ESPAÇO ESCOLAR E PRECONCEITO HOMOFÓBICO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Andressa Cerqueira Carvalhais (Graduanda -PIBIC Fundação Araucária UEPG a_carvalhais@hotmail.com Tamires Regina Aguiar de Oliveira César (Graduanda - PIBIC/Fundação Araucária - UEPG) tamyitape@hotmail.com William Hanke (Graduando - PROVIC UEPG) Hanke_pg@hotmail.com Orientador: Márcio Ornat Resumo O presente texto tem por objetivo construir uma reflexão sobre as conexões entre espaço escolar e preconceito homofóbico, tendo por referencial empírico as respostas de campo obtidas a partir do Protocolo de Pesquisa Espaço Escolar e Preconceito Homofóbico no Município de Ponta Grossa Paraná. Palavras-chave: Geografia; espaço escolar; homofobia Introdução O que as respostas de campo coletadas evidenciam dizem respeito a uma espacialidade estruturada por ações de preconceito direcionadas aos homossexuais. Assim como tratado por Silva (2009), o espaço escolar tem sido visualizado como uma possibilidade de existência cotidiana estruturada segundo a compreensão de um mundo organizado por polos de normalidade e de não normalidade. Em específico, a espacialidade escolar é estruturada naquilo que Valentine (1993) denomina como espaço heterossexual. Segundo esta autora, esta condição é invisível, até que suas fronteiras sejam transgredidas, a partir da existência de pessoas localizadas no polo da não normalidade.
Desenvolvimento Inicialmente construímos uma reflexão discutindo as relações entre espaço escolar e preconceito, para em um segundo momento evidenciar as concordâncias e discordâncias de situações do cotidiano escolar a partir das categorias relacionadas ao masculino e ao feminino. Nossas reflexões têm por subsídio a análise das respostas de 104 questionários aplicados a alunos do Ensino Médio, questionário este estruturado a partir de sentenças que envolviam situações do cotidiano escolar orientadas à circunstancias de preconceito e discriminação, onde 71.15 % relacionaram-se a meninos e 28.85 % a meninas, 95.2 % do total possuíam idade entre 15 a 19 anos. Para a presente análise utilizou-se seis questões de um total de vinte, retiradas dos questionários, onde os alunos teriam como opção de resposta: concordo muito, concordo pouco, discordo muito, discordo pouco. As sentenças escolhidas foram: eu não procuro chegar perto dos homossexuais; eu não aceito a homossexualidade; a homossexualidade é uma doença; alunos homossexuais não são normais; eu convidaria ou aceitaria que um homossexual estudasse em minha casa; e namoraria ou casaria com um/uma homossexual. Evidenciamos as respostas dessas questões nas tabelas a seguir: Eu não procuro chegar perto dos homossexuais 17.3 % Discordo pouco 26.1 % 65.5 % Discordo muito 37.7 % 13.8 % Concordo pouco 14.5 % 3.4 % Concordo muito 21.7 % Tabela 1. Campo realizado entre os dias 25 a 31 de agosto de 2011. Eu não aceito a homossexualidade 6.7 % Discordo pouco 14.3 % 80.0% Discordo muito 45.7 % 10.0 % Concordo pouco 20.0 % 3.3 % Concordo muito 20.0 % Tabela 2. Campo realizado entre os dias 25 a 31 de agosto de 2011.
A homossexualidade é uma doença 10.0 % Discordo pouco 15.9 % 80.0 % Discordo muito 55.1 % 3.3 % Concordo pouco 15.9 % 6.7 % Concordo muito 13.1 % Tabela 3. Campo realizado entre os dias 25 a 31 de agosto de 2011. Alunos homossexuais não são normais 13.3 % Discordo pouco 8.7 % 86.7 % Discordo muito 63.8 % 0.0 % Concordo pouco 11.6 % 0.0 % Concordo muito 15.9 % Tabela 4. Campo realizado entre os dias 25 a 31 de agosto de 2011. Eu convidaria ou aceitaria que um homossexual estudasse em minha casa 90.0 % Sim 59.4 % 10.0 % Não 40.6 % Tabela 5. Campo realizado entre os dias 25 a 31 de agosto de 2011. Eu namoraria ou casaria com um/uma homossexual 13.3% Sim 7.2 % 86.7 % Não 92.8 % Tabela 6. Campo realizado entre os dias 25 a 31 de agosto de 2011. Iniciamos nossa discussão pelo primeiro grupo de escolhas, relacionadas a 'eu não procuro chegar perto dos homossexuais', 'eu não aceito a
homossexualidade', 'a homossexualidade é uma doença' e 'alunos homossexuais não são normais'. No tocante a primeira frase, o que a tabela 1 demonstra diz respeito ao fato de que as mulheres discordam pouco ou muito em 82.8 %, em comparação aos 63.8 % de escolhas masculinas, demonstrando que a convivência das pessoas que não correspondem a linearidade discutida por Butler (2003) entre sexo, gênero, prática sexual e desejo se estabelece de forma mais intensa com grupos de mulheres do que com grupos de homens. O não procurar chegar perto de homossexuais conecta-se a tabela 2, relacionada a não aceitação da homossexualidade. Se o percentual de concordância masculina em relação a esta frase totalizou 40.0 % das escolhas masculinas, em apenas 13.3 % isso fora visível nas escolhas femininas. Assim, o mesmo processo de exclusão e aversão nascido das respostas masculinas em relação a homossexuais se mantém. No tocante a frase 'a homossexualidade é uma doença', mesmo que desde o dia 17 de maio de 1990 a Organização Mundial da Saúde em Assembléia Geral tenham aprovado a retirada do código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças, declarando que a homossexualidade não estava relacionada a doenças, distúrbios ou perversões, entrando em vigor nos países membros da ONU a partir de 1993, no cotidiano social esta frase ainda possui pertinência na classificação dos corpos e comportamentos sociais, pois em específico, a partir dos cento e quatro questionários aplicados, no grupo geral, 19.5 % concordavam com a frase. Todavia, quando agrupadas as respostas por sexo, evidenciou-se que 29.0 % dos participantes homens concordaram com a frase ' a homossexualidade é uma doença', frente aos 10.0 % de escolha feminina. O elemento 'doença' repete-se com a consideração de anormalidade de pessoas homossexuais, a partir do fato de que 27.5 % das respostas dos homens concordaram com tal afirmação, em comparação a 100.0 % de discordância das mulheres. Este total de escolhas acima realizadas reflete-se na possibilidade de convívio doméstico, tanto a partir de atividades escolares, como segundo a própria possibilidade de estabelecimentos afetivos. Se em relação a frase 'eu convidaria ou aceitaria que um homossexual estudasse em minha casa, no geral 74.7 % das
respostas aceitariam tal convívio, existindo uma predominância de aceitação feminina (90.0 %) em comparação a aceitação masculina (59.4 %), em relação ao estabelecimento de um relacionamento, os percentuais de aceitabilidade se invertem, onde o percentual geral de discordância em relação a frase 'Eu namoraria ou casaria com um/uma homossexual' é de 89.7 %, apresentando-se este percentual com uma maior intensidade nas respostas dos homens (92.8 %) em comparação as respostas das mulheres (86.7 %). Assim, evidenciamos através das respostas acima obtidas, que as mulheres tendem a aceitar mais os colegas homossexuais do que os homens, porém, tanto os homens quanto as mulheres concordaram, em maior ou menor grau (excluindo-se a tabela 4 onde não houve concordância por parte das mulheres) com as proposições. O constrangimento da sociedade heteronormativa se fez nítido no que diz respeito aos homens aceitarem menos a homossexualidade, pois espera-se um comportamento padrão em todos os homens, e qualquer traço de feminilidade é considerado por eles como sendo menos homem. Por isso, o homossexual é rejeitado dentro do espaço do escolar e os alunos heterossexuais tende a manter distância para não serem vistos como não homens. Sendo assim, segundo Louro (2004), as ações de combate a homofobia são metas importantíssimas que necessitam ser constantemente retrabalhadas, desconstruindo discursos que situam corpos em polos de normalidade e não normalidade, atribuindo aos sujeitos condições de existência para corpos que, nos termos de Butler (2008), importam socialmente, na relação com sua condição paradoxal de abjeção e marginalização. Pelo mesmo caminho, Junckes e Silva (2010) afirmam que todas as características corporais não tem correspondência a todas as representações socialmente estabelecidas no tocante ao gênero e as sexualidades, apresentando-se assim características de maleabilidade e fluidez segundo existências sociais. A naturalidade das praticas heteronormativas estabelecem coerências entre ações discursivas, produzindo um alinhamento que segundo Butler (2003) refere-se à linearidade entre sexo, gênero e desejo. Portanto, pensar a relação entre espaço escolar e preconceito homofóbico orienta tanto a
prática pedagógica quanto espacial pelo principal caminho, que se refere ao respeito às diferenças. Considerações finais Evidenciamos neste texto a relação entre o preconceito homofóbico e o espaço escolar na cidade de Ponta Grossa PR. Tais respostas de campo visam, além de subsidiar a perspectiva de gênero e sexualidade na Geografia, construir subsídios à elaboração de políticas públicas voltadas para a educação e desta forma romper com as regras de normatização da sociedade que impossibilitam o estudante gay de ter os mesmos direitos que o heterossexual em relação ao respeito enquanto sujeito. Esta reflexão estruturou-se pela busca da produção de uma Geografia emancipatória, visando tanto o respeito às diferenças quanto a existência de outras possibilidades de vivência social, como relacionado ao grupo de homossexuais, que resistem, tanto através de várias geografias multidimensionais, quanto através do espaço escolar. Referências Brasil sem Homofobia - Programa de Combate á violência e a discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual - Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.pdf :> 17 de Set. de 2011 LOURO, Guacira Lopes. Um Corpo Estranho ensaios sobre sexualidade e teoria queer Belo Horizonte: Autêntica, 2004 P. 27 55 SILVA, Joseli Maria. Geografias Feministas, Sexualidades e Corporalidades: Desafios às Práticas investigativas da Ciência Geográfica ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010