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Transcrição:

CONSIDERAÇÕES SOBRE A COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES E COMERCIAIS NA ELABORAÇÃO DE UM PLANO DIRETOR REGIONAL EM BELO HORIZONTE: ESTUDO DE CASO Viviane da Silva Caldeira Marques (1) Engenheira Civil pela Fundação Mineira de Educação e Cultura- FUMEC/1983. Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFMG/1986. Engenheira Sanitarista da Superintendência de Limpeza Urbana - SLU. Chefe da Seção de Planejamento de Coleta e Destinação Final do Lixo. Maria Esther de Castro e Silva Engenheira Civil pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/1983. Mestrado em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Leeds University, Inglaterra/1991. Engenheira Sanitarista da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte - SLU. Coordenadora do Programa de Compostagem da SLU. Bernadete Nunes Cerqueira Engenheira Civil pela UFMG/1984. Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFMG/1985. Engenheira Sanitarista da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte - SLU. Sinara Inácio Meireles Chenna Engenheira civil pela UFMG/1991. Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFMG/1998. Assessora Técnica da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte - SLU. Fábio Furst Soares Auxiliar Técnico da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte desde 1979. Exerceu os cargos de chefia das Divisões de Limpeza Pública de Venda Nova, Pampulha e Sul. Endereço (1) : Rua Tenente Garro, 118-7 o andar - DR-TEC - Santa Efigênia - Belo Horizonte - MG - CEP: 30240-360 - Brasil - Tel: (031) 277-9355 - Fax:: (031) 277-9360 - e-mail. sludrtec@pbh.gov.br RESUMO Na elaboração do Plano Diretor Regional de Venda Nova, uma das 9 administrações regionais da Prefeitura de Belo Horizonte, está contemplado, dentre outros, o tema infraestrutura básica e saneamento, do qual faz parte a atividade de limpeza urbana. São enfocados, especificamente, os estudos referentes aos serviços de coleta de resíduos sólidos domiciliares e comerciais, com o objetivo de estabelecer diretrizes no Plano Diretor, para ampliar a coleta de resíduos à totalidade da população residente, não só em regiões regularmente urbanizadas, como também nas demais áreas. Para isso, as intervenções a serem contempladas no Plano Diretor Regional de Venda Nova são, prioritariamente, de natureza física melhoria da infra-estrutura urbana local, demandando, ainda, investimentos em equipamentos de coleta, recursos humanos e ações de mobilização social. Deverão ser garantidas intervenções que possibilitem a manutenção do sistema viário, assim como a urbanização de ocupações irregulares. Ademais, deverão ser previstos, instrumentos de incentivo às práticas de mobilização social, visando à participação popular nas questões 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3642

relacionadas à limpeza urbana de um modo geral. Nesse sentido, o trabalho de mobilização deve enfatizar a co-responsabilidade da sociedade no manejo dos resíduos sólidos urbanos, incentivar práticas de redução da geração de resíduos, reutilização e reciclagem, devendo, ainda, ser fomentado o questionamento da sociedade pela adequada destinação dos resíduos. Para que seja assegurada maior abrangência, agilidade e qualidade da atividade de coleta, é necessário ressaltar a importância da integração entre os órgãos responsáveis pelos serviços de infra-estrutura urbana, de modo que as intervenções ocorram de forma integrada. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Diagnóstico de Coleta, Limpeza Urbana. INTRODUÇÃO O Plano Diretor de Belo Horizonte, estabelecido pela Lei Municipal n o 7165, de 27 de agosto de 1996, indica a elaboração de Planos Diretores Regionais como estratégia de planejamento, gestão descentralizada e desenvolvimento urbano. Tais planos diretores regionais deverão contemplar aspectos sócio-econômicos, físicos e institucionais, bem como as características e as demandas locais, para subsidiar diretrizes, ações e regulamentações do planejamento da cidade. Nesse sentido, vários órgãos da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte estão elaborando o diagnóstico do Plano Diretor Regional de Venda Nova, área piloto escolhida em virtude do reconhecimento por parte da administração municipal dos problemas decorrentes da ausência de infra-estrutura e saneamento básico associada à ocupação inadequada ou isenta de planejamento no local. O Plano Diretor Regional contempla a abordagem de diversos temas, dentre eles infraestrutura básica e saneamento, do qual faz parte a atividade de Limpeza Urbana. Assim, a Superintendência de Limpeza Urbana - SLU, órgão responsável pelo planejamento, operação e fiscalização dessas atividades, elaborou o diagnóstico de todos os serviços de limpeza urbana prestados à regional Venda Nova. Dada a diversidade de ações que caracterizam os serviços de limpeza urbana varrição de vias, capina, limpeza de taludes e córregos, coleta seletiva, coleta de resíduos sólidos domiciliares, comerciais e de unidades de saúde, etc., o tema deste trabalho ficará restrito aos serviços de coleta de resíduos sólidos domiciliares e comerciais na região de Venda Nova. OBJETIVO O estudo desenvolvido pela SLU acerca da situação de coleta de resíduos sólidos domiciliares e comerciais na regional Venda Nova propõe-se apontar as principais intervenções a serem priorizadas no Plano Diretor Regional, almejando alcançar melhor eficiência e abrangência das ações de limpeza urbana, sobretudo quanto ao recolhimento dos resíduos sólidos na região. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3643

Para tal, foi necessário retratar a situação da prestação desses serviços na região, a partir da identificação dos locais sem atendimento e dos motivos que impossibilitam a prestação regular desse serviço. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA A Regional Venda Nova, localizada ao norte de Belo Horizonte, possui uma área de 2.830 ha e população de 217.864 habitantes, segundo estimativa do IBGE para 1996. No censo demográfico anterior (IBGE/1991), foi registrada uma população de 198.793 habitantes. Na região, estão inseridas 13 áreas desprovidas de infra-estrutura urbana (vilas, favelas e conjuntos habitacionais de baixa renda) cuja população é estimada em 24.130 habitantes, aproximadamente 11% da população de Venda Nova. A localização e denominação dessas áreas estão apresentadas na figura 1. Figura 1: Distritos de coleta e áreas não-urbanizadas Regional Venda Nova. V6B MANTIQUEIRA V5A SESC (Área verde) V3B V12B V4A V14A V15B V2A V7A SANTA MÔNICA NOVA AMÉRICA V10B SESC V13A V11A V8A V1B MINAS CAIXA DV-LPV SERRA VERDE FLAMENGO SÃO JOÃO BATISTA SÃO JOSÉ/ CÉU AZUL JARDIM LEBLON VÁRZEA DA PALMA NOSSA SENHORA APARECIDA B A LIMITE DE SETORES (A e B) LIMITE DOS DISTRITOS DE COLETA (V1B a V15B) APOLÔNIA V9B UNIVERSO SLU (Setor B) EMPREITEIRA ( Setor A) VILAS E FAVELAS COPACABANA SEDE DA DV-LP VENDA NOVA CARACTERIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES E COMERCIAIS De acordo com o planejamento, a coleta de resíduos sólidos em Venda Nova é realizada no horário diurno, com freqüência alternada, três vezes na semana, exceto aos domingos, utilizando veículos diferenciados em função das características específicas de infraestrutura das áreas. Em áreas urbanizadas, utilizam-se veículos compactadores de 15m 3, atuando em quinze distritos, os quais correspondem à área de trabalho de cada caminhão em um dia de coleta. O serviço é realizado em parte pela SLU e em parte por empreiteira contratada. Já 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3644

em áreas não-urbanizadas, a coleta é realizada pela SLU, com veículos de carroceria aberta tipo 3/4 ou báscula e carrinhos de mão. Em 1997, foram coletadas em Venda Nova 37.641 t de resíduos sólidos domiciliares e comerciais, sendo 4.583 t em vilas, favelas e conjuntos habitacionais de baixa renda. Segundo o estudo de caracterização de resíduos sólidos urbanos, realizado em maio de 1995, a geração per capita foi um dos parâmetros mais sensíveis às variações contextuais de população amostrada, mostrando-se ser inversamente proporcional à concentração de atividade comercial e de serviços nas diferentes regionais do município. Para geração diária de lixo por habitante, a média do município alcançou aproximadamente 600 g/ hab.dia, considerando a parcela de população flutuante, e 990 g/ hab. dia, sem considerá-la. Em Venda Nova, tais médias atingiram 583 g/ hab.dia e 685 g/hab.dia, respectivamente, conforme demonstrado na figura 2. Figura 2: Geração média per-capita de resíduos sólidos domiciliares e comerciais. gramas/hab.dia 1000 800 600 400 200 0 Belo Horizonte Venda Nova c/ população flutuante s/ população flutuante O peso específico do lixo solto sem acondicionamento não apresentou padrão uniforme no município, variando bastante numa faixa de 100 a 200 kg/m 3. Em Venda Nova, especificamente, foi de 172 kg/m 3. O balanço de massa dos resíduos domiciliares e comerciais do município e da regional Venda Nova apresentou resultados bastante semelhantes, conforme pode-se observar na figura 3, com destaque para o alto teor de matéria orgânica. Figura 3: Composição física dos resíduos sólidos domiciliares e comerciais. 70% 66% 64% 60% 50% 40% 30% Belo Horizonte Venda Nova 20% 10% 0% 11%11% 10%9% 8%11% 2% 2% 3%3% vidro metal plástico papel mat. org. rejeitos 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3645

Os materiais especificados na figura 3 foram assim considerados: matéria orgânica alimentos e podas papel papel fino e papelão plástico filmes e plástico duro metal ferroso e não-ferroso vidro branco e colorido rejeitos rejeitos de todas as classes pesquisadas DESENVOLVIMENTO O trabalho foi desenvolvido em 3 etapas: 1ª etapa - Cadastramento in loco da situação da coleta de lixo na região e registro em mapas. Para diagnosticar a abrangência da coleta na regional Venda Nova, foi realizado o cadastramento dos roteiros de coleta executados pelos caminhões durante o recolhimento dos resíduos nas áreas urbanizadas e em vilas e favelas. Posteriormente, foram registradas em mapa todas as ruas atendidas pela coleta de resíduos sólidos domiciliares e comerciais. A 1ª etapa, realizada em 2 meses, janeiro e fevereiro/98, contou com 2 engenheiros, 16 cadastradores e 2 auxiliares técnicos. 2ª etapa - Definição dos critérios de atendimento. Para fins de atendimento, foram consideradas beneficiadas com o serviço de coleta as ruas onde: - os caminhões trafegam coletando - os garis são os responsáveis pelo recolhimento do lixo, percorrendo trechos mais extensos, por falta de condições de tráfego ou de manobra para os veículos. Para efeito deste estudo, foram consideradas sem coleta as ruas que, dadas as condições precárias de acesso tanto para os veículos coletores como para os garis, recebem atendimento deficiente, caracterizado pelo seguinte procedimento: - munícipe leva o lixo devidamente acondicionado, em dia e horários pré-determinados pela SLU, até a esquina mais próxima de onde passa o veículo coletor. 3ª etapa - Identificação in loco e registro em mapas e planilhas dos motivos da ausência da coleta. Após o mapeamento das ruas beneficiadas com coleta, iniciou-se a etapa de checagem em campo para levantamento dos motivos da ausência de prestação desse serviço nas demais ruas. Essa atividade foi feita por 2 técnicos, durante aproximadamente um mês e meio. Em seguida, com base na identificação da situação das ruas sem coleta, as informações foram organizadas de acordo com os seguintes tópicos: - nome das vias sem atendimento. - tipo de pavimento encontrado ou ausência deste. - estado de conservação do pavimento. - declividade aproximada do logradouro. - existência de moradores, etc. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3646

RESULTADOS Na elaboração do Plano Diretor Regional de Venda Nova, deverão ser estabelecidas diretrizes para a coleta de resíduos sólidos em áreas urbanizadas e não-urbanizadas, objetivando atingir a totalidade da população residente na região e corrigir as deficiências encontradas, com base nos dados apontados pelo diagnóstico, resumidos a seguir. Aproximadamente 92% das ruas de Venda Nova são beneficiadas pela coleta regular, diurna e com freqüência de três vezes na semana, sendo 86% da região atendida por veículos compactadores e 14% por caminhões de carroceria aberta tipo 3/4. As ruas restantes (8% do total) não são beneficiadas pela coleta, em virtude da existência de: - ruas projetadas, indicadas em mapa, mas ainda não abertas, representando 2% dos casos; - córregos não canalizados e caracterizados como ruas, 0,3 % dos casos; - vias sem acesso e/ou vias intransitáveis, devido ao estado precário de pavimentação ou à ausência desta e/ou a condições topográficas e de largura das vias adversas ao trânsito de caminhões, representando 2,7% dos casos; - ruas pavimentadas sem edificações e/ou moradores, que poderão ser prontamente atendidas, tão logo sejam habitadas, representando 0,7% dos casos. - ruas internas a condomínios fechados cujo atendimento é concentrado a um único ponto (portaria), totalizando 0,4% dos casos. - deficiência injustificada no atendimento a ruas que, embora sem pavimento, apresentaram boas condições de tráfego para caminhões de carrocerias abertas tipo báscula e 3/4, 1,9% dos casos. Nessa situação, independentemente da conclusão do Plano Diretor, foram tomadas providências para o imediato atendimento das vias. A coleta de resíduos sólidos domiciliares nas áreas não-urbanizadas, como vilas, favelas e aglomerados periféricos é prejudicada principalmente em função da carência de infraestrutura nesses locais, das condições topográficas desfavoráveis e das dificuldades de envolvimento da população para utilização de formas alternativas (não-convencionais) de coleta. As vilas e favelas são atendidas no seu entorno por caminhões compactadores e, internamente, onde possível, por caminhões de carroceria aberta, três vezes por semana no horário diurno, beneficiando aproximadamente 66% dessa população. A coleta de lixo nessas áreas apresentou as características apontadas na figura 4. Figura 4 - Atendimento da coleta domiciliar de resíduos sólidos em vilas e favelas de Venda Nova. Vila Freqüência População total ( hab.) % atendimento População atendida ( hab.) Situação de atendimento caçamba carroceria compactador* Apolônia 3ª, 5ª, sábado 5.550 50 2.775 X (2 un) X (3/4) X Copacabana 3ª, 5ª, sábado 1.205 60 723 - X (3/4) X Várzea da Palma/ Jd. Leblon/ Universo 3ª, 5ª, sábado 6.295 40 2.518 - X (3/4) X São João Batista 2ª, 4ª, 6ª feira 2.405 100 2.405 - X (3/4) X Santa Mônica 3ª, 5ª, sábado 2.065 100 2.065 - X (3/4) X 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3647

Nossa Senhora Aparecida 2ª, 4ª, 6ª feira 2.185 80 1.748 X X (3/4) X São José/ Céu Azul 3ª, 5ª, sábado 490 100 490 - - X Flamengo 3ª, 5ª, sábado 205 100 205 - - X Mantiqueira 3ª, 5ª, sábado 450 60 270 - X (B) X Nova América 2ª, 4ª, 6ª feira 105 100 105 - X (B) X Serra Verde 3ª, 5ª, sábado 275 100 275 - X (B) X Minas Caixa 3ª, 5ª, sábado 2.250 80 1800 - X (B) X SESC 2ª, 4ª, 6ª feira 650 100 650 X - X TOTAL 24.130 66 16.029 *Atendimento nas vias do entorno da vila/favela. (3/4)- Caminhão de carroceria aberta tipo ¾ (B)- Caminhão de carroceria aberta tipo báscula A frota disponível para a coleta de resíduos sólidos em Venda Nova conta com 8 caminhões compactadores de 15 m 3 e 2 caminhões de carroceria aberta tipo báscula e 3/4. CONCLUSÕES Para ampliação da abrangência da prestação de serviços de coleta de resíduos sólidos domiciliares e comerciais em Venda Nova, as intervenções a serem contempladas no Plano Diretor Regional, são, prioritariamente, de natureza física melhoria da infraestrutura urbana local, demandando, também, investimentos em equipamentos de coleta, recursos humanos e ações de mobilização social. Da mesma forma, deverão ser garantidas intervenções que possibilitem a manutenção do sistema viário, assim como a urbanização de ocupações irregulares. No caso de Vilas e Favelas, o serviço de coleta foi avaliado como bom, mesmo diante das dificuldades operacionais para prestação do mesmo, em função da carência de infraestrutura encontrada e pelo fato de as comunidades receberem atendimento regular de coleta convencional nas vias pavimentadas do entorno desses locais. Anteriormente a 1993, as vilas, favelas e aglomerados periféricos de Belo Horizonte eram, em sua maioria, atendidos exclusivamente por caçambas estacionárias. Atualmente, a SLU tem priorizado a retirada desses equipamentos em virtude dos problemas gerados pela sua má utilização, tais como: - despejo de lixo ao redor das caçambas; - existência de entulho misturado aos resíduos domésticos; - incêndios provocados e depredação em geral. Apesar disso, as caçambas ainda são utilizadas em locais de difícil acesso e em vilas que não oferecem condições de tráfego. Em Venda Nova, existem 4 caçambas distribuídas em locais com tais características. Em conformidade com as diretrizes de atendimento previstas pela SLU para regiões ocupadas por vilas e favelas, o plano diretor regional deverá contemplar as intervenções indicadas a seguir: 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3648

- conservação e melhoria das condições de tráfego nas principais vias das vilas Nossa Senhora Aparecida, São João Batista, Mantiqueira, SESC e Santa Mônica; - execução de obras de regularização de córregos e tratamento de fundos de vale, permitindo a ampliação dos acessos nas vilas Flamengo, Universo, Copacabana, São João Batista e Serra Verde; - priorização de recursos financeiros para a implantação da coleta porta a porta com carrinho de mão nas vilas Apolônia, Mantiqueira, Várzea da Palma, Jardim Leblon e Universo. Em Venda Nova, constatou-se que é significativa a presença de lixo em córregos e lotes vagos, cuja provável origem seja os locais onde o serviço de coleta não é satisfatório, pelas razões anteriormente mencionadas. Entretanto, comprovadamente, a oferta desse serviço não garante o seu correto uso por parte da população, o que demanda a realização constante de campanhas educativas e o incremento da fiscalização, com o intuito de evitar os danos causados à saúde pública e ao meio ambiente pela deposição inadequada de resíduos. De igual modo, o plano diretor deverá prever, instrumentos de incentivo às práticas de mobilização social, visando à participação popular nas questões relacionadas à limpeza urbana de um modo geral. Nesse sentido, o trabalho de mobilização, deve enfatizar a coresponsabilidade da população no manejo dos resíduos sólidos urbanos, incentivar práticas de redução da geração de resíduos, reutilização e reciclagem, devendo ainda ser fomentado o questionamento da sociedade pela adequada destinação dos resíduos. Finalmente, para que seja assegurada maior abrangência, agilidade e qualidade da atividade de coleta, é necessário ainda ressaltar a importância da integração entre os órgãos responsáveis pelos serviços de infra-estrutura urbana, de modo que as intervenções ocorram de forma integrada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. FERNANDES, M., CHERNICHARO P.D., CHENNA, S.I.M. Método para avaliação do serviço de coleta de resíduos sólidos domiciliares em Belo Horizonte. 18º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental,1995. 2. SOUZA. M.P., SILVA, P.N. Projeto de mobilização social para implantação dos serviços de limpeza urbana em vilas, favelas de Belo Horizonte- SLU/PBH, 1993. 3. SLU/PBH Diagnóstico setorial da limpeza urbana para o Plano Diretor Regional de Venda Nova, Belo Horizonte, abril. 1998. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3649