FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE ALFABETIZAÇÃO EM QUESTÃO NO ÂMBITO DO PIBID Resumo: Ângela Helena Bona Josefi Professora do Departamento de Pedagogia; Coordenadora de área do PIBID/CAPES/DEB/UNICENTRO O presente texto resulta da experiência de trabalho no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID/CAPES/DEB/UNICENTRO, com foco na alfabetização, envolvendo acadêmicos bolsistas do curso de Pedagogia, que vivenciam, na escola, a docência nos seus diversos aspectos, e, ao mesmo tempo, são motivados a investigar sobre a relação entre as concepções de ensino/aprendizagem dos professores alfabetizadores e o seu fazer pedagógico nas salas de aula. Isto possibilita discutir, no âmbito do curso, as situações e experiências ali vividas, com vistas ao desenvolvimento de uma prática alfabetizadora que previna o surgimento de dificuldades na leitura e na escrita por parte dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A experiência tem mostrado que o referido Programa se caracteriza como um espaço privilegiado de articulação entre ensino, pesquisa e extensão, e, portanto, como lócus de estudo e discussão das concepções e práticas de alfabetização durante o processo formativo do professor. Palavras-chave: formação de alfabetizadores; concepção e prática de alfabetização; iniciação à docência. Introdução Frequentemente, as queixas dos professores recém formados que ingressam para o quadro docente das escolas, refere-se à insegurança para a prática pedagógica de sala de aula, apesar da boa fundamentação percebida na sua formação. Essas queixas têm se referido, dentre outras coisas, à pouca oportunidade de articular, de forma efetiva, a tão evocada relação dialética entre teoria e prática durante o processo de formação profissional. Muito se tem discutido, nas últimas décadas, sobre a necessidade da melhoria do processo de formação do docente para os anos iniciais do Ensino Fundamental, em razão da realidade que se apresenta no Brasil, no que se refere à qualidade do ensino nesse segmento da Educação Básica. Não obstante a situação dos alunos, relativa à capacidade de ler e escrever diagnosticada pelos diversos instrumentos de Avaliação da Educação, mais recentemente demonstrada pelo IDEB constituir-se como elemento importante da conjuntura sócio educacional que envolve diversos fatores, sabe-se que o processo de ensino da leitura e da escrita requer um professor melhor preparado para a prática docente. Nos últimos anos, o Progra-
ma Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID, financiado pela CAPES/DEB/MEC, surge como importante recurso para essa melhoria pretendida, já que se constitui como espaço de contextualização dos estudos e discussões sobre ensino/aprendizagem. Os alunos dos cursos de Licenciatura têm oportunidade de relacionar aquilo que estudam no curso de formação docente com a concreticidade do dia a dia da sala de aula em escolas públicas, pela observação e participação nessa ação cotidiana. Nesse sentido, a inserção do curso de Pedagogia da UNICENTRO no Programa com foco na alfabetização propiciou espaço de vivência da docência nos seus diversos aspectos, e de discussões, em sala de aula do Curso, sobre situações e experiências vivenciadas na escola focando-se a necessidade de orientar o futuro professor para o desenvolvimento de uma prática alfabetizadora na perspectiva do letramento e da prevenção de dificuldades de aprendizagem. Os alunos bolsistas, ao mesmo tempo em que fazem a experiência do trabalho docente, auxiliando na ação pedagógica do professor, também desenvolvem uma atitude investigativa à medida que observam, discutem e buscam formas de melhoria do processo de ensino/aprendizagem. Essa atitude investigativa e as discussões dela decorrentes permitem confrontar concepções e práticas percebidas, com vistas à construção da práxis, no processo de formação profissional. Metodologia O espaço de concretização da articulação pretendida entre o processo de formação e o exercício da docência constituiu-se através da parceria firmada entre a UNICENTRO e quatro escolas municipais de Guarapuava, a fim de que os alunos bolsistas possam desenvolver atividades de ensino da leitura e da escrita em sala de aula e participar de outras ações pertinentes, como reuniões pedagógicas, conselhos de classe e reuniões com pais de alunos. Isto possibilita discussões durante as aulas, em diversas disciplinas do Curso, sendo possível contextualizar os conteúdos em estudo, nas práticas de alfabetização vivenciadas e/ou observadas na escola, bem como problematizar essas práticas à luz desses conteúdos. Participam como bolsistas do programa, 24 alunos do Curso de Pedagogia, sob orientação e coordenação de professoras do Departamento de Pedagogia.
As atividades desenvolvidas na orientação desses acadêmicos envolvem, dentre outras coisas, leituras orientadas sobre concepções de ensino, de aprendizagem, de língua e de linguagem e discussões sobre os encaminhamentos metodológicos para o processo de alfabetização na perspectiva da prevenção do surgimento e/ou do agravamento de dificuldades de aprendizagem na alfabetização, visando-se práticas de letramento na formação do aluno leitor e escritor. Cada escola parceira dispõe de um professor supervisor, também bolsista do Programa, que coordena e orienta as atividades ali desenvolvidas. Os alunos inserem-se no exercício da docência como auxiliares dos professores que atuam em turmas do primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental. Assim, os profissionais da escola participam como coformadores dos futuros professores. Grupo de estudos, minicursos, encontros e seminários envolvendo alunos bolsistas, professores das escolas e professores do curso de licenciatura, constituem-se como espaços de ampliação dos estudos e discussões. Cabe destacar que diversos trabalhos de pesquisa desses acadêmicos, vêm surgindo no âmbito das atividades desenvolvidas no programa, caracterizando-se, na sua maioria como pesquisa qualitativa, de cunho etnográfico, uma vez que os alunos, ao mesmo tempo em que exercitam atividades de intervenção docente junto às crianças em fase de alfabetização na escola, observam, analisam e interpretam as relações que ali se estabelecem e os resultados dessa ação. Resultados e Discussão As atividades desenvolvidas no âmbito do Programa encontram-se, ainda, em fase de execução, sendo possível a esta altura, fazer alguns apontamentos respectivos a resultados que já vêm sendo alcançados. A atuação orientada dos acadêmicos junto a crianças em fase de alfabetização, nas escolas, vem promovendo a superação de algumas dificuldades de aprendizagem por parte dessas crianças, e, ao mesmo tempo, possibilitando que o futuro professor vivencie experiências de docência, de forma a melhorar o seu processo de formação. Essa relação entre o processo de formação docente e o espaço de concretização do exercício profissional permite perceber que, quem ensina, aprende ao ensinar, e quem
aprende ensina ao aprender (FREIRE, 1997, p.25). Observe-se um dos depoimentos coletados em processos de discussão das ações junto aos acadêmicos: De modo geral, a vivência na escola em classe de alfabetização está abrindo leques que nos levarão à identificação profissional, escolha, tomada de decisão. Não é só um momento de aprendizagem, mas de construção do perfil profissional. Com isso percebo que tanto ensino como aprendo, ensino os alunos e aprendo com a professora, e isso me ajudará a desenvolver um trabalho significativo e eficiente ao assumir uma classe de alfabetização (BOLSISTA). Assim, o futuro professor constrói a sua postura e a sua identidade profissional/pedagógica na dialeticidade entre o conhecimento e a prática social que envolve esse conhecimento. Nesse contexto, o professor é muito mais um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para isso o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. Ele deixará de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem. (GADOTTI, 2002, p.8) Além disso, já se vislumbra como resultado paralelo inevitável, a transformação das práticas pedagógicas nas escolas parceiras, uma vez que os professores envolvidos, ao discutirem ações pedagógicas com os acadêmicos bolsistas, redimensionam as próprias práticas. Um dos aspectos frequentemente discutidos é o da relação entre as concepções de linguagem e de ensino-aprendizagem que os professores defendem e as suas práticas em sala de aula. Não raro se percebe uma contradição nessa relação, notando-se, por exemplo, ações mecanicistas com foco na repetição e memorização de letras, sílabas e palavras, por parte de professores que defendem concepções interacionistas. Conclusões A necessidade de melhorar a formação de professores não é objeto novo nas discussões da comunidade acadêmica em todo o país. Há muito esse assunto está no foco de estudos e pesquisas que pretendem contribuir para reflexões acerca da qualidade do ensino nas
escolas. Um dos caminhos possíveis delineou-se com a implantação do PIBID/CAPES/DEB, que, como visto, vem demonstrando no decorrer do desenvolvimento das suas ações, que o estabelecimento de parcerias das Instituições formadoras com as escolas da Educação Básica configura-se como um importante meio para que se concretize a relação dialética entre teoria e prática nos processos formativos. O desenvolvimento de programas dessa natureza configura-se, ainda, como espaço para a efetiva articulação entre ensino, pesquisa e extensão, tripé tão exaustivamente anunciado como base sustentadora do Ensino Superior. Isto porque a comunidade escolar da Educação Básica, que é o campo de atuação do profissional formado nos cursos de licenciatura, ao receber os acadêmicos bolsistas, ao mesmo tempo em que contribui com a sua formação, sofre a ação interventora de ajuda da Universidade nas suas atividades escolares, ao mesmo tempo em que ganha parceiros para o seu trabalho pedagógico. O curso formador do professor, por sua vez, melhora o processo de ensino à medida que discute as experiências desses acadêmicos, aliando teoria e prática. E os acadêmicos, orientados por seus formadores, podem desenvolver pesquisas nesse espaço de discussão e atuação, de forma a contribuir para estudos e reflexões tanto no que diz respeito à formação de professores quanto no que se refere à aprendizagem dos alunos nas escolas da Educação Básica. Nesse sentido, o PIBID/UNICENTRO/Pedagogia vem se constituindo como espaço excelente de vivência e discussão da prática docente na especificidade do processo de alfabetização nos anos iniciais do Ensino Fundamental, contextualizando as reflexões sobre o ensino/aprendizagem da leitura e da escrita na perspectiva do letramento. As aproximações que foram possíveis até o momento, a partir dos relatos oriundos das vivências dos acadêmicos nas escolas e das discussões nos grupos de estudos, permitem dizer que se acredita haver dificuldade por parte de muitos professores no que se refere à transposição didática relativa à relação teoria-prática, ou seja, parece que eles não têm clareza de como devem agir nas intervenções pedagógicas de forma coerente com as concepções que dizem defender. Há, então, que se investir nos estudos que contribuem para a construção da práxis alfabetizadora, tanto nos processos formativos dos futuros professores, no Curso de Licenciatura, quanto nos de formação
continuada junto àqueles que atuam nas escolas da Educação Básica. Referências FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática pedagógica. São Paulo: Paz e Terra, 1997. GADOTTI, M. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. São Paulo: Cortez, 2002.