EDUCAÇÃO INFANTIL: DOS MARCOS REGULATÓRIOS À POLÍTICA PÚBLICA DE FORMAÇÃO DOCENTE Kelly Katia Damasceno. UFPA/SEDUC-MT/ SMECEL-VG. Soely Aparecida Dias Paes. SMECEL-VG/SEDUC-MT. Flávia Costa do Nascimento. UFPA/SEDUC-PA/SME-Castanhal-PA. Introdução Este estudo, em desenvolvimento, tem como objetivo analisar as implicações das políticas públicas educativas no que tange à formação inicial e/ou continuada destinada aos profissionais que atuam na educação infantil. Para tanto, organizamos o estudo em três etapas, a saber: 1ª) Etapa: Levantamento dos Programas/Planos de formação (inicial e continuada), bem como as publicações acerca da educação infantil a partir do acesso ao site oficial do Ministério da Educação (MEC); 2ª) Etapa: Analisar o impacto dos programas/planos do governo federal na organização do trabalho pedagógico das instituições de educação infantil; 3ª) Elaborar um relatório final da pesquisa e divulgar em publicações e eventos voltados a discutir a educação pública brasileira. A proposta do texto em tela é apresentarmos o levantamento da primeira etapa do estudo; as demais etapas, em construção, serão apresentadas, posteriormente, em outros espaços acadêmicos. Os procedimentos metodológicos utilizados foram de cunho bibliográfico e coleta de dados no site oficial do Ministério da Educação. Compreendemos que, embora nos últimos anos, sobretudo com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, a educação infantil tenha mobilizado estudiosos, pesquisadores e demais profissionais para refletirem e encaminharem propostas de diferentes perspectivas teórico-metodológicas a essa tão importante etapa da vida do ser humano; ainda há muito que avançarmos, principalmente quanto aos investimentos governamentais, uma vez que cabe ao governo assegurar uma educação pública, gratuita e com qualidade a todo cidadão brasileiro. Até metade do século XX, os cuidados das crianças pequenas foram atribuídos somente como responsabilidade da família, em especial da mulher, a qual ficava incumbida de educá-las e instruí-las para sua inserção ao cenário educacional, após os primeiros seis anos de vida. Assim, o marco para reorganização dos princípios educacionais brasileiros, no final do século XX, foi a Constituição Federal de 1988, em que dispõe, no Artigo 208, o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a 9540
2 garantia de: [...] IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006); [...]. (CF/1988). No diálogo com a Constituição Federal, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Artigo 55 trata sobre as atribuições dos pais ou responsáveis junto à educação escolar: Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino (ECA/1990). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) nº 9.394, promulgada em dezembro de 1996, no Título V - Dos níveis e das modalidades de Educação e Ensino - Capítulo I - Da composição dos níveis escolares: Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; [...]. Em fevereiro de 2006, a LDBN foi alterada nos artigos 29, 30, 32 e 87 pela Lei nº 11.274; assim a educação básica fica organizada da seguinte maneira: Educação Infantil: Creche: 0-3 anos e Pré-escola: 4-5 anos; Ensino Fundamental - 6 a 14 anos e Ensino Médio - 15 a 17 anos. A articulação entre as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e as Diretrizes Curriculares Nacionais, aprovada sob a Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, foi outro importante marco regulatório para a Educação Infantil brasileira, tanto para subsidiar a definição de políticas públicas educacionais em âmbito governamental, quanto para possibilitar às escolas a sistematização/elaboração da prática pedagógica (Projeto Político Pedagógico - PPP, planejamento, avaliação, propostas pedagógicas e curriculares). Como parte do movimento de redemocratização brasileira, a aprovação pelo Congresso Nacional do primeiro Plano Nacional de Educação (PNE) foi promulgada sob força da Lei nº 10.172/2001, com o prazo de duração de dez anos, mediante avaliação periódica pelo Poder Legislativo e acompanhamento da sociedade civil organizada. Dentre as prioridades estipuladas no plano, destacamos: a garantia de Ensino Fundamental obrigatório, assegurando o ingresso e a permanência na escola, e a conclusão dessa etapa de ensino; a ampliação do atendimento nas demais etapas da educação básica, ou seja, Educação Infantil e Ensino Médio, bem como no Ensino Superior. Em 2007, houve a promulgação da Lei nº 11.494, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação FUNDEB. Esta lei prevê a aplicação dos recursos também na Educação 9541
3 Infantil, além do Art. 10 4º - O direito à educação infantil será assegurado às crianças até o término do ano letivo em que completarem 6 (seis) anos de idade. Sem a garantia da aprovação do Plano Nacional de Educação durante quase 4 (quatro) anos, houve a aprovação da Lei nº 12.796, de 4 de Abril de 2013, que, de certa maneira, se pautou na meta nº 1 - a universalização do atendimento de crianças de 4 a 5 anos até 2016 - do Projeto de Lei que tramitava no Congresso Nacional para aprovação do novo plano nacional. Esta lei é mais um avanço importante da educação, principalmente para a população infantil excluída do contexto escolar por descaso histórico dos diversos governantes brasileiros. Entendemos que é necessária a articulação entre os marcos regulatórios e as políticas públicas educacionais, dentre estas, temos a formação docente. Dessa maneira, no próximo item destacamos os Programas/Planos destinados à formação dos professores que atuam na educação infantil no Brasil. Formação de Professores da Educação Infantil: Programas/Planos e Publicações Apesar de hoje encontrarmos alguns poucos programas que são direcionados a educação infantil e, em especial, à formação do professor, percebemos que o atraso deste olhar mais atento, historicamente, veio legitimar uma ideia de assistencialismo sobre esta etapa da educação básica, desqualificando os profissionais que ali atuavam, por não exigir deste nenhuma formação específica, o que, consequentemente, veio a acentuar a desvalorização docente. Ou seja, na concepção de Educação Infantil numa perspectiva assistencialista e botânica, em que a criança já nasce pronta e passará por um processo de amadurecimento, acaba por incentivar uma desprofissionalização do profissional que atua no contexto da Educação Infantil. Diante da busca por mudanças na concepção de Educação Infantil numa perspectiva de desenvolvimento humano, se faz necessário pensar a formação de professores também nesse sentido de desenvolvimento, em que o professor será um organizador, um provocador e um coautor do processo de aprendizagem. Desse modo, levantamos os programas/planos de formação docente disponibilizados pelo Ministério da Educação em parceria com as Universidades Federais, Estados e Municípios: O PROINFANTIL foi um curso a distância, em nível médio e na modalidade Normal, para formação de professores de Educação Infantil que atuavam em creches e pré-escolas e que não possuíam a formação mínima exigida pela legislação, sendo 9542
4 realizado pelo Ministério da Educação em parceria com os estados e os municípios que aderiram ao programa. Puderam participar tanto professores da rede pública quanto aqueles que atuavam na rede privada sem fins lucrativos. O PARFOR Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica tem como objetivo fomentar a oferta de educação superior, para os professores em exercício na rede pública de educação básica obterem a formação exigida pela Lei nº 9.394/96. Tal proposta, mesmo não sendo direcionada somente aos docentes da Educação Infantil, também os contemplou por meio do curso de Licenciatura em Pedagogia que tem, como um dos objetivos, a formação de professores para atuarem nessa etapa da educação. Localizamos, também, publicações específicas para a Educação Infantil, disponibilizadas no site oficial do Ministério da Educação, que têm como objetivo contribuir e subsidiar a formação dos professores da educação infantil; dentre eles, destacamos: QUADRO - PUBLICAÇÕES FORMAÇÃO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL PUBLICAÇÃO PARCERIA ANO Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) - 1998 Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (formato livro) - 2010 Instituto Avisa Lá Diretrizes em Ação 2015 UNICEF Educação em Tempo Integral na Educação Infantil UFES 2015 Brinquedos e Brincadeiras UNICEF 2012 Educação Infantil e práticas promotoras de igualdade racial Instituto Avisa Lá 2012 Educação infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos políticos, UFSCar/NEAB/CEER jurídicos, conceituais 2012 Política de Educação Infantil no Brasil: Relatório de Avaliação UNESCO 2009 Educação Infantil: Subsídios para construção de uma sistemática de INEP/SEB/FNDE/UNDI ME/CNTE/ANPED/MIE avaliação IB/RNPI 2012 Indicadores da Qualidade na Educação Infantil - 2009 Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças - 2009 Revista Criança Deixa eu falar! - 2011 Dúvidas mais frequentes sobre Educação Infantil Parâmetros nacionais de qualidade para a Educação Infantil - 2006 Fonte: Ministério da Educação (MEC) www.mec.gov.br. Como indicamos no início desse texto, na próxima etapa do estudo iremos tratar das implicações dos programas aqui indicados, bem como das publicações com o objetivo de subsidiar a formação dos professores e as práticas pedagógicas na Educação infantil. No oportuno, analisaremos as concepções de criança, Educação Infantil, 9543
5 formação de professores que subjazem à política educacional brasileira, em especial, a primeira etapa da educação básica. Diante dos marcos regulatórios e dos programas propostos até o momento à população infantil, aos seus familiares e aos profissionais da educação, ainda é grande a necessidade de investimentos e a execução de políticas públicas para que, de fato, o Brasil avance em todos os aspectos da educação nacional pública e de qualidade para todos. Leontiev (1978) defende, ao discutir as aquisições da cultura humana, que todos tenham a possibilidade prática de tomar o caminho de um desenvolvimento que nada entrave. Nessa perspectiva, muito mais que direito da família, ter vagas para seus filhos é direito de todas as crianças terem acesso à Educação Infantil, ampliando a possibilidade do pleno desenvolvimento humano. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Secretaria de Educação Básica. Brasília: DOU, 18.12.2009.. Ministério da Educação. Fórum Nacional da Educação. O PNE 2011-2020: METAS E ESTRATÉGIAS (Nota Técnica). Brasília: MEC/FNE, 2010. Disponível em: <http://fne.mec.gov.br/images/pdf/notas_tecnicas_pne_2011_2020.pdf>. Acesso em: 03 fev. 2016.. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Assembléia Nacional Constituinte, 5.10.1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03 fev. 2016. nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília: DOU, 16.7.1990, retif. 27.9.1990. nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: DOU, 23.12.1996. nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Brasília: DOU, 10.1.2001. LEONTIEV, A. N. O homem e a cultura. In: O desenvolvimento do Psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978. 9544