ambos os casos, prejuízos na esfera pessoal ou ambiental, promovendo danos econômicos, morais, éticos e sociais, dentre outros. O termo depressão deriva do latim deprimire e significa pressionar para baixo. Significado esse que denota o sentido do rebaixamento do humor como um sintoma fundamental para esse diagnóstico. Segundo o texto revisado do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, 4ª edição (DSM-IV-TR), da Associação Psiquiátrica Americana, a depressão maior pode 2

manifestar-se como episódio de transtorno depressivo recorrente ou bipolar. Para se fazer o diagnóstico de um episódio de depressão maior, segundo a classificação americana, é necessário que os sintomas durem pelo menos 15 dias e apareçam na maior parte dos dias e na maior parte do tempo, sendo que um deles deve ser, obrigatoriamente, (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. Algumas outras denominações são usadas para caracterizar melhor os subtipos de depressão. Há, por exemplo, a depressão com características melancólicas, na qual predominam a perda de prazer, a falta de reatividade a estímulos habitualmente agradáveis, o despertar precoce matinal, a piora da depressão pela manhã, a culpa excessiva ou inadequada, a falta de apetite ou a perda de peso significativa; e a depressão com características atípicas, em que o portador consegue reagir positivamente a estímulos bons, com aumento de apetite e peso, fadiga, aumento do sono, sensação de peso nas pernas ou braços (paralisia de chumbo), e sentimentos excessivos de rejeição. A depressão pode ser sazonal, marcada pelo aparecimento em uma época específica do ano, outono-inverno (sazonal de inverno), primavera-verão (sazonal de verão) e pós-parto (ocorre após o parto). Ainda, com base na quantidade e qualidade dos sintomas, a depressão pode ser classificada em graus: leve, moderado ou grave. A depressão pode se manifestar com muitos sintomas físicos e ser comum na população idosa, o que, em algumas situações, pode dificultar o diagnóstico. Nesses casos, ela é conhecida como depressão mascarada. Quando a depressão se torna recorrente e o indivíduo nunca manifestara a mania ou a hipomania, ela é denominadas depressão unipolar, que caracteriza o transtorno depressivo recorrente, como descrito anteriormente. Quando o indivíduo tem episódios de depressão e também de mania, hipomania ou estado misto (quando estão presentes ao mesmo tempo sintomas de depressão e euforia), o diagnóstico passa a ser de transtorno de humor bipolar. Sintomas e riscos associados Nem todas as pessoas em depressão apresentam as mesmas manifestações, mas os sintomas mais comuns são: sensação persistente de tristeza, angústia e/ou vazio; desânimo e choro; desesperança e pessimismo; perda da capacidade de sentir prazer; inquietação, ansiedade ou irritabilidade; falta de sentido na vida; insegurança, medos e indecisões; baixa autoestima; diminuição da libido; perda ou aumento do apetite e do peso; insônia ou sonolência excessiva; dores crônicas ou sintomas físicos difusos e persistentes; preocupação com doenças; delírios e alucinações em casos graves; pensamentos sobre morte ou suicídio; plano ou tentativa de suicídio. Os principais riscos associados à depressão são: a falta de reconhecimento do quadro como doença ou, ainda, quando identificada, a dificuldade de buscar um auxílio profissional, devido aos próprios sintomas de pes- 3

simismo e desesperança, deixando a falsa impressão de que não há o que ser feito para o alívio dos sintomas, tendo como consequência o agravamento deles; a busca incessante por explicações orgânicas para o mal-estar, desencadeando uma sequência de consultas e exames complementares, muitas vezes invasivos, e que não resultam em esclarecimento diagnóstico; o inverso também ocorre, que é a busca contínua de justificativas psicológicas e de questões rotineiras para os sintomas depressivos, e a negação da possibilidade de os sintomas terem uma origem orgânica; a ideia equivocada de que o suicídio seja a única saída para o problema e o aprofundamento desses pensamentos em planos estruturados, tentativas ou mesmo no suicídio consumado. Como prevenir o suicídio? Nem todos os casos de suicídio podem ser prevenidos, entretanto a habilidade em lidar com ele faz a diferença. Quando bem abordado e tratado evita-se a fatalidade por meio de intervenções adequadas. Algumas circunstâncias sugerem maior intenção suicida e revelam o desejo da pessoa. O funcionamento mental gira em torno de três sentimentos: intolerável (não suportar), inescapável (sem saída) e interminável (sem fim). Diversos fatores podem impedir a detecção e a prevenção do suicídio: o estigma e o sigilo; a dificuldade em buscar ajuda; a falta de conhecimento e atenção sobre o suicídio por parte dos profissionais de saúde. Pensar que ideias e comportamentos suicidas não são eventos frequentes infelizmente é um engano. É uma urgência médica pelo risco de vida que o ato pode acarretar ao indivíduo. Devem-se favorecer as estratégias de enfrentamento, os fatores de proteção (religiosidade, apoio familiar, profissional e social) e contar com o auxílio de familiares, amigos e no ambiente de trabalho, aumentando a atenção para sinais de mudanças de comportamento que possam sugerir um desânimo com a vida, estimulando a pessoa suicida a procurar ajuda profissional. É necessário cuidado especial com pessoas que apresentem sinais de desespero, ansiedade extrema e agitação, pois têm maior risco iminente de suicídio. Prevenir é melhor que remediar. Depressão e outras doenças: comorbidade A depressão está associada a um aumento de risco para outras doenças, tanto mentais como clínicas (físicas). Os estudos epidemiológicos no mundo mostram que em países como o Brasil cerca 56% dos portadores de depressão apresentam outras doenças mentais, um risco de 8,1 vezes maior que a população geral. As doenças mentais e o aumento de risco em relação a população geral mais comuns associadas à depressão são os transtornos ansiosos (por exemplo: transtorno de ansiedade generalizada, pânico, fobias e transtorno obsessivo compulsivo) presentes em 38,9% (risco de 5,9 maior), seguidos de abuso de substâncias 7,5% (risco de 3,5 maior), sendo que essas comorbidades são mais comuns em portadores de depressão em portadores de menos de 50 anos. A depressão também está associada a uma maior comorbidade com doenças físicas (clínicas). Elas ocorrem em 72% dos casos. Podemos dizer que um portador deprimido tem risco 2,6 vezes maior que a população geral de apresentar alguma doença clínica. Nesse casos, os portadores deprimidos com mais de 50 anos são mais comuns. As doenças clínicas mais comuns e o aumento de risco em relação à população geral são: músculo-esqueléticas (43%; risco 2,2 vezes maior), cardiovasculares (22,4%; risco 1,4 vez maior), respiratórias (21,6%; risco 1,7 vez maior) e síndromes dolorosas (19,5%; risco de 2,2 vezes maior). Ainda se deve lembrar de que toda vez que um portador apresenta comorbidade, o 4

tratamento de ambas as doenças se torna mais difícil e, em muitos casos (especialmente os portadores de doenças cardiovasculares), o risco de morte aumenta. Apesar de frequentes como visto anterior mente, o maior desafio ainda está em se fazer o diagnóstico da depressão em doenças clínicas. Diagnóstico Na depressão, o portador sofre de rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade, além de diminuída capacidade para o prazer, interesse e concentração, e queixa de cansaço mesmo após o mínimo esforço. O sono pode estar alterado, principalmente diminuído, com acordar precoce e com sensação ter não ter sido repousante. Observamos inibição geral das funções, lentidão, pobreza da fala e dos movimentos, ombros caídos e andar com sacrifício, desleixo nos cuidados com a higiene pessoal, abandono de si próprio. A autoestima está quase sempre reduzida e, muitas vezes, com algumas ideias de culpa ou inutilidade. O humor depressivo varia pouco de dia para dia, é indiferente às circunstâncias e pode ser acompanhado pelos chamados sintomas somáticos, como a perda de interesse ou prazer, lentidão psicomotora pela manhã, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O portador deprimido apresenta grande sofrimento, e suas vivências são suportadas como um grande peso e marcadas pelo pessimismo (CID 10). A depressão pode também afetar crianças e adolescentes, comprometendo e interferindo em seu processo de desenvolvimento psicológico e social. Na maioria das crianças, os sintomas da depressão são atípicos, como, por exemplo, aumento da irritabilidade e do sono. Os diversos diagnósticos de quadros depressivos (transtorno depressivo recorrente, distimia, ciclotimia, depressão bipolar e depressão em transtorno mental orgânico) são médicos. Entretanto, outros profissionais de saúde e leigos esclarecidos podem suspeitar do diagnóstico e solicitar uma confirmação diagnóstica pelo médico de qualquer especialidade que se sinta competente ou por um médico psiquiatra. Não existem exames laboratoriais que possam dar um diagnóstico definitivo de depressão. Tratamento: dificuldades e variantes O tratamento da depressão deve ser norteado por um diagnóstico cuidadoso e que esteja sempre sujeito à reavaliação pelo psiquiatra. As depressões podem ter origens e tratamentos diferentes. Nem sempre é fácil fazer um diagnóstico preciso no início da ocorrência dos sintomas. Algumas formas de depressão surgem espontaneamente e outras são consequência de outras doenças ou do uso de diversas substâncias. Essa diferença é importante para o tratamento, pois, no primeiro caso, é necessário o uso de antidepressivos e, no segundo, pode não o ser, bastando, muitas vezes, o controle da doença de base ou a interrupção do consumo da substância, seja ela um medicamento, álcool ou uma droga de abuso. Quando a depressão ocorre sem a existência prévia de quadros de mania ou hipomania e quando não há história de bipolaridade na família, a tendência é que o tratamento seja feito primordialmente com antidepressivos, que podem ser de vários tipos. Às vezes, é necessária a administração de tranquilizantes benzodiazepínicos, no início do tratamento, quando há sintomas de ansiedade ou muita dificuldade para dormir. Se a depressão for muito grave e a pessoa perder o contato com a realidade, pode ser necessário o uso associado de um antipsicótico, durante um período limitado de tempo. Normalmente, o tratamento para um episódio depressivo, com antidepressivos, dura aproximadamente um 5

ano e, depois, o medicamento é retirado de forma gradual. Se os episódios de depressão se repetem ao longo da vida, tornando-se frequentes, mas não fazem parte do transtorno bipolar, pode ser necessário o uso contínuo de antidepressivos, para evitar ou amenizar novos episódios. A depressão que faz parte do transtorno bipolar deve ser tratada de modo diferente. O principal meio é pelo uso de um estabilizador do humor, como o lítio e o valproato de sódio, entre outros; estes devem ser usados de modo contínuo. Os antidepressivos são utilizados por períodos mais curtos, somente durante o tempo necessário para controle dos sintomas. Existem depressões que não respondem ao tratamento medicamentoso usual e são chamadas de refratárias. Para elas, podem ser tentados tratamentos alternativos, como combinações de medicamentos, eventualmente uso de certos hormônios, eletroconvulsoterapia, estimulação magnética transcraniana e várias outras modalidades. A psicoterapia é uma parte fundamental no tratamento da depressão, sendo indicada tanto para os quadros leves, em que os antidepressivos podem não ter uma indicação necessária, como nos quadros graves, junto da farmacoterapia. Existem várias linhas de psicoterapia, sendo que a linha cognitivo-comportamental e a interpessoal são as que têm mais estudos comprovando eficácia antidepressiva. O apoio dos familiares e amigos Familiares e amigos próximos precisam, primeiramente, entender o que é a depressão, ou seja, seu caráter patológico. Além disso, precisam reconhecer a gravidade de suas consequências, pelas perdas que os sintomas depressivos causam, tanto prejudicando as relações familiares, sociais e profissionais, como induzindo a um cuidado pessoal precário e ao risco de morte por suicídio. E, por fim, ajudar o portador a seguir as orientações médicas e psicológicas. Portanto, quando familiares e amigos percebem sinais de que a depressão está recomeçando, devem intervir junto ao médico ou psicólogo, para evitar o agravamento de uma recaída e a interrupção do tratamento. Durante a crise depressiva, devem-se evitar críticas e cobranças: as críticas apenas confirmam os pensamentos de falta de valor e de inutilidade que os portadores já têm; e as cobranças aumentam o estresse do portador, pois ele já não tem condições de realizar suas tarefas (já se cobra e não consegue), e a situação só piora quando ele sente a cobrança vinda dos familiares. Para estimular o portador, deve-se convidá-lo para atividades diversas, prazeirosas, porém sem cobrança excessiva, pois acaba se tornando mais uma cobrança mas não se deve deixar de convidá-lo para atividades, pois se sentirá, ao menos, amparado. Palavras de conforto e que estimulam a paciência são fundamentais, mesmo que sejam repetitivas, pois a principal mensagem é emocional, e não racional. Existem momentos em que a crise fica tão grave, que o risco de suicídio ou de autoagressão ou agressão aos outros fica evidente e, algumas vezes, a família e amigos não conseguem controlar a situação. Nesses casos, a internação hospitalar psiquiátrica pode ser necessária, mesmo contra a vontade do portador, pois este pode estar com sua capacidade de julgar a realidade afetada. A internação deve durar o mínimo de tempo possível para tirar o portador da fase crítica, de risco de suicídio ou de agressividade. Devem ser aproveitados os períodos de equilíbrio para diferenciar depressão da tristeza dos problemas rotineiros do dia a dia. Nessas fases sem depressão, deve-se estimular a ampliação contínua do conhecimento sobre a doença, para aprender a definir os sintomas iniciais, que poderiam dar dicas do início de uma recaída, e estabelecer um estilo de vida saudável, que respeite o ritmo biológico (hora certa de dormir, comer comidas saudáveis, 6

manter atividades físicas e sexuais satisfatórias, ter uma ocupação gratificante e manter a mente sempre produzindo). O trabalho da ABRATA de informação e apoio O transtorno depressivo maior, popularmente denominado depressão, é um transtorno do humor (ou do afeto) caracterizado por um ou mais episódios depressivos ao longo da vida. Ele pode afetar crianças, adultos e pessoas da terceira idade e se manifesta de forma leve, mode rada ou grave. O tratamento biológico deve estar sempre associado a tratamento psicossocial, suporte para os portadores da doença, seus familiares e amigos (nesse livreto serão fornecidas mais informações sobre o tema). Coordenada por voluntários, a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA) é uma instituição fundada em 1999 por um grupo de portadores, familiares e profissionais do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Seu objetivo é ministrar apoio psicossocial a todas as pessoas que apresentam qualquer tipo de transtorno afetivo (como, por exemplo, uma depressão), bem como a seus familiares e amigos. As atividades psicossociais atuais da ABRATA são as seguintes: atendimento telefônico e eletrônico: auxiliam o solicitante a receber apoio e esclarecimentos diversos a respeito da ABRATA e demais instituições ligadas ao suporte psicossocial; grupos de acolhimento: reuniões abertas à população, a cada 15 ou 30 dias, com o intuito de passar informações sobre a ABRATA e suas diversas atividades; grupos de autoajuda: grupos constituídos de pessoas que apresentam problemas em comum, ligados ao transtorno afetivo, cuja finalidade é trocar experiências, compartilhar vivências, buscar soluções e prestar ajuda, apoio e conforto. São dois tipos de grupos: um para os portadores da doença e outro para os familiares, ambos dirigidos por facilitadores e cofacilitadores, voluntários portadores e familiares de portadores que se especializaram na função; encontros psicoeducacionais: palestras ministradas uma vez por mês, por médico psiquiatra ou psicólogo, cujo objetivo é informar e esclarecer os presentes sobre a doença, como também auxiliar os portadores e seus familiares a uma adaptação funcional conforme a evolução do transtorno; desenvolvimento do papel de facilitador e cofacilitador: curso aberto a voluntários (portadores da doença e familiares de portadores) interessados em desenvolverem esses papéis para a direção dos grupos de autoajuda; curso aberto sobre transtornos do humor: palestras informativas de base científica, sobre os transtornos do humor, para portadores das doenças, familiares e profissionais ministradas por médico psiquiatra ou psicólogo; interatividade entre familiares e portadores: grupo vivencial mensal com portadores e familiares de portadores. 2011 Planmark Editora Ltda. - Todos os direitos reservados. www.editoraplanmark.com.br O conteúdo desta publicação é de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es) e não reflete necessariamente a posição da Planmark Editora Ltda. OS 2017 7

7005366 Agosto/2011 Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos www.abrata.org.br - contato@abrata.org.br Rua Borges Lagoa, 74, cj 2. S. Paulo - SP Fone: 11 3256-4831 (seg./sex. 13:30 às 17:00h) ATIVIDADES: Informação & formação: Atendimento telefônico e eletrônico Curso Aberto sobre Transtornos do Humor Encontros Psicoeducacionais Grupos de Acolhimento Palestras em empresas e escolas parcerias Workshop para cuidadores Apoio: Grupos de Auto Ajuda ou apoio mútuo de familiares e de portadores Interatividade entre familiares e portadores Voluntariado &Treinamento: Treinamento de voluntários, equipes de atendimento Eventos Desenvolvimento do papel de facilitador e co-facilitador. APOIO