A PSICOLOGIA ESCOLAR E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

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Transcrição:

A PSICOLOGIA ESCOLAR E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: RELATO DE EXPERIÊNCIA Estela Rossetti Teixeira 1 - Unicesumar Eixo Psicologia da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho parte da experiência de um estágio em psicologia escolar de uma instituição de ensino especial. A relação entre Educação e Psicologia se constituiu ao longo da história de maneira delicada e muitas vezes problemática. A partir dessa prática, verificou-se a relevância do estágio supervisionado para a construção de uma identidade do psicólogo que atuará em meios escolares, e também para demarcar sua efetividade mediante processos de desenvolvimento humano em contextos públicos de educação. A escola, onde foram realizadas as intervenções, é caracterizada com uma instituição não-governamental e sem fins lucrativos, na modalidade de Educação Especial. Para a atuação foram utilizados os seguintes instrumentos: Observações do contexto escolar, bem como observações em sala de aula e uma pesquisa de clima institucional, a partir disso, percebeu-se a necessidade de modificações na área diretiva, pedagógica e docente, assim, foi realizado as seguintes intervenções: treinamentos com a equipe de liderança e treinamento pedagógico, palestra para os pais e para a comunidade a fim de sensibilizá-los e conscientizá-los para a construção de uma sociedade inclusiva, foi realizado também assessoramento psicopedagógico com a equipe docente. Esta experiência teve por objetivo proporcionar aos estudantes de Psicologia a vivência do contexto profissional para adquirir experiências de observação, interação e intervenções supervisionadas, de modo a capacitá-lo ao exercício profissional. É importante ressaltar que ao adentrar a escola as estagiárias enfrentaram diversas barreiras, e aos poucos, o clima de desconfiança e resistência foi dando lugar a uma maior participação e comprometimento dos profissionais com relação ao trabalho proposto pelos estagiários. Durante todos as atividades, as estagiárias acolhiam as angústias dos profissionais e instrumentalizava-os para a realização de um trabalho mais efetivo, assim como, resgatar o olhar diferenciado para seu trabalho e consequentemente promover um autoconhecimento que levasse à reflexão e melhora da qualidade de vida destes. Palavras-chave: Psicólogo escolar. Assessoramento psicopedagógico. Educação Inclusiva. ISSN 2176-1396

24275 Introdução A Psicologia Escolar surge a partir do século XIX, com a expansão do ensino público nas cidades da América e da Europa e a crescente ocorrência de problemas ligados a menores, tais como abandono, negligência, delinquência, entre outros. Tais questões originaram a procura por profissionais qualificados e capazes de fornecer ajuda às escolas e órgãos jurídicos nos problemas de avaliação e compreensão das dificuldades existentes e de suas possíveis causas, propondo e implementando soluções adequadas (ANTUNES, 2008). Cassins (2007) afirma que os primeiros serviços de Psicologia Escolar foram criados ao final do século XIX na França. Nesse período, entre o final do século XIX e início do século XX, a ênfase era dada à avaliação psicológica individual de crianças e adolescentes suspeitos de serem deficientes mentais, físicos ou morais. Partindo disso, gradualmente passa-se a ampliar a abrangência desse trabalho para o âmbito da educação e crianças em idade escolar. Os principais focos de estudo foram a observação, prevenção, intervenção e mensuração de habilidades e capacidades. Cassins (2007) aponta que pesquisas realizadas nos Estados Unidos, França, Bélgica, Suíça, Grã-Bretanha, Itália e Alemanha em questões como a inteligência, subdotação e superdotação; desenvolvimento infantil e seus atrasos; diagnóstico, intervenção e ajuda concreta a crianças com dificuldades escolares tiveram grande impulso. Um dos documentos orientadores da educação inclusiva no âmbito internacional foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que assegura a igualdade de direitos entre todos os seres humanos, sem distinção, inclusive com relação à educação. De forma geral, garante às pessoas com deficiência os mesmos direitos à liberdade, a uma vida digna, à educação fundamental, ao desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na vida da comunidade (ARANHA, 2004 p. 14). Outro documento fundamental é a Declaração de Jomtien de 1990, onde os países relembraram que a educação é um direito de todos, sem distinções. Declararam ainda que a educação é de fundamental importância para o desenvolvimento das pessoas e das sociedades. Ao assinar a declaração de Jomtien, o Brasil assume o compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no país. Para cumprir tal compromisso, o país tem criado instrumentos norteadores para a ação educacional e documentos legais que apoiem a construção de sistemas educacionais inclusivos, nas diferentes esferas públicas: municipal, estadual e federal (ANTUNES, 2008).

24276 Tais documentos foram fundamentais para direcionar o trabalho dentro das escolas com o objetivo de construir uma sociedade mais justa, voltada para a solidariedade e o respeito pelo outro. Podemos afirmar que o trabalho do psicólogo inserido no contexto escolar assume um caráter transformador, ou seja, tal profissional atua como um agente de mudanças pautado na promoção e prevenção de saúde, mas sem deixar de lado a necessidade da colaboração da instituição como um todo para que estas transformações ocorram e sejam efetivas (ANTUNES, 2008). Os maiores desafios do psicólogo inserido em contextos educacionais inclusivos atualmente, ocorrem, pois, sua formação inicial aborda de forma superficial a temática da deficiência e da inclusão escolar, além da ênfase clínica nas disciplinas de Psicologia Escolar. As poucas informações sobre esses temas fazem com que o psicólogo encontre dificuldades para contribuir com o processo de inclusão escolar de estudantes com deficiência, assim, apesar de apresentar dificuldades relacionadas ao papel que deve ser desempenhado por seus profissionais e uma possível resistência encontrada ao adentrar nas instituições educativas, é uma área em crescimento, onde há uma necessidade de profissionais interessados para suprir a carência destes no ambiente escolar. Relato de Experiência A escola, onde realizou-se as intervenções, é caracterizada com uma instituição nãogovernamental e sem fins lucrativos, expressa a disposição de ofertar programas de Educação Básica, tais como Educação Infantil, Ensino Fundamental - anos iniciais (1º e 2 º anos), da Educação de Jovens e Adultos Fase I e da Educação Profissional, prestando atendimento no(s) turno(s) (matutino e vespertino), na modalidade de Educação Especial, exclusivamente para alunos na área da Deficiência Intelectual, TGD (transtorno global do desenvolvimento) e outras associadas (física / motora, auditiva e visual). Caracteriza-se como estabelecimento de ensino especial, pois apresenta uma Proposta Pedagógica ajustada às necessidades educacionais dos alunos e ao disposto na legislação vigente; proporciona acessibilidade nas edificações, com a eliminação de barreira arquitetônica nas instalações, mobiliário e de equipamento conforme normas técnicas vigentes e oferece ajuda e apoio intenso, adaptações curriculares significativas e um currículo profissional.

24277 Esta experiência dentro da APAE teve por objetivo proporcionar aos estudantes de Psicologia a vivência do contexto profissional para adquirir experiências de observação, interação e intervenções supervisionadas, de modo a capacitá-lo ao exercício profissional, subsidiado pelos conhecimentos teórico-clínicos da vida acadêmica, bem como reconhecer, analisar e responder as demandas da APAE. O público-alvo da experiência foi composto por uma equipe técnica multiprofissional das áreas da Psicologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Medicina; além da equipe pedagógica que contava com duas pedagogas, uma responsável pelo turno matutino e outra pelo turno vespertino; da equipe diretiva composta por uma diretora e uma vice-diretora e a equipe docente constituída por professoras regentes. Participaram de forma indireta, a equipe administrativa, constituída por duas secretárias, a equipe de serviços gerais, zeladoras, merendeiras, motorista e caseiro, bem como pais, alunos e comunidade. Para a atuação foram utilizados os seguintes instrumentos: Observações do contexto escolar de forma geral, bem como observações em sala de aula e uma pesquisa de clima institucional, a partir disso, percebeu-se a necessidade de modificações na área diretiva, pedagógica e docente, assim, foi realizado as seguintes intervenções: Treinamento de liderança; Treinamento pedagógico; Palestra para os pais; Assessoramento Psicopedagógico com a equipe docente; Palestra para a comunidade para sensibilização e conscientização para a construção de uma sociedade inclusiva. Observações As atividades iniciaram através das observações do contexto escolar como um todo, mais especificamente em salas de aulas, onde as pesquisadoras observaram a dinâmica, a interação e o relacionamento interpessoal entre docentes e alunos, bem como, a administração e planejamento de seu trabalho com o objetivo de identificar possíveis necessidades de intervenção. Através das observações, foi possível levantar dados que serviram posteriormente para a elaboração da pesquisa de clima institucional, uma vez que a maior queixa das professoras era a falta de comunicação entre a equipe.

24278 Pesquisa de clima A partir das observações chegou-se à conclusão da necessidade do levantamento do clima institucional com o objetivo de um direcionamento da atuação e estabelecimento dos projetos de intervenção, abrangendo temas diversos, onde a equipe precisou avaliar: infraestrutura e serviços, competências pessoais, relacionamento interpessoal e comunicação. O clima caracteriza-se pelas percepções conscientes das pessoas a respeito do que acontece em seu entorno. Corresponde a um estado de espírito coletivo, expresso de maneira variável segundo as circunstâncias do momento. Entretanto, quando se expressam de maneira intensa e continuada tendem a ser incorporadas no fazer escolar e a constituir sua cultura (LUCK, 2011). Segundo Luck (2011), o clima influencia na percepção dos problemas educacionais no interior da escola e na maneira como as pessoas pensam, percebem, interpretam e reagem à instituição, às normas formais e a comportamentos e costumes no interior da escola. Uma forma de manter ou modificar o clima se dá através da gestão e liderança, consistindo em um dos pontos que foi identificado a necessidade de intervenção. Treinamento de liderança A liderança consistia, como dito anteriormente, em um dos pontos que necessitavam de intervenção, o objetivo principal ao promover o treinamento de liderança foi o de desenvolver o perfil de liderança na Diretora, que nunca havia exercido tal cargo e que não identificava-se com a função que exercia, o que afetava de forma indireta toda a escola. O treinamento deveria ocorrer às sextas feiras, entretanto por motivos pessoais e institucionais a diretora adiou por inúmeras vezes o mesmo, sendo raras as vezes que este ocorreu no horário previamente estipulado. Os temas trabalhados foram A Influência da Liderança no Clima e na Cultura da Instituição e O exercício da Liderança em Gestão Escolar com o objetivo de conscientizá-la da importância do exercício de forma efetiva de seu cargo dentro da instituição. Todavia, desenvolver as competências, habilidades e atitudes são fundamentais no exercício da liderança uma vez que, sem eles dificilmente poderão como profissionais, orientar os processos socioeducacionais para bons resultados. Isso porque, conforme identificado em

24279 pesquisa sobre a efetividade da escola, nenhum estabelecimento de ensino alcança efetividades sem liderança efetiva (LUCK, 2014). No contexto escolar a ação de liderança implica no processo de influenciar toda a equipe positivamente, para que cada membro dentro da escola construa novos conhecimentos, desenvolva habilidades e novas ideias, elabore novos projetos, promova qualidade em algum aspecto no contexto escolar, unidos na capacidade de enfrentar desafios de forma construtiva (LUCK, 2014). Palestra aos pais Um dos objetivos da escola é acolher, oferecer atendimento, suporte e aconselhamento a toda família, uma vez que o processo de ensino aprendizagem engloba diversos componentes tais como a escola, o professor, o aluno, a família, a comunidade, entre outros, sendo resultado de um conjunto de inter-relações. Para Gonzáles (2007), a relação família/escola poderá ser estabelecida quando os dois âmbitos se expressarem na mesma linguagem, tiverem os mesmos objetivos e interesses na busca da mesma direção; quando existir credibilidade e confiança entre ambos e uma estrutura aberta, flexível e direta que permita adequar tanto a família como a escola à realidade da criança com necessidades educacionais especiais. A família desempenha importante papel na determinação do comportamento humano, na formação da personalidade, no curso da moral, na evolução mental e no estabelecimento da cultura e de suas instituições. Como influente força social, não pode ser ignorada por qualquer pessoa envolvida no estudo do crescimento, do desenvolvimento, da personalidade ou do comportamento humanos (GONZÁLES, 2007). A importância do papel da família não pode ser minimizada, pois é neste campo de experiências seguro que os indivíduos deficientes primeiro aprenderão e comprovarão continuamente que, apesar de suas graves limitações, é-lhes permitido serem eles mesmos (GONZÁLES, 2007). Sendo a família um desses componentes fundamentais à uma escola efetiva, de acordo com sua demanda foi elaborada uma palestra intitulada O deficiente e seus pais apresentada na Semana da Pessoa com Deficiência visando promover um momento de reflexão e de compartilhamento acerca das dificuldades, do preconceito, da aprendizagem e dos desafios que

24280 enfrentam não só as crianças, jovens e adultos com deficiência, mas também sua família, sendo está o nosso enfoque principal. Assessoramento Psicopedagógico com a Equipe de Coordenação A partir do treinamento de liderança, a Diretora apontou a necessidade de se realizar um assessoramento com as pedagogas, visto que existiam alguns pontos que já haviam sido identificados com a pesquisa de clima que precisavam ser modificados. O assessoramento foi realizado com ambas pedagogas, com o objetivo de auxiliá-las a executar o seu trabalho de forma efetiva, visando beneficiar tanto professoras como os alunos, que consistem em um dos focos principais de sua atuação. Entretanto, assim como aconteceu no treinamento de liderança, o horário foi remarcado por diversas vezes por motivos pessoais e institucionais. No primeiro encontro com as pedagogas foi questionado sobre a gestão democrática na escola, sobre o Projeto Político-Pedagógico, conselho de classe e também a participação da equipe pedagógica juntamente com a direção. No segundo encontro foi discutido questões sobre o regimento escolar e reuniões pedagógicas na escola, além de eventuais cursos que promovam a troca de experiência e conhecimento entre os professores, as estagiárias debateram também a respeito de como é realizada a hora atividade dos professores e dos espaços pedagógicos dentro da escola. Durante essas primeiras discussões é possível afirmar que encontramos resistência por parte da equipe pedagógica no que diz respeito à formação de um cronograma para que o assessoramento pedagógico ocorresse. A estagiária percebeu também durante os encontros, muito do que as pedagogas relatavam não ocorria de fato na escola. No terceiro e quarto encontro os temas discutidos foram, sobre os atendimentos realizados pelos técnicos, sobre a avaliação de alunos, registros de classes. Sendo que alguns temas não ocorriam como esperados, segundo as normas da escola. Por último os temas discutidos foram sobre a semana Pedagógica, como ela é elaborada, depois sobre a hora atividade e como ela é distribuída na escola. E se a um acompanhamento das faltas dos alunos, se a sociabilização entre escola e pais. No último encontro ficou evidente a dificuldade da equipe pedagógica em relação ao trabalho na escola. Hora (1994), afirma que a equipe pedagógica tem como função orientar a comunidade escolar na construção de um processo pedagógico, em uma perspectiva democrática. E foi a

24281 partir dessa visão que as estagiárias basearam suas intervenções, tentando resgatar a importância do papel desses profissionais dentro do ambiente escolar. Assessoramento Psicopedagógico com Equipe Docente A equipe docente foi outro setor que necessitava de intervenções, sendo assim, o assessoramento às professoras foi ofertado com o intuito de melhorar a qualidade de vida profissional e pessoal do docente, uma vez que os dois pontos caminham juntos. A atividade proporcionou novas reflexões, um momento de escuta, na qual aos poucos elas foram sentindo-se livres para falar dos dilemas, das dificuldades, e principalmente compartilhar suas experiências profissionais e pessoais, expressar suas angústias e suas propostas de como melhorar o ambiente escolar. Em cada encontro as estagiárias trabalharam um tema diferenciado. No primeiro deles foi trabalhado a autopercepção e a identificação dos pontos fracos e fortes de cada uma a partir do inventário de estilos de personalidade D.I.C.A. O segundo tema foi a percepção e o papel do educador, foi realizada uma técnica de contemplação, onde as estagiárias pediram para que as professoras olhassem para a porta e a descrevesse, através da sensação, e posteriormente, irem até ela e tocarem, e descreverem novamente, de acordo com a experiência para trabalhar a ressignificação de suas crenças através da experiência, foi distribuído também o texto A importância de um olhar diferenciado para as dificuldades. No terceiro encontro foi trabalhado a comunicação e o trabalho em equipe e aplicada a técnica do papel amassado, para elucidar o quanto a subjetividade influencia no processo de comunicação. No quarto encontro o tema trabalhado foi a sexualidade, através da Cartilha de orientação sobre a sexualidade e a deficiência intelectual. O quinto encontro foi sobre o relacionamento interpessoal e a tolerância e determinação. Por fim, foi trabalhado o círculo restaurativo, onde foi utilizada uma caixinha com um espelho para que as professoras olhassem e dentro e relatassem como aquele profissional estava se sentindo, após isto, foi pedido para que elas retirassem uma mensagem da caixa e lessem em voz alta, e dissessem se tinha relação com o que elas estavam vivenciando no momento, por fim foi pedido que cada uma escolhesse uma palavra que acreditassem ser essencial ao exercício de sua profissão, e posteriormente para que elas falassem sobre a escolha. Foi realizada uma discussão em cima das frases apresentadas.

24282 É essencial considerar que, trabalhar com crianças ou adolescentes, reaviva nos professores essa fase de vida deles. Dessa forma, um professor poderá desenvolver diferentes sentimentos por uma determinada criança ou adolescente que desperte suas próprias situações de vida. Durante os encontros foram discutidos essas perspectivas, relacionando com a vivência de cada profissional. No decorrer das discussões, os professores e geral, puderam falar a respeito de suas atitudes, das dificuldades que encontram com no relacionamento com o aluno, bem como, reclamações no que diz respeito ao relacionamento com outros professores e profissionais, além de se sentirem desmotivados para o trabalho enquanto educadores. Palestra à comunidade Com objetivo de encerramento do estágio, e por sugestão dos pais após a palestra ministrada à eles, foi realizada, no último dia de estágio, uma palestra direcionada à comunidade, intitulada Construindo uma sociedade para todos, visando a conscientização ao abordar temas como o preconceito e as diferenças, bem como através da apresentação dos diferentes tipos de deficiência e a forma correta de lidar com cada um, uma vez que por falta de tal conhecimento que muitas vezes surge a insensibilidade o preconceito e a intolerância. Uma vez que, como afirmam Caputo e Guimarães (2003), o fardo da discriminação é evidenciado no estigma de invalidez e incapacidade que lhes é atribuído pela sociedade em geral; a concretização da desigualdade, portanto, nasce no conjunto das relações sociais. Conclusão Ao adentrar a escola as estagiárias enfrentaram diversas barreiras. Durante as observações em sala, foi possível promover uma aproximação entre as estagiárias e equipe docente, bem como perceber que, estas não eram, diferentes do que nos foi transmitido pela equipe técnica, pedagógica e diretiva, o alvo principal de nossas intervenções e sim, um produto do clima negativo da instituição, dessa forma, sem estimulação e valorização de seu trabalho, elas deixavam-se influenciar pelas contingências do ambiente. A partir disso, foi elaborada uma pesquisa de clima com o intuito de entender como a equipe enxergava o ambiente escolar através da avaliação de aspectos como: a infraestrutura e

24283 os serviços ofertados, as suas próprias competências para exercer o cargo que ocupava, o relacionamento interpessoal e a comunicação. Os fatores que mais geravam insatisfação na equipe eram: a incoerência, a falta de autenticidade, a falta de comprometimento, a rigidez e a falta de integração entre a equipe, que só vieram a confirmar o caráter negativo do clima da instituição. Foi realizada então uma devolutiva para toda a equipe apresentando as propostas de intervenção, que consistiam em um treinamento de liderança, o assessoramento pedagógico e o assessoramento com a equipe docente. A partir disso, surgiu a possibilidade de ministrar uma palestra para os pais, bem como para a comunidade acerca da deficiência. A primeira área trabalhada foi a Direção, para tanto nos propusemos a realizar um treinamento de liderança para que a diretora desenvolvesse tal perfil, uma vez que a não identificação com o cargo, como dito anteriormente, afetada de forma indireta toda a escola. Paralelamente, ocorria o assessoramento com a equipe pedagógica, que também consistia em uma área de grande insatisfação. Tanto no treinamento de liderança quanto no assessoramento com as pedagogas ocorreram situações que expressaram a falta de organização, de comunicação e de confiança no trabalho da estagiária, uma vez que por várias vezes estes foram cancelados, sem uma justificativa plausível. Mesmo com estes percalços a estagiária conseguiu concluir o trabalho e obteve um feedback positivo tanto por parte da diretora quanto por parte das pedagogas e, posteriormente das próprias professoras e equipe técnica, tanto com relação à atuação destas, quanto com relação a melhora do clima institucional. Com relação ao assessoramento com a equipe docente, que era outra área que foi proposta intervenção, a princípio foi enfrentado resistências, assim como comportamentos que refletiam como a escola estava se movendo, tais como atrasos e não participação dos encontros. Aos poucos, o clima de desconfiança foi dando lugar a uma maior participação e comprometimento com os encontros. Podendo concretizar os objetivos da proposta dos encontros, que consistiam em dar voz, acolher as angústias e instrumentalizá-las para a realização de um trabalho mais efetivo, assim como, resgatar o olhar diferenciado para seu trabalho e consequentemente promover um autoconhecimento que levasse à reflexão e melhora da qualidade de vida destas.

24284 Foi realizada ainda, na Semana da pessoa com deficiência, uma palestra com os pais, intitulada O deficiente e seus pais, que como já foi apresentado neste, tinha o objetivo de promover um momento de reflexão e de compartilhamento acerca das dificuldades, do preconceito, da aprendizagem e dos desafios que enfrentam não só as crianças, jovens e adultos com deficiência, mas também sua família, sendo este o nosso enfoque principal. A repercussão da palestra foi bastante positiva, os pais participaram ativamente com comentários, relatos de experiências e sugestões, dentre elas a sugestão de se realizar um trabalho parecido com a comunidade. A partir da sugestão trazida pelos pais, foi ministrada outra palestra para a comunidade, nesta acrescentaram o depoimento de duas mães de alunos com deficiência acerca de suas experiências e informações sobre os tipos de deficiência e seus manejos. Ao final os membros da comunidade deram um feedback bastante positivo, inclusive se emocionaram com os depoimentos apresentados, e sugeriram a continuidade do trabalho. REFERÊNCIAS ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 12, n. 2, p. 469-475, Dec. 2008. ARANHA, M. S. F. Educação Inclusiva: Fundamentação Filosófica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004. CAPUTO, E.; GUIMARÃES, M. Educação Inclusiva. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. CASSINS, A. M.et al. Manual de Psicologia Escolar - Educacional. Curitiba: Gráfica e Editora Unificado, 2007. GONZÁLEZ, E. et al. Necessidades educacionais específicas: intervenção psicoeducacional. Porto Alegre: Artmed, 2007. HORA, D. L. Gestão democrática na escola: Artes e ofícios da participação coletiva. São Paulo: Papirus, 1994. LUCK, H. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. 2ª ed. Petrópolis RJ: Vozes, 2011. LUCK, H. Liderança em gestão escolar. 9ª ed. Petrópolis RJ: Vozes, 2014.