A LUDICIDADE E O DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DA CRIANÇA RESUMO



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Transcrição:

A LUDICIDADE E O DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DA CRIANÇA Cristiane Szymanski dos Santos **Luiz Fernandes Pavelacki RESUMO Este artigo relata uma pesquisa que tinha por objetivo principal analisar a importância da ludicidade para o desenvolvimento da criança nas séries iniciais, através da pesquisa de fontes bibliográficas e de campo; a fim de refletir sobre a temática norteadora que se constitui na relevância da ação lúdica no âmbito educacional. No decorrer dos registros das idéias em discussão pretendeu-se identificar e analisar a postura dos professores em relação ao lúdico em uma escola pública da cidade de Camaquã, onde foram entrevistados os docentes que trabalham com séries iniciais, constituindo-se assim em um estudo de caso. Concluiu-se então que a ludicidade é de suma importância para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança e que os professores reconhecem esta importância, apesar de entenderem que é preciso valorizar e utilizar mais as atividades lúdicas em seus planejamentos, como também consideram necessário que haja uma maior conscientização dos pais sobre o papel do lúdico na aprendizagem das crianças. Palavras-chave: ludicidade, desenvolvimento escolar, criança INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa tem por objetivo principal analisar a importância da ludicidade para o desenvolvimento da criança nas séries iniciais. A idéia de pesquisar sobre este assunto surgiu do interesse em saber mais sobre o tema e sua aplicabilidade real na escola. Este interesse deve-se a grande relevância que a ludicidade tem no universo infantil e consequentemente na vida escolar da criança. Esta pesquisa também justifica-se pelo fato de que, apesar das propostas existentes no âmbito educacional, percebe-se que os resultados *Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Luterana do Brasil Campus Guaíba ** Professor da Disciplina de Metodologia Científica e orientador do trabalho ULBRA/GUAÍBA

2 continuam insatisfatórios o que demonstra a necessidade de mudanças, sendo o professor um dos principais, senão o mais importante protagonista deste processo de mudança. Assim, é necessário que a prática docente seja motivo de estudos como este e muitos outros. Durante a exploração bibliográfica do assunto foi possível observar que os diversos autores tratam do lúdico na infância sob aspectos e enfoques diferentes. Santos (1999) trata do trabalho com o lúdico principalmente em locais organizados e preparados para tais atividades, como nas Brinquedotecas. Para ela o brincar é uma atividade livre e espontânea da criança e deve ser respeitado como tal. Rocco (2004) trata do tema sob um aspecto cultural, procurando explicar o porquê das crianças não brincarem mais como antigamente, salientando a importância do lúdico no desenvolvimento infantil. Moyles (2001) analisa o lúdico sob o enfoque educacional, salientando assim o valor da ludicidade para a aprendizagem e formação integral do aluno. Cury (2004) salienta o uso dos jogos no ensino de Matemática, favorecendo o desenvolvimento cognitivo. Entre os diversos enfoques que surgiram durante a exploração da temática abordada, para dar continuidade ao trabalho de pesquisa, o respaldo teórico será realizado de acordo com a autora Moyles (2001), por esta tratar da importância da ludicidade no ambiente escolar e por entender o brincar como uma atividade capaz de desenvolver o indivíduo como um todo: no aspecto emocional/social, físico e cognitivo. Esta pesquisa tem por finalidade analisar a postura dos professores em relação à ludicidade e a aplicabilidade real das atividades lúdicas na escola. Esta análise será realizada através do referencial teórico e de entrevistas realizadas com os professores de uma escola pública, constituindo-se assim em um estudo de caso. O desenvolvimento será realizado em

3 sessões, na primeira será apresentada a explicitação do referencial teórico, na segunda sessão enunciada a hipótese levantada e os conceitos e na terceira e última sessão será descrito como foi realizada a observação empírica, seguindo assim a análise das informações. 1 A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE PARA A CRIANÇA NAS SÉRIES INICIAIS O brincar é sem dúvida um meio pelo qual os seres humanos, principalmente as crianças, exploram uma grande variedade de experiências em diferentes situações e com diversos objetivos. A criança envolve-se com o brincar em vários ambientes: em casa, na rua, no clube e na escola... Em cada situação o brincar tem um sentido e uma adequação diferente. Para Moyles (2001. p.181): Na escola, o brincar pode ser dirigido, livre ou exploratório: o essencial é que ele faça a criança avançar do ponto em que está no momento em sua aprendizagem, criando condições para a ampliação e revisão de seus conhecimentos. Dessa maneira, o lúdico torna-se essencial no desenvolvimento da criança, pois no brincar não se aprende somente conteúdos, mas se aprende para a vida. É por meio da ludicidade que as crianças criam, têm o poder, esquecendo assim o distanciamento entre elas e os adultos. Assim vão construindo sua inteligência e o próprio amadurecimento social. É por meio do brincar que a criança exterioriza seus anseios e imita o mundo dos adultos e através deste comportamento ela consegue aproximar-se do processo de conscientização sobre a responsabilidade, tanto de sua conduta quanto do seu desenvolvimento social. Os recentes estudos têm mostrado que as atividades lúdicas são ferramentas indispensáveis no desenvolvimento infantil, porque para a criança não há atividade

mais completa do que o brincar. Pela brincadeira, a criança é introduzida no meio sociocultural do adulto, constituindo-se num modelo de assimilação e recriação da realidade. (SANTOS, 1999, p.7). 4 O lúdico é fundamental para a criança em todas as faixas etárias. Na Educação Infantil, o raciocínio lógico ainda não é suficiente para que ela dê explicações coerentes a respeito de certas coisas e o poder da fantasia ainda é muito maior que a condição de explicar. Então, pelo jogo simbólico, a criança exercita não só o aspecto cognitivo, mas também suas habilidades motoras, já que salta, corre, gira, rola, transporta...também é através dessas mesmas brincadeiras que se desenvolve o equilíbrio emocional e a autonomia, elementos fundamentais para o sucesso das aprendizagens futuras. Segundo Vygotski, Luria e Leontiev (1988. p.130)...nos brinquedos no período escolar, as operações e ações da criança são, assim, sempre reais e sociais, e nelas a criança assimila a realidade humana. O brincar ajuda os participantes a desenvolver confiança em si mesmos e em suas capacidades. As oportunidades de explorar conceitos como liberdade existem implicitamente em situações lúdicas, levando assim ao desenvolvimento da autonomia. Para isso a criança precisa estar envolvida no ato de brincar para poder organizar suas idéias e assim, exteriorizar seus sentimentos mais profundos que permitam colocá-la sempre em desafios e situações que a façam aprimorar a própria condição do seu aprendizado. Nesse sentido, para Machado (1994, p. 37):...o brincar é um grande canal para o aprendizado, senão o único canal para verdadeiros processos cognitivos. É importante salientar que, acima de tudo, o brincar motiva e dá prazer. E é por isso que ele proporciona um clima especial para a aprendizagem das crianças de todas as faixas etárias. O brincar na escola estimula uma aprendizagem diferente e interessante. O papel do

5 professor é de garantir que, no contexto escolar, a aprendizagem seja contínua e inclua fatores além dos puramente intelectuais: social, o emocional, o físico, o estético, o ético e o moral devem se combinar com o intelectual para tornar a aprendizagem mais abrangente e formadora. Assim o lúdico em situações educacionais, proporciona não só um meio real de aprendizagem como permite também que adultos perceptivos e competentes aprendam sobre crianças e suas necessidades. No contexto escolar isso significa professores capazes de compreender onde as crianças estão em sua aprendizagem e desenvolvimento geral, o que por sua vez, dá aos educadores um ponto de partida para promover novas aprendizagens nos domínios cognitivo e afetivo, para a construção de saberes significativos. O construtivismo enfatiza a importância não somente da criança descobrir as respostas da sua maneira, mas também de levantar as suas próprias perguntas. Começar o trabalho partindo das perguntas da própria criança assegura ao professor o início do processo de aprendizagem construtivista partindo do ponto onde a criança está, ao invés de começar por onde o professor está. (KAMII e DEVRIES, 1991, P.28). Também, é inegável a importância dos jogos no ensino. Durante séculos, jogos como o xadrez ofereceram desafios aos jogadores. Muitos autores afirmam que o jogar está na essência do brincar. Assim, os problemas também podem ser apresentados às crianças por meio de jogos. Jogos de estratégia e aventura são abundantes no mundo dos computadores e ajudam no aprimoramento do raciocínio lógico e na capacidade de resolver problemas. Interessante seria utilizar jogos no ensino da Matemática e das demais disciplinas, pois a resolução de problemas associa o intelectual ao prático, vincula habilidades básicas a outras

mais complexas, vincula ensino à aprendizagem essencialmente ele vincula o brincar ao trabalhar, facilitando a assimilação de conteúdos aparentemente difíceis e complicados. 6 As atividades lúdicas também são fundamentais para o desenvolvimento da criatividade. As pesquisas mostram que as crianças que vivem a fantasia e o brincar de boa qualidade livremente, são consideradas grandes fantasistas e passam grande tempo imersas em pensamentos imaginativos. Crianças criativas têm melhor concentração, são geralmente menos agressivas, contam e escrevem histórias mais originais, interessantes e com personagens mais complexos e também tendem a gostar mais do que fazem, aprendendo melhor. Para ser criativa a criança precisa brincar e o brincar precisa ser estimulado com vigor no ambiente escolar. Nesse sentido, também é importante considerar o currículo escolar como um todo, utilizando o brincar como estratégia de ensino e aprendizagem. As crianças brincam tão naturalmente como comem e dormem e aprendem a partir deste brincar. É necessário lembrar que elas também aprendem de outras maneiras interessantes e o papel do adulto é assegurar que as atividades sejam divertidas. Assim como os professores acham relevante estabelecer objetivos escritos (por exemplo, completar uma página de somas...), eles devem estar preparados para dar igual valor no estabelecimento de objetivos no brincar. (MOYLES, 2001. p. 100 ). Para atingir melhores resultados é conveniente que também os pais entendam que o brincar tem direção, progressão e resultados educacionais sólidos, que esta é uma atividade valiosa corretamente associada à aprendizagem. A escola e sua equipe de professores têm a

7 incumbência de rever o processo de ensino e aprendizagem frente ao lúdico, passando aos pais a veracidade do seu propósito de construir, junto a seus filhos, os alicerces que venham proporcionar benefícios às habilidades sociais e escolares trabalhadas. Portanto, sendo o brincar indispensável para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança e considerando que o ato de brincar é fundamental para a formação do indivíduo, é de suma importância que o professor tenha um espírito aberto para o lúdico, fazendo com que o aluno tenha condições de aprender através desta atividade tão natural e espontânea da infância: O BRINCAR. 2 HIPÓTESES, CONCEITOS E DADOS COLETADOS De acordo com o referencial teórico adotado para a realização da pesquisa, foi possível definir os seguintes conceitos: Atividades lúdicas são aquelas que permitem que a criança vivencie sua inteireza e sua autonomia em um tempo-espaço próprio, particular. Brincar é o meio pelo qual os seres humanos, principalmente as crianças, exploram uma variedade de experiências em diferentes situações e com diferentes propósitos. Brincadeira é a estrutura ligada às características da infância, que a criança desenvolve para seu prazer e recreação e através da qual também aprende. Jogo de regra é uma atividade física ou mental sujeita a regras que definem perda ou ganho, estimulando as competências e habilidades. Jogo simbólico é a representação corporal do imaginário, onde a criança usa o faz-de-conta para desempenhar vários papéis.

8 Após o estudo do referencial teórico foi possível levantar a hipótese de que a importância da ludicidade para a criança nas séries iniciais está no seu desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. Através do trabalho de pesquisa de campo pretendeu-se investigar o valor do lúdico para o desenvolvimento integral do aluno, não só no aspecto cognitivo mas nos demais aspectos que fazem parte da formação integral do ser humano, de acordo com esta hipótese levantada. Para dar seguimento ao trabalho e verificar se a hipótese, entendeu-se que os dados deveriam ser levantados com aqueles que trabalham diretamente com as crianças. Para tanto a análise foi realizada através dos dados levantados com seis professores que trabalham com as séries iniciais em uma escola pública de Camaquã, constituindo-se assim em um estudo de caso. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi em forma de entrevista, elaborada através de seis perguntas, baseadas no referencial teórico e direcionadas ao assunto em questão. Após realizadas as entrevistas, foi feita a análise dos dados coletados. 3 A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES Através da entrevista feita com os professores que trabalham nas séries iniciais foi possível realizar uma análise de acordo com o referencial teórico e a pergunta de partida, seguem então os questionamentos e a análise de cada um: 1. Qual é a importância da ludicidade para o desenvolvimento escolar da criança?

9 Ao serem questionados sobre a importância da ludicidade, todos os entrevistados mostraram compreender o valor do lúdico em sala de aula, ressaltando principalmente que por meio de jogos e brincadeiras o aluno aprende com mais facilidade, sente-se mais motivado e interessado pelas tarefas e desenvolve-se de maneira mais harmoniosa e completa. As respostas vieram de acordo ao referencial teórico trabalhado, pois a autora também enfatiza a relevância da ludicidade para que a escola seja um lugar prazeroso e alegre, onde se respeita e valoriza-se a infância como uma fase importantíssima da vida de cada indivíduo. 2. Com quais atividades lúdicas você mais costumas trabalhar? Em relação às atividades lúdicas com as quais mais trabalham os professores no geral afirmaram que preferem desenvolver atividades dirigidas como: jogos que envolvem raciocínio lógico, atenção e concentração, músicas, danças, teatros, jogos de computador e brincadeiras recreativas. Alguns disseram também dedicarem um tempo de suas aulas à atividades livres, onde os alunos possam brincar e fazer aquilo que mais gostam, desde que respeitem-se uns aos outros e observem as regras para uma boa convivência, configurando-se assim em objetivos implícitos em relação ao ato de brincar. Estes levantamentos afirmam o referencial teórico, visto que a autora diz que na escola o brincar deve ser muito diferente de casa ou da rua: seja livre, dirigido ou exploratório ele deve fazer com que a criança avance do nível em que está em sua aprendizagem. Os docentes, em suas respostas, demonstraram utilizar o lúdico com objetivos pré-estabelecidos para favorecer o crescimento de seus alunos. 3. Qual é a reação dos alunos em relação às atividades lúdicas realizadas?

10 Ao serem questionados sobre a reação de seus alunos em relação aos trabalhos lúdicos, todos os professores afirmaram que a aceitação é excelente, que eles adoram e pedem para que sejam realizados outras vezes o que vem a mostrar o quanto tais atividades motivam e agradam as crianças nas séries iniciais. 4. É possível para você observar o desenvolvimento dos alunos através de atividades que envolvam o lúdico? Os docentes acreditam que é possível observar o desenvolvimento dos alunos a partir de atividades lúdicas, ressaltaram que o que mais contribui para esta melhor observação é que as crianças trabalham com mais ânimo e interesse, demonstrando assim todo seu potencial, o que nem sempre ocorre nas tarefas tradicionais. Muitos citam que através de jogos e brincadeiras não só trabalham e observam o desenvolvimento físico e cognitivo como habilidades motoras, raciocínio e domínio de conteúdos, mas também e principalmente a aceitação das regras de convivência, o respeito ao outro, o espírito de equipe e os valores morais. Percebe-se nestas falas que os professores valorizam muito as atividades lúdicas como um meio de favorecer o desenvolvimento emocional e a socialização dos seus alunos, o que com certeza se reflete na aprendizagem dos mesmos. 5. Você considera satisfatório o tempo que dedicas ao trabalho lúdico em seu planejamento? Quando perguntou-se aos docentes se consideram satisfatório o tempo que dedicam às atividades lúdicas, todos eles responderão que não e citaram os principais motivos para que este trabalho seja considerado insuficiente: falta de tempo para preparar jogos e tarefas

variadas, preocupação com o conteúdo que deve ser desenvolvido durante o ano, cobrança dos pais em relação a estes conteúdos, falta de material apropriado... 11 Dessa maneira é possível analisar que apesar de valorizarem o lúdico em sala de aula, ainda existe uma grande lacuna entre teoria e sua aplicação prática, os professores demonstram interesse e vontade de ousar e inovar, mas sentem-se limitados pela falta de tempo, cobrança dos pais e apego excessivo ao conteúdo do currículo, o que deixa claro que ainda temos uma prática educacional bastante tradicional. 6. Como você vê a aceitação dos pais em relação às atividades lúdicas em sala de aula? Como já foi citado em algumas respostas anteriores, os professores são unânimes em dizer que a aceitação dos pais em relação ao lúdico na escola ainda é muito difícil, salientam que muitos acreditam que se o filho estivesse copiando, lendo e calculando no caderno de maneira tradicional aprenderia mais e melhor, sendo as brincadeiras e jogos considerados meros passatempos e atividades próprias apenas dos recreios e aulas de Educação Física. Entretanto, alguns professores deixaram claro que após conversarem com os pais estes passaram a compreender melhor seus objetivos e como é possível haver aprendizagem significativa e desenvolvimento integral através da ludicidade. No referencial teórico, a autora salienta a importância dos pais compreenderem que o brincar tem resultados educacionais sólidos e que é uma atividade valiosa corretamente associada à aprendizagem. E para isto é necessário que a escola e toda sua equipe docente esclareça estes pais em relação ao seu modo de trabalhar e seus objetivos, para que estes se

tornem aliados na construção de uma escola mais alegre e prazerosa, onde cada um possa aprender, crescer e realizar-se plenamente. 12 CONCLUSÃO Ao chegar nesta etapa de conclusão da pesquisa, é possível perceber que o tema escolhido foi excelente e serviu até mesmo para incentivar o trabalho com o lúdico dos professores entrevistados, pois estes começaram a refletir mais sobre suas práticas, o que foi muito gratificante. A metodologia aplicada foi apropriada, tendo em vista o curto espaço de tempo e os objetivos aos quais a pesquisa se propôs. Com base nos objetivos da pesquisa, nos resultados obtidos e no referencial teórico foi possível concluir que a ludicidade é de suma importância para a criança nas séries iniciais, por favorecer um desenvolvimento físico, emocional e cognitivo mais completo e harmonioso. Dessa maneira, confirmou-se a hipótese levantada no decorrer da pesquisa, tendo sido o referencial teórico escolhido bastante esclarecedor e apropriado, por ter fornecido subsídios para o trabalho como um todo e principalmente orientar a pesquisa de campo. É interessante ressaltar que todos os professores entrevistados atribuíram às atividades lúdicas um papel essencial: o de motivar às crianças a estudar. Todos sabemos que a aprendizagem depende em grande parte da motivação, as necessidades e interesses da criança são mais importantes que qualquer outra razão para que ela realize uma certa atividade. Assim, podemos concluir que a ludicidade também pode auxiliar os professores a

13 evitar os altos índices de repetência e também a trabalhar melhor com as dificuldades de aprendizagem de seus alunos. É claro que o lúdico não seria uma solução mágica para os problemas educacionais, mas poderia ser um caminho a ser trilhado na busca de uma escola mais atrativa e interessante. Também percebeu-se uma certa dificuldade dos professores em trabalhar o lúdico em sala de aula, verificando-se que existe um grande distanciamento entre teoria e prática.. Sendo a ludicidade algo de tão grande relevância no âmbito educacional, seria necessário realizar uma pesquisa mais completa em relação a este assunto. As fontes bibliográficas sobre o tema são riquíssimas e além dos professores, outros segmentos da comunidade educativa poderiam ser entrevistadas como a direção da escola, os pais e os próprios alunos. Também seria de grande valia observar de maneira mais completa com estas atividades são realizadas em sala de aula, através de observações e de um contato mais direto com todos os envolvidos no processo. Para alcançar melhores resultados em relação ao lúdico a escola poderia rever seu projeto político pedagógico, dando maior espaço e ênfase à ludicidade. Também é preciso que haja um trabalho de conscientização com os pais, através de conversas e reuniões sobre o assunto, para que se tornem parceiros nesta caminhada rumo às mudanças na maneira de ensinar e aprender e na construção de uma escola mais alegre e atrativa, onde nossas crianças possam crescer e desenvolver-se de uma maneira mais harmoniosa e feliz.

14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CURY, Helena N. O uso de jogos no ensino de Matemática. Revista mundo Jovem. Porto Alegre: ed. da PUCRS, n.350, set. 2004. MACHADO, Marina Marcondes. 1994. O brinquedo sucata e a criança. 4. Ed. São Paulo: Edições Loyola. MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na Educação Infantil. Maria Veronese Veríssimo Veronese (Trad.). Porto Alegre: Artmed, 2001. KAMMI, Constance; DEVRIES, Retha. Jogos em grupos na Educação Infantil: implicações da teoria de Piaget. São Paulo: Trajetória Cultural, 1991. ROCCO, Marisa R. Porque é importante brincar?. Revista Mundo Jovem. Porto Alegre: ed. da PUCRS, n.352, nov. 2004. SANTOS, Santa Marli Pires. 1999. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 4.ed. Petrópolis: Vozes. VYGOTSKI, Lev Semenovick; LURIA, Alexander Romanovick; LEONTIEV, Alex. 1988 Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone USP