EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: VITÓRIAS E CONQUISTAS Wanessa Cristina Soares CEFET-MG Ao longo da minha experiência com alunos da Eja pude constatar que estes mesmos enfrentam muitos desafios, adversidades sejam culturais, sociais e econômicas. Segundo Martha Kohl de Oliveira: O adulto para a educação de jovens e adultos, não é o estudante universitário, o profissional qualificado que freqüenta cursos de formação continuada ou de especialização. Ele é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles provenientes de áreas rurais e empobrecidas, filhos de trabalhadores rurais não qualificados e com baixo nível de instrução escolar. Para a grande maioria os obstáculos começam a partir do momento que decidem voltar a estudar, muitos alunos adultos são taxados como velhos para estudar de novo, sendo assim recriminados na maioria das vezes pela própria família e a comunidade que estão inseridos. Com isto o aluno entra na escola com uma auto-estima baixa e muito envergonhado pela sua condição social, mas com uma bagagem imensa e extrema vontade de mudar sua situação: social, cultural e econômica. De acordo com Silvani Valentim (2006): Merece destaque a preocupação em abordar os jovens partir de um olhar mais abrangente de caráter multicultural, que permita compreende-los tanto nas suas características mais gerais como, grupo etário quanto em suas especificidades de subgrupos sociais e culturais para as iniciativas de produção cultural próprias para as relações entre saber e decorrentes das experiências de vida e saberes escolares para a utilização do ambiente escolar como espaço de socialização. Há princípio os alunos regressam a escola com o objetivo único de cumprirem a exigência ou qualificação profissional, mas mudam estes objetivos quando percebem as diferenças e oportunidades para quem conclui os estudos.
É imprescindível compreender que a qualificação profissional no mundo contemporâneo, neoliberal, demanda uma visão que conceba a construção do conhecimento como um processo para superar a dicotomia entre o trabalho intelectual e o manual (Valentim, 2006) As turmas são heterogêneas, variam nas idades, classes sociais, e conhecimento intelectual, dos quais possuem o perfil de alunos metalúrgicos já estabilizados profissionalmente que voltaram a estudar devido a uma exigência das empresas, senhoras que na sua maioria trabalham em casas de família, assistentes de creche, ou cuidadoras de idosos, jovens que não, concluíram o ensino médio na idade regular e agora precisam para se integrar ou qualificarem-se no mercado de trabalho, alguns alunos procuram à escola como refúgio ou com a finalidade de socialização. Com isto, estas turmas trazem para o espaço das escolas, valores culturais diferentes. O problema que aqui se coloca é o da homogeneidade e da heterogeneidade cultural, do confronto entre diferentes culturas e da relação entre diferenças nas capacidades e no desempenho intelectual dos sujeitos (Kohl 1999). Dos quais se tornam desafios para os professores que precisam respeitar e interagir com o ritmo de cada aluno proporcionando uma educação de qualidade primando à formação humana e o resgate da cidadania destes alunos na sociedade. Valentim, 2006 afirma: A educação escolar básica em sua fase final - Ensino Médio deve ser capaz de garantir a formação técnica profissional, mas a habilidade de enfrentar situações diversas para aprender a responder adequadamente ás necessidades do desenvolvimento local. Um dos principais desafios além das adversidades e o preconceito enfrentado pelos alunos que é vencido diariamente através da valorização de cada um é a evasão que acontece devido à vida atribulada, pois muitos trabalham o dia todo e ás vezes no período noturno após as aulas, com isto eles chegam cansados e desanimados para assistirem as aulas e fazer os trabalhos específicos de cada matéria. Trabalhar e estudar não é fácil, mas vejo que esta situação da evasão nas turmas da EJA vem mudando de
acordo com as necessidades principalmente no mercado de trabalho, na oferta dos cursos de jovens e adultos na interação dos profissionais destes que procuram cooperar com as especificidades de cada aluno, visando ajudá-los no processo educativo, para que eles não desistam da escola. Segundo a Marta Kohl: Os altos índices de evasão e repetência nos programas de educação de jovens e adultos indicam falta de sintonia entre a escola e os alunos que dela se servem, embora não possamos desconsiderar, a esse respeito fatores de ordem sócio econômicos que acabam por impedir que os alunos se dediquem plenamente a seu projeto pessoal. Portanto, em quinze anos de profissão muitas coisas mudaram, na educação de jovens e adultos. Hoje se tem uma preocupação maior por parte dos governantes. As políticas públicas estão se preocupando com estes sujeitos. No começo não tinha espaço físico, adequado, as verbas eram menores, e aos olhos da sociedade estes cursos eram discriminados, o que dificultava até a inserção dos alunos. Os governos vêm investindo em formação dos professores para os cursos profissionalizantes integrados com a educação básica, e a formação humana dos sujeitos na sociedade. É gratificante e emocionante encontrar com alunos que após se formarem, continuam estudando, passaram no vestibular, ou já estão mais bem qualificados profissionalmente, ou mesmo aqueles que terminaram o ensino médio e saíram de uma situação de risco, conquistando uma situação social, cultural e econômica melhor, a escola foi mais que uma continuação dos estudos, e sim o início de uma transformação de mudança cultural social e econômica. A identificação de um conjunto de experiências que procuraram levar a inspiração e a prática da Educação popular para os sistemas públicos de atendimento, constituindo uma nova forma de pensar e fazer EJA. Haddad Projetar o aprimoramento do educando como pessoa humana capaz de compreender os fundamentos científicos - tecnológicos dos produtivos, relacionados à teoria com a prática. Valentim (2006). Os cursos de educação na atualidade estão se abrindo espaço para pensar na prática de um currículo comprometido com pessoas que em algum momento
interromperam uma fase da sua vida: Para estes alunos concluírem o ensino médio é uma vitória, uma injeção de auto-estima a busca de uma identidade que por muitos motivos ficaram um pouco apagados. Outro ponto importante é de não menosprezar o potencial de cada aluno devido a eles pertencerem à turma de jovens e adultos. Pois, dentro da própria comunidade escolar, as turmas do EJA são vistas com outros olhos, passando a idéia que os conteúdos são mais fáceis. Talvez por que em algumas instituições o currículo feito pela secretaria para a educação de jovens e adultos é de 5º a 8º série. Os alunos não participam de provas diagnósticas nas escolas porque são vistos como incapazes por não ter o currículo voltado para o ensino médio. Um ponto que deveria ser revisto e a época das matriculas das turmas EJA que deveriam ser feitas no inicio do ano como as das turmas regulares, mas nas escolas estaduais as matriculas acontecem em outubro sem muita divulgação. Só após a realização das matrículas que se abrem as turmas, de acordo com a demanda. Quando chega ao inicio do ano, em Janeiro, a procura é grande, mas as escolas não podem abrir turmas, pois já passou o prazo estipulado pela secretária. Isto é uma descriminação e descontinuidade do programa em comunidades com demandas enormes. O Documento Base ainda relata que: A partir de 2003, a presença do Estado na EJA, por meio de um programa, o Brasil Alfabetizado, em disputa organizada pela luta dos educadores de EJA em fóruns estaduais e Regionais fez crescer a preocupação e a destinação de verbas para os municípios com vista à continuidade de estudos, sem o que todo esforço de alfabetização é insuficiente. Entretanto, a cada dia aumenta a demanda social por políticas públicas perenes nessa esfera. Tais políticas devem pautar o desenvolvimento de ações baseadas em princípios epistemológicos que resultem em um corpo teórico bem estabelecido. Referências Bibliográficas OLIVEIRA; Marta Kohl Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem _Educação de jovens e adultos 22 Reunião Anual da ANPED 26 a 30
de setembro, 1999 Caxambu. VALENTIM; Silvani dos Santos Indicadores da qualidade na educação de jovens e adultos : estratégia de avaliação do percurso formativo Educação Tecnologia. Belo Horizonte pág. 43 a 50 julho / dezembro de 2006. VALENTIM; Silvani dos Santos - Ensino Médio integrado á Educação Profissional: Práxis Multicuturalista e Desenvolvimento local como aportes e Organização escolar. Ensino Médio integrado: integrar pra quê? Secretaria de educação básica. Brasília: MEC / Seb 2006. P 103 121. HADDAD; Sérgio Ação de governos locais na educação de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, Maio / Ago. 2007.