ESTRATÉGIAS DE ENSINO DOS GÊNEROS TEXTUAIS ORAIS FORMAIS PRESENTES NO LIVRO DIDÁTICO DESTINADO A JOVENS E ADULTOS

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Transcrição:

ESTRATÉGIAS DE ENSINO DOS GÊNEROS TEXTUAIS ORAIS FORMAIS PRESENTES NO LIVRO DIDÁTICO DESTINADO A JOVENS E ADULTOS Haila Ivanilda da Silva; Débora Amorim Gomes da Costa-Maciel; Fabrini Katrine da Silva Bilro; Ana Cláudia de França Universidade de Pernambuco Campus Mata Norte www.upe.br RESUMO: Ensinar a oralidade é uma das determinações dos documentos que norteiam o currículo do ensino de Língua Portuguesa. Mas será que os gêneros orais são didatizados de modo a promover competências para o ensino do oral formal? O presente artigo investiga a coleção de Livro Didático É Bom Aprender, adotada nas escolas dos 17 (dezessete) municípios da Zona da Mata Norte de Pernambuco/Brasil, com vistas a compreender as estratégias didáticas para o ensino do oral formal. Como opção metodológica, empregamos a técnica de análise de conteúdo temático categorial e analisamos os dados de forma qualitativa. Observamos a presença de três gêneros orais formais em toda a coleção - apresentação oral, exposição oral e debate. O extrato de atividade, analisado sob o prisma qualitativo, ajudou-nos a compreender que a coleção demonstra certa preocupação com alguns elementos característico do gênero textual oral formal, entretanto, oculta na proposta do aluno reflexões necessárias para o trato com a formalidade no planejamento e na execução da proposta. Palavras chave: Oralidade, Educação de Jovens e Adultos e Livros Didáticos. INTRODUÇÃO No campo das discussões a respeito do ensino de Língua Portuguesa, o trato com a oralidade apresenta-se como um dos eixos contributivos para o fortalecimento do exercício da cidadania. O oral deve ser ensinado em todos os anos (e modalidades) da educação, conforme recomenda os Parâmetros do Currículo Nacional (BRASIL, 1997). Essa perspectiva articulase com um dos princípios e fins da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, 9394/1996), para quem o ensino de língua é essencial para a formação do cidadão pleno.

A oralidade, definida como prática social interativa com finalidades comunicativas, apresenta-se através de variados gêneros textuais e se materializa na forma sonora (MARCUSCHI, 2001). Tomada como objeto didático, efetiva-se através de gêneros textuais orais, com priorização para os gêneros formais, tendo em vista serem eles os que, em geral, não fazem parte da vida privada dos alunos, necessitando, portanto, de um ensino sistemático. (BRASIL, 1997). Ensinar a oralidade não representa ensinar a fala ao aluno, visto que a criança, o jovem ou o adulto quando adentra o ambiente escolar já é capaz de falar com propriedade e eficiência sua língua materna. Ensinar a oralidade é tratar com os diversos gêneros textuais que se encontram em circulação na esfera social, é discutir a língua falada, possibilitando, dentre outras competências, novas adequações comunicativas mais formais, que se ajustem aos diferentes contextos sociais de comunicação (MARCUSCHI, 2007). Nessa perspectiva, questionamos: como os livros didáticos direcionados aos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) têm efetivado o ensino dos gêneros orais? Será que as propostas direcionadas à oralidade se efetivam como estratégias didáticas favoráveis a reflexão sobre o uso do oral formal? As questões acima movem a nossa pesquisa e desenham a relevância da investigação, uma vez que assumem o oral como objeto ensinável no suporte livro didático, um dos recursos mais tradicionais de apoio à prática pedagógica docente, sendo, muitas vezes, a principal fonte de informação impressa utilizada por parte significativa dos professores (LAJOLO, 1996; SILVA e LEAL, 2011). A contribuição deste trabalho também é ressaltada pelo compromisso de investigar manuais direcionados à EJA, modalidade de ensino caracterizada por um cenário de constantes embates em busca da ampliação das oportunidades escolares para a população que não concluiu a Educação Básica (MELLO, 2015), isto é, a um contexto no qual bons materiais didáticos são indispensáveis ao processo educativo, por atuarem como colaboradores da democratização e oportunizarem aos jovens e adultos aprendizagens necessárias para uma atuação no mundo que os cerca por meio dos diversos usos da língua.

METODOLOGIA O Lócus de investigação desta pesquisa é o Livro Didático de Alfabetização da EJA É Bom Aprender da editora FTD (2009) (volumes 1 e 2, doravante V.1 e V.2), bem como a orientação dada ao professor em seu manual. A coleção supracitada, recomendada pelo Programa Nacional do Livro Didático da Educação de Jovens e Adultos (PNLD/EJA, 2011), foi adotada pelos 17 municípios que compõem a Zona da Mata Norte de Pernambuco no período de nossa investigação (2014/2015). A investigação, de caráter documental, foi adotada tendo em vista ser uma técnica de pesquisa que desvela aspectos novos de um tema ou um problema, apresentando os fatos contextualizados, permitindo a localização, a identificação, a organização e a avaliação das informações contidas no documento a partir de um reflexo objetivo da fonte original (LUDKE e ANDRÉ, 1986, MOREIRA, 2005). Os dados coletados nos dois volumes da coleção supracitada foram tratados com o emprego da análise de conteúdo temático categorial (BARDIN, 1997), cuja essência analítica visa explicar e sistematizar o conteúdo da mensagem e o significado desse conteúdo, por meio de deduções lógicas e justificadas. A análise de conteúdo foi aportada sob um prisma qualitativo, o qual, segundo Minayo (1994, p 21, 22), compreende o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. Tais dimensões encontramse também nos livros didáticos. Estes que se configuram como documento situado em um contexto histórico - Rede pública da Mata Norte de Pernambuco - destinado a sujeitos contextualizados - alunos/as pertencentes a modalidade de alfabetização de Educação de Jovens e Adultos. Os gêneros orais formais nos livros de EJA: resultados Os dados revelaram a presença de 7 (sete) atividades destinadas ao ensino do oral, as

quais abrangem 6 (seis) diferentes protótipos de gêneros orais 3 (três) pertencentes a modalidade oral formal (apresentação oral, debate, exposição oral) e 3 (três) caracterizados como gêneros orais informais (contação de história, enquete, cordel). Com a distribuição igualitária, o conjunto de gêneros selecionados pela coleção abarca diferentes esferas de letramento e contempla, por exemplo, gêneros da esfera escolar, da tradição oral e da esfera jornalística. Se observarmos as diferentes capacidades de linguagens dominantes (DOLZ e SHNEUWLY, 2004), veremos uma prevalência das ordens do expor e do argumentar, o que pode representar um investimento, por parte da coleção, em gêneros que demandam um maior planejamento em sua realização/execução. No entanto, embora apresente gêneros textuais orais formais integrais, autênticos, coerentes e consistentes, a didatização proposta pelas atividades é limitada sob o ponto de vista das estratégias de ensino do oral formal. Isso porque a coleção concentra as propostas de atividades para dimensões pontuais de organização dos turnos conversacionais ou para indicações relativas à organização das ideias no momento da produção do texto. Para este trabalho, selecionamos, no repertório de atividades apresentado pela coleção, uma das propostas representativas dos encaminhamentos para o trato com o oral formal. A atividade com o gênero Exposição Oral é uma das que mais se aproximam de uma reflexão sobre a língua em um contexto formal de uso. Trata-se de uma proposta, cujo objetivo é o aprofundamento da temática Construindo a Paz abordada na Unidade 2. Nela os alunos são convidados a desenvolver uma discussão com o objetivo de propor soluções para o estabelecimento da paz em diferentes situações e lugares, como por exemplo: no trabalho, em casa, no trânsito (V.2, p. 39). É importante observar que a exposição oral é um gênero textual público de caráter relativamente formal e específico, no qual o expositor é tomado como um especialista que dirige-se a um auditório, de maneira (explicitamente) estruturada, com o objetivo de transmitir informações, descrever ou explicar algo (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004). Sendo assim, ao tratar esse gênero, esperamos que a coleção ajude o aluno a se aproximar, ainda que

no contexto escolar, das práticas reais de uso demandadas para a sua realização, de modo que possa refletir sobre todo o contexto de produção que o envolve, com atenção para elementos, tais como: o que será produzido, para quê, para quem e como o gênero será realizado? Vejamos a atividade e, em seguida, reflitamos sobre as estratégias didáticas para o ensino do oral formal presentes na coleção É Bom Aprender. Fonte: É Bom Aprender - Língua Portuguesa (v. 2, p.39/unidade 2).

A atividade acima apresenta, em um primeiro momento, um modelo organizativo para a realização da proposta, no qual a turma deverá se organizar em grupos para discutir, refletir e buscar soluções para as situações [...], norteada por algumas questões subjetivas que mobilizarão posições pessoais dos alunos para expressarem seu posicionamento em relação a atitudes e a ações que podem ser tomadas para manutenção da paz: Que atitudes devemos tomar para conseguir paz no trânsito? Como construir um ambiente de paz em casa? O que podemos fazer para o mundo viver em paz, sem guerras? (V.2/U2:39). Os alunos, representados pelos pequenos grupos, deverão partilhar as suas falas para os demais grupos. Neste momento de preparação para a apresentação, é ofertado, apenas ao professor, uma orientação para que convide os alunos a refletirem sobre a importância da argumentação: [...] convém explicar aos alunos a importância da argumentação para a defesa de uma opinião. Exponha que argumentar é defender e justificar uma posição, dizendo por que se adota determinada ideia contra outra que se recusa (V.2/U2:39). Destacamos que o professor passa a ser encarregado pela proposta de promover a reflexão sobre a tipologia argumentativa, sem, contudo, ser orientado a desenvolver estratégias que ajudem o aprendiz a construir sua compreensão sobre a função da argumentação dentro do texto. Como prosseguimento das orientações para a realização da atividade, a coleção orienta os alunos para que exponham com clareza o seu posicionamento; que respeitem as opiniões dos colegas, ainda que não sejam ideias que coincidam com a posição defendida pelo seu grupo; e que exponham suas ideias de maneira clara, respeitando a opinião dos colegas [...]. (V.2/U2:39). Direcionamentos que colocam em cena dimensões essenciais para a realização de um gênero de natureza argumentativa, como, por exemplo, a defesa de uma posição e o respeito a contra-argumentação. Ainda neste momento, são dadas orientações sobre normas de convívio social, que chamam a atenção dos alunos para a necessidade de, no contexto de uso da fala, respeitar os turnos conversacionais para que a comunicação se estabeleça. Isto é, os alunos são orientados

para que, ao expressarem sua opinião, se pronunciem falando um de cada vez (V.2/U2:39). A organização dos turnos constitui-se como um elemento também a ser ensinado, tendo em vista a necessidade de os alunos perceberem que ao expressarem-se, num contexto de exposição, é preciso que cada um fale por vez para que a comunicação se estabeleça. (BRASIL, 1997). O passo seguinte da proposta é que os alunos partilhem oralmente o que foi debatido no pequeno grupo e, caso sintam necessidade, registrem os principais pontos debatidos. Observemos que a escrita e a oralidade caminham juntas no desenvolvimento da exposição oral. Nesse contexto de uso dessas modalidades, temos a oralidade e o letramento sendo vivenciados na prática escolar, deslocando uma análise que polariza ambas as dimensões de uso da língua (MARCUSCHI, 2001). Até o momento, a atividade centra-se nas etapas de planejamento e de apresentação do gênero exposição oral, entretanto, fica de fora desses momentos a discussão sobre o registro a ser empregado na realização do gênero, discussão central no âmbito do ensino do oral. Esta dimensão está disponível apenas para o professor, portanto, caberá a ele orientar os alunos para que, no momento da exposição oral, procurem utilizar uma linguagem mais formal do que aquela empregada em conversas descontraídas entre amigos e familiares (V.2/U2:39). Se considerarmos o gênero proposto para atividade, a preparação para o uso da fala e a escolha do registro a ser utilizado são etapas indispensáveis, uma vez que a fala deverá ser planejada. Portanto, os interlocutores também contribuirão para o modo de postura a ser assumida em uma instancia informal, uma vez que a relação de proximidade e distanciamento também contribui para a escolha do registro (TANNEN, 1982). Vemos que a orientação não é feita no sentido de propor ao professor estratégias que façam o aluno refletir sobre a necessidade de utilizar um registro mais formal, mas apenas de dizer que é necessário fazer adequações, cenário que pode gerar um momento pontual de informação e não de debate sobre a oralidade. Outro elemento ausente da proposta é a etapa de avaliação, um passo importante para

a aprendizagem do aluno, uma vez que permite prepará-lo para assumir um papel de observador/reflexivo, tarefa necessária também na ação discente. Se a coleção propõe um pequeno roteiro organizativo das atividades, faz orientações quanto ao momento de efetivação do gênero, caberia também um espaço de avaliação para observar como cada grupo se portou no momento de produção do gênero. Destaca-se também como lacuna da coleção a definição para o aluno de quem será seu público alvo. Certamente no espaço de sala de aula, a fala está sendo dirigida para o grupo sala, mas em uma dimensão de ficcionalização (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004), assim, o gênero poderia estar sendo desenvolvido para outros sujeitos, num contexto diferente, ou seja, num ambiente real de fala. Tratar do uso da linguagem formal nas mais diversas práticas sociais nas turmas de EJA é de fundamental importância, tendo em vista as demandas postas na vida cotidiana dos sujeitos que estão nessa modalidade de ensino. Promover atividades nas quais os desejos de jovens e adultos tecem e entretecem suas subjetividades e, por meio delas, fortalecem suas possibilidades de participação social é papel da escola e dos materiais didáticos que adentram o espaço escolar. CONSIDERAÇÕES Nesta pesquisa, investigamos a coleção de livros didáticos É Bom Aprender direcionada à EJA. Visamos compreender as estratégias didáticas para o ensino do oral formal no contexto de um dos suportes mais tradicionais da prática docente, o livro didático. No processo analítico, de víeis qualitativo, tomamos o gênero textual exposição oral como exemplar representativo das atividades direcionadas ao tratamento com o oral formal presentes na coleção supracitada. No que diz respeito a dimensão do registro formal, observamos que a proposta centrase nas etapas de planejamento e apresentação, disponibilizando um pequeno roteiro organizativo, o qual expõe sugestões quanto ao momento de efetivação do gênero sem, contudo, explorar, nos comandos para os alunos, a discussão acerca do registro linguístico a ser empregado. Com isso, é atribuída ao professor a responsabilidade de encaminhar a

reflexão sobre o contexto de uso da língua e de sua adequação aos diferentes interlocutores e esferas comunicativas. Em geral, os dados revelam a presença na coleção de gêneros textuais orais formais integrais, autênticos, coerentes e consistentes. Entretanto, respondendo a nossa provocação, colocada no início da pesquisa: Será que os gêneros orais são didatizados de modo a promover competências para o ensino do oral formal? registramos, no que concerne a didatização desses gêneros, que há a necessidade de ampliação dos encaminhamentos didáticos quanto a dimensão do oral formal, de maneira a promover estratégias que favoreçam a reflexão sistemática sobre as competências para o uso formal da língua em diferentes esferas comunicativas. Competências que, de acordo com os documentos que norteiam a educação brasileira, são relevantes para a vida dos alunos de EJA, tendo em vista as demandas postas pela sociedade contemporânea. Assim, diante do que foi observado, acreditamos ser necessária uma exploração mais sistemática do oral formal pela coleção analisada, de modo a ofertar ao aluno orientações necessárias à compreensão do contexto de produção e realização do gênero oral (O quê? Para quê? Para quem? Como?), que não minimize a importância da reflexão sobre o registro da língua a ser utilizado, dentre outras dimensões, e que, assim, favoreça a autonomia no processo de planejamento e de vivencia do gênero oral formal. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdos. Lisboa: Edições 70, 1997. BRASIL, LDB. Lei 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em<www.mec.gov.br>. Acesso em: 02 Mar 2012. BRASIL, Plano Nacional de Educação (PNE), 2014-2024 [recurso eletrônico]: Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Brasília: 86 p. (Série Legislação; n. 125). Disponível em <http://www.observatoriodopne.org.br/uploads/reference/file/439/documento-referencia.pdf>.

Acesso em: 21 Junho 2015. BRASIL, SEF-MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa (1 a série). Brasil; MEC-SEF, 1997. a 4 a DOLZ, Joaquim. SCHNEUWLY, Bernard. e HALLER, Sylvie. O oral como texto: como construir um objeto de ensino. In: SCHNEUWLY B. & DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2004. LAJOLO, Marisa. Livro didático e qualidade de ensino. IN: Em Aberto. Ministério da Educação e Desporto SEDIAE/INEP. Ano 16: nº 69, 1996. LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, EPU, 1986. MARCUSCHI, Luiz. A. Da fala para a escrita. Atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.. Fala e Escrita. Luiz Antônio Marcuschi e Angela Paiva Dionisio. Belo Horizonte: Autêntica, ed.1, 2007. MINAYO, Maria C. Souza (org). Ciência Tecnológica e Arte: o desafio da pesquisa social. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. MELLO, Paulo E. D. Programas de Materiais Didáticos Para a EJA no Brasil (1996 2014): Trajetória e Contradições. Disponível em <http://proxy.furb.br/ojs/index.php/atosdepesquisa/article/view/4591/2938>. Acesso em: 20 de junho 2015. OLIVEIRA, E.; ENS, R.T; ANDRADE, D.B.S.F.; MUSSIS, C.R. Análise de conteúdo e pesquisa na área de educação. Revista Diálogo Educacional, Curitiba: São Paulo, 1996. TANNEN, Deborah. The oral/literate continuum in discourse. In: Deborah Tannen (Ed.).

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