DIREITOS EDUCACIONAIS DAS CRIANÇAS E JOVENS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA. Palavras-chave: Direitos. Escola. Transtorno do Espectro Autista.

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Transcrição:

DIREITOS EDUCACIONAIS DAS CRIANÇAS E JOVENS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA GT6 Educação, Inclusão, Gênero e Diversidade. Sandra Rosa Baldin 1 Neuza Maria Vieira 2 RESUMO O transtorno do espectro autista tem sido um tema bastante discutido na atualidade. A inclusão escolar das crianças e jovens com este transtorno tem suscitado importantes discussões. Diante disso, está reflexão objetiva discorrer acerca dos direitos educacionais das crianças e jovens com transtorno do espectro autista na contemporaneidade, a partir de uma revisão de documentos, legislação e literatura. Foi possível verificar que a partir do ano de 2012 o referido público passou a ter os mesmos direitos educacional que as pessoas com deficiência. Com isso, passaram a ter direito a escola regular, ao atendimento educacional especializado, a um profissional de apoio, além dos professores, a adaptações curriculares e a uma avaliação diferenciada. Apesar da vasta legislação vigente, vale ressaltar que a inclusão doa alunos com autismo ainda não está efetiva. Pois ainda se faz necessária a mudança nas práticas escolares para sua efetivação plena. Palavras-chave: Direitos. Escola. Transtorno do Espectro Autista. ABSTRACT The Autism Spectrum Disorder has been largely discussed nowadays. The scholar inclusion of the children and teenagers with ASD has raised a lot f discussions. Faced with this, this reflection has as an objective to talk about the educational rights of children and teenagers with ASD from documents review, legislation and literature. It was possible to see that from the year 2012 on, people with ASD have the same rights that people with special needs. With this, they now have the right to study at regular school, to have educational specialized attendance, to have a professional who gives them support beyond the teachers, curricular adaptation and special evaluation. Besides the large legislation, it is important to tell that ASD students inclusion has not been effective yet. It is still needed to change the scholar pratice for them to be fully effctiveness. Keywords: Rights. School. Autism Spectrum Disorder. INTRODUÇÃO O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno que afeta principalmente a comunicação e a interação social. Os prejuízos causados por ele se constituem em um desafio no processo de escolarização dos alunos com TEA. No entanto, isso não inviabiliza 1 Mestre em Ciências da Educação. Professora do Atendimento Educacional Especializado da Rede Pública Estadual e Professora da Faculdade Dom Pedro II SERGIPE. E-mail: sandrarosabaldin@yahoo.com.br 2 Fonoaudióloga Clinica. Especialista em Distúrbio de Aprendizagem. E-mail: neuzamvieira@gmail.com

seu processo educacional na escola regular. Isso já foi demonstrado na literatura, na legislação e em documentos orientadores direcionados a educação. Diante deste contexto essa reflexão tem como objetivo discorrer acerca dos direitos educacionais das crianças e jovens com transtorno do espectro autista na contemporaneidade. Para tal foi realizada uma busca intensa na legislação vigente (BRASIL, 2002, 2012, 2013, 2015) nos documentos orientadores publicados pelo Ministério da Educação como a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e os Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (2002). Já na literatura buscou-se a definição do TEA no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) (APA, 2014), que é o mais atual que se tem. Além de autores como: Marin; Moura; Mercadante (2009) e Tamanaha; Rolim; Perissionoto (2009) que trazem informações acerca das características das pessoas com TEA. Já Rapoli et. al (2010), Aranha (2003), Freitas (2015), Perrenoud (2000), Stainback e Stainback (1999) abordam questões relacionadas ao cotidiano escolar e suas transformações que devem ocorrer diante de uma escola que se diz inclusiva. Espera-se com esta discussão trazer à tona os direitos das crianças e jovens com TEA para que os agentes envolvidos com a escola: famílias, professores, profissional de apoio, equipe técnica e os gestores lutem pelos seus direitos e também cumpram com seu papel diante da legislação vigente. DEFINIÇÃO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) A partir da publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) (APA, 2014), o Autismo passa a ser denominado de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sendo, este considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, causando prejuízos funcionais na vida da pessoa. O Transtorno do Espectro Autista caracteriza-se por déficit persistente na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. (APA, 2014, p. 31). O TEA está classificado em três níveis de gravidade: 1 (exige apoio), 2 (exige apoio substancial) e 3 (exige muito apoio substancial). Cada nível está relacionado ao grau de apoio exigido pela pessoa no desenvolvimento de suas tarefas básicas. (APA, 2014).

Com essa definição é possível verificar que as crianças com TEA podem necessitar de apoio de diferentes formas. Estes apoios vão desde o auxilio nas tarefas de vida diária, até na sua inclusão escolar. Portanto, o diagnóstico é fundamental para as intervenções que deverá a criança ser submetida para seu desenvolvimento. As pessoas com TEA apresentam prejuízos para compartilhar e demostrar suas emoções, caracterizando numa inabilidade social. Isso se deve ao pobre contato olho no olho e na incapacidade de imitação que eles possuem. (MARIN; MOURA; MERCADANTE, 2009). Outro aspecto que também se apresenta com prejuízo nas crianças com TEA é a linguagem. As primeiras intenções de comunicação de uma criança se dão a partir dos precursores de linguagem. Isso ocorre no primeiro ano de vida, antes do surgimento da fala, através da interação entre criança e adulto. Assim, há uma atenção compartilhada reconhecendo a outra pessoa como interlocutora. (TAMANAHA; ROLIM; PERISSIONOTO, 2009). Com isso, verifica-se que pessoas com TEA apresentam comprometimentos que vão desde o comportamento até a linguagem. Os reflexos destes prejuízos serão muito evidentes no ambiente escolar, no qual comunicação e comportamento são fundamentais para a adaptação da criança neste ambiente social. Portanto, se fazem necessárias Políticas Públicas voltadas as pessoas com TEA para que sua inclusão no espaço escolar ocorra que forma efetiva. DIREITO À ESCOLARIZAÇÃO A Lei nº 12.764 de 27 de dezembro de 2012, intitulada - Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista institui que: 2 o A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais. (BRASIL, 2012). Com isso, pode-se afirmar que todos os direitos que as pessoas com deficiência têm passaram a ser também das pessoas com TEA. Em se tratando de direitos educacionais das pessoas com deficiência no Brasil, o documento atual que direciona as ações das escolas é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). Portanto, a partir desta, não é mais permitido que crianças e jovens com deficiência, em idade escolar, estejam fora do ensino regular. Vale ressaltar também que a escola não pode negar vaga a este público: Art. 7 o O gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do

espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos. (BRASIL, 2012). A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais. (BRASIL, 2008, p.14) Ademais, garante o Atendimento Educacional Especializado (AEE), no contra turno da sala regular. Neste, os alunos têm um atendimento mais individualizado e focado nas particularidades de cada criança. Além de recursos específicos para atender as suas necessidades. O profissional deste atendimento é um professor capacitado, conhecedor da deficiência. (BRASIL, 2008). O AEE é um serviço da educação especial que "[...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas" (BRASIL, 2008, p.16). Tais atividades são diferenciadas das realizadas na sala regular, no entanto não a substituem. Assim, complementa ou suplementa o desenvolvimento do aluno objetivando sua autonomia dentro e fora da escola. O AEE deve, preferencialmente, acontecer na própria escola que o aluno estuda. Pois assim, facilita a colaboração que deve haver entre a educação especial (AEE) e o ensino regular. As atribuições dos professores são diferenciadas, professor da sala comum: ensino das áreas do conhecimento, conteúdos regulares; já o professor do AEE complementa/suplementa a formação do aluno com conhecimentos e recursos próprios que eliminem as barreiras para a autonomia na sala regular. Assim, este tem como responsabilidade articular as atividades desenvolvidas pelos professores e gestores da escola, tendo em vista as necessidades do aluno com deficiência. Essa articulação se dá a partir da: Elaboração de plano de trabalho na construção do Projeto Pedagógico; Análise do problema do aluno; Elaboração de planejamento individualizado; Discussão do plano do AEE com a equipe escola; Desenvolvimento de recursos didáticos para o AEE e para a sala regular, bem como sua avaliação; Formação continuada para a equipe da escola entremeando tópicos da educação especial e do ensino comum. (RAPOLI et. al, 2010). A Política também prevê (...) monitor ou cuidador aos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras que exijam auxílio

constante no cotidiano escolar. (BRASIL, 2008, p.17). A maioria das crianças com TEA possuem necessidade de muito apoio na realização de suas atividades, tanto de higiene como nas tarefas educativas. Necessitando, portanto de um apoio individualizados no ambiente escolar. Na Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, em seu Parágrafo único diz: Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2 o, terá direito a acompanhante especializado. (BRASIL, 2012). Para tanto, a Norma Técnica nº 24/2013, que objetiva orientar à implementação da Lei nº 12.764/2012, substitui acompanhante especializado por profissional de apoio. A atuação deste profissional é assim definida: O serviço do profissional de apoio, como uma medida a ser adotada pelos sistemas de ensino no contexto educacional deve ser disponibilizado sempre que identificada a necessidade individual do estudante, visando à acessibilidade às comunicações e à atenção aos cuidados pessoais de alimentação, higiene e locomoção. (BRASIL, 2013). Apesar de os documentos se complementarem e garantir a presença do profissional de apoio na escola, continua sem especificar detalhes a cerca da formação e atuação do profissional. A Lei mais atual que aborda os direitos da pessoa com deficiência, a Lei Brasileira de Inclusão de 2015 (LBI), também prevê a atuação do profissional de apoio na escola, porém também não trás detalhes. Permanecendo, assim a falta de clarificação acerca deste profissional, que deveria ter uma função primordial no espaço escolar para a efetivação da inclusão. Já a literatura traz outras nomenclaturas para o profissional de apoio: Mediador Escolar; Acompanhante Terapêutico; Auxiliar Pedagógico; Acompanhante Educacional. Apesar de diferentes nomenclaturas a finalidade deste profissional é a mesma: promover a inclusão de alunos com autismo na escola regular. Freitas (2015) aponta que a necessidade do mediador escolar surge diante da demanda da inclusão. O mediador torna-se imprescindível nas escolas, sendo apontado pelas escolas como condição para que o aluno possa ser incluído. Pois, a escola vê as necessidades do aluno para além de sua capacidade. No entanto, ainda na atualidade, em muitos casos fica a cargo das famílias a contratação deste profissional. O mediador escolar Atua com o professor e demais envolvidos no processo, inclusive os alunos, dando suporte prático e teórico à aprendizagem dos mesmos. O

atendimento, geralmente, se dá no interior da sala de aula [...] (FREITAS, 2015, p.29). Sendo possível, conforme o desenvolvimento da criança, este profissional pode permanecer por um tempo determinado na escola. Outro ponto muito relevante, dentro do espaço escolar, que também é responsável pelo processo de inclusão do aluno é o currículo da escola. A escola deve vivenciar a diferença, pois nela existem alunos com saberes e necessidades diferenciadas. O currículo está sendo praticado, nas escolas, como um conjunto padronizado de exigências acadêmicas para que o aluno seja promovido. A forma que este conteúdo é ministrado pelos docentes é a mais tradicional possível, assim como sua avaliação posterior. (STAINBACK; STAINBACK, 1999). O Aluno que não responde dentro da exigência do professor, acerca do conteúdo não faz mais parte daquela turma. Com isso, Stainback e Stainback (1999) presentam uma série de razões pelas quais essa visão de currículo está se transformando com as mudanças rápidas da sociedade atual, não há mais informações únicas, que possam garantir o sucesso da vida adulta dos alunos. Assim, emerge: Uma abordagem mais produtiva, que é ensinar aos alunos o processo de aprendizagem um processo que envolve aprender a aprender ou tornar se apto para discernir o que é preciso para adaptar e tornar-se proficiente em uma nova situação, além de como e onde ir para localizar a informação necessária. (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p.236). Diante da escola inclusiva, na qual os alunos devem ser reconhecidos e respeitados pela sua diferença, não há mais espaço para um currículo que esteja à margem da realidade. O respeito às diferenças devem estar posto de forma clara. A ênfase no currículo pré-definido, mais voltado para o próprio currículo do que para a criança. (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p.236). A diferença dos alunos precisa ser respeitada e levada em conta na prática pedagógica das escolas, senão continuar-se-á reproduzindo a desigualdade e exclusão no espaço educativo. Os docentes precisam compreender a célebre frase de Perrenoud (...) absurdo ensinar a mesma coisa no mesmo momento, com os mesmos métodos, a alunos muito diferentes (PERRENOUD, 2000, p.9). Para isso, a equipe escolar tem que promover as mudanças no currículo, para que o aluno da inclusão consiga acessar os conteúdos. Não é o aluno que se adaptada ao currículo e sim o contrário. (ARANHA, 2003). Essas mudanças vão desde a proposta pedagógica da

escola, passam pelo plano do professor para a sala, e também devem estar presente na proposta individual. O direito do aluno em ter um currículo adaptado está previsto desde o ano de 2002, nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares, sendo definido como: [...] possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que se realize a adaptação do currículo regular, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adaptações curriculares implicam a planificação pedagógica e as ações docentes fundamentadas em critérios que definem o que o aluno deve aprender; como e quando aprender; que formas de organização do ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem; como e quando avaliar o aluno (BRASIL, 2002, p.33). Desta forma, fica evidente que a adaptação curricular no âmbito da escola com alunos com autismo é fundamental. Essa flexibilização do currículo proporcionará, o desenvolvimento das habilidades mais urgentes e necessárias no aluno. Pois, nem sempre os conteúdos da série, na qual o aluno está matriculado é o mais importante naquele momento para o aluno. Neste momento entra o plano individualizado que permitirá ser trabalhado, conteúdos e habilidades especificas da necessidade do aluno. Diante de um currículo adaptável, a avaliação também tem que ser flexível. A adoção de parâmetros individualizados e flexíveis de avaliação pedagógica, valorizando os pequenos progressos de cada estudante em relação a si mesmo e ao grupo em que está inserido (BRASIL, 2013). Assim, a avaliação dos alunos diante a uma prova escrita não é um requisito básico para o aluno ser promovido. A avaliação deve ser coerente ao que foi proposto para o aluno. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista o exposto no decorrer desta reflexão, é possível verificar que a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (2012) teve papel fundamental no avanço dos diretos do referido publico. Pois, a luta de direitos no âmbito educacional, das pessoas com deficiência é histórica. Assim, muitos direitos já foram alcançados. No entanto, as especificidades das pessoas com TEA trazem graves prejuízos no seu convívio social, sendo este uma de suas principais características. Desta forma, aquelas

adaptações previstas em lei, mas que ainda não se constituíram na prática, em muitas realidades, como a presença de um profissional de apoio, se fazem urgentes. Vale ressaltar também que a mudança na prática escolar, a partir da adaptação curricular é urgente na escola inclusiva. Àquele currículo fechado, engessado, não tem mais lugar na escola inclusiva, que se abriu para as diferenças. Pode parecer uma coisa simples, mas não é, mexer em algo que está enraizado na escola não é fácil. Para isso, será necessária uma formação continuada muito efetiva para a equipe escolar. REFERÊNCIAS ARANHA, M.S.F. Referenciais para construção de sistemas educacionais Inclusivos: a fundamentação filosófica, a história, a formalização. Versão preliminar. Brasília: MEC/SEESP, 2003. AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais-dsm-v. Porto Alegre: Artmed, 2014. BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Secretaria de Educação Especial MEC/SEESP, 2002.. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC/SEESP, Brasília, 2008.. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Brasília, DF, 27 dez. 2012. Disponível em:. Acesso em: 12 jan. 2013.. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Nota Técnica nº24/2013 / MEC / SECADI / DPEE.. Brasília, DF, 21 mar. 2013.. Lei nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Dispõe sobre a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_a to2015-2018/2015/lei/l13146.htm >. Acesso em : 05 fev. 2017 BERTAZZO, J. MOSCHINI, R. Acompanhamento terapêutico escolar: o atendimento a alunos com transtornos globais do desenvolvimento nas classes inclusivas. 9º ANPED SUL, Florianópolis, SC, 2012. Disponível em: Acesso em: 07 fev. 2017. FREITAS, Emanoele. Mediador Escolar: Recriando a arte de ensinar. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2015. MARIN, J. C. M.; MOURA, P.J de; MERCADANTE, M. T. FILOGÊNESE DO COMPORTAMENTO SOCIAL. In.: MERCADANTE, M.T.; ROSÁRIAO, M. C. (Org.) AUTISMO: O Cérebro Social. São Paulo: Segmento Farma, 2009. PERRENOUD, P. Pedagogia Diferenciada: Das intenções à Ação. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000.

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