APELAÇÃO CÍVEL N.º , DE MARINGÁ

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Transcrição:

APELAÇÃO CÍVEL N.º 1217292-4, DE MARINGÁ 2.ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA RELATOR : DESEMBARGADOR Francisco Pinto RABELLO FILHO APELANTE : AVÍCOLA FELIPE S.A. APELADOS : ESTADO DO PARANÁ E DELEGADO REGIONAL DA RECEITA ESTADUAL DE MARINGÁ Mandado de segurança. 1. Aquisição de bens destinados a uso e consumo pelo estabelecimento produtivo Pretensão de creditamento de ICMS, na proporção das operações destinadas ao exterior Possibilidade CF, art. 155, 2.º, inc. I, e LC n.º 87/1996, arts. 19 e 20 Inaplicabilidade da limitação temporal prevista no artigo 33, inciso I, da Lei Complementar n.º 87/96 para aproveitamento desses créditos Existência de regramento constitucional específico para remessas de mercadorias ao exterior Manutenção e aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações anteriores à exportação expressamente assegurados pela Constituição Federal, desde o advento da Emenda n.º 42/2003 Limitação temporal que somente tem incidência sobre as operações internas descritas no artigo 20 da Lei Complementar n.º 87/96, o que não é o objeto da controvérsia. 1.1. Critério para cálculo dos créditos de ICMS a serem aproveitados Obtenção do percentual de produtos exportados, com base na proporção mensal do volume de vendas destinadas ao em relação àquelas que ficam no mercado interno Precedentes desta Corte de Justiça. 1.2. Incidência de atualização monetária sobre os créditos escriturais Impossibilidade Não verificação de desfalque no patrimônio do contribuinte Inexistência, outrossim, de permissivo legal na legislação estadual Ausência, ademais, de recusa injustificada da Fazenda Pública quanto ao aproveitamento desses créditos tributários. 2. Recurso parcialmente provido. Página 1 de 27

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n.º 1217292-4, de Maringá, 2.ª Vara da Fazenda Pública, em que é apelante Avícola Felipe S.A. e apelados, Estado do Paraná e Delegado Regional de Receita Estadual de Maringá. Exposição 1. Avícola Felipe S.A. impetrou mandado de segurança contra ato do Delegado Regional da Receita Estadual de Maringá, perante a 2.ª Vara da Fazenda Pública de Maringá. 1.1. Petição inicial (fs. 3-64) e documentos (fs. 65-365): i) desenvolve atividade de engorda, abate, industrialização e comercialização de aves e pequenos animais e seus derivados, sendo por isso contribuinte de ICMS; i.i) realiza operações no mercado interno, mas também destina seus produtos a exportação; ii) quando do recolhimento dos valores pertinentes a ICMS, há que se observar o princípio da não-cumulatividade, previsto no artigo 155, parágrafo 2.º, inciso I, da Constituição Federal (CF); iii) a Lei Complementar (LC) n.º 87/1996 estabelece normas gerais disciplinadoras do ICMS, dando tratamento específico e diferenciado às operações de exportação; iii.i) o artigo 20 dessa Lei, ao tratar do aproveitamento de créditos tributários, instituiu regime de compensação de crédito financeiro, em substituição ao regime de crédito físico adotado pelo Convênio n.º 66/1988; iv) o artigo 21, parágrafo 2.º, da LC n.º 87/1996 prevê a impossibilidade de estorno dos créditos referentes a mercadorias e serviços destinados ao exterior; Página 2 de 27

v) já o artigo 32 da aludida Lei exclui da incidência do ICMS as operações de exportação, consagrando o regime de crédito financeiro; vi) embora o artigo 33, inciso I, da LC n.º 87/1996 tenha estabelecido restrição temporal ao aproveitamento dos créditos de ICMS decorrentes da aquisição de bens destinados a uso e consumo pelo estabelecimento, a interpretação conjunta dos artigos 3.º, inciso II, 19, 20, 21 e 33 dessa Lei revela que tal limitação somente é aplicável às operações mercantis internas; vii) a Emenda Constitucional n.º 42/2003, que alterou o artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da CF, vedou a incidência de ICMS sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, assegurando a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores; vii.i) com a superveniência dessa Emenda, as operações de exportação passaram a gozar de imunidade plena e efetiva; viii) o artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional n.º 42/2003, é norma de eficácia plena e imediata, conforme prevê o artigo 5.º, parágrafo 1.º, da Constituição Federal; ix) as normas que asseguram imunidade tributária não comportam interpretação restritiva; x) os Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul ajuizaram em face da União ação civil originária, perante o Supremo Tribunal Federal, autuada sob n.º 792-8-PR, buscando o ressarcimento de supostas perdas resultantes da alteração implementada pela Emenda Constitucional n.º 42/2003, reconhecendo, assim, a imunidade tributária instituída por tal Emenda; xi) a redação original do artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da Constituição Federal já estabelecia regime diferenciado de apuração de ICMS para as operações de exportação; xi.i) havia expressa vedação da incidência de ICMS sobre as operações de exportação de produtos industrializados e ainda atribuía-se à Lei Complementar a competência para regulamentar outros casos de não incidência desse imposto, bem como a possibilidade de manutenção dos créditos dali decorrentes; xii) ainda que se entenda que a restrição temporal prevista no artigo 33, inciso I, da Lei Complementar n.º 87/1996 também se aplica às operações destinadas ao exterior, tal Página 3 de 27

restrição somente foi possível até 30 de dezembro de 2003, quando adveio a Emenda Constitucional n.º 42/2003, que vedou a incidência de ICMS nesses casos; xiii) faz jus à escrituração e utilização dos créditos de ICMS cobrados nas operações que antecedem a exportação, inclusive os relativos às mercadorias destinadas a uso e consumo por seus estabelecimentos produtivos; xiv) os lubrificantes consumidos no setor produtivo, as peças de reposição de máquinas e equipamentos, o material consumido na limpeza e/ou esterilização de instalações, as máquinas e equipamentos das áreas produtivas, os equipamentos de proteção e segurança dos funcionários da produção, entre outros, são bens que compõem o custo das mercadorias que industrializa; xv) o regulamento estadual do ICMS somente permite o creditamento do imposto relativo a bens destinados a uso e consumo no tocante aos fatos imponíveis ocorridos a partir de 1.º de janeiro de 2020, sem excepcionar os bens destinados à exportação, o que justifica a impetração preventiva do presente mandamus; xvi) deve ser reconhecido seu direito de escriturar os créditos de ICMS decorrentes de aquisição de bens destinados a uso e consumo, na proporção de suas operações de exportação; xvi.i) também lhe deve ser assegurado o direito de escriturar extemporaneamente e utilizar os créditos de ICMS que não foram aproveitados, observado o prazo prescricional quinquenal; xvii) a proporcionalidade das receitas de exportação deve levar em conta o mesmo critério utilizado no caso do imposto de renda das pessoas jurídicas, consoante previsto no artigo 19, parágrafo 2.º, do Decreto-lei n.º 1.598/1977; xviii) os Tribunais de Justiça vêm reiteradamente entendendo ser possível o aproveitamento dos créditos de ICMS em casos como o presente; xix) o mandado de segurança é via adequada para o reconhecimento do direito ao aproveitamento de créditos de ICMS, consoante prevê a súmula 213 do Superior Tribunal de Justiça; xx) sobre os créditos de ICMS a que faz jus deve incidir atualização monetária, calculada pela taxa Selic, até o mês de sua efetiva compensação ou transferência; xxi) deve ser determinado à autoridade coatora que se abstenha de glosar os créditos que forem extemporaneamente lançados, bem como de autuá-la e de exigir-lhe o ICMS. Página 4 de 27

1.2. O impetrado e o Estado do Paraná prestaram informações (fs. 449-473): i) o mandado de segurança foi impetrado contra lei em tese, o que é vedado pelo ordenamento jurídico, conforme entendimento firmado na súmula 266 do Supremo Tribunal Federal; ii) a pretensão da impetrante demanda ampla dilação probatória, incabível no âmbito do presente remédio constitucional; iii) o creditamento de ICMS decorrente de aquisição de bens destinados a uso e consumo, previsto na Lei Complementar (LC) n.º 87/1996, somente será possível a partir de 1.º de janeiro de 2020; iv) os materiais de uso e consumo são aqueles não empregados na comercialização, tampouco na constituição do produto ou no processo de industrialização, conforme estatui o artigo 23, parágrafos 9.º e 10, do Regulamento do ICMS; iv.i) como não há saída física desses materiais do estabelecimento produtivo, não é possível conferir o direito de crédito de ICMS pago na ocasião da aquisição de tais bens; v) a impetrante busca usufruir o benefício fiscal instituído no artigo 20 da LC n.º 87/1996, tentando burlar a limitação temporal prevista no artigo 33, inciso I, da mesma lei, o que não se pode admitir; vi) o direito à manutenção (não-estorno) dos créditos de ICMS cobrados nas operações que antecedem a exportação somente engloba as mercadorias que tenham ingressado no estabelecimento para integração ou consumo na produção de mercadorias industrializadas, na forma dos artigos 32 e 21, parágrafo 2.º, da LC n.º 87/1996; vii) o artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da Constituição Federal somente se aplica aos créditos relativos às mercadorias que serão exportadas ou incorporadas ao novo produto, não assegurando a manutenção de créditos atinentes a entrada de materiais de uso e consumo; viii) também o regulamento do ICMS assegura o direito ao creditamento apenas quanto à entrada de materiais de uso e consumo exclusivamente a partir de 1.º de janeiro de 2020; ix) ausente o alegado direito líquido e certo, deve ser denegada a segurança; x) eventualmente, o critério a ser adotado para cálculo da proporcionalidade das receitas de exportação não pode ser aquele utilizado para apuração do imposto de renda das Página 5 de 27

pessoas jurídicas, sim o traçado no artigo 33 da LC n.º 87/1996, que regula o aproveitamento de ICMS quanto à energia elétrica; x.i) a proporção das exportações deve ser obtida pela divisão do total de vendas nas exportações com o total das operações de saída, englobando o mercado interno e o externo; xi) é descabida a correção monetária e o acréscimo de juros moratórios sobre os créditos escriturados extemporaneamente, em razão de ausência de previsão na Lei Estadual n.º 11.580/1996 e no Regulamento do ICMS. 1.3. Após a réplica (fs. 485-501), foi colhida a opinião do Ministério Público, que se manifestou pela desnecessidade de sua intervenção (f. 506). 1.4. A sentença 1 (fs. 534-541): i) denegou a segurança postulada; ii) condenou a impetrante ao pagamento das custas processuais. 1.5. Apelação da impetrante (fs. 549-518), com documentos (fs. 619-685), em suma: i) a sentença está em confronto com decisões proferidas pelos Tribunais de Justiça dos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que vêm reiteradamente entendendo ser possível o aproveitamento dos créditos de ICMS em casos como o presente; ii) a restrição temporal ao aproveitamento dos créditos de ICMS decorrentes da aquisição de bens destinados a uso e consumo pelo estabelecimento, prevista no artigo 33, inciso I, da LC n.º 87/1996, somente é aplicável às operações mercantis internas; iii) a LC n.º 87/1996, ao tratar do aproveitamento de créditos tributários, instituiu o regime de compensação de crédito financeiro, em substituição ao regime de crédito físico adotado pelo Convênio n.º 66/1988; iv) a limitação temporal estatuída no artigo 33, inciso I, da LC n.º 87/1996 refere-se tão-somente ao aproveitamento de créditos regulamentado no artigo 20, caput, dessa Lei, não englobando o imposto cobrado nas operações anteriores às remessas para o exterior; 1 Juiz Abílio Thadeu Melo Sodré de Freitas. Página 6 de 27

v) a Emenda Constitucional n.º 42/2003, que alterou o artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da CF, vedou a incidência de ICMS sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, assegurando a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações anteriores; v.i) com a superveniência dessa Emenda, as operações de exportação passaram a gozar de imunidade plena e efetiva; vi) as normas que asseguram imunidade tributária não comportam interpretação restritiva; vii) a redação original do artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da Constituição Federal já estabelecia regime diferenciado de apuração de ICMS para as operações de exportação; vii.i) havia expressa vedação de incidência de ICMS sobre operações de exportação de produtos industrializados, cabendo a Lei Complementar regulamentar outros casos de não incidência desse imposto, bem como a possibilidade de manutenção dos créditos daí decorrentes; viii) ainda que se entenda que a restrição temporal prevista no artigo 33, inciso I, da Lei Complementar n.º 87/1996 também se aplica às operações destinadas ao exterior, tal restrição somente foi possível até 30 de dezembro de 2003, quando adveio a Emenda Constitucional n.º 42/2003, que vedou a incidência do ICMS nesses casos; ix) o artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional n.º 42/2003, é norma de eficácia plena e imediata, conforme prevê o artigo 5.º, parágrafo 1.º, da Constituição Federal; x) os Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul ajuizaram em face da União ação civil originária, perante o Supremo Tribunal Federal, autuada sob n.º 792-8-PR, buscando o ressarcimento de supostas perdas resultantes da alteração implementada pela Emenda Constitucional n.º 42/2003, reconhecendo, assim, a imunidade tributária instituída por tal Emenda; xi) deve ser reconhecido seu direito de escriturar os créditos de ICMS decorrentes da aquisição de bens destinados a uso e consumo pelo estabelecimento, na proporção de suas operações de exportação; xii) o critério para cálculo dos créditos a serem aproveitados deve levar em conta o mesmo utilizado no caso do imposto de renda das pessoas jurídicas, consoante previsto no artigo 19, parágrafo 2.º, do Decreto-lei n.º 1.598/1977; Página 7 de 27

xiii) também lhe deve ser assegurado o direito de escriturar extemporaneamente e utilizar os créditos de ICMS que não foram aproveitados, observado o prazo prescricional quinquenal; xiv) sobre os créditos de ICMS a que faz jus deve incidir atualização monetária, calculada pela taxa Selic, até o mês de sua efetiva compensação ou transferência. 1.6. Com a resposta (fs. 704-720), e a manifestação do agente ministerial (f. 732), subiram os autos a esta egrégia Corte de Justiça. 1.7. Aqui, foi colhida a opinião do Ministério Público, emitida pelo digno procurador de justiça Ney Roberto Zanlorenzi, que veio no sentido de ser dado provimento ao recurso (fs. 768-778). Voto 2. O recurso merece conhecimento, na medida em que estão presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, assim os intrínsecos (cabimento, legitimação e interesse em recorrer), como os extrínsecos (tempestividade, regularidade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e preparo). 3. O mandado de segurança, como ressabido, é garantia constitucional que tem como pressuposto específico, além da comprovação, de plano, do direito líquido e certo afirmado pela parte impetrante, a existência de ato ilegal ou abusivo atribuível à autoridade coatora, como está expresso no artigo 5.º, inciso LXIX, da Constituição da República, e no artigo 1.º da Lei n.º 12.016/2009. Página 8 de 27

3.1. Nesse sentido é a lição de Cassio Scarpinella Bueno 2 : O mandado de segurança é previsto expressamente na Constituição Federal em seu art. 5º, LXIX, inserido no Capítulo I (Dos direitos e deveres individuais e coletivos) do Título II (Dos direitos e garantias fundamentais), nos seguintes termos: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXIX conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. [...] Dada a previsão constitucional do mandado de segurança, não poder haver dúvidas quanto à circunstância de ele ser mecanismo apto a coibir qualquer atividade ilícita em suas mais diversas formas de manifestação por qualquer um que exerça função pública (v. Título 14, infra). Qualquer interpretação relativa ao mandado de segurança não pode desviar-se dessa idéia central, e que decorre direta e inequivocamente da Constituição: é ele mecanismo de defesa do cidadão contra a prepotência do Estado ou de quem produza atos ou fatos jurídicos em nome do Estado. 3.2. Vem daí que para a concessão da segurança é imprescindível que haja comprovação, de plano, de ameaça ou lesão a direito líquido e certo da impetrante e que se dê em virtude de ato ilegal ou abusivo. 4. Ultrapassados esses acertamentos necessários, volto-me para a análise da situação concreta. 2 BUENO, Cassio Scarpinella. Mandado de segurança: comentários às Leis n. 1.533/51, 4.348/64 e 5.021/66. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 4-5 os destaques em itálico são do original. Página 9 de 27

5. Cinge-se a controvérsia recursal em verificar se à impetrante é dado, ou não, aproveitar os valores recolhidos a título de ICMS por ocasião da aquisição de bens destinados a uso e consumo por seus estabelecimentos produtivos, na proporção das operações destinadas ao exterior. É o que se passa a fazer. 5.1. A Constituição Federal, em seu artigo 155, parágrafo 2.º, inciso I, estabelece que o ICMS deve observar o princípio da não-cumulatividade, nos seguintes termos: Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: [...] II operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; [...] 2.º. O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: I será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal; [...]. 5.2. Os artigos 19 e 20, caput, da Lei Complementar n.º 87/1996, por sua vez, dispõem que: Art. 19. O imposto é não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro Estado. Página 10 de 27

Art. 20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação. 5.3. Como se vê, é assegurado aos contribuintes do ICMS o aproveitamento dos créditos de ICMS nas operações anteriores de aquisição de mercadorias destinadas a uso ou consumo ou ao ativo permanente. 5.3.1. A fruição desse direito, contudo, encontra limitação temporal estabelecida na própria Lei Complementar n.º 87/1996. Quando do advento dessa Lei, seu artigo 33, inciso I, previa que somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento, nele entradas a partir de 1.º de janeiro de 1998. 5.3.1.1. Posteriormente, esse lapso temporal foi postergado com as sucessivas alterações implementadas pelas Leis Complementares n.ºs 92/1997, 99/1999, 114/2002, 122/2006, e por fim, pela Lei Complementar n.º 138/2010, que deu ao artigo 33, inciso I, da Lei Complementar n.º 87/1996, a seguinte redação: Art. 33. Na aplicação do art. 20, observar-se-á o seguinte: I somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento nele entradas a partir de 1 o de janeiro de 2020; [...]. Página 11 de 27

5.3.2. Assim, o direito de creditamento do ICMS relativo a bens que se destinam a uso e consumo pelo estabelecimento somente alcançará os fatos imponíveis ocorridos a partir de 1.º de janeiro de 2020. 5.4. Tal restrição temporal, contudo, não tem lugar aqui, na medida em que o caso de que aqui se trata é de aproveitamento de crédito de ICMS relativo a aquisição de bens de uso e consumo na proporção das operações destinadas ao exterior. 5.4.1. E quanto às operações de exportação de mercadorias, é lembrar que o artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional n.º 42/2003, prevê que não incidirá ICMS sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores (destaquei). 5.4.1.1. É dizer: a Carta Magna expressamente garante, de forma incondicional, o direito à manutenção e aproveitamento do crédito de ICMS incidente sobre operações anteriores à exportação. Página 12 de 27

5.5. A propósito, Hugo de Brito Machado 3, ao comentar o disposto no artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, da Constituição Federal, menciona: [...] Na letra a, com nova redação dada pela Emenda Constitucional n. 42/2003, além da imunidade, tem-se assegurado o direito ao crédito do ICMS relativo a operações anteriores. Mera explicitação que se fez necessária em face da insistência dos Estados na exigência do estorno desses créditos. Note-se que o legislador constituinte reformador chegou ao exagero de garantir a manutenção e o aproveitamento. É evidente que só tem sentido manter o crédito entenda-se, não fazer o correspondente estorno para assegurar sua utilização, ou aproveitamento, no sistema de apuração dos valores a serem pagos em cada período. 6. É importante notar que ao assegurar a manutenção e o aproveitamento do montante do ICMS cobrado nas operações e prestações anteriores à exportação, o constituinte reformador extirpou a exigência, outrora vigente 4, de edição de lei complementar para regulamentar tal situação. 6.1. Logo, como o multicitado aproveitamento de crédito é assegurado pela Carta da República, somente uma nova alteração constitucional poderá ensejar seu impedimento ou restrição. 3 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 30. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 384 o destaque em itálico é do original. 4 A redação original do artigo 155, parágrafo 2.º, inciso X, alínea a, da Constituição Federal, era a seguinte: Art. 155. Omissis. [...] 2.º. Omissis. [...] X - não incidirá: a) sobre operações que destinem ao exterior produtos industrializados, excluídos os semi-elaborados definidos em lei complementar; [...]. Página 13 de 27

ao pontuar: 6.2. Roque Antônio Carrazza 5 traz sintética e precisa lição sobre isso [...] na medida em que o art. 155, 2º, X, a, da CF, com a redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional 42/2003, assegura, nas operações que destinem mercadorias para o exterior e nos serviços prestados a destinatários no exterior, a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores, não há como, nem por quê, lei complementar cuidar desse assunto. Realmente, caso reproduza a Constituição, será inócua; caso a restrinja, inconstitucional [...] 6.3. Bem aqui, importante registrar que o que venho resumindo não significa negativa de vigência ao disposto no artigo 33, inciso I, da Lei Complementar n.º 87/1996, cujo âmbito de aplicação não alcança a hipótese aqui discutida, de aproveitamento de crédito de ICMS relativo a aquisição de bens de uso e consumo na proporção das operações destinadas ao exterior. 6.3.1. Isso porque, como mencionado, diante da existência de previsão constitucional específica para as operações externas, tal dispositivo somente se aplica às operações internas [...] de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação (LC n.º 87/96, art. 20). 5 CARRAZZA, Roque Antônio. ICMS. 13. ed., rev. e ampl. até a EC 56/2007, e de acordo com a Lei Complementar 87/1996, com suas ulteriores modificações. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 529, nota 2. Página 14 de 27

7. Nem mesmo o fato de a Constituição Federal ter, em regra, adotado o regime de crédito físico (no que se refere à não-cumulatividade do ICMS) tem o condão de afastar o direito da impetrante ao aproveitamento dos créditos de ICMS recolhidos por ocasião da aquisição de bens destinados a uso e consumo anteriores à exportação. 7.1. Não se pode olvidar que a despeito de o sistema constitucional aplicável ao ICMS ter adotado essencialmente o regime de crédito físico 6, ou seja, aquele segundo o qual [...]geram crédito as entradas de bens que se destinem a sair do estabelecimento, tal como entraram, ou a integrarem, fisicamente, o produto em cuja fabricação constituem insumos 7, o constituinte reservou à lei complementar a regulamentação do regime de compensação do imposto (CF, art. 155, 2.º, inc. XII, al. c ). 7.2. Com isso, permitiu o constituinte que o legislador infraconstitucional adotasse regime de crédito financeiro, segundo o qual [...] todos os custos, em sentido amplo, que vierem onerados pelo ICMS, ensejam o crédito respectivo 8, aí incluída, logicamente, a aquisição de bens destinados a uso e consumo. 7.3. E foi exatamente o que ocorreu, já que a Lei Complementar n.º 87/1996, em seu artigo 20, assegurou o direito ao aproveitamento dos créditos de ICMS nas operações anteriores, ainda que tenha resultado na aquisição de 6 Nesse sentido, v.g.: STF: AgRg no AgRg no AI 617913-MG, Toffoli; AgRg no RE 447470-PR, Barbosa; AgRg no AI 493183-RS, Barbosa. 7 MACHADO, Hugo de Brito. Aspectos fundamentais do ICMS. 2. ed. São Paulo: Dialética, 1999, p. 133. 8 MACHADO, Hugo de Brito. Obra citada, p. 133. Página 15 de 27

mercadorias destinadas a uso ou consumo pelo estabelecimento produtivo do sujeito passivo, adotando, assim, ainda que de forma excepcional, o regime de crédito financeiro. 8. Esta Corte já decidiu do modo como venho resumindo: APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO - ICMS - APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS ORIUNDOS DA ENTRADA DE MERCADORIAS DESTINADAS AO USO E CONSUMO DOS ESTABELECIMENTOS DA IMPETRANTE (CRÉDITOS FINANCEIROS), NA PROPORÇÃO DE SUAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO - ART. 20, DA LEI COMPLEMENTAR N. 87/96 - LIMITAÇÃO TEMPORAL DO ART. 33, I, DA MESMA LEI - INAPLICABILIDADE ÀS OPERAÇÕES EXTERNAS - EC N. 42/03 - IMUNIDADE CONSTITUCIONAL PLENA DAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO DE MERCADORIAS, INCLUSIVE NO QUE DIZ RESPEITO ÀS OPERAÇÕES E PRESTAÇÕES ANTERIORES À EXPORTAÇÃO (ART. 155, 2º, X, "A", DA CF) - DIREITO LÍQUIDO E CERTO - APELO PROVIDO PARA CONCEDER A SEGURANÇA PLEITEADA. 9 APELAÇÃO CÍVEL. TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CRÉDITOS DE ICMS. BENS DE USO E CONSUMO. CLÁUSULA DE NÃO CUMULATIVIDADE.SENTENÇA DE CONCESSÃO DA ORDEM. REEXAME NECESSÁRIO - CONHECIMENTO DE OFÍCIO.CONCESSÃO DA SEGURANÇA. SUJEIÇÃO OBRIGATÓRIA AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. EXEGESE DO ART. 14, 1º, DA LEI Nº 12.016/2009. APELAÇÃO CÍVEL - ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PRECEDENTES. IMPETRAÇÃO CONTRA LEI EM TESE. LEI DE EFEITOS CONCRETOS. DESNECESSIDADE DE VIOLAÇÃO AO DIREITO. SUFICIENTE O JUSTO 9 TJPR, 3.ª Câmara Cível, AC 1212681-1, de Londrina, 1.ª Vara da Fazenda Pública, acórdão n.º 53.188, unânime, rel. des. Cláudio de Andrade, j. 19/8/2014 o destaque em negrito é do original. Página 16 de 27

RECEIO.PRECEDENTES. EFEITOS PRETÉRITOS. INOCORRÊNCIA. AÇÃO DE CUNHO DECLARATÓRIO QUE IRRADIARÁ EFEITOS PARA O FUTURO. INAPLICABILIDADE DAS SÚMULAS Nº 269 E 271, AMBAS DO STF. ALCANCE DA IMUNIDADE PREVISTA NO ART. 155, 2º. X, "A", CF. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA NO STF, NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 704.815/RG. AUSÊNCIA DE DELIBERAÇÃO QUANTO AO SOBRESTAMENTO DOS FEITOS. ADOÇÃO DOS PRECEDENTES DESTA CORTE DE JUSTIÇA, EM CASOS ANÁLOGOS À ESPÉCIE. IMUNIDADE PLENA DAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO DE MERCADORIAS, INCLUSIVE, QUANTO ÀS OPERAÇÕES E PRESTAÇÕES ANTERIORES À EXPORTAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DA LC 87/96, ART. 33, INCISO I, CONFORME A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES. TAXA SELIC. PREVISÃO LEGAL (LEI Nº 11.580/96, ART.38). REEXAME NECESSÁRIO - DIREITO AO APROVEITAMENTO QUE SOMENTE PODE ACORRER APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO. PRECEDENTES. DEMAIS PONTOS MANTIDOS. SENTENÇA PARCIALMENTE MODIFICADA, EM REEXAME NECESSÁRIO. APELAÇÃO NÃO PROVIDA. 10 APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. ICMS. CRÉDITO DE ICMS NAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO. MERCADORIAS DESTINADAS A USO E CONSUMO. PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE. APLICAÇÃO DO ART. 155, 2º, X, "A", CF, COM REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 42/2003. POSSIBILIDADE DE APROPRIAÇÃO DOS CRÉDITOS NA PROPORÇÃO DO VOLUME DE EXPORTAÇÕES EM RELAÇÃO AO TOTAL DE SAÍDAS DO ESTABELECIMENTO. GLOSA. AUTUAÇÃO E EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO PELA AUTORIDADE COATORA. IMPOSSBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE. CORREÇÃO MONETÁRIA. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. 11 10 TJPR, 2.ª Câmara Cível, AC 1155513-0, de Curitiba, 1.ª Vara da Fazenda Pública, acórdão n.º 85.028, unânime, rel. des. Stewalt Camargo Filho, j. 1.º/4/2014 os destaques em negrito e sublinhado são do original. 11 TJPR, 3.ª Câmara Cível, AC 1065164-8, de Cascavel, 3.ª Vara Cível, acórdão n.º 48.762, unânime, rel. des. Vicente Del Prete Misurelli, j. 1.º/10/2013 o destaque em negrito é do original. Página 17 de 27

APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA - TRIBUTÁRIO - ICMS - APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS ORIUNDOS DA ENTRADA DE MERCADORIAS DESTINADAS AO USO E CONSUMO DOS ESTABELECIMENTOS DA IMPETRANTE (CRÉDITOS FINANCEIROS), NA PROPORÇÃO DE SUAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO - PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE DO RECURSO - REJEIÇÃO - RAZÕES RECURSAIS QUE REBATEM SATISFATORIAMENTE OS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA - NÃO ACOLHIMENTO - INAPLICABILIDADE DO ART. 166 DO CTN ÀS HIPÓTESES EM QUE SE DISCUTE O DIREITO AO APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS DE INSUMOS IMUNES AO IMPOSTO - CRÉDITOS FINANCEIROS SOMENTE ESTABELECIDOS NA LC Nº 87/1996 - EFICÁCIA, PORÉM, SOBRESTADA PELAS LEIS COMPLEMENTARES 92/97, 99/99, 102/00, 114/2002, 122/2006 E 138/2010, ESTÁ ÚLTIMA FIXANDO O DIA 01/01/2020 COMO MARCO INICIAL PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO - LIMITAÇÃO TEMPORAL INAPLICÁVEL À ESPÉCIE - IMUNIDADE PLENA DAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO DE MERCADORIAS, INCLUSIVE NO QUE DIZ RESPEITO ÀS OPERAÇÕES E PRESTAÇÕES ANTERIORES À EXPORTAÇÃO (ART. 155, 2º, X, "A", DA CF) - MATÉRIA QUE, COM A EDIÇÃO DA EC 42/2003, PASSOU A SER DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL - INTERPRETAÇÃO DO ART. 33, I, DA LC 87/96 CONFORME A CONSTITUIÇÃO, DE MODO QUE SE APLICA SOMENTE ÀS OPERAÇÕES INTERNAS, E NÃO ÀS EXPORTAÇÕES - ENTENDIMENTO PACÍFICO DESTA CÂMARA - CRÉDITOS A SEREM CALCULADOS OBSERVANDO A PROPORÇÃO ENTRE O VOLUME DE EXPORTAÇÕES E O VOLUME DE VENDAS NO MERCADO INTERNO - APROVEITAMENTO QUE SOMENTE PODERÁ OCORRER DEPOIS DO TRÂNSITO EM JULGADO (ART. 170-A, DO CTN) - ENTENDIMENTO DO STJ NO RESP 1.167.039/DF, SUBMETIDO AO RITO DO ART. 543-C DO CPC - INAPLICABILIDADE DA SÚMULA Nº 271 DO STF - EFEITOS PATRIMONIAIS QUE SERÃO OBJETO DE ULTERIOR ANÁLISE ADMINISTRATIVA, QUANDO DO EFETIVO Página 18 de 27

APROVEITAMENTO DOS CRÉDITOS - NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DAS NORMAS QUE REGEM A ESCRITURAÇÃO E APROVEITAMENTO (COMPENSAÇÃO COM DÉBITOS PRÓPRIOS, TRANSFERÊNCIA A TERCEIROS, PRESCRIÇÃO) - CORREÇÃO MONETÁRIA DOS CRÉDITOS ESCRITURADOS EXTEMPORANEAMENTE PELA TAXA SELIC, DESDE A DATA EM QUE PODERIAM SER APROVEITADOS, ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO - CONCESSÃO PARCIAL DA SEGURANÇA - SENTENÇA REFORMADA. 1. Se a Constituição Federal estabelece que as exportações de mercadorias são imunes ao ICMS e, mais do que isso, assegura a manutenção e o aproveitamento do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores, sem fazer qualquer limitação acerca da natureza dos créditos passíveis de aproveitamento, é evidente que, desde a entrada em vigor da EC nº 42/2003, toda e qualquer operação e prestação anterior à exportação da mercadoria, seja relacionada intrinsecamente ao seu processo produtivo (créditos físicos), seja destinada à aquisição de bens que componham o ativo permanente ou para o uso e consumo do estabelecimento (créditos financeiros), gera o direito ao crédito do imposto. Pensar de maneira diversa implicaria tornar letra morta a imunidade em questão, vez que a mercadoria destinada ao exterior, por via oblíqua, acabaria sendo onerada pelo imposto, porque incidente o ICMS nas operações pretéritas subjacentes ao processo de produção (ativo permanente, mercadorias destinadas ao uso e consumo), que evidentemente fazem parte da composição do preço da mercadoria. 2. Vem daí a superveniente inaplicabilidade do supra citado art. 155, 2º, XII, "f", da CF, apontado por alguns doutrinadores inclusive como tacitamente revogado pela EC nº 42/2003, tendo em vista que a matéria atinente ao ICMS nas operações de exportação de mercadorias e direito ao crédito do imposto cobrado ao longo da cadeia produtiva passou a ser de índole constitucional, esvaziando o conteúdo da referida norma que anteriormente delegava à lei complementar a previsão acerca dos casos de manutenção de crédito, relativamente à remessa para outro Estado e exportação para o exterior, de serviços e de mercadorias. 3. A bem da preservação da autoridade suprema da Constituição Federal, a previsão do art. 33, I, da LC nº 87/96, embora plenamente aplicável às operações internas, não se pode interpretar aplicável às exportações de mercadorias, sujeitas à Página 19 de 27

regra cogente do art. 155, 2º, X, "a", da CF, bem como à previsão especial dos arts. 20, 3º, 21, 2º, e 32 da LC nº 87/96. RECURSO CONHECIDO E EM PARTE PROVIDO. 12 APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO. POSSIBILIDADE. LEI COMPLEMENTAR DE EFEITOS CONCRETOS NA ESFERA JURÍDICA DO CONTRIBUINTE. ICMS. APROVEITAMENTO DO IMPOSTO NAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO. MERCADORIAS DESTINADAS AO USO E CONSUMO. PRINCÍPIO DA NÃO- CUMULATIVIDADE. EXEGESE DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 42/2003. IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO TEMPORAL. CORREÇÃO MONETÁRIA SOBRE OS CRÉDITOS ESCRITURAIS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO E SENTENÇA REFORMADA EM PARTE EM REEXAME NECESSÁRIO. 13 APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO À ESCRITURAÇÃO DE CRÉDITOS DE ICMS DE BENS DESTINADOS À EXPORTAÇÃO, INCLUSIVE OS DE USO E CONSUMO. ART. 155, 2º, X DA CF. VEDAÇÃO TEMPORAL PREVISTA NO ART. 33, I, DA LEI COMPLEMENTAR 87/1996. INAPLICABILIDADE.APLICAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 42/2003. DIREITO À IMUNIDADE RECONHECIDO. CORREÇÃO MONETÁRIA DO CRÉDITO DE ICMS. POSSIBILIDADE.PRECEDENTES DO STJ. TAXA SELIC. ÍNDICE FIXADO CONFORME O PRINCÍPIO DA ISONOMIA. CONCESSÃO DA SEGURANÇA.RECURSO DE APELAÇÃO PROVIDO. 14 12 TJPR, 2.ª Câmara Cível, AC 976073-6, de Umuarama, 2.ª Vara Cível, acórdão n.º 81.358, unânime, rel. juíza Josély Dittrich Ribas, j. 14/5/2013 os destaques em negrito e itálico são do original. 13 TJPR, 1.ª Câmara Cível, AC 839746-2, de Pato Branco, 1.ª Vara Cível, acórdão n.º 39.667, unânime, rel. des. Dulce Maria Cecconi, j. 31/1/2012 o destaque em negrito é do original. 14 TJPR, 1.ª Câmara Cível, AC 945062-0, de Londrina, 1.ª Vara da Fazenda Pública, acórdão n.º 42.224, unânime, rel. juiz Fábio André Santos Muniz, j. 30/10/2012 o destaque em negrito é do original. Página 20 de 27

9. Com isso, é de se reconhecer o direito da impetrante de escriturar e utilizar os créditos de ICMS cobrados nas operações antecedentes à exportação, inclusive os relativos às mercadorias destinadas a uso e consumo por estabelecimentos produtivos, adquiridas com incidência do imposto, o que também engloba os créditos não escriturados no momento oportuno, observado o prazo prescricional quinquenal. 10. No que tange ao critério utilizado para obtenção dos créditos de ICMS a serem aproveitados em razão de a impetrante também efetuar operações de saída destinadas ao mercado interno, deverá ser observada a proporção mensal do volume de vendas destinados ao exterior em relação aquele que fica no mercado interno, chegando-se assim ao percentual de produtos exportados em cada mês quanto ao total de saídas ocorridas nesse lapso. 10.1. Tal critério, aliás, é o que tem sido reiteradamente adotado por esta Corte de Justiça. Ilustrativamente: ACRN 1088688-1, Bettega; AC 988034-0, Péricles; AC 710720-4, Grandinetti; ED 839275-8/01, Horácio; AC 919945-1, Rabello; AC 922808-8, Dimas; ED 917052-3/01, Zeni. 11. Por outro lado, não é possível a atualização monetária dos valores dos créditos de ICMS que não foram escriturados tempestivamente, desde a data em que seria possível tal aproveitamento. Explico: Página 21 de 27

11.1. Ao contrário do que acontece com os créditos advindos de indébito tributário, em relação aos créditos fiscais escriturais não é cabível incidência de correção monetária. 11.1.1. É que, no caso de créditos escriturais, nada despendeu o contribuinte para creditar-se do valor a eles relativo, de modo que não há como pretender ele atualização monetária sobre o que não desembolsou, porquanto a moeda que não se despendeu não sofreu qualquer corrosão. 11.2. Sobre o assunto, é a lição de Paulo de Barros Carvalho 15 : O crédito de ICMS decorre da prescrição constitucional que erige o princípio da não-cumulatividade, surgindo em razão do acontecimento de fato lícito, previsto na hipótese da regra-matriz do direito ao crédito. Trata-se de moeda-escritural cujo uso é autorizado tão-somente para compensação com o valor devido a título de ICMS em outra operação, sendo inexigível sua percepção na forma pecuniária, quer por pedido administrativo, quer pela via judicial. Por esse motivo, o Poder Judiciário tem entendido que a esse crédito não se aplica correção monetária, salvo se seu aproveitamento inocorreu em tempo próprio devido a óbice do fisco. O crédito de indébito tributário, por sua vez, surge com o recolhimento de quantias sem fundamento constitucional ou legal, ou sem que tenha sido praticado o fato jurídico tributário ou quando este tenha ocorrido em valor menor que o tomado como referência para o pagamento do tributo. O direito à restituição desses valores indevidamente recolhidos é retirado da implicitude do Texto Constitucional, decorrendo, principalmente, dos princípios da estrita legalidade e da tipicidade tributária. Em vista disso, havendo pagamento de valores a título de tributo, mas que destoem de previsão constitucional ou legal, é imperativa a devolução destes, em pecúnia ou mediante compensação. 15 CARVALHO, Paulo de Barros. Crédito de ICMS e Crédito de Indébito Tributário : consequências jurídicas desta distinção. Disponível na internet, no endereço: http://www.barroscarvalho.com.br/art_nac/credito_cms.pdf. Acesso em 1.º/9/2011. Página 22 de 27

É essa segunda modalidade de crédito a que se verifica na situação de recolhimento em duplicidade. Por consequência, tratando-se de crédito de indébito tributário, este há de ser corrigido monetariamente, podendo ser restituído (i) em espécie, mediante repetição do indébito, ou (ii) por meio de creditamento na escrita fiscal, operacionalizando a compensação tributária. 11.3. Ademais, não se pode admitir que o contribuinte se beneficie com a não utilização do crédito fiscal no momento oportuno. Caso contrário, possibilitar-se-ia [...] armar-se o contribuinte desatento, com um cheque em branco contra o fisco, ou estabelecer uma conta-corrente fiscal não prevista em lei [..] 16. 11.4. No caso dos autos, ademais, a impossibilidade de atualização monetária sobre os créditos escriturais de ICMS é reforçada pela ausência de permissivo na legislação estadual, de modo que não pode o Poder Judiciário substituir-se ao legislador estadual, concedendo o direito postulado. 11.4.1. No Supremo Tribunal Federal é pacífico o entendimento no sentido de não se admitir atualização monetária dos saldos credores de ICMS quando ausente previsão legal para essa correção: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS ICMS. INCIDÊNCIA. VENDAS A PRAZO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. CRÉDITOS ESCRITURAIS. 16 STF, Tribunal Pleno, ED no RE 104963-SP, unânime, rel. min. Carlos Madeira, j. 6/3/1986, in DJ 25/4/1986, p. 6.515. Página 23 de 27

INEXISTÊNCIA DE LEGISLAÇÃO AUTORIZADORA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. É ilegítima a diferenciação entre operações de venda à vista e a prazo, para fins de incidência de ICMS. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de não reconhecer ao contribuinte do ICMS o direito à correção monetária dos créditos escriturais excedentes, quando inexistir, para tal, autorização legislativa específica. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. 17 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS ICMS. IMPOSSIBILIDADE DE CORREÇÃO MONETÁRIA DOS CRÉDITOS ESCRITURAIS. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 18 CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. ICMS. SALDO CREDOR. CORREÇÃO MONETÁRIA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E NÃO-CUMULATIVIDADE. INOCORRÊNCIA. CORREÇÃO DA RESTITUIÇÃO DE VALORES A PARTIR DA DATA DO REQUERIMENTO E O EFETIVO PAGAMENTO. QUESTÃO PRECLUSA. 1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental diante da manifesta infringência do julgado e consoante iterativa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 2. Não constitui ofensa aos princípios da isonomia e da não-cumulatividade o fato de a legislação estadual desautorizar a correção monetária de créditos escriturais e saldos credores de ICMS. Precedentes. 3. A questão relativa à correção da diferença dos valores a serem apurados entre a data do requerimento da restituição e o efetivo pagamento pelo Estado de São Paulo está 17 STF, 2.ª Turma, AgRg no RE 329527-SP, unânime, rel. min. Teori Zavascki, j. 6/8/2013, in DJe 21/8/2013. 18 STF, 1.ª Turma, EDcl no RE 634468-PR, unânime, rel. min. Cármen Lúcia, j. 14/2/2012, in DJe 3/4/2012. Página 24 de 27

preclusa, dado o acolhimento dos embargos de declaração proferidos na instância de origem e a não-impugnação pela recorrente no momento oportuno. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. 19 11.5. É verdade que o Superior Tribunal de Justiça 20 tem excepcionalmente admitido a incidência de correção monetária sobre os créditos escriturais quando o aproveitamento desses créditos não ocorreu no momento oportuno por negativa ilegítima do Fisco. 11.5.1. Essa, contudo, não é a hipótese dos autos, na medida em que não houve recusa injustificada da Fazenda Pública ao aproveitamento dos créditos tributários, até mesmo porque estamos diante de mandado de segurança preventivo. 12. Daí porque deve ser reformada a sentença, a fim de conceder parcialmente a segurança postulada, declarando o direito da impetrante de escriturar e utilizar os créditos de ICMS cobrados nas operações que antecedem a exportação, em relação às mercadorias destinadas a uso e consumo por seus estabelecimentos produtivos adquiridas com incidência do imposto, na proporção do volume de vendas destinadas ao mercado externo, o que também engloba os créditos não escriturados no momento oportuno, observada a prescrição quinquenal. 19 STF, 2.ª Turma, ED no RE 275507-SP, unânime, rel. min. Ellen Gracie, j. 7/6/2011, in DJe 19/6/2011. 20 Ilustrativamente: STJ: REsp 1035847-RS, Fux; EREsp 605921-RS, Zavascki; EREsp 430498-RS, Martins. Página 25 de 27

13. O resultado do julgamento implica inversão dos ônus de sucumbência, de modo que pagará o Estado do Paraná as custas processuais, sem honorários advocatícios, na forma do artigo 25 da Lei n.º 12.016/2009. 14. Passando-se as coisas dessa maneira, meu voto é no sentido de que se dê parcial provimento ao recurso, para o fim de se conceder parcialmente a segurança postulada, declarando-se o direito da impetrante de escriturar e utilizar os créditos de ICMS cobrados nas operações antecedentes à exportação, em relação às mercadorias destinadas a uso e consumo por seus estabelecimentos produtivos adquiridas com incidência do imposto, na proporção do volume de vendas destinadas ao mercado externo, o que também engloba os créditos não escriturados no momento oportuno, observada a prescrição quinquenal, com a consequente inversão dos ônus de sucumbência. Decisão 15. À face do exposto, ACORDAM os integrantes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Desembargadores RABELLO FILHO, Presidente com voto, HÉLIO HENRIQUE L.F.LIMA, CLAUDIO DE ANDRADE. Curitiba, 23 de Setembro de 2014 Página 26 de 27

Desembargador RABELLO FILHO Página 27 de 27