PARTE III METODOLOGIA

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Transcrição:

Metodologia 59 PARTE III METODOLOGIA 9. Amostra 9.1. Caracterização Da Amostra A amostra é constituída por um total de quarenta e duas crianças entre os 8 e os 10 anos de idade, que frequentam o terceiro e quarto anos do 1º Ciclo de escolaridade. Destas quarenta e duas crianças, vinte e uma são provenientes do contexto social menos diferenciado e vinte e uma do contexto social mais diferenciado. Das crianças do contexto social menos diferenciado, oito são do género feminino e treze são do género masculino. Oito destas crianças (cinco rapazes e três raparigas) são de etnia cabo-verdiana. Das crianças do contexto social mais diferenciado, nove são do género feminino e doze são do género masculino. Da totalidade das quarenta e duas crianças, todas tomaram parte em todos os momentos de aplicação dos instrumentos utilizados: entrevista, diário e questionários. 9.2. Caracterização Do Envolvimento Físico: Contexto Social Mais Diferenciado E Contexto Social Menos Diferenciado O estudo incide sobre dois meios distintos, um contexto social mais e um contexto social menos diferenciado, o que coloca a necessidade de seleccionar uma amostra que caracterize com grande fidelidade as duas realidades. Os critérios de selecção das crianças foram:

Metodologia 60 - A zona de residência - A frequência dos Ateliers de Tempos Livres (ATL) da PROSALIS e/ou a frequência do Colégio Vasco da Gama. Por contexto social menos diferenciado, entende-se aquele cujas características são a pobreza, desagregação familiar, habitação degradada, baixa escolaridade e a existência de comportamentos aditivos (Sebastião, 1998). Devido ao conhecimento pessoal do local e das instâncias a contactar escolhemos para a amostra deste meio as crianças que frequentam os dois ATL da PROSALIS Instituição Particular de Solidariedade Social, situados na Junta de Freguesia da Pontinha e no Bairro de Santa Maria da Urmeira. Os ATL surgem pela necessidade de colmatar as lacunas sentidas pela Segurança Social e serviços de acção local relativamente ao enquadramento e acompanhamento das populações, nomeadamente as crianças identificadas como estando em situação de risco. Estas crianças residem nos Bairros de Santa Maria da Urmeira, Olival do Pancas e Azinhaga dos Besouros. Todos estes bairros pertencem à Freguesia da Pontinha situada no Concelho de Odivelas. Estes bairros são conhecidos por agregarem populações com as características descritas por Sebastião (1998), onde existe uma elevada percentagem de famílias em situação nítida de pobreza, ruptura e degradação, sendo estes agregados geralmente desestruturantes, com história familiar de alcoolismo e toxicodependência associada a problemas de desemprego e criminalidade. Nos bairros Olival do Pancas e Azinhaga dos Besouros, encontramos uma população maioritariamente de etnias africanas. Estes bairros situam-se na periferia de Lisboa predominando a habitação social e habitações clandestinas. O contexto social mais diferenciado é caracterizado pela existência de famílias com maior poder económico e com um grau de escolaridade mais elevado.

Metodologia 61 Para este contexto, seleccionámos as crianças que frequentam o Colégio Vasco da Gama, situado no Cacém. Este colégio é particular e oferece a escolaridade obrigatória (do 1º ao 9º ano), para além de uma série de actividades extra-curriculares desportivas, culturais e científicas. A maior parte destas crianças, são provenientes de Freguesias do Concelho de Sintra (Belas, Rio de Mouro, Algueirão-Mem Martins, Almargem do Bispo, Massamá, Pêro Pinheiro e Queluz) e Concelho de Mafra (Malveira).

Metodologia 62 10. Instrumentos A metodologia deste estudo consiste na aplicação e posterior tratamento dos dados provenientes dos seguintes cinco instrumentos de investigação: - Três questionários, dois destinados às crianças e um destinado aos pais e/ou encarregados de educação; - Uma entrevista dirigida; - Um diário de actividades. Todos os instrumentos utilizados no estudo (com excepção do questionário de competências sociais), já foram aplicados em investigações anteriores em Portugal e no estrangeiro: - Em Portugal foram aplicados por Ana Arez (1999); - Marketta Kyttä (1995) aplicou estes instrumentos na Finlândia, Bielorússia e Estados Unidos da América (Vermont). O questionário de competências sociais (vd. anexo 1, p.149) foi construído por nós com base nas regras e competências exigidas e/ou ensinadas às crianças quer nos ATL quer no colégio. Para tal, conversámos com os profissionais de ambos os contextos para determinar quais seriam as competências mais importantes exigidas a estas crianças. Com este questionário, pretendemos verificar a capacidade das crianças em usar as referidas competências não só nos contextos onde elas lhes são exigidas/ensinadas (ATL/colégio e sala de aula), como em outros contextos (rua e casa).

Metodologia 63 10.1. Questionários 10.1.1. Questionários para as Crianças e para os Pais e/ou Encarregados de Educação Os objectivos da aplicação dos questionários para as crianças e para os pais e/ou encarregados de educação, são: estudar a independência de mobilidade das crianças no seu espaço de acção, apurar o nível de autonomia que lhes é concedido pelos pais e/ou encarregados de educação e fazer uma caracterização profissional e socio-económica dos agregados familiares. Os questionários foram originalmente elaborados por Hillman et al. (1990) e posteriormente traduzidos para finlandês, tendo sido adaptado em alguns pormenores, de acordo com a cultura finlandesa. Foram traduzidos para português por Arez (1999), sofrendo algumas adaptações mínimas, de acordo com a realidade do nosso país. De igual modo e de acordo com as características da amostra, também sentimos necessidade de fazer pequenas adaptações aos questionários. Ambos os questionários foram concebidos de forma a poderem ser preenchidos rapidamente; todas as questões estão elaboradas de uma forma clara e directa, de modo a não provocarem grande incómodo aos indivíduos questionados. 10.1.1.1. Questionários para crianças dos 8-10 anos de idade. Com este questionário (vd. anexo 2, p.152), pretende-se verificar a independência de mobilidade das crianças nas suas rotinas diárias, através do seguinte conjunto de questões: - Como é que a criança vai para a escola e como é que volta.

Metodologia 64 - Quem a acompanha. - Distância da casa à escola. - Posse de bicicleta e liberdade para circular na rua. - Autorização para atravessar as ruas principais sozinha. - Autorização para utilizar os transportes públicos. - Numero de amigos que pode visitar sozinha. - Actividades efectuadas durante o fim-de-semana e nível de autonomia na realização das mesmas. 10.1.1.2. Questionários para os pais/encarregados de educação. O questionário aplicado aos pais e/ou encarregados de educação (vd. anexo 3, p.158) tem como objectivo verificar o grau de conformidade das suas respostas com as respostas dadas pelas crianças. Relativamente ao nível de autonomia, pretende-se também comparar a liberdade das crianças hoje em dia com a liberdade dos pais quando tinham a mesma idade e por último, fazer uma caracterização familiar e socioprofissional do agregado familiar. A primeira parte deste questionário foca os seguintes grupos de questões: - Nível de autonomia da criança no trajecto casa-escola e vice-versa; - Grau de preocupação dos pais quanto aos riscos de acidentes dos filhos ao atravessarem as ruas; - Acompanhamento da criança a actividades de lazer; - Autorização para a criança atravessar as ruas principais sozinha; - Autorização para a criança sair depois de escurecer; - Autorização para a criança andar sozinha de transportes públicos; - Autorização para a criança brincar sozinha fora de casa (na rua).

Metodologia 65 A segunda parte do questionário foca as seguintes questões: - Forma como o encarregado de educação se deslocava para a escola quando tinha 8-10 anos de idade; - Número de pessoas no agregado familiar com carta de condução; - Quantidade de carros usados pelas pessoas do agregado familiar; - Grau de liberdade do encarregado de educação em criança, comparativamente ao filho(a). A terceira parte do questionário, pretende caracterizar a situação familiar e sócioprofissional dos pais e/ou encarregados de educação: - Numero de pessoas do agregado familiar; - Tipo de habitação; - Idade e género do encarregado de educação; - Anos de escolaridade dos pais e/ou encarregados de educação; - Situação profissional dos pais e/ou encarregados de educação. 10.1.2. Questionários de Competências Sociais Com estes questionários (v.d. anexo 1, p.149) pretendemos numa primeira parte, saber a capacidade da criança em usar determinadas competências sociais e pessoais nos seguintes contextos: ATL/colégio; sala de aula; rua e casa. Essas competências são: - Saber esperar pela sua vez quando está numa fila - Saber esperar pela sua vez para falar - Saber manter o seu espaço limpo e arrumado - Saber respeitar quando lhe pedem para fazer silêncio - Pedir sempre autorização para mexer nas coisas dos outros - Ser digno da confiança dos adultos para guardar dinheiro e tomar conta de coisas - Ser responsável pelas suas coisas, perdendo-as raramente

Metodologia 66 Numa segunda parte pretendemos saber o comportamento que a criança manifesta habitualmente quando: - Tem dificuldades/problemas; - Se zanga com os colegas ou amigos; - Faz lixo. 10.2. Entrevistas O propósito das entrevistas (v.d. anexo 4, p.169) foi determinar o que o envolvimento físico oferece às crianças em termos funcionais, ou seja, em termos de possibilidades de acção e actividades possíveis de ser realizadas. Esta entrevista foi inicialmente concebida por Kyttä (1995), que para elaborar a lista das acções e das diversas actividades a colocar na entrevista se baseou na taxonomia funcional de envolvimentos exteriores para crianças: Functional Taxonomy of children s outdoor environments (Heft, 1988). A taxonomia era inicialmente composta por dez categorias, mas Kyttä (1995) retirou-lhe uma por ser Kyttä (1995) muito difícil de operacionalizar, acrescentando-lhe duas novas categorias: acções na natureza e affordances sociais. Deste modo, a taxonomia funcional de envolvimentos exteriores para crianças ficou definida por onze categorias e respectivas acções que constam do guião da entrevista. Arez (1999) acrescentou algumas questões à entrevista original que aparecem assinaladas nas categorias descritas em baixo: Categoria 1 Acções em superfícies planas relativamente suaves.

Metodologia 67 - correr - andar de bicicleta - andar de patins - andar de skate - fazer jogos lúdicos Categoria 2 Acções em declives relativamente suaves. - deslizar, escorregar Categoria 3 Acções com manipulação de objectos/materiais. - atirar objectos - fazer construções - cavar a terra Categoria 4 Acções com objectos fixos. - saltar sobre, e de cima de Categoria 5 Acções com objectos fixos não rígidos. - andar de baloiço Categoria 6 Acções em superfícies escaláveis. - trepar - ver a paisagem

Metodologia 68 Categoria 7 Abrigo. Permite: - estar sozinho - esconder-se Categoria 8 Acções com materiais moldáveis. - moldar barro, terra, areia Categoria 9 Acções com água. - nadar - pescar - brincar com água Categoria 10 Acções na natureza. - brincar com animais - brincar com plantas - *correr de forma livre Categoria 11 Acções de jogo social. - fazer jogos de acção - fazer teatro ( faz de conta ) - brincar às casinhas - fazer barulho - ajudar nas tarefas dos adultos *Questões acrescentadas por Arez (1999) à entrevista inicial.

Metodologia 69 - *estar com os amigos - *jogar informalmente com os amigos (jogos desportivos) - *praticar desporto(de um modo formal) 10.3. Diários de Actividades As rotinas de vida das crianças foram estudadas através dos dados obtidos pelos diários de actividades (v.d. anexo 5, p.181). Destes, retiraram-se as informações relativas ao número de trajectos realizados, tipo de actividades efectuadas e locais visitados, meio de transporte utilizado e autonomia da criança (quem a acompanha ou se realiza o trajecto sozinha). Os diários continham uma folha para cada dia, contendo três diferentes momentos: manhã, tarde e noite. Todos os dias durante uma semana, a criança registava as horas a que se tinha levantado e deitado e preenchia para cada trajecto realizado as cinco colunas correspondentes às seguintes questões: - Onde é que foste? - Com quem foste? - O que lá fizeste? - Como foste para lá? - Quanto tempo lá ficaste? (registar uma das três opções: menos de uma hora; uma hora e mais de uma hora.) *Questões acrescentadas por Arez (1999) à entrevista inicial.

Metodologia 70 11. Procedimentos Foi feito um primeiro contacto com a Coordenadora dos ATL da PROSALIS e com o Director do Colégio Vasco da Gama, no sentido de informar o âmbito e os objectivos do estudo e pedir autorização e colaboração das instituições para a realização do mesmo. Após a autorização dos responsáveis por cada uma das instituições, identificámos as crianças que queríamos que participassem no estudo e enviámos aos encarregados de educação um documento informativo com os objectivos e âmbito do estudo e um pedido de autorização para a participação dos seus educandos no mesmo. Após a recepção dos documentos de consentimento dos encarregados de educação, procedemos da seguinte forma: No Colégio Vasco da Gama, as acções foram levadas a cabo com o auxílio de uma colaboradora, funcionária do Colégio. Distribuímos a cada criança um envelope contendo dois documentos - o questionário para os pais/encarregados de educação e a entrevista. Os encarregados de educação foram informados antecipadamente que deveriam responder ao questionário e fazer a entrevista aos seus educandos. Foi-lhes dada uma semana para o preenchimento dos dois documentos, no final da qual os mesmos foram entregues no Colégio à colaboradora. Os dois questionários para as crianças foram preenchidos na escola durante uma aula, na presença da professora. Quanto ao diário de actividades, as crianças iniciaram o seu preenchimento numa segunda-feira e continuaram até sexta-feira. Este procedimento foi conduzido pela professora que todos os dias na sala de aula orientava as crianças no preenchimento do

Metodologia 71 diário de actividades, onde eram registados todos os trajectos que haviam realizado no dia anterior. Na segunda-feira, registaram as saídas de sábado e de domingo. No final da semana, a professora recolheu os diários e entregou-os à colaboradora. Nos ATL, contámos com a colaboração das técnicas que trabalham com as crianças. Os questionários para as crianças foram preenchidos nos ATL durante o horário de funcionamento, sob a orientação e acompanhamento das técnicas. As entrevistas foram realizadas durante o horário de funcionamento dos ATL pelas técnicas, ao longo de três semanas. Os questionários para os pais/encarregados de educação, foram entregues pessoalmente pelas técnicas dos ATL. Em alguns casos, os pais/encarregados de educação levaram os questionários para casa para preencher e devolveram-nos posteriormente às técnicas dos ATL. Noutros casos, as técnicas auxiliaram os pais/encarregados de educação no preenchimento do questionário uma vez que estes têm dificuldades na leitura e escrita. Quanto ao diário de actividades, as crianças iniciaram o seu preenchimento numa segunda-feira e continuaram até sexta-feira. Este procedimento foi conduzido pelas técnicas dos ATL que todos os dias orientavam as crianças no preenchimento do diário de actividades, onde eram registados todos os trajectos que haviam realizado no dia anterior. Na segunda-feira, registaram as saídas de sábado e de domingo. No final da semana, as técnicas recolheram os diários e entregaram-nos à responsável do estudo. Os questionários e diário de actividades foram preenchidos durante o mês de Maio de 2003.

Metodologia 72 11.1. Dificuldades Sentidas Durante O Estudo Sentimos como principais constrangimentos a dificuldade em manter o rigor na investigação, para que em ambos os grupos (mais e menos diferenciado) estivéssemos a avaliar a mesma coisa. Assim, procurámos junto das professoras no Colégio Vasco da Gama e junto das técnicas do ATL da Prosalis, fornecer o mesmo tipo de informação e orientações para que o método fosse o mesmo em ambos os locais. Contudo, alguns aspectos característicos da amostra implicaram procedimentos diferentes: alguns pais do meio menos diferenciado têm dificuldades de leitura e outros não sabem mesmo ler (principalmente os pais das crianças de etnia Cabo-Verdiana). Nestes casos as técnicas do ATL preencheram os questionários e recolheram a informação para as respostas através de entrevista. Sentimos também que as crianças do meio menos diferenciado tiveram mais dificuldades e dúvidas no preenchimento dos questionários necessitando de mais acompanhamento e orientação. Relativamente aos diários de actividades sentimos que houve alguma satisfação por parte das crianças no preenchimento dos mesmos e de alguma forma, o tempo passado a fazer o registo dos percursos e actividades, constituiu também um tempo de reflexão sobre o sei dia-a-dia. Os pais das crianças do colégio (meio mais diferenciado) mostraram agrado em ter colaborado no estudo, porque o preenchimento do questionário e conversa com os filhos, permitiu-lhes de uma forma empírica compreender a percepção que os seus filhos têm do envolvimento. Sobre o questionário de competências sociais, a elaboração dos itens e perguntas, não foi fácil, porque há de facto um conjunto infindável de competências sociais que as crianças podem ter/aprender e foi difícil seleccionar algumas para este estudo. Então o

Metodologia 73 nosso critério teve como base as competências exigidas às crianças quer no ATL (meio menos diferenciado), quer no colégio (meio mais diferenciado). 11.2. Dificuldades Sentidas Durante O Tratamento Estatístico O objectivo deste ponto é o de dar a conhecer as dificuldades sentidas durante o desenvolvimento do nosso trabalho. Relativamente aos instrumentos e ao tratamento dos dados, tivemos alguma dificuldade pelo facto dos instrumentos utilizados para a recolha da informação privilegiarem uma grande recolha de dados que é essencialmente qualitativa, e que depois, através do tratamento acaba por ser transformada em análise quantitativa. Um outro aspecto que, pensamos, simplificaria o trabalho, seria o de colocar logo nos instrumentos opções mais fechadas, para por exemplo, em vez de se responder num caso o número inteiro, responder-se dentro de intervalos (e.g., 0 a 5, 5 a 10...). Este facto permitiria criar variáveis ordinais mais fáceis de tratar e que possibilitassem também uma melhor leitura. No que diz respeito aos Diários de Actividades, a sua mais valia é a de permitir que a criança fale abertamente do que aconteceu consigo durante a semana, ao contrário de um questionário fechado. Desta forma temos acesso a uma maior riqueza de informação. A desvantagem está na dificuldade de tratar quantitativamente a informação, pela sua extensividade e variabilidade. Relativamente ao Questionário de Competências, a nossa principal dificuldade residiu no facto de não ter variáveis métricas, o que não nos permitiu obter médias, nem testar a Homogeneidade, ou as Anovas. No entanto, e ao contrário dos Diários de Actividades,

Metodologia 74 os questionários têm a vantagem de permitir uma leitura mais simples, tal como o tratamento dos dados. Nos Questionários de pais/encarregados de educação e das crianças, uma das grandes dificuldades, esteve relacionada com a dificuldade, pela forma como os questionários estavam elaborados, em cruzar a informação proveniente dos questionários das crianças e dos questionários dos seus pais/encarregados de educação. Uma solução para este problema, poderia ser a reformulação de ambos os questionários no sentido de definir questões idênticas para todos, por forma a permitir a realização de correspondências para cruzar a informação e verificar as semelhanças, as correlações... Finalmente, no que diz respeito às Entrevistas, constatamos que estas, enquanto instrumentos, poderiam ser reescritas de forma a agrupá-las nas categorias onde posteriormente são tratadas. Para além deste aspecto, as entrevistas também permitem obter uma quantidade de informação que depois não é alvo de tratamento, alguma por não ter interesse, outra pelo excesso de informação. Contudo, as questões mais abertas permitem uma maior liberdade de resposta das crianças e por conseguinte, resultados mais interessantes.

Metodologia 75 12. Tratamento Dos Dados Os dados recolhidos a partir dos cinco instrumentos de investigação foram tratados estatisticamente com base nos cinco temas centrais deste estudo. Estes temas correspondem quer, ao objecto de estudo, quer às variáveis dependentes: -Rotinas de vida -Independência de mobilidade (nível de autonomia na exploração do espaço de acção) -Percepção das possibilidades de acção do envolvimento físico (affordance) -Competências sociais -Caracterização dos pais/encarregados de educação Definimos, assim, e de acordo com o objectivo do trabalho, as cinco variáveis dependentes supra mencionadas, que foram, por sua vez, analisadas a partir de duas variáveis independentes, o envolvimento físico das crianças (contexto social mais diferenciado/contexto social menos diferenciado) e o género da amostra (feminino/masculino). Os objectivos do estudo incidiram na detecção de possíveis influências das duas variáveis independentes no comportamento das quatro variáveis dependentes. Para o tratamento dos dados utilizámos o programa SPSS versão 12.0 para nos permitir fazer: - O cálculo de percentagens relativas entre os grupos estudados em relação às variáveis dependentes/temas. - O cálculo de estatística descritiva: média aritmética. - A averiguação da homogeneidade de variâncias - Levene s Test (consiste num prérequesito para a utilização do teste Anova one-way). - A testagem de hipóteses: aplicação da técnica estatística de comparação de médias, análise de variância Anova one-way para a comparação entre grupos/amostras

Metodologia 76 independentes (meio mais diferenciado género masculino; meio mais diferenciado - género feminino; meio menos diferenciado - género masculino; meio menos diferenciado - género feminino) em relação uma variável dependente, de cada vez. As Anovas foram lançadas com um grau de confiança de 95% e um nível de significância de 0,05. - O teste Post Hoc (Tukey HSD) que permite realizar múltiplas comparações entre as médias dos grupos.