Reforço da governação democrática e da prestação de contas através de um maior acesso à informação em Moçambique



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Transcrição:

Reforço da governação democrática e da prestação de contas através de um maior acesso à informação em Moçambique Proposta da IBIS no seu Papel de Organização Intermediária no âmbito do Apoio da Embaixada da Suécia `as Organizações da Sociedade Civil Moçambicana. Agrupamento D: Acesso à Informação Duração do Programa: Março 2010 Dezembro 2014 Orçamento Total: 7.065.095 EUROS Maputo, 23 de Março de 2010 1

1. Resumo... 4 2. Introdução... 7 3. Contexto nacional... 7 3.1 Quadro Legal... 8 3.2 Pluralismo dos meios de comunicação social... 8 3.3 Informação, meios de comunicação social e prestação de contas... 8 3.4 Apoio dos doadores e ONGs internacionais à comunicação social e ao sector da informação... 9 4. Análise de problemas... 9 4.1 Falta de informação dos cidadãos do seu direito de acesso à informação.... 10 4.2 Debilidade dos meios de comunicação social independentes e má cobertura fora das cidades principais... 11 4.3 Lacunas no quadro legal existente... 11 4.4 Falta de respeito da liberdade de expressão... 12 4.5 Marginalização das mulheres na comunicação social... 12 5. Oportunidades e desafios constatados na análise das orientações da ASDI13 5.1 Sociedade civil e parceiros-chave... 13 5.2 Capacitação da sociedade civil e diálogo político... 14 5.3 Princípios de eficácia da ajuda ao desenvolvimento... 14 5.4 Agrupamento de acesso à informação... 15 6. Objectivos e principais actividades do programa... 15 6.1 Objectivos do programa... 15 6.2 Principais áreas de actividade... 16 7. Grupo-alvo e intervenção geográfica... 16 7.1 Selecção e identificação de parceiros... 17 7.2 Outras potenciais organizações expansão do programa... 18 7.3 Colaboração com outras OSCs e outros parceiros-chave dos Agrupamentos A e C 19 8. Estratégia de estabelecimento de parcerias... 19 8.1 Abordagem baseada nos direitos... 19 8.2 Procedimentos e critérios de selecção de parceiros... 20 8.3 Capacitação e reforço institucional dos parceiros... 23 8.4 Promover boa governação e evitar corrupção... 25 8.5 Implantação local e interacção... 25 8.6 Carácter da parceria com a IBIS... 26 8.7 Papel e mais-valia da IBIS... 27 9. Princípios de eficácia da ajuda ao desenvolvimento: parceiros e outras ONGs internacionais... 29 10. Riscos e sustentabilidade... 30 10.1 Riscos e medidas de mitigação... 30 10.2 Sustentabilidade... 30 11. Organização e Gestão do Projecto... 32 11.1 Gestão da implementação do programa e relações com os parceiros... 33 11.2 Gestão e coordenação do subprograma... 34 11.3 Gestão de todo o programa da ASDI... 34 12. Monitoria, avaliação e apresentação de relatórios... 36 12.1 Sistemas de monitoria interna... 36 12.2 Monitoria e avaliações externas... 38 12.3 Papel da ASDI... 38 13. Orçamento, gestão financeira e apresentação de relatórios... 39 13.1 Gestão financeira e apresentação de relatórios... 39 13.2 Resumo do orçamento... 39 14. Quadros de Resultados: subprograma e programa conjunto... 40 2

15. Plano anual para 2010: Áreas principais... 48 16. Bibliografia fundamental:... 49 3

1. Resumo O presente documento descreve a proposta da IBIS, em resposta ao pedido da Embaixada da Suécia de servir de intermediária junto de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) moçambicana consideradas parceiros-chave num programa de promoção de maior acesso à informação e maior liberdade de informação. Este programa fará parte de um programa maior, que visa reforçar o desenvolvimento democrático, a igualdade de género e o respeito dos direitos humanos em Moçambique. Relativamente à possibilidade de participar no desenvolvimento democrático de Moçambique, colocam-se aos cidadãos e às OSCs vários desafios que estão especificamente ligados ao acesso à informação. Apesar do destaque dado pela Constituição da República de Moçambique à liberdade de expressão, ao direito à informação e ao direito à participação em processos de governação, a realidade está ainda bem aquém da retórica. Antes de mais, os cidadãos muitas vezes desconhecem pura e simplesmente o direito de exigir informação aos organismos públicos que o actual quadro legislativo lhes confere. Os meios de informação independentes são bastante fracos e há pouca cobertura mediática fora das cidades principais; há diversas lacunas no quadro legal, como sejam a inexistência de uma lei da radiodifusão e de uma lei de acesso à informação; não existe uma cultura que favoreça a liberdade de expressão, havendo vários exemplos recentes de violação do direito de livre expressão, e as mulheres são especialmente marginalizadas nos meios de comunicação social. A Embaixada da Suécia listou quatro aspectos da prestação de contas que contribuem para o reforço da governação democrática a prestação de contas social, legal, financeira e política. Sem acesso à informação e sem liberdade de expressão, a possibilidade de os cidadãos e as OSCs virem a desempenhar um papel significativo na melhoria da prestação de contas pública está gravemente ameaçada. A IBIS identificou parceiros-chave da sociedade civil que trabalham principalmente ao nível nacional e trabalhará com estes parceiros-chave na implementação deste programa, fornecendo a estas organizações apoio ao seu orçamento geral a longo prazo, sempre que possível. Um desafio fundamental que se coloca ao programa, e que constituirá o seu enfoque, será manter ligações fortes entre os parceiros-chave trabalhando ao nível nacional e organizações sedeadas nos distritos e províncias, de modo a garantir que haja um advocacia eficaz nos fóruns políticos pertinentes, assente em experiências concretas no terreno. Será crucial que haja boa coordenação e boa comunicação com os outros agrupamentos geridos pelos outros dois intermediários, dadas as interligações que existem entre os três agrupamentos. O objectivo geral deste programa é: Cidadãos activos e uma sociedade civil vigorosa e activa participam no processo democrático e influenciam este processo, contribuindo para uma governação mais responsável, um aprofundamento da democracia, a igualdade de género e os direitos humanos em Moçambique. Os objectivos específicos incluem quatro elementos programáticos especificamente para o Programa de Acesso à Informação e três outros que são comuns aos três intermediários: 1. Os cidadãos são capacitados para exigir prestação de contas aos organismos públicos. 2. Os cidadãos em todo o Moçambique têm acesso a informação de qualidade de uma pluralidade de meios de comunicação. 3. O direito dos cidadãos à informação pública é respeitado e apoiado por um quadro legal sólido. 4. A liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são sistematicamente defendidas pelos organismos públicos. 5. As OSCs são democráticas, representativas, bem dirigidas e geridas, e são consideradas legítimas pelos seus membros e pelas suas bases. 6. As OSCs são organizações eficazes, criativas, dinâmicas, trabalhando em rede e em constante aprendizagem, cada vez com maior capacidade de levar a bom termo a sua missão programática a vários níveis e entre esses níveis. 4

7. As OSCs beneficiam de um maior alinhamento e da aplicação de princípios de boas práticas dos doadores. O grupo-alvo deste programa será constituído por cidadãos individuais, OSCs, representantes do aparelho de Estado (que participarão nalgumas actividades de formação) e jornalistas. O programa terá um enfoque específico nas mulheres nos meios de comunicação social. Foram identificados quatro parceiros-chave com que trabalhar neste programa. São organizações de índole diversa e ainda assim complementar, trabalhando em áreas muito pertinentes para o programa. São os seguintes: - MISA-Moçambique (Media Institute of Southern Africa, Instituto de Comunicação Social da África Austral ) - FORCOM Fórum Nacional das Rádios Comunitárias - AMMO Associação dos Músicos de Moçambique - AMCS Associação Moçambicana da Mulher na Comunicação Social A IBIS identificou ainda várias outras organizações com quem pode eventualmente vir a trabalhar quer através de colaboração com parceiros-chave existentes ou como parceiroschave de pleno direito. Continuar-se-á a fazer o levantamento de potenciais parceiros-chave na Fase Inicial do programa. A estratégia deste programa assentará numa abordagem baseada nos direitos com um grande enfoque na capacitação de organizações parceiras. Essa capacitação incluirá desenvolvimento de competências para implementação de actividades e desenvolvimento organizacional. A relação de parceria entre a IBIS e os parceiros-chave orientar-se-á pela estratégia e princípios de parceria da IBIS, que assentam em princípios de eficácia da ajuda para o desenvolvimento, e particularmente no conceito de apropriação. As parcerias assentarão em relações a longo prazo e financiamento de planos estratégicos. A IBIS tem uma série de instrumentos e procedimentos para selecção e avaliação de parceiros, que serão usados para identificar novas organizações e no processo de elaboração de planos de desenvolvimento de parceria e acordos de parceria com parceiros-chave identificados. Os critérios de selecção de parceiros foram já acordados com a Oxfam Novib e Diakonia e os três intermediários levarão a cabo actividades de capacitação conjuntas quando tal se mostrar pertinente. A IBIS contribui para esta relação com uma quantidade considerável de conhecimentos e muita experiência, a saber: - Sistemas sólidos de gestão financeira e experiência no fornecimento de formação e capacitação para a melhoria de sistemas financeiros; - Desenvolvimento de programas: vasta experiência com programas de desenvolvimento organizacional e gestão orientada para os resultados; - Grande experiência de estreito acompanhamento e capacitação de parceiros e experiência relevante nos meios de comunicação social, comunicações e cidadania em Moçambique; - Sistema de monitoria e avaliação sistematizado assente em resultados; - Boa rede de contactos para trabalho conjunto com outras ONGs internacionais que trabalham com questões de cidadania e governação; e - Enfoque organizacional no aumento da eficácia da sociedade civil. Relativamente a este último ponto, a IBIS propõe diversas maneiras de este programa lidar com os princípios de eficácia da ajuda ao desenvolvimento. O programa terá uma duração de cinco anos e será estruturado da seguinte forma: 1. 2010 Fase Inicial. No decorrer deste primeiro ano, serão assinados acordos com parceiros-chave identificados, serão montados sistemas de gestão, será finalizado o quadro dos resultados, será feito um levantamento de novos parceiros-chave potenciais, serão apoiadas acções inovadoras e serão iniciados programas de capacitação. 5

2. 2011-2012 Fase principal I: Durante esta Fase principal I, serão incluídos os seguintes elementos: um aumento do número de parceiros-chave, programas de capacitação, monitoria formativa e avaliação externa. 3. 2013-2014 Fase principal II: Durante esta Fase principal II, será consolidada a capacitação, continuará a crescer o trabalho com parceiros-chave, serão sistematizados resultados e aprendizagem, e será facilitada a sustentabilidade do programa. Foi elaborado para o programa uma primeira versão do quadro de resultados, a partir de discussões com os outros intermediários e com parceiros-chave. O nível dos impactos do quadro de resultados será revisto durante a Fase Inicial com os parceiros-chave e será depois revisto regularmente à medida que forem entrando novos parceiros-chave. A monitoria formativa constituirá um elemento essencial do programa, complementada por uma avaliação intercalar e por uma avaliação final. Este programa fará parte integral de um programa de cidadania da IBIS que está a ser implementado a nível nacional, com especial enfoque na província do Niassa. A experiência ao nível local ajudará a desenvolver actividades de advocacia baseada em factos, ao nível nacional. A integração facilitará ligações entre o nível local e o nível nacional, aprendizagem entre organizações e uma ligação prática entre o trabalho para o acesso à informação e o trabalho de responsabilização do Governo. 6

2. Introdução A presente proposta constitui uma resposta ao convite feito à IBIS para participar no Processo de Selecção de Intermediários para implementação das Orientações para a Sociedade Civil da Embaixada da Suécia. A IBIS foi identificada como forte candidata a intermediário para a implementação no Agrupamento D, que diz respeito ao Acesso à Informação. A IBIS considera que este Agrupamento D de Acesso à Informação está interligado com os agrupamentos de prestação de contas aos níveis social, político, financeiro e legal. A liberdade de expressão, o acesso à informação e o pluralismo social dos meios de comunicação constituem condições de base para uma participação eficaz dos cidadãos e para a reivindicação pelos cidadãos de prestação pública de contas. Uma sociedade civil activa e uma forte participação de cidadãos e OSCs na definição, monitoria e supervisão de políticas públicas e da sua implementação é crucial para uma governação democrática com prestação de contas. Mas mesmo cidadãos fortes, activos e organizados pouco podem fazer sem estarem informados e sem terem acesso a informação sobre os assuntos do Estado. O acesso à informação é um elemento central para que haja governação democrática. Como afirma o documento de Orientações da ASDI, a governação democrática exige que os cidadãos tenham consciência dos direitos humanos e dos deveres cívicos, tenham acesso à informação através de meios de comunicação social livres e independentes, e sejam capazes de reivindicar o respeito dos seus direitos. Deve também haver transparência nos assuntos públicos e os cidadãos devem ter a possibilidade de participar na elaboração de políticas e de a influenciar (ASDI, 2009, 2). A IBIS tem uma grande experiência de trabalho de fortalecimento da sociedade civil e meios de comunicação social em Moçambique, sobretudo através do seu programa Os Media no Desenvolvimento Comunitário Rural e Empoderamento da Sociedade Civil (MIRAC) e da sua experiência com programas de governação e cidadania. Este Subprograma de Acesso à Informação constituirá uma parte fundamental do programa de cidadania da IBIS em Moçambique, facilitando interligações e interaprendizagem. Será também um subprograma do programa geral da ASDI de apoio à sociedade civil em Moçambique e a IBIS trabalhará em estreita coordenação com os outros dois intermediários, a Diakonia e a Oxfam Novib, de modo a assegurar complementaridade, eficácia e aprendizagem. 3. Contexto nacional Moçambique tornou-se independente de Portugal relativamente tarde, só em 1975. Na altura, era um dos países mais pobres do mundo, uma situação que se viu exacerbada por quinze anos de uma guerra civil que só terminou em 1992. O último Relatório do Desenvolvimento Humano classifica Moçambique na 172ª posição num total de 177 países. A Constituição da República de Moçambique, de 2004, que veio consolidar a primeira constituição democrática, de 1990, define claramente o país como democracia multipartidária com eleições regulares, e liberdade de expressão e de associação, além de garantir outras liberdades de uma democracia liberal. É atribuído às organizações sociais um papel importante na promoção da democracia e da participação dos cidadãos nos assuntos políticos. O direito a procurar, obter e divulgar informação está também, claro está, consagrado na Declaração Universal dos Direitos humanos, no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e na Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos. Liberdade de informação e acesso à informação são também elementos fundamentais para a redução da corrupção. A situação de Moçambique no que diz respeito a corrupção é má, segundo várias avaliações dos níveis de corrupção, entre os quais o índice de percepções da 7

corrupção da Transparência Internacional (126º em 180 países), o Relatório da Freedom House e o Relatório de 2005 sobre Governação Africana da Comissão Económica para África. Moçambique assinou a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, que apela a que todos os Estados garantam uma efectivo acesso do público à informação, e a Convenção da União Africana de Prevenção e Combate à Corrupção, que vai mais longe ainda ao afirmar que cada Estado-Parte deve aprovar legislação que garanta os direitos de acesso a qualquer informação que seja necessária para ajudar no combate à corrupção e crimes com ela relacionados (Artigo 9). 3.1 Quadro Legal Em princípio, Moçambique tem uma Lei de Imprensa (Lei 18/91) muito liberal. Essa lei, que promoveu a criação de órgãos de comunicação social privados, está actualmente a ser revista, e foi discutida por OSCs e pelo sector privado conjuntamente com o Governo. Algumas alterações propostas são a retirada da possibilidade de o Estado ser detentor de quotas em órgãos de comunicação social privados, e a proibição de partidos políticos e sindicatos de terem licenças de rádio ou televisão (podem continuar a publicar imprensa escrita). A lei exigirá algumas alterações na actual posse dos meios de informação, dado que o Governo é proprietário de quotas consideráveis na empresa Sociedade de Notícias, proprietária dos jornais Notícias, Diário de Notícias da Beira, Domingo e Desafio. A Lei da Radiodifusão está ainda em fase de elaboração. Trata-se de uma iniciativa do Governo com participação de representantes da sociedade civil. Enquanto a Lei de Imprensa cobre todos os meios de comunicação social (incluindo estações de radiodifusão) a lei da radiodifusão legislará este sector mais em pormenor. Espera-se que esta lei siga os princípios definidos na Carta Africana de Radiodifusão, aprovada em Windhoek em 2001, em três vertentes difusão de serviço público, comercial e comunitária 1. Há várias lacunas no quadro legal que serão tratadas mais adiante na análise de problemas (Secção 4). 3.2 Pluralismo dos meios de comunicação social Moçambique tem actualmente 9 canais de televisão, 16 estações de rádio comerciais e 19 jornais (Directório Comercial de Moçambique 2008:18). A Rádio Moçambique (RM) e a Televisão de Moçambique (TVM) deixaram de ser empresas estatais e passaram a ser empresas públicas em 1994, mas os directores são nomeados pelo governo, o que dá azo a uma significativa interferência por parte do governo. A RM, a rádio pública, tem antenas em todas as províncias, mas ainda não cobre a totalidade do país. Nalguns distritos, a rádio comunitária continua a ser o único meio de comunicação social (com raios de alcance de cerca de 100 km). Há relativamente poucas estações emissoras no país e, por isso, pouca concorrência à RM e à TVM, se bem que a empresa independente SOICO (Sociedade Independente de Comunicação) tenha vindo a crescer com rapidez e a ocupar bastante espaço nos últimos anos. A SOICO é proprietária da STV e do jornal O País, um diário de âmbito nacional. Ainda assim, e por muito que a SOICO faça alguma concorrência aos meios de comunicação social públicos, o pluralismo dos meios de comunicação social é ainda extremamente limitado no país. 3.3 Informação, meios de comunicação social e prestação de contas A prestação de contas social, financeira, política e legal (os quatro aspectos fundamentais da prestação de contas que a ASDI identifica como constituindo elementos importantes de promoção da governação democrática) dependem da existência de melhor acesso à informação. A capacidade de a sociedade civil participar na actuação do governo e na sua utilização do poder e de monitorar esta mesma actuação e uso do poder está ligada à facilidade que tenham os cidadãos organizados em obter informação sobre o que o governo planeia fazer e o que foi de facto executado. A prestação de contas das finanças públicas exige transparência orçamental e informação que seja acessível aos cidadãos (e não apenas que esteja disponível). Meios de comunicação social 1 http://portal.unesco.org/ci/en/files/5628/10343523830african_charter.pdf/african%2bcharter.pdf 8

com formação desempenham um papel importante para condensar e divulgar essa informação. Da mesma forma, quando falamos de prestação de contas política e legal, é crucial o acesso à informação através da comunicação social ou através de organizações civis, e meios de comunicação social independentes que possam fazer uma cobertura crítica dos acontecimentos políticos. O acesso a informação de qualidade pode ser descrito como o fundamento da governação democrática e da prestação de contas. É um elemento necessário aos cidadãos e aos grupos sa sociedade civil para realizarem o seu trabalho. 3.4 Apoio dos doadores e ONGs internacionais à comunicação social e ao sector da informação Reforçar a boa governação é uma prioridade fundamental para doadores oficiais e ONGs internacionais em Moçambique; e os doadores têm apoiado diversos projectos relacionados com comunicação social e informação nos últimos anos. Decorreu durante 8 anos, de 1998 a 2006, um projecto relativamente grande de vários doadores, financiado pela Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Noruega, Portugal e Suécia, e implementado em conjunto pela UNESCO e pelo PNUD. Actualmente, porém, o apoio, sobretudo a OSCs, está bastante fragmentado e é muito por projectos. A UNICEF e sobretudo a UNESCO são as principais agências das Nações Unidas a actuar nesta área. A UNESCO, até agora parcialmente financiada pela ASDI, mas também com fundos próprios, tem-se centrado em Centros Multimédia Comunitários por todo o país, apoio à Lei da Radiodifusão, formação de jornalistas e apoio institucional ao FORCOM. A UNICEF financia muitos projectos implementados por diversos parceiros, incluindo o FORCOM e o MISA, incidindo em crianças e meios de comunicação social. O PNUD financiou a Unidade Técnica de Implementação da Política de Informática (UTICT), que participou também na criação dos Centros Multimédia Comunitários. No âmbito da reforma Delivering as One das Nações Unidas, as agências das Nações Unidas estão a elaborar um programa conjunto de apoio ao sector. Outros doadores têm feito incidir os seus esforços na melhoria do equipamento de comunicações, nomeadamente na modernização da televisão e da rádio (Portugal) e melhoria da rede rural de telecomunicações (Comunidade Europeia). A Comunidade Europeia, através de subsídios a actores não estatais dá também algum apoio a rádios comunitárias e projectos de direitos humanos, com enfoque no acesso à informação. Poucas ONGs internacionais se centraram especificamente nesta área, exceptuando, por exemplo, o apoio a determinadas rádios comunitárias. O programa MIRAC, da IBIS, constituiu uma excepção a este estado de coisas nos últimos anos, e a organização NIZA, dos Países Baixos, tinha anteriormente dado apoio ao MISA Moçambique, mas, desde que se fundiu com a ActionAid, não se sabe se continuará a trabalhar nesta área. Outras ONGs internacionais que apoiaram algum trabalho nesta área são a Diakonia, a MS e a Oxfam América. 4. Análise de problemas Os problemas fundamentais que este programa tenta resolver são o da fraca participação de cidadãos e da sociedade civil na tomada de decisões e o da sua pouca capacidade de exigir prestação de contas ao governo. O governo reconhece a importância da informação para o exercício da cidadania e para o reforço da democracia, como o afirma no PARPA II: O Governo tem consciência que o direito à informação constitui um dos elementos fundamentais para o exercício da cidadania e participação na construção de um Estado Democrático. Uma vez que governação democrática envolve o debate público e tomada de decisões abertas às organizações de grupos de interesses e a livre circulação de ideias e opiniões, a informação objectiva e isenta é crucial. De modo que o Governo, considera a comunicação e o acesso à informação, por exemplo, sobre as contas públicas, bem como o diálogo regular com os Governos locais e a Sociedade Civil, estimulam a transparência e reforçam a Boa Governação. 9

O Afrobarometer, num relatório recente, constata uma relação entre uma cidadania acrítica e falta de informação, afirmando que o destino da jovem democracia de Moçambique dependerá da rapidez e do grau com que o governo e os doadores sejam capazes de alargar as oportunidades de educação e acesso a meios de comunicação social, sobretudo meios de comunicação social independentes, a fim de criar capacidade crítica em todo o corpo político (2008, 50). A informação (ou a falta dela) foi também identificada pela análise que a ASDI fez da sociedade civil e da governação democrática em Moçambique como constituindo um problema fundamental que cria entraves a todos os aspectos de prestação de contas no país. Um lado da questão é que há insuficiente procura, por parte dos cidadãos, da informação que existe; outro lado da questão é que não há informação de qualidade suficiente a ser produzida e divulgada. Há diversos factores que contribuem para estes problemas inter-relacionados de falta de informação e falta de conhecimento. Estes factores podem agrupar-se eficazmente em quatro áreas: 1) Os cidadãos estão mal informados dos seus direitos enquanto cidadãos, incluindo o seu direito de acesso à informação. 2) Os meios de comunicação social independentes são fracos e há má cobertura fora das cidades principais. 3) Existe um quadro legal desfavorável. 4) Não se respeita a liberdade de expressão 4.1 Falta de informação dos cidadãos do seu direito de acesso à informação. Os cidadãos de Moçambique não têm, no geral, consciência do seu direito de acesso à informação no âmbito da legislação existente. Embora não haja actualmente lei de acesso à informação, a Constituição da República de Moçambique consagra esse direito e, como vimos atrás, o governo destacou-o, no mais recente PARPA, com constituindo uma questão importante. Há também alguns mecanismos legais que, a serem conhecidos, poderiam facilitar em certa medida o acesso dos cidadãos à informação. Por exemplo, o artigo 8 do Decreto 30/2001, que se refere ao funcionamento da Administração Pública, estabelece o princípio de colaboração com indivíduos no que diz respeito a pedidos de informação, e o Decreto 54/2005, respeitante à aquisição de bens e serviços pelo Estado, estipula que o Estado deve publicar informação sobre aquisições, de modo a assegurar transparência e igualdade de oportunidades. No entanto, em vez de terem uma cultura aberta relativamente à informação, os cidadãos hesitam, na maior parte dos casos, em pedir informação a um representante do governo ou desistem quando essa informação não é disponibilizada ou quando lhes é solicitado pagamento. Os cidadãos muitas vezes não estão conscientes de que determinada informação deveria estar pública e gratuitamente disponível à partida. Uma recente análise feita pelo projecto Afrobarometer de Moçambique revela que percentagens relativamente altas de moçambicanos são sistematicamente incapazes de responder a muitas questões essenciais sobre a actuação do governo ou sobre o regime democrático, ou ainda de dizer que tipo de regime preferiam que Moçambique tivesse (Afrobarometer, Working Paper 91, iii). Os cidadãos mal informados dos seus direitos à informação vêem limitada a sua capacidade de participar activamente na exigência de prestação de contas ao governo e a marginalização das mulheres é especialmente grande. Sem os instrumentos de informação, não podem, por exemplo, exigir aos políticos e aos representantes do governo que dêem contas do cumprimento das promessas que fizeram às pessoas. 10

4.2 Debilidade dos meios de comunicação social independentes e má cobertura fora das cidades principais Embora Moçambique tenha uma legislação da comunicação social relativamente liberal, há ainda um alcance extremamente limitado dos órgãos de imprensa. O país tem apenas três jornais por 1.000 habitantes (em contraste com uma média de 44 para os países de baixo rendimento), 14 televisores por 1.000 habitantes (em contraste com uma média de 84), e 44 rádios por 1.000 habitantes (em contraste com uma média de 198) (Relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial, 2005). Tem havido algum aumento da diversidade da imprensa escrita, especialmente em Maputo, mas a circulação limita-se ainda muito à capital e arredores. O jornal Notícias, que é maioritariamente estatal, tem de longe a maior circulação, com uma tiragem de 16.000 exemplares em finais de 2008. O Diário de Moçambique estava em segundo lugar, com uma tiragem de 5.000 exemplares (Afrimap, 2009, 55). É de realçar que o número de leitores é muito mais elevado, sendo que cada exemplar é lido por entre 7 e 10 pessoas (Mabunda, 2005). Mas a circulação fora de Maputo é pequena, só chegando a Nampula ao fim da tarde ou no dia seguinte e a Lichinga, no Niassa, nos dias em que há ligação aérea (4 dias por semana). O acesso à informação fora de Maputo é particularmente fraco. Um relatório recente do MISA afirma que quanto mais nos afastamos de Maputo, mais fechadas são as instituições públicas no que diz respeito ao acesso dos cidadãos à informação de que necessitam para tomarem decisões sobre a sua vida (MISA, 2008, 8). A cobertura da televisão é muito limitada e a maioria dos moçambicanos não têm televisão. A rádio é a principal fonte de informação para a maioria dos cidadãos moçambicanos, dado que os jornais não chegam aos distritos rurais do país e, mesmo que chegassem, os elevados níveis de analfabetismos impediriam as pessoas de os lerem. A RM é a única rádio com cobertura nacional e, em muitas zonas rurais, as rádios comunitárias são as únicas opções disponíveis. Actualmente, o FORCOM tem 36 rádios suas associadas em todo o país. Para além destas, há mais 24 rádios estatais locais geridas pelo Instituto de Comunicação Social (ICS). Embora estas rádios comunitárias prestem um serviço muito importante, defrontam-se também com uma série de obstáculos. A maioria das rádios comunitárias tem trabalhadores com pouca formação e têm muito pouco financiamento. Em muitos casos, dependem da compra de tempo de antena por outras ONGs para difusão de programas que essas ONGs produziram. Há muito pouca capacidade de produzir conteúdos ao nível local, e não há conteúdos suficientes a serem produzidos e a circular no FORCOM. Em termos de cobertura de questões políticas, há alguns programas regulares nas estações difusoras principais, por exemplo, na RM, na TVM e na STV. No geral, porém, não se dá atenção suficiente a apresentar diversas opiniões de diversas pessoas que não sejam representantes do Governo. 4.3 Lacunas no quadro legal existente Actualmente, não há lei sobre acesso à informação, embora o MISA-Moçambique tenha elaborado uma versão preliminar, que foi entregue à Assembleia da República em 2005. Esta proposta, porém, não foi discutida até ao fim do mandato da Assembleia em 2009. A versão preliminar da proposta de lei visa estabelecer os mecanismos ou procedimentos necessários ao efectivo exercício do direito à informação, de modo a garantir acesso aos dados ou registo na posse das autoridades públicas e de organismos privados, quando a informação for necessária para exercer e/ou proteger um direito, de uma forma que seja eficaz, não onerosa e razoável, assente no princípio de máxima abertura e excepções mínimas. Inclui também uma lista dos tipos de informação que deve obrigatoriamente ser divulgada ao público pelos órgãos da administração estatal e a definição das condições práticas de acesso a esta informação por parte dos jornalistas, nomeadamente os prazos para responder a pedidos, e da possibilidade de apelo em caso de recusa. Não há lei antimonopólio dos meios de comunicação social. Uma lei antimonopólio dos meios de comunicação social evitaria a situação em que haja simplesmente um aumento de jornais, canais de televisão, etc., sem que haja real pluralismo, um riscos evidente quando 11

diversos órgãos de comunicação social se fundem numa única empresa ou são criados a partir do mesmo grupo empresarial. E não há nenhum instrumento regulador do funcionamento dos órgãos de comunicação. A RM e a TVM são dois órgãos de comunicação social influentes financiados pelo Estado. Há, no entanto, falta de transparência sobre a maneira como são financiados (não há fiscalização por parte da Assembleia da República, por exemplo) e sobre a maneira como são administrados (por exemplo, nomeação política de directores de informação). Uma das leis existentes que constitui uma ameaça às liberdades consagradas na Constituição e em legislação posterior é a Lei do Segredo de Estado (12/79). O segredo de Estado é definido nesta lei de forma ambígua, dando azo a uma interpretação alargada por qualquer funcionário do Governo. Segundo esta lei, são documentos classificados os que contenham dados ou informação militar, política, económica, comercial, científica, técnica ou de qualquer outro tipo que possa pôr em risco, prejudicar ou perturbar a segurança do Estado e do Povo, ou a economia nacional. 4.4 Falta de respeito da liberdade de expressão A liberdade de expressão está consagrada na constituição moçambicana e alguma revisões propostas à Lei de Imprensa (por exemplo, eliminação das cláusulas que dão ao GABINFO a poder de suspender meios de comunicação social por violação da Lei de imprensa, incluindo a publicação de material considerado obsceno) deveriam vir a aumentar a protecção legal dessa liberdade. Há alguns problemas, porém, com o respeito desta liberdade na prática. Por exemplo, um recente relatório do Afrimap sobre Moçambique afirma que o Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS), criado pela Constituição e pela Lei de imprensa como órgão regulador para a comunicação social tem sido muito criticado, sobretudo por jornalistas. Na prática, o CSCS tem agido quase exclusivamente para proteger o bom nome e a reputação de figuras públicas quando estas apresentam queixas ao CSCS sobre notícias polémicas sobre elas, em vez de centrar o seu trabalho em garantir independência dos meios de comunicação social relativamente aos órgãos estatais. Decidiu também entregar a instâncias jurídicas queixas relacionadas com a comunicação em vez de usar os seus poderes de orientação ética (Afrimap, 2009, 49). Tomas Vieira Mário (Presidente do MISA) declarou, numa entrevista ao jornal Notícias (25/08/08), que quanto mais nos afastamos da capital, mais as liberdades da imprensa diminuem. Nos distritos, a liberdade de imprensa ainda é uma noção muito estranha para a maioria das autoridades públicas. Os jornalistas continuam a ser perseguidos pelas autoridades públicas quando é posto em causa o desempenho destas últimas. Em Março de 2009, o Governador Provincial ameaçou de morte um jornalista do Noticias, em Tete, após este ter publicado informação criticando a má qualidade das obras de electricidade juntamente com um inexplicável aumento dos custos de renovação da residência do administrador de Mutarara. O governador fez referência directa ao assassinato do jornalista Carlos Cardoso na sua ameaça. O assassinato de Carlos Cardoso recorda permanentemente aos jornalistas as potenciais consequências de expor demasiado à luz do dia os assuntos públicos. E finalmente, a experiência da IBIS com o seu programa de cidadania no Niassa revelou que há uma cultura de medo e auto-censura que impede uma participação significativa dos cidadãos, bloqueando efectivamente o debate crítico entre agentes da sociedade civil e representantes do Estado. Segundo as conclusões de uma recente avaliação do programa de cidadania da IBIS, as pessoas têm medo de serem consideradas como oponentes do partido no poder e de serem marginalizadas por causa disso. 4.5 Marginalização das mulheres na comunicação social O sector da comunicação social não difere do resto da sociedade moçambicana no que diz respeito à marginalização das mulheres, sendo estas frequentemente discriminadas e excluídas de cargos de importância. Um estudo recente sobre as mulheres na comunicação social na África Austral revelava que as mulheres constituem apenas 27% dos trabalhadores da 12

comunicação social moçambicana (número semelhante de profissionais), uma das percentagens mais baixas da África Austral (11ª posição em 14 países, no estudo) (2009, Glass ceilings: Women and men in Southern Africa media, p. 8). Estas baixas percentagens repetem-se relativamente a presidentes de conselhos de administração e cargos cimeiros de gestão (idem) e há uma maior representação das mulheres em trabalhos femininos mais tradicionais, como sejam marketing e recursos humanos. Ter mulheres em cargos profissionais de jornalismo parece ser muito importante para determinar se são tratados ou não assuntos relacionados com género. Segundo o mesmo estudo, mais de 2/3 de homens e mulheres concordam que é mais provável que as mulheres jornalistas cubram temas relacionados com género do que jornalistas homens (p. 94). A maior parte das empresas de comunicação social não têm quaisquer políticas de género a funcionar, se bem que pareça haver vontade de tentar resolver este problema, com 71% das empresas de comunicação em Moçambique dizendo que gostariam de criar políticas de género (2009, Tetos de Vidro, p. 23). 5. Oportunidades e desafios constatados na análise das orientações da ASDI A IBIS pensa que há bastante coincidência das políticas e abordagens da IBIS e das orientações da ASDI. Há um enfoque semelhante em abordagens baseadas em direitos, desenvolvimento democrático, igualdade de género e direitos humanos. A IBIS tem também uma forte abordagem centrada nas pessoas. Concordamos com a análise da ASDI de que actualmente o apoio à sociedade civil é feito em função das solicitações e há necessidade de mais capacitação institucional. Pode encontrar-se mais informação sobre políticas e directivas da IBIS, se necessário, nos seguintes documentos (disponíveis em www.ibismz.org): - Visão 2012 da IBIS - Parceria estratégia da IBIS - Documento de tomada de posição: a IBIS e abordagens baseadas em direitos - Orientações para monitoria de programas temáticos da IBIS Este novo modelo de apoio à Sociedade Civil apresenta vários desafios e várias oportunidades. Apresentamos a seguir as nossas ideias. 5.1 Sociedade civil e parceiros-chave As orientações da ASDI centram-se no que designam como parceiros-chave a saber, actores da sociedade civil ao nível nacional, como sejam organizações nacionais com estruturas a níveis inferiores, redes de organizações, organizações de nível nacional de pesquisa e controlo, e organizações de direitos humanos ao nível nacional. Esta estratégia baseia-se nas recomendações do documento de conceptualização Direcções Estratégicas, produzido em Outubro de 2008, que propunha que se apoiassem organizações nacionais desempenhando papéis de liderança em processos de desenvolvimento presentes e futuros. As orientações (e documento de conceptualização) também recomendam que se apoiem organizações com capacidade de chegar às pessoas. Num país tão grande tão variado como Moçambique, esta capacidade de chegar às pessoas é crucial, para contrariar a tendência já existente de privilegiar a cidade e a província de Maputo em termos de desenvolvimento económico e social, e de oportunidades. Um dos riscos que esta estratégia comporta é concentrar ainda mais os recursos no nível central, em organizações que estão já em vantagem em termos de capacidade de angariação de fundos. Por outro lado, a política de apoio a longo prazo ao orçamento geral da organização constitui uma possibilidade de reforçar essas organizações, muitas das quais recebem apoio muito por projectos, e de dar um exemplo a outros doadores. A IBIS pensa que a sociedade civil é, por natureza, diversificada e desorganizada, e que não pode facilmente organizar-se em estruturas hierárquicas. Tem uma tremenda capacidade de 13

inovação que precisa de ser explorada. Um programa de apoio à sociedade civil precisa de dar espaço para apoiar novas iniciativas e novas ideias. Para esse fim, e de uma forma semelhante aos dois outros intermediários, propomos incluir no orçamento um fundo de arranque, para que potenciais parceiros-chave novos e inovadores possam gradual e organicamente ir aderindo ao programa, enquanto reforçam a sua capacidade e aumentam a sua implantação, guiados e aconselhados por outros parceiros-chave. Este fundo pode também ser usado para importantes actividades conjuntas ou necessidades especiais relevantes e imprevistas. Dada a geografia e a crescente descentralização de Moçambique, propomos também que nos abramos, no futuro, ao apoio a parceiros-chave ao nível provincial. Seja como for, as ligações entre as capitais e a província são cruciais. Facilitaremos maiores ligações entre os níveis nacional e local, por exemplo fornecendo a organizações possibilidades trabalho em rede ou formação e investindo em melhores mecanismos de comunicação melhorando tanto a infraestrutura física como as práticas e as normas de comunicação interna. 5.2 Capacitação da sociedade civil e diálogo político A experiência que a IBIS tem de trabalho com organizações parceiras e de gerir fundos semelhantes da sociedade civil noutros países revelou a importância de integrar capacitação e acompanhamento dos parceiros na relação de parceria, como vertente fundamental desta relação. O enfoque no reforço da capacidade de parceiros-chave que se encontra nas orientações da ASDI é, neste aspecto, muito positivo; e o fornecimento de apoio a longo prazo ao orçamento geral da organização é um mecanismo para facilitar este processo. Da mesma forma, a IBIS vê também com bons olhos o compromisso da ASDI de promover mais oportunidades para participação de OSCs em fóruns de diálogo sobre políticas. Há actualmente dois elementos que põem em causa a capacidade das OSCs de participar eficazmente: a) a capacidade de trabalho em rede das OSCs ao nível nacional de comunicarem, planearem e acordarem posições e estratégias comuns; e b) o espaço que os representantes da Sociedade Civil sentem que existe para eles fazerem grandes reivindicações no actual clima político. Ultrapassar estes obstáculos será um processo lento, gradual, com alguns aspectos que se podem resolver através de maior investimento em pessoal, planeamento, e formação em competência e estratégias de advocacia no âmbito do programa. Outros aspectos dependerão em certa medida de maiores alterações do clima político. 5.3 Princípios de eficácia da ajuda ao desenvolvimento A IBIS é membro de uma aliança de ONGs internacionais clamada Aliança 2015, que é parceria de sete ONGs com filosofias semelhantes que trabalham na área de cooperação para o desenvolvimento. Esta Aliança definiu princípios internos de eficácia da ajuda ao desenvolvimento a que todos os membros deveriam aderir (ver Anexo 5). Os princípios de parceria estratégia da IBIS (http://www.ibismz.org/docs/moz_documents_56.pdf) reflectem também de forma clara o espírito da Declaração de Paris e da Declaração de Acra que estão delineados nas orientações da ASDI. Uns dos desafios que se colocam para seguir os princípios de eficácia da ajuda ao desenvolvimento de Paris, como foi longamente discutido pelo Conselho Consultivo sobre Sociedade Civil e Eficácia da Ajuda ao Desenvolvimento em 2007 e 2008, é enriquecer e aprofundar o entendimento e a aplicação dos princípios da Declaração de Paris de maneiras que ponham em relevo a apropriação local e democrática, a diversidade social, a igualdade de género e a prestação de contas, para atingir os resultados de beneficiar a população pobre e marginalizada como condição essencial de eficácia. A Declaração de Paris foi um acordo histórico entre países doadores e países receptores da ajuda ao desenvolvimento, mas as limitações na forma como têm sido interpretados e aplicados os princípios de Paris significam que estes não podem ser simplesmente transferidos para a Sociedade Civil (ver Grupo Consultivo sobre Sociedade Civil e Eficácia da Ajuda ao Desenvolvimento: Síntese de Conclusões e Recomendações, Agosto de 2008). Por exemplo, o princípio de gestão orientada para resultados de desenvolvimento tem tendido a centrar-se em mudanças de políticas ou indicadores de prestação de serviços sociais, e não em indicadores de mudança institucional e social. Pode haver mais crianças na escola mas sabemos se estão a receber uma educação de qualidade? A escolha de resultados e a revisão regular dos resultados que estão a ser medidos 14

constituirá um desafio fundamental para este programa. Os outros princípios de Paris apresentam desafios semelhantes (ver Secção 9). 5.4 Agrupamento de acesso à informação Achamos importante a inclusão de um agrupamento separado de promoção do acesso à informação, dada a importância deste aspecto em todos os níveis de prestação de contas (social, legal, financeira, política) definidos nas orientações da ASDI. A IBIS considera o acesso à informação uma questão transversal do desenvolvimento democrático. Um investimento específico neste sector, porém, faz com que lhe sejam destinados recursos suficientes e que não se perca na institucionalização como costuma acontecer a algumas questões transversais. Um enfoque do programa será assegurar boa comunicação e coordenação entre a IBIS e os outros intermediários, e também entre os parceiros-chave nos diversos agrupamentos. Isto é necessário para garantir laços fortes entre trabalho de advocacia, por exemplo relativo a políticas de liberdade de informação, e as necessidades de informação dos outro parceiroschave dos outros agrupamentos que trabalham com género, terra, educação, questões de governação local, etc. Quando fazemos perguntas sobre acesso à informação, estamos a fazer perguntas sobre acesso à informação relativamente a um tema específico estes temas específicas serão muitas vezes tratadas por outros parceiros-chave que não fazem parte deste agrupamento. 6. Objectivos e principais actividades do programa 6.1 Objectivos do programa Este programa contribuirá para os objectivos gerais do trabalho da ASDI em prol de uma governação democrática, a saber: 1. Os cidadãos e a sociedade civil têm acesso ao sector público e um bom conhecimento deste sector, e têm a capacidade de lhe exigir prestação de contas. 2. Aumenta o respeito pelos direitos humanos e o acato destes mesmos direitos, com especial enfoque nos grupos mais vulneráveis da sociedade. Este programa incidirá na área de acesso à informação incluindo os seguintes aspectos: - Reforço da liberdade de expressão - Reforço do acesso à informação (pública) - Promoção de pluralismo nos meios de comunicação social - Promoção de participação dos cidadãos (aos níveis nacional e local) - Promoção da reivindicação pelos cidadãos de prestação de contas públicas Um workshop participativo com parceiros potenciais, para analisar problemas e definir objectivos, definiu um objectivo geral para o programa, o de reforçar a participação da sociedade civil em processos decisórios. Isto foi em seguida ajustado aos objectivos que tinham sido propostos para os outros intermediários. Assim sendo, o objectivo geral deste programa é o seguinte: Cidadãos activos e uma sociedade civil vigorosa e activa participam no processo democrático e influenciam este processo, contribuindo para uma governação mais responsável, um aprofundamento da democracia, a igualdade de género e os direitos humanos em Moçambique. Este objectivo desenvolvimento segue também de perto o Objectivo 2 do quadro de resultados da ASDI: Reforçar o desenvolvimento democrático, e aumentar a igualdade de género e o respeito dos direitos humanos. Esta subprograma incidirá nos obstáculos relacionados com a falta de informação que constitui um entrave à participação e à influência dos cidadãos na exigência de contas ao governo. Os objectivos específicos do subprograma podem agrupar-se em quatro objectivos temáticos e três objectivos de 15

reforço da sociedade civil (o último dos quais é partilhado com os outros dois intermediários), da seguinte forma: Objectivos temáticos: 1. Os cidadãos são capacitados para exigir prestação de contas aos organismos públicos. 2. Os cidadãos em todo o Moçambique têm acesso a informação de qualidade de uma pluralidade de meios de comunicação. 3. O direito dos cidadãos à informação pública é respeitado e apoiado por um quadro legal sólido. 4. A liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são sistematicamente defendidas pelos organismos públicos. Sociedade Civil reforço de objectivos 5. As OSCs são democráticas, representativas, bem dirigidas e geridas, e são consideradas legítimas pelos seus membros e pelas suas bases. 6. As OSCs são organizações eficazes, criativas, dinâmicas, trabalhando em rede e em constante aprendizagem, cada vez com maior capacidade de levar a bom termo a sua missão programática a vários níveis e entre esses níveis. 7. As OSCs beneficiam de um maior alinhamento e da aplicação de princípios de boas práticas dos doadores. Os primeiros quatro objectivos específicos referem-se directamente aos problemas já apresentados na Secção 4. Os últimos três objectivos remetem para o problema da capacidade da sociedade civil, descrito na Secção 8. Podem encontrar-se indicadores conjuntos de efeitos e produtos no quadro de resultados na Secção 14. Os indicadores de impacto serão acordados com os parceiros, com base nos seus próprios quadros de resultados. 6.2 Principais áreas de actividade As actividades deste programa basear-se-ão nos planos estratégicos dos parceiros-chave identificados. Podem, no entanto, agrupar-se grosso modo nos seguintes tipos de actividades: - Pesquisa, investigação e publicações - Produção de conteúdos para rádios e comunicação alternativa - Educação cívica e formação de jornalistas, OSCs, representantes do governo e cidadãos individuais - Advocacia e lobbying - Sensibilização e campanhas - Comunicação interna e externa - Trabalho em rede entre parceiros-chave e entre OSCs - Desenvolvimento institucional e capacitação 7. Grupo-alvo e intervenção geográfica O grupo-alvo deste programa é constituído por: - Cidadãos individuais em todo o Moçambique, incluindo áreas rurais, com enfoque especial nas mulheres, - OSCs que trabalhem com questões relacionadas com governação democrática - Jornalistas, com enfoque nas mulheres. - Funcionários do aparelho de Estado serão incluídos nalgumas actividades de formação ou sensibilização Maior acesso à informação e mais liberdade de informação são fundamentais para que os indivíduos posam usufruir dos seus direitos como cidadãos. A capacidade das OSCs de monitor eficazmente processos de governação e neles participar depende de estas organizações terem, por um lado, a informação necessária e, por outro, a capacidade de o fazer. Assim sendo, além de contribuir para uma sociedade de informação mais aberta em Moçambique, este programa terá um grande enfoque na capacitação. Os jornalistas são os intervenientes principais no 16

fornecimento de informação aos cidadãos no país. O seu sucesso nessa tarefa está a ser limitado por falta de formação, uma cultura de medo e auto-censura, e ameaças reais, se criticarem determinadas figuras públicas. A IBIS trabalhará com parceiros-chave ao nível nacional. O apoio ao nível provincial far-se-á através de delegações provinciais da organização nacional (por exemplo, MISA, AMMO), com membros de redes (por exemplo, FORCOM) e trabalhando através de alianças. Serão montados mecanismos para estabelecer ligações com outras organizações trabalhando aos níveis locais por exemplo, com as organizações parceiras que a IBIS está a apoiar nos seus programas no Niassa e na Zambézia, e com os contactos provinciais dos parceiros-chave. 7.1 Selecção e identificação de parceiros A IBIS fez, ao preparar a presente proposta, um levantamento de potenciais parceiros com quem trabalhar neste subprograma. Até à data, foram identificadas 4 organizações como potenciais parceiros-chave e todas participaram nesta preparação. Foram feitas entrevistas individuais com cada organização, seguindo-se um workshop de um dia para identificar os principais problemas a tratar e os objectivos do programa. Foram seleccionadas como potenciais parceiros-chave as seguintes quatro organizações para o arranque do programa (ver Anexo 4 para mais informação sobre os parceiros-chave propostos): MISA-Moçambique (Media Institute of Southern Africa, Instituto de Comunicação Social da África Austral) O MISA-Moçambique é a delegação moçambicana de uma organização regional da África Austral. Trabalha em Moçambique desde 2000. A sua missão é desempenhar um papel fundamental na promoção e desenvolvimento de um ambiente de liberdade de expressão, acesso à informação, independência, pluralismo de pontos de vista, competência e sustentabilidade financeira e criar um ambiente no qual todos os sectores da sociedade possam usar os meios de comunicação social para as suas próprias necessidades. - O MISA cumpre todos os critérios obrigatórios da ASDI para parceiros-chave e também, no geral, todos os critérios mínimos para apoio ao orçamento geral da organização, embora alguns aspectos possam ser melhorados (pessoal mais qualificado e melhores sistemas internos, sobretudo para for monitorar as delegações provinciais) - O MISA-Moçambique era formalmente um parceiro da IBIS durante a implementação do seu programa MIRAC. A IBIS também apoiou directamente a delegação do MISA no Niassa. FORCOM Fórum Nacional de Rádios Comunitárias O FORCOM é o Fórum de Rádios Comunitárias de Moçambique. Foi criado em 2004, com o fim de melhorar a coordenação das rádios comunitárias e o seu trabalho. Actualmente, o FORCOM tem 36 membros no país. A missão do FORCOM é defender os interesses das rádios comunitárias, com base numa coordenação eficaz e participação de todos os membros da organização, para garantir que seja satisfeito o direito da população à informação. - O FORCOM cumpre os critérios obrigatórios. Tem actualmente um plano estratégico que está a ser revisto, mas a sua capacidade institucional precisa de ser reforçada para cumprir os critérios mínimos para apoio ao orçamento geral da organização. - O FORCOM era formalmente um parceiro da IBIS no âmbito do programa MIRAC. Actualmente, a IBIS está a trabalhar com alguns membros do FORCOM no Niassa como parceiros do programa de cidadania, através de formação para comunicadores, compra de tempo de antena, etc. AMMO Associação do Músicos de Moçambique A AMMO é a associação nacional dos músicos de Moçambique. - A AMMO é actualmente parceira da IBIS, no âmbito do programa de cidadania da IBIS, e desde Outubro de 2008 que está a implementar um programa de produção de música contendo mensagens-chave sobre direitos dos cidadãos e cidadania em Moçambique. A associação de músicos congrega 1.024 músicos. A música é um importante meio de comunicação social em Moçambique e tem um potencial ainda por explorar para sensibilização para as questões do acesso à informação e direitos dos cidadãos. 17

- A AMMO cumpre todos os critérios obrigatórios. É necessário mais apoio institucional para cumprir também os critérios mínimos para apoio ao orçamento geral da organização. AMCS Associação Moçambicana da Mulher na Comunicação Social A AMCS é uma associação nacional de mulheres nos meios de comunicação social, que foi lançada em 1993 e formalmente criada em 2000. A missão da AMCS é reforçar a capacidade das mulheres nos meios de comunicação social e facilitar o acesso das mulheres à informação para o desenvolvimento de comunidades desfavorecidas, através do uso da comunicação social e tecnologias de informação e comunicação. - A AMCS cumpre todos os critérios obrigatórios. Está a trabalhar num novo plano estratégico mas terá de ser apoiada com reforço institucional nalgumas áreas para cumprir os critérios mínimos para apoio ao orçamento geral da organização. - A IBIS nunca teve parceria com a AMCS. Esta organização já recebeu, porém, apoio da Diakonia ao seu orçamento geral, outro potencial intermediário da ASDI. A Diakonia decidiu cessar o seu apoio porque a AMCS se enquadra melhor no Agrupamento D. 7.2 Outras potenciais organizações expansão do programa Não é intenção da IBIS que o programa se limite a esta quatro organizações, mas sim que venham a ser identificados e incluídos mais parceiros-chave no decorrer do programa. A investigação de organizações da IBIS neste período revela que há várias organizações com possibilidades de virem a ser incluídas, mas que não foram incluídas nesta fase. Há diversas razões para tal, incluindo falta de clareza sobre a independência política das organizações, o facto de não serem associações com estatuto legal em Moçambique ou dúvidas sobre a sua capacidade. A IBIS acredita que este programa terá a lucrar com um grupo diversificado de organizações e a inclusão de organizações que complementem o papel da comunicação social na difusão de mensagens sociais, como a AMMO e espera-se que também alguns grupos de teatro no futuro. Estas outras organizações são: - SNJ Sindicato Nacional dos Jornalistas - FAIR Forum of African Investigative Reporters, Fórum de Repórteres Africanos de Jornalismo de Investigação - GEMSA Gender and Media in Southern Africa, Género e Comunicação Social na África Austral - AEJ Associação de Empresas Jornalísticas de Moçambique - Editmoz Associação dos Editores Moçambicanos - NSJ Southern African Media Training Trust, Grupo de Formação de Comunicação Social da África Austral - Projecto CAICC Centro de Apoio à Informação e Comunicação Comunitária, um projecto que trabalha em estreita colaboração com organizações como o FORCOM e que está actualmente localizado no Centro de Tecnologia da Universidade Eduardo Mondlane. - Grupos de teatro por exemplo, o Grupo de Teatro do Oprimido, Teatro Gungu Alguns parceiros-chave já trabalham em colaboração com algumas destas organizações (por exemplo, o MISA trabalha com o SNJ, o FAIR e a AEJ). Serão exploradas na Fase Inicial outras formas de colaboração, bem como a possibilidade de vir a incluir algumas destas organizações, ou outras, nos programa como parceiros-chave. Quando não for possível trabalhar directamente com estas organizações como parceiros-chave, o programa pode trabalhar em colaboração com elas de outras formas, por exemplo, através de parceiros-chave, apoiando-as para realizar certas actividades. O alargamento do número de parceiros-chave será feito através de um processo orgânico de aproximação às organizações e identificação de potenciais parceiros-chave para o futuro através da implementação do subprograma. Todos os potenciais parceiros-chave terão de seguir os passos atrás descritos e satisfazer os critérios da ASDI. 18

7.3 Colaboração com outras OSCs e outros parceiros-chave dos Agrupamentos A e C A colaboração com outras OSCs ocupará um lugar central neste subprograma. Como já vimos, as questões de acesso à informação e de uma comunicação social capaz são transversais a todas as áreas da governação democrática e da responsabilização do governo. - Para os cidadãos e as OSCs exigirem de governos e doadores que prestem contas da qualidade e implementação dos planos, esses planos e a informação sobre como foram executados têm de estar disponíveis para serem analisados. Boas leis de acesso à informação e o conhecimento dessas leis pode ajudar a ajudar as OSCs que operam na área da governação local e da prestação social de contas a fazer o seu trabalho. - Monitoria e acompanhamento do orçamento é cada vez mais uma maneira de os cidadãos e OSCs participarem na melhoria dos processos de prestação pública de contas. Sem acesso ao orçamento e, em muitos casos, tradução desse orçamento para uma linguagem acessível (uma tarefa que um jornalista com formação pode realizar), a monitoria de orçamento é muito difícil. - Os meios de comunicação social são intervenientes fundamentais no que diz respeito a prestação legal de contas. Mas, para serem capazes de desempenhar o seu papel de forma eficaz, os jornalistas precisam de ter consciências das obrigações legais do Estado. - A prestação política de contas e, por exemplo, a realização de eleições livres e justas exige meios de comunicação social independentes, para que os cidadãos sejam adequadamente informados. Meios de comunicação social mais independentes, como resultado, por exemplo, da implementação da Lei de Radiodifusão proposta, contribuiriam para uma melhor cobertura de processos eleitorais. As possibilidades de colaboração são: Formação, por grupos de direitos humanos (por exemplo, Liga dos Direitos Humanos, LDH), no Agrupamento A, de jornalistas e profissionais da comunicação social que participem neste subprograma. Formação, por parceiros do subprograma, de grupos de direitos e desenvolvimento sobre o quadro legal que suporta a liberdade de informação e expressão. Actividades de campanha conjuntas por exemplo, com a participação de outras OSCs de direitos e desenvolvimento em campanhas dirigidas por parceiros-chave destes programa por uma nova lei de acesso à informação Assinatura de um Memorando de Entendimento (MdE) entre o FORCOM e grupos de direitos e desenvolvimento, para acordarem um mecanismo de apoio mútuo e divulgação de conteúdos através da rede de rádios comunitárias Formação conjunta sobre questões de desenvolvimento temático e organizacional (ver 8.2) 8. Estratégia de estabelecimento de parcerias 8.1 Abordagem baseada nos direitos Este programa usará uma abordagem baseada nos direitos, o que constitui uma referência cobrindo geralmente equidade, justiça e lei, afirmando que todos os cidadãos têm direito aos recursos que satisfaçam as suas necessidades específicas. Esta abordagem baseada nos direitos ocupa um lugar central no trabalho da IBIS, no sentido em que estabelece uma relação entre titulares dos direitos e sujeitos de deveres. Dá direitos aos pobres e marginalizados, o grupoalvo fundamental da IBIS, e abre espaço político para exigir o respeito desses direitos pelos sujeitos de deveres. Neste sentido, a abordagem baseada em direitos parte da abordagem de empoderamento, mas com a vantagem de criar uma relação assente em obrigações, que se funda num quadro internacionalmente acordado de direitos humanos, aprovado pelas Nações Unidas. A IBIS apoia a sociedade civi, empenhando-se em responsabilizar o Estado perante os seus cidadãos e fazer respeitar os direitos de homens e mulheres marginalizados. Nesta perspectiva, os direitos são essenciais para o trabalho da IBIS e tornam-se o principal instrumento para os actores da sociedade civil fazerem revindicações ao Estado. Os processos de exigência do respeito de direitos por parte do Estado e de exigência a esse mesmo Estado que preste contas 19

aos cidadãos constituem as atribuições essenciais da sociedade civil e dão legitimidade aos actores da Sociedade Civil, uma vez que conhecer os seus direitos e fazer algo para que eles sejam respeitados constituem os alicerces do papel de instância de controlo da Sociedade Civil relativamente ao Estado, em democracia. Um documento de tomada de posição da IBIS sobre a abordagem baseada nos direitos delineia princípios fundamentais que devem nortear o trabalho dos programas da IBIS em países em desenvolvimento: A IBIS deve prestar contas a parceiros e outras partes interessadas nos seus programas e actividades, e deve também reconhecer as suas obrigações para com titulares de direitos a todos os níveis. Reforçar os sujeitos de deveres para cumprirem as suas obrigações; empoderar os titulares de direitos para reivindicarem os seus direitos deve ser a base de todas as intervenções da IBIS. Isto implicará que os programas tenham uma focalização específica nos direitos. As análises da situação e os estudos de base realizados antes de assinar parcerias e de iniciar intervenções devem definir as partes interessadas nos programas e as actividades numa perspectiva assente em direitos, identificando titulares de direitos e sujeitos de deveres e pondo a nu barreiras estruturais que impeçam os pobres e marginalizados de verem respeitados os seus direitos. Centrar-se no empoderamento implica que todas as partes envolvidas, parceiros e grupos-alvo participem, na medida do possível, consoante o contexto, na concepção dos programas e na sua monitoria e avaliação. Os grupos-alvo são titulares de direitos e os programas devem trabalhar com a capacidade dos titulares de direitos de reivindicarem esses seus direitos. Devem ser identificados sujeitos de deveres pertinentes para o programa e deve trabalhar-se com a sua capacidade de cumprir as suas obrigações para com os titulares de direitos. 8.2 Procedimentos e critérios de selecção de parceiros Procedimentos de selecção de parcerias A estratégia de parceria da IBIS é o quadro que orienta a selecção e avaliação de parceiro, e foram criados vários instrumentos para apoiar este processo. Para a IBIS entrar em parceria com estas organizações, há diversos passos fundamentais que terão de ser seguidos (os parceiros actuais só precisam de seguir os passos 5 e 6 depois de uma revisão da parceria existente): 1. Dá-se uma troca de vários documentos entre a IBIS e o parceiro informação de base, organigrama, documento de registo. 2. Realiza-se uma entrevista de selecção de parceiro em que são discutidas as seguintes questões: Visão, valores e estratégia Gestão e recursos internos Recursos financeiros e administração Recursos humanos e competências Desempenho do programa Relações externas: base e alianças Motivação para a parceria A IBIS faz uma recomendação com base na análise dos documentos que lhe foram entregues e na entrevista. Se este processo for considerado bem sucedido, avança-se para o passo seguinte. 3. É então realizada uma avaliação do parceiro aprofundada. Este processo deve ser participativo, com a participação de diversos funcionários do parceiro, incluindo representação do conselho de direcção. Esta avaliação segue a estrutura do passo 2, mas é muito mais pormenorizada. Examina riscos em termos de estabilidade financeira e sistemas de gestão financeira, estrutura e direcção da organização, capacidade do pessoal para implementar actividades e grau de integração em redes de apoio da sociedade civil. São trocados mais documentos entre a IBIS e o parceiro (planos 20