A GEOGRAFIA FENOMENOLÓGICA:

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Transcrição:

1 do rio Formate a partir da sua história oral e dos seus mapas mentais Ernandes de Oliveira Pereira Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geogafia Universidade Federal do Espírito Santo ernandesop@yahoo.com.br RESUMO O mundo é complexo, dinâmico e imprevisível. Esse é o mundo vivido pelos homens. O espaço deixa de ser um mero palco de acontecimentos econômicos, sociais, culturais e naturais, para tornar-se o espaço vivido pelos homens. Dessa perspectiva, o conceito de lugar ressurge com intensidade. A fenomenologia, proposta por Edmund Husserl e mais tarde discutida por outros filósofos, como Merleau-Ponty, Jean Paul Sartre e Martin Heiddeger, aparece como uma proposta metodológica de investigação científica da relação do homem com o meio que o circunda. Não se propõe como substituta da objetividade dos gráficos e das equações, mas como um complemento singular e mais profundo, que permite descrever a essência de fenômenos como a percepção ambiental. A proposta nos remete a olhar com os olhos de quem vive e sobrevive às margens de um rio. Diante disso as imagens que as pessoas fazem do espaço onde vivem, materializadas nos mapas mentais e as narrativas orais de um passado que vivifica e edifica os saberes locais, constituem-se dados importantíssimos para a análise da gegrafia. O que se propõe é uma metodologia mais humanizada que permite compreender a verdade que coordena as relações dos povos ribeirinhos com o espaço que ocupam. Muitos caminhos se abrem, dentro dessa perspectiva e que podem ser vir de arcabouço teórico para políticas públicas mais eficientes e que de fato minimizem os impactos ambientias provocados pelas inundações. Palavras-chaves: Mundo vivido, Lugar, Fenomenologia, Percepção Ambiental, História oral e mapas mentais. 1

2 1. O olhar fenomenológico sobre a relação do homem com o espaço que ocupa: o mundo vivido, o conceito de lugar e os saberes locais de quem vive e sobrevive. As pessoas criam laços afetivos com os lugares onde moram. E muitos elementos contribuem para a criação destes laços, que tão fortes, podem superar até mesmo as grandes adversidades. Tuan (1980) destaca que a consciência do passado é um fator importantíssimo no amor pelo lugar e que para explicar sua lealdade para com o lugar, os homens apontam os laços com a natureza, ou recorrem à história. Nesse sentido, as raízes entre o homem e o meio são tão profundas, que até as catástrofes, mesmo aquelas oriundas dos impactos ambientais, como as cheias ou deslizamentos de terras, geram histórias, feitos heróicos e símbolos. Tudo isso se incorpora ao modo de viver do ser humano e do grupo que ele faz parte. O indivíduo indentifica-se com o meio. É o que a princípio dá forma e sentido a sua cultura. O geógrafo Paul Claval (2007, p.63), conceitua a cultura como a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante as suas vidas[...]. O homem, desde a sua tenra história de vida sobre o planeta Terra se adaptou às intempéries do cotidiano, sobreviveu e incorporou os seus feitos à história do espaço que ocupou. Assim nasce a afeição pelo meio que o circunda. É assim que o mundo vivido toma forma, toma consistência e passa a dar mais significado à vida das pessoas e a tudo que elas fazem no espaço que se apropriaram. É assim que vive a população ribeirinha, do rio Formate. De uma enchente a outra, cultiva a sua existência, vivencia o seu espaço e constrói a sua historia. Essa vivência é particular e peculiar. Por isso os gráficos e as equações, talvez não sejam capazes de revelarem, na sua plenitude, a essência dessas experiências com o meio. Tuan (1980) afirma que as paixões humanas estão presentes em qualquer cálculo ambiental e que as atitudes e crenças não podem ser excluídas, pois o homem é o fator dominante do meio ambiente e o seu comportamento deve ser completamente compreendido. Portanto, deve-se refletir que o naturalismo exarcebado, não é tão eficaz em demonstrar as verdadeiras razões que explicariam a relação entre a população ribeirinha e os eventos catastróficos ligados às cheias. Coelho (2009), aconselha que não se pode explicar os impactos ambientais, através de atos, 2

3 nem seguindo simplesmente as premissas das ciências naturais, isto é, simplesmente através de mensurações ou relações mecânicas de causa e feito, mas segundo um arcabouço de mudanças sociais estruturadas de longo prazo. É assim, que a história das relações sociais com o lugar é inserida como um elemento importante para esse tipo de pesquisa. Nesse contexto, a geografia recorre a uma corrente de pensamento da filosofia, conhecida como fenomenologia. Foi estruturada por Edmund Husserl (1859-1938), contrapondo-se ao psicologismo da época que se utilizava do arcabouço das ciências naturais, para entender fenômenos como o da consciência e da percepção. Chauí (1996, p.05) destaca que nos fins do século XIX, a psicologia gozava de grande prestígio e tendia a converter-se na chave para a explicação da teoria do conhecimento e da lógica[...]. Além disso, a filósofa Marilena Chauí, esclarece que a, [...] tendência do naturalismo, do qual o psicologismo é um caso particular, consiste em resolver a questão anulando a dualidade ou a diferença entre sujeito e objeto, e afirmando que a única realidade é a natureza. [...] Tudo é objeto natural ou físico; (CHAUÍ, 1996, p.06) Foi contra essa tendência naturalista do século XIX, influenciada pelo positivismo, que Husserl se pronunciou. É interessante notar ainda, que Husserl era matemático de formação, mas suas pesquisas fizeram dele um fenomenólogo. E assim ele construiu toda a sua carreira dentro do campo da filosofia. Essa proposta de Husserl ficou conhecida como um método de investigação. E foi na esfera da matemática que a fenomenologia nasceu (ABRÃO, 1999). Paradoxalmente, décadas mais tarde, foi esta forma de pensamento que influenciou as ciências humanas, como a Geografia, a Antropologia, a Sociologia etc. No seu método fenomenológico de investigação, Husserl, considera que é um erro pensar que a consciência é apenas o resultado de eventos físico-fisiológicos ocorridos no cérebro e no sistema nervoso. Que é um engano científico afirmar que o conhecimento é apenas o resultado da ação de causa e efeito exercida pelos objetos físicos sobre o sistema nervoso. Husserl alerta que dentro dessa perspectiva naturalista, os conceitos de sujeito, objeto, consciência, coisa, princípio e percepção só tem sentido se forem reduzidos a entidades empíricas e observáveis. Para ele isso gera uma grande confusão entre o que é físico e o que é psíquico (CHAUÍ, 1996). Em sua fenomenologia, Husserl propõe que o psíquico é fenômeno e não 3

4 coisa. Chauí (1996, p.07) esclarece que do ponto de vista de Husserl, o fenômeno é a consciência, enquanto fluxo temporal de vivências e cuja peculiaridade é a imanência e a capacidade de outorgar significado às coisas exteriores. A consciência ultrapassa as barreiras do material, transcende o que é observável e passível de medições. E por isso é preciso existir outro método de investigação para compreender os fenômenos como o da percepção. Assim, Husserl conceitua a fenomenologia como uma filosofia transcendental, ou seja, uma descrição da estrutura específica do fenômeno (fluxo imanente de vivências que constitui a consciência) [...] na medida em que ela, enquanto Consciência Transcendental constitui as significações ou constituir (no nível transcendental) os significados dos acontecimentos naturais e psíquicos. (CHAUÍ, 1996, p.06) A partir desta premissa, onde a consciência deixa de ser um objeto empírico e passa a ser um fenômeno que transcende a matéria, Husserl derruba de uma vez, o psicologismo e o naturalismo da época afirmando que constituem um grande engano teórico, [...] como um erro que deve ser combatido através da análise fenomenológica da estrutura imanente da consciência, enquanto irredutível a um fato natural e, mais do que isto, enquanto fonte do significado dos próprios fatos naturais. (CHAUÍ, 1996, p.06) Esse método de investigação científica, permite compreender a essência de muitos fenômenos sociais, a partir da consciência e da percepção das pessoas acerca do mundo que os rodeia. A idéia de mundo vivido ganhou força a partir de Husserl e foi muito discutida por vários filósofos, como Jean Paul Sartre, Merleau-Ponty e Martin Heidegger décadas mais tarde. Muitos geógrafos, na tentativa de solucionar problemas epistemológicos, buscaram alternativas na fenomenologia, como Eric Dardel, Yi-Fu Tuan, Paul Claval, que juntos com muitos outros estudiosos, estruturaram a Geografia Humanística e a Geografia Cultural, contrapondo-se ao pensamento marxista e a linha da Geografia Teorética ou Quantitativa. Na concepção destes geógrafos, a experiência do homem com o seu meio, transformou o espaço, meramente locacional em espaço vivido. Isso fez reacender a idéia de lugar no campo da geografia. Holzer (1999, p.69), diz que estas idéias apontam para um dado: o das semelhanças entre o que os fenomenólogos chamam de mundo e o que os geógrafos humanistas denominam de lugar. Nogueira (2001, p.29), afirma também que [...]o mundo é 4

5 entendido [...] enquanto lugar de vida, enquanto espaço vivido, [...]. Desta forma o espaço não é o palco dos acontecimentos. Diante disso pode-se afirmar que o mundo vivido dos filósofos da fenomenologia é o lugar do Geógrafo. Para tanto, houve uma necessidade de reaprender a ver este mundo vivido, este lugar. Para alcançarmos esta nova forma de ver o lugar dos homens, a geógrafa Amélia R. B. Nogueira alerta que, entendemos ser o lugar, categoria própria do conhecimento geográfico. Merleau-Ponty não fala de lugar, mas de mundo vivido, porém deixa claro que este mundo vivido é o lugar onde habitam os homens. É preciso reaprender a ver o mundo.[...] é preciso reaprender a ver o lugar; esta aprendizagem se dá a partir das histórias narradas pelos que vivem os lugares. (NOGUEIRA, 2001, p. 38) Por isso, a abordagem fenomenológica é a mais apropriada, para compreender a percepção da população ribeirinha do rio Formate a partir das suas histórias de vida e de suas experiências, pretende-se compreender o que realmente explica a relação dessas pessoas com o meio. E até mesmo, propor a partir delas mesmas, soluções que possam mitigar as conseqüências dos impactos ambientais associados às inundações que frequentemente ocorrem no verão. As ferramentas fenomenológicas que foram adotadas pelos filósofos permitem uma compreensão mais apurada da organização espacial das populações em várias situações. A partir desse ponto de vista, o aspecto cultural tornou-se um elemento fundamental, para se compreender essa relação. O homem, desde a sua tenra idade é moldado por sua cultura e mesmo adulto sofre suas influências. Claval (2007) deixa claro que o indivíduo vive numa sociedade, utiliza um vocabulário de formas e de cores que predeterminam o que sente, percebe o mundo através dos padrões de leitura que recebeu. Assim o que ele lê no mundo e na sociedade é o que aprendeu a ver. É por isso que a Geografia Cultural, uma particularidade da Geografia humanística, adquiriu força e serviu de arcabouço teórico para o estudo da relação do homem com o meio e fez com que os seus saberes locais, muitas vezes ignorados pelo poder público e pelos planejadores, ressurgissem. É possível perceber que há uma mudança de postura significativa da ciência quanto a esses saberes, pois, na atualidade nem tudo na ciência deve ser predeterminado apenas pela precisão e pela ordem dos fatos. Também deve-se considerar as artes, as mitologias, as literaturas, as religiões, os saberes do 5

6 senso comum, entre outros, que procuram, com seu olhar próprio, explicar, descrever, compreender a dinâmica do mundo e da vida, e, por isso, não possuem menor valor que os saberes da ciência (ARAÚJO, 2007). Esses saberes locais, como por exemplo os saberes ambientais dos povos ribeirinhos podem ser considerados e ser apreendidos pelo cientista, através das ferramentas fenomenológicas. A exclusão deles, nas tomadas de decisões, pode trazer conseqüências desastrosas para a população e essa situação é observável, na região cortada pelo rio Formate. Através dos noticiários locais é possível verificar que os poderes públicos ignoram tais saberes e por isso não compreendem o modo de vida desta população. Mas mesmo assim, partem para a execução de projetos de intervenção financiadas pelo Programa de Aceleração para o Crescimento (PAC), do Governo Federal, que constituem na essência, a dragagem do canal do rio, bem como a retirada dos moradores das áreas ribeirinhas inundáveis para locais afastados e desprovidos de infra-estrutura básica, como transporte públicos, escolas e postos de saúde. Diante dessa realidade, o olhar fenomenológico torna-se uma importante ferramenta para compreender essas relações e quem sabe produzir um conhecimento que auxilie, a realização de ações mais eficientes. 2. A percepção ambiental e a geograficidade da população ribeirinha Conforme está sendo discutido, sabe-se que a experiência dos homens com o meio, não pode ser compreendida sem levar em consideração o modo como percebem o mundo e isso vai definir o modo como as pessoas interagem com o espaço que vivenciam. O filósofo Merleau-Ponty (1999, p.86) enfatiza que a percepção [...] se orienta [...] em direção a uma verdade em si em que se encontra a razão de todas as aparências. Nesse sentido a percepção é colocada aqui como uma categoria de análise de grande importância para que o geógrafo conheça de fato a verdade que está por trás dos fenômenos. Nogueira (2001, p.21) ressalta ainda que na verdade, procuramos somente entender as categorias de análise que iremos fazer uso, sob um olhar fenomenológico, quais sejam: percepção, mundo, espaço, homem e lugar. Essa forma de ver o mundo, a partir da experiência da própria população ribeirinha do rio Formate, possibilitará um conhecimento mais próximo do que é real. Será possível verificar as suas representações, a partir dos seus saberes construídos sem a 6

7 preocupação com as máscaras da objetividade científica. Cabe ao geógrafo interpretar essas informações, como elas de fato nos aparecem. Captar essa percepção é condição primordial para se conhecer de fato as verdadeiras razões que explicam o modo como a população ribeirinha do rio Formate se organiza no espaço, pois é [...]com essa visão [...] que olharemos[...], vendo suas descrições dos lugares como o conhecimento concreto deles, reconhecendo suas representações com as mais exatas possíveis, embora construídas sem a preocupação com a precisão.tentaremos interpretar as informações [...] tal como[...] nos demonstraram e a fenomenologia nos dá sustentação para isto, pois ela é a tentativa de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela se apresenta. (NOGUEIRA, 2001, p.21) A partir dessas reflexões, entende-se que esta percepção, na visão fenomenológica deve ser vista como o acesso à verdade, ou seja, ao mundo percebido pela população que se quer estudar. É por isso que nesse sentido deve-se concluir que para entender o verdadeiro significado da relação do homem com o seu meio é preciso analisar a sua própria percepção. E o que se quer verificar nesse trabalho é a percepção ambiental da população. Mas essa percepção ambiental não é entendida somente dentro do aspecto natural, e sim dentro de uma dimensão mais holística que considera também os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais, envolvidos. Acredita-se que é nesse tipo de ambiente que há a completa interação do homem, enquanto indivíduo e ao mesmo tempo ser social. É isso que vai influenciar a sua própria visão do mundo. Tuan (1980, p.91) conclui que o [...] meio ambiente natural e a visão do mundo estão estreitamente ligadas: a visão do mundo, se não é derivada de uma cultura estranha, necessariamente é construída dos elementos conspícuos do ambiente social e físico de um povo. Dessa percepção ambiental espera-se extrair os elementos que revelem a geograficidade deste povo ribeirinho. Em sua tese, Amélia R. B. Nogueira cita o geógrafo Eric Dardel, onde esclarece o conceito de geograficidade a partir da visão fenomenológica, geograficidade refere-se às várias maneiras pelas quais sentimos e conhecemos os ambientes em todas as suas formas, e refere-se ao relacionamento com os espaços e as paisagens, construídas e naturais, que são as bases e recursos das habilidades do homem e 7

8 para as quais há uma fixação existencial. (NOGUEIRA, 2001, p.21) É fato e notório que a experiência de vida deve fazer parte da análise da Geografia. O geógrafo não deve apenas estudar os aspectos puramente econômicos para compreender a organização espacial das comunidades, ou de qualquer grupo social, como se a economia existisse por si só, como se ela não fosse criada também pelo próprio ser humano. É claro que não se pode negar as influências da economia nas vidas das pessoas, mas não é um fator determinante. Há elementos da sociedade que não podem ser compreendidos apenas a partir desse ponto de vista. O pensamento objetivo ignora o sujeito da percepção e por isso dá uma falsa noção do real. O Filósofo Merleau-Ponty (1999, p.89) assinala com veemência que a sociedade não é uma comunidade de espíritos racionais [...]. Portanto tratar o homem como ser social é aceitável, mas tentar prever suas ações, como se fosse um fenômeno natural qualquer é se compadecer em um grande engano. Para tanto é preciso retornar ao mundo vivido aquém do mundo objetivo, já que é nele que poderemos compreender tanto o direito como os limites do mundo objetivo [...] (MERLEAU-PONTY, 1999, p.90). A fenomenologia nos trás uma forma alternativa e talvez mais eficaz de compreender certas nuanças da experiência de vida das pessoas com o meio, o que nos remete a conhecer também a lógica que está por trás da organização daquele grupo social no espaço. Nas últimas décadas, muitos estudiosos das ciências humanas, vêm enfatizando a importância do saber local ou senso comum, para as pesquisas humanísticas. Geertz (2006, p.114) afirma que a ciência se baseia na metodologia, a ideologia na paixão moral; os argumentos do senso comum, porém, [...] se baseiam [...] na vida como um todo. O mundo é sua autoridade. Mais um vez, é possível perceber que tais saberes não devem ser ignorados, pela ciência. Pois grande parte desses saberes nasce das experiências dos homens com o mundo. E com passar do tempo se incorporam na cultura. Geertz (2006, p.116 ) ainda destaca que o saber local, ou o senso comum é um sistema cultural, [...] que se baseia nos mesmos argumentos em que se baseiam outros sistemas culturais semelhantes: aqueles que os possuem têm convicção do seu valor e da sua validade. Esses saberes integram uma cultura local, que mesmo impregnada de elementos padronizados da globalização, possuem alguns traços bem específicos do lugar. É assim que o espaço se transforma em lugar para as pessoas. Os 8

9 saberes criam laços profundos que nem mesmo uma enchente ou outro desastre natural conseguem desfazer. Para atingir este saber e finalmente compreender o modo como as pessoas vivem em um determinado espaço ou território, é preciso captar a percepção destas pessoas em relação ao meio. O morador ribeirinho, segundo Nogueira (2001, p.94) é um sujeito que está no mundo, que participa das relações sociais de produção e construção do lugar através de seu trabalho. Possui um saber sobre eles que foi adquirido ao longo de sua existência no mundo. 3. Contribuições dos mapas mentais e da história oral para a compreensão da percepção ambiental da população ribeirinha Quando chegamos em algum lugar, desconhecido por nós, a distribuição das construções, suas funções e os tipos de pessoas que circulam naquele espaço, a princípio não fazem sentido para nós. Essa sensação ocorre porque ainda não conhecemos, por exemplo, a história do lugar. Não conhecemos ainda os traços culturais mais marcantes das pessoas que vivem naquele lugar. Temos a visão de alguém de fora, ou seja, a visão do visitante, que segundo Tuan (1980, p.74), a avaliação do meio ambiente pelo visitante é essencialmente estética. É a visão de um estranho. O estranho julga a beleza pela aparência. Temos aí uma forma superficial de ver a paisagem e que não capta a realidade em sua plenitude. Quando pedimos para alguém elaborar um mapa mental, do lugar onde mora, essa sensação da realidade é semelhante. Pois nele estarão representados os elementos mais significantes para o autor do mapa. Portanto, é preciso também conhecer a história, os fatos que estão por trás daquele desenho ou do relato para que tenham um sentido para nós, pois [...] cada homem, ou até cada grupo, existe uma imagem diferente do espaço, e esta imagem não é fantasia é apreendida a partir do que ele percebe do mundo que o rodeia, a partir de sua experiência de vida, o espaço vivido, que é também concreto, pois é analisado por homens concretos, sujeitos inseridos o tempo e no espaço, sujeitos histórico-espacial. (NOGUEIRA, 1994, p.61) O espaço vivido dos homens é assim, marcado por artefatos oriundos dos saberes construídos ao longo do tempo. Cada marca artificial no espaço, é a expressão de um ou 9

10 vários tipos de culturas. Desde a antiguidade, o homem faz isso. Até mesmo as culturas mais primitivas, antes da invenção da escrita, também foram capazes, de se expressarem como por exemplo, através das pinturas rupestres encontradas no sítio arqueológico da Serra da Capivara no Piauí. Traços que revelam o cotidiano dos povos daquela época. Os homens são assim, capazes de mentalizarem os seus lugares e de materializá-los através das construções e das imagens. Pois o homem constrói imagens mentais do que percebe e as representa.[...] Essas representações são criações sociais ou individuais de esquemas pertinentes do real. (NOGUEIRA, 1994, p.64) Dentro desse contexto pode-se conceituar os mapas mentais como representações do espaço vivido, são mapas que trocamos ao longo de nossa história com os lugares experienciados.eles revelam como o lugar é compreendido e vivido (ARCHELA & GRATÃO, 2004). E o uso desse instrumento é cada vez maior, no campo das ciências humanas e especificamente na Geografia. E no caso específico dessa pesquisa a idéia de usar os mapas mentais, está associada a possibilidade de captar o ponto de vista daqueles que experienciam o lugar. A riqueza de informações, que podem ser encontradas dentro dos mapas mentais é abundante. Sua análise, talvez seja o maior desafio para o pesquisador. Mas mesmo assim, esse desafio não deve ser encarado como entrave. É possível analisá-los, à princípio, a partir dos referenciais mais importantes para o autor do mapa. Esses podem revelar o que é mais significativo para o nativo e a disposição desses referenciais, as formas dos mesmos, suas funções podem revelar traços culturais específicos daquele grupo social. As representações espaciais mentais podem ser do espaço vivenciado a partir do cotidiano, como por exemplo, as construções do presente ou do passado; de localidades espaciais distantes, ou ainda, formadas a partir de eventos sociais, culturais, históricos e econômicos, divulgados nos meios de comunicação (ARCHELA & GRATÃO, 2004). Por isso, diz-se que os mapas mentais são representações sociais. Deve-se destacar também que qualquer pessoa pode construir um mapa mental, seja ela alfabetizada ou não. Pois a capacidade de organização das percepções sobre o lugar não 10

11 está ligada ao desenvolvimento intelectual da pessoa, mas a sua relação existencial com ele. A pessoa adulta que não domina a linguagem escrita também possui, assim como o alfabetizado, uma experiência de vida com o seu espaço de produção material. (NOGUEIRA, 2001). Nesse caso, os mapas mentais não são exclusividade para pessoas estudadas. Isso é muito importante destacar, pois os saberes locais, não tratam apenas de informações técnicas e científicas construídas pela comunidade, mas sim de informações oriundas muitas vezes do senso comum, ou do bom senso, que são passadas de gerações para gerações. Portanto é possível que estes dados, coletados através dos mapas mentais, expressem a percepção ambiental, daqueles que moram nos bairros dos municípios de Cariacica e Viana, cortados pelo rio Formate. As histórias que as pessoas narram sobre o lugar onde moram, podem também revelar os traços de sua experiência com ele, e o que foi narrado, em que circunstância o fato foi lembrado: tudo isso compõe a narrativa, que sempre nasce da memória. (MEIHY, 2005). Até mesmo aquelas histórias contadas apenas oralmente, de geração para geração, são dados científicos confiáveis, pois a história oral implica uma percepção do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado (MEIHY, 2005). Ela pode revelar as intenções de uma comunidade, e podem revelar a maneira como enxergam o meio em que vivem. É fundamental lembrar que na história oral o que se quer buscar é o registro da experiência vivencial (MEIHY, 2005). E as entrevistas são fundamentais como um possível método de coleta de dados. A partir dessa reflexão, a história oral adquire uma importância crucial, para as pesquisas ligadas à percepção ambiental. Não é a única, mas talvez a maneira mais eficiente de captar a realidade, ou seja, a maneira como os povos experienciam o meio que vivem. Assim a história oral se apresenta como uma maneira de captar as experiências das pessoas dispostas a narrar os aspectos da vida quanto mais elas contarem a sua maneira, mais eficiente será seu depoimento. (MEIHY, 2005). 4. Considerações finais 11

12 A Geografia busca, através da fenomenologia, a essência do seu objeto de estudo. Uma ciência que quer definir as essências, como a essência da percepção e da consciência. É uma filosofia que também pretende relatar o espaço, o tempo e o mundo vivenciados pelos seres humanos (MERLEAU-PONTY, 1999). E o conhecimento geográfico é o resultado dessa experiência dos homens com o espaço e com o mundo que o cerca. O conceito de mundo vivido emerge a partir dessa reflexão como sinônimo de lugar. E todos os lugares são pequenos mundos. Podem ser símbolos públicos ou campos de preocupação. E o poder dos símbolos para criar lugares, depende das emoções humanas (TUAN, 1983). Conclui-se que a essência dos lugares é a mesma do mundo vivido e ambos são produzidos pela consciência humana (HOLZER, 2001). É a partir dessa relação entre o conceito de mundo vivido e o conceito de lugar, que a perspectiva fenomenológica se aproxima da ciência geográfica. Surge uma fenomenologia da Geografia, que deixa de priorizar a descrição do mundo físico e humano, para descrever o mundo vivido. Assim a Terra é vista para além dos seus aspectos físicos, é compreendida como lugar de Vida (NOGUEIRA, 2001). Falar da experiência dos homens com o mundo é também falar da percepção que o mesmo tem do espaço que o rodeia. Essa percepção do mundo deve ser concebida como o acesso à verdade e o que é o mundo se não aquilo que nós percebemos? Nesse sentido deve-se compreender que para entender o significado da relação do ser humano com o seu meio é fundamental analisar a sua percepção. Dela poderemos extrair elementos que revelem a geograficidade dos povos de um determinado lugar. Dentro desse aspecto, pode-se dizer ainda que o ser humano, é dotado de uma capacidade mental de perceber os objetos e sua disposição no espaço. E a cartografia, tem a prentensão de representar e materializar essa percepção espacial. E dentro desse contexto, os mapas mentais são excelentes ferramentas de comunicação do indivíduo. Através dele, é possível ver a materialidade da forma de pensar e perceber o seu espaço. Segundo Archela & Gratão (2004, p.127) mapas mentais são imagens espaciais que as pessoas têm de lugares conhecidos, direta ou indiretamente. 12

13 É essa a proposta de presente trabalho. Oferecer um método de investigação que possibilite a descrição do espaço vivido, a partir da percepção ambiental da população ribeirinha do rio Formate. Suas imagens e suas histórias constituem dados fundamentais para a compreensão desta relação entre o homem e o meio. Entre o homem e as frequentes inundações. Qualquer intervenção, com o intuito de mitigar os impactos das inundações na região, deve adquirir significado e eficácia, a partir do olhar de quem sofre com o rio. Muitas possibilidades se abrem nesse caminho. Trilhá-lo requer a coragem de se desvincilhar das amarras da objetividade científica. Referências bibliográficas ABRÃO, Brenadette Siqueira. História da filosofia. São Paulo:Ed. Nov cultural, 1999. ARAUJO, Maria Luiza Grossi. Ciência, fenomenologia e hermenêutica: diálogos da geografia para os saberes emancipatórios. 2007. Tese de doutorado em geografia Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto Geociências, 2007. ARCHELA, Rosely Sampaio; GRATÃO, Lucia Helena B. ; TROTDORF, Maria A. S.. O Lugar dos Mapas Mentais na Representação do Lugar. Geografia, Londrina, Volume 13, nº 01, Jan/Jun. 2004. P. 127 141 CHAUÍ, Marilena de Souza. Husserl: Coleção os pensadores. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1996. CLAVAL, Paul. Geografia Cultural. Tradução de Luíz Fugazzola Pimenta. Florianópolis:Ed. Da UFSC, 2007. COELHO, Maria Célia Nunes. Impactos ambientais em áreas urbanas Teorias, Conceitos e Métodos de Pesquisa. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista (Org.).Impactos ambientais urbanos no Brasil. 5ª Ed.Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 2009. p.19-45. GEERTZ, Clifford. O Saber Local: novos ensaios em antropologia interpretativa. 8ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2006. HOLZER, Werther. O lugar da Geografia Humanista. Revista Território. Rio de Janeiro, ano IV, nº 07, p.67-78. Jul./dez. 1999. P.67-78 MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. -- 5ª Ed-- São Paulo:ED. Loyola, 2005. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. 2ª edição São Paulo:Martins Fontes, 1999. NOGUEIRA, Amélia Regina Batista. Mapas Mentais: Recurso Didático no Ensino de Geografia no 1º Grau. 1994. Dissertação de Mestrado em Geografia Física Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994. NOGUEIRA, Amélia Regina Batista. Percepção e Representação Gráfica: A Geograficidade nos Mapas mentais dos Comandantes de Embarcações no Amazonas. 2001. Tese de doutorado em geografia Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. 13

14 TUAN, YI-FU. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência.tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo:DIFEL, 1983. TUAN, Yi-Fu. Topofilia. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo:Ed. Difel, 1980. 14