UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE COMUNICAÇÃO, ARTES E LETRAS GRUPO DE ESTUDOS INTERARTES OS DEMÔNIOS DA TEORIA DA LITERATURA

Documentos relacionados
AÇÃO DOCENTE DO REGENTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A INCLUSÃO: MODOS DE SER E DE SE RELACIONAR NO COTIDIANO ESCOLAR

INTRODUÇÃO; ÁREA DE ESTUDO; OBJETIVO; MÉTODOS UTILIZADOS; VALE PENSAR... URGE REFLETIR... ; DESCOBERTAS... REDESCOBERTAS... ; CONSIDERAÇÕES FINAIS.

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO. A Geografia Levada a Sério

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO. A Geografia Levada a Sério

FORMAÇÃO INICIAL E EXTENSÃO COMUNITÁRIA: PERCEPÇÃO DO UNIVERSITÁRIO A RESPEITO DE SUAS AQUISIÇÕES AFETIVAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

A REALIDADE SOBRE A PSICOMOTRICIDADE NAS ESCOLAS ESTADUAIS NO MUNICÍPIO DE PARELHAS RN

ATORES SOCIAIS DA ESCOLA

Atividade de análise de erros

OS CAMINHOS DA METACOGNIÇÃO

Demonstrações Matemáticas Parte 2

PERFIL DO LEITOR DE LIVROS

DISCIPLINA. Requisitos do pesquisador

IDEOLOGIA: UMA IDEIA OU UMA INFLUÊNCIA?

CONSTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE

DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL: PERCEPÇÕES DE PROFESSORES E ALUNOS DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

24/07/2014. As origens da Sociologia. A questão do conhecimento

Sofistas ou Sophistés

REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA: A IMPORTÂNCIA E AS DIFICULDADES DE ENSINAR GEOGRAFIA

1. PROJETO DE PESQUISA

A CONCEPÇÃO DE ENSINO ELABORADA PELOS ESTUDANTES DAS LICENCIATURAS

Integrada de Química. Prof. Dr. Carlos Eduardo Bonancêa

O conceito ética. O conceito ética. Curso de Filosofia. Prof. Daniel Pansarelli. Ética filosófica: conceito e origem Estudo a partir de Aristóteles

POR QUE ENSINAR GRAMÁTICA

Anais ISSN online:

IDEOLOGIA: ENSINO DE FILOSOFIA E DIFICULDADES DO PENSAMENTO ANTI-IDEOLÓGICO NA ESCOLA INTRODUÇÃO

REDAÇÃO DISCURSIVA para a prova da SEE/DF

O cristão e o mundo. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno (1João 5.19).

como se deu seu desenvolvimento e identificando quais fatores condicionaram sua manifestação. Duarte (2001), outro pesquisador representante dessa

DIAGNÓSTICO DO ENSINO E APRENDIZADO DA CARTOGRAFIA NOS DIFERENTES NÍVEIS DE FORMAÇÃO

Profa. Viviane Araujo

Artigo: Pedagogia de Projetos

PERSPECTIVAS DO PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Shakespeare. o gênio original

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS COLEGIADO DE DIREITO NÚCLEO DOCENTE ESTRUTURANTE

Aula 6 Livro físico.

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE LETRAS DIDÁTICA II PROF.ª FABIANA CANAVIEIRA VANESSA SOARES DA SILVA

Uma Leitura Sobre as Escolhas dos Conteúdos.

EDUCAÇÃO INFANTIL E A SEXUALIDADE: O OLHAR DO PROFESSOR

A ciência e as ciências sociais. Prof. Marcos Vinicius Pó Introdução às Humanidades e Ciências Sociais

ARTE CONTEMPORÂNEA, PÚBLICO E MEDIAÇÃO RIBEIRO, Susan Kelen 1. Palavras-chave: arte contemporânea, mediação, formação continuada.

Trabalho sobre: René Descartes Apresentado dia 03/03/2015, na A;R;B;L;S : Pitágoras nº 28 Or:.Londrina PR., para Aumento de Sal:.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

Política: Presente em nosso dia a dia? Quando tocamos no assunto política, normalmente, vemos reações negativas

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO - INOVAÇÃO NA ESCOLA E PELA ESCOLA SESSÃO DE ABERTURA

Introdução O QUE É FILOSOFIA?

ENCONTRO FAMÍLIA E ESCOLA Reunião do Ensino Fundamental II

QUESTIONAR OU AFIRMAR? EM QUE DEVE SE PAUTAR O PROFESSOR? Elaine Prodócimo FEF-UNICAMP, NEPICC

Roteiro para análise do filme Escritores da. Liberdade

Óbvio Camisas criativas¹

PLANEJAMENTO DE ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

NÚCLEO EDUCATIVO. (Foto: Sala de uso educativo MESC).

Referência Bibliográfica: SOUSA, Charles Toniolo de. Disponível em <

CONTAR UMA HISTÓRIA É DAR UM PRESENTE DE AMOR.

FUNDAMENTOS DE ARQUITETURA concepção em projeto arquitetônico

Projeto de Prática como Componente Curricular PCC 2018 Formação leitora em literaturas africanas de língua portuguesa: proposta e realização

PRINCÍPIOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS DO ENSINO DAS CIÊNCIAS NATURAIS

IMAGENS DENTRO DE LÂMPADAS *

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO: DOCENTES

5 MAIS-VALIAS DO DESIGN PARA A INOVAÇÃO DO ECOSSISTEMA HOSPITALAR

Aula 6: Dedução Natural

Cultura Organizacional EAD0620 Fundamentos das Ciências Sociais Nov/2017

ELEMENTOS ARTÍSTICOS COMO ESTRATÉGIA DE SALA DE AULA PARA A INOVAÇÃO DO USO DO LAPTOP EDUCACIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

APLICAÇÕES DA MODELAGEM COMPUTACIONAL NO ENSINO DE FUNÇÕES UTILIZANDO O SOFTWARE DE SIMULAÇÕES MODELLUS

BENS CULTURAIS E SIMBÓLICOS E A EDUCAÇÃO EM PIERRE BOURDIEU

Educação de Jovens e Adultos no Brasil

Para Entender a Sociologia e a Sociedade Resenha do livro Introdução à Sociologia *

EMENTA DOS CURSOS DE 2ª LICENCIATURA/COMPLEMENTAÇÃO PEDAGOGICA FILOSOFIA

O que você vai encontrar neste E-Book? - Quem somos? Liderança Sistêmica: um desafio das Organizações O que é Abordagem Sistêmica?...

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE. O que é Ciência?

Exercitando o raciocínio lógico-dedutivo!

PROCEDIMENTOS DE ENSINO QUE FACILITAM A APRENDIZAGEM DOS ESTUDANTES. Márcia Maria Gurgel Ribeiro DEPED/PPGEd/CCSA

PROGRAMA DE ENSINO GUIA DO EDUCADOR

Grupo 01. I) Ambas as concepções mantêm um discurso no qual é alimentado pela expansão política e econômica das sociedades industrializadas;

FILOSOFIA 6º ano APOSTILA 2 P.17 a 21

EDUCADOR, MEDIADOR DE CONHECIMENTOS E VALORES

FORMAÇÃO DE GRUPOS PROFA. ÉRIKA RAMOS

FILOSOFIA. Professor Ivan Moraes, filósofo e teólogo

Auxiliadora Cristina Corrêa Barata Lopes Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas Brasil

A PRODUÇÃO DE MAQUETES COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MODELOS ATÔMICOS

PORQUE, HOJE, FOCO EM PESSOAS? Qual a razão?

ANÁLISE SOBRE A AGROECOLOGIA NA VISÃO DE JOVENS DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL OLIMPIA SOUTO.

Walter Benjamin: uma análise filosófica do cinema

CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO ATIVO EM ESCOLAS DE URUAÇU-GO

Alécio Vidor 1. Doutor em Filosofia - Universidade São Tomás de Aquino, Roma.

O ensino da sociologia da saúde em cursos de sociologia: especificidades e competências

O CURRÍCULO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS SUJEITOS

Resenha (recesso) - Aprendizagem, Arte e Invenção de Virgínia Kastrup

EDUCAÇÃO, CONTEÚDO DISCIPLINAR, CURRÍCULO E ATITUDE CRÍTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES RESUMO ABSTRACT 1 - INTRODUÇÃO

REFLETINDO SOBRE A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NOS CURSOS DE PEDAGOGIA DA UFPEL: A CONTRIBUIÇÃO DE PAULO FREIRE

Aula 3 Critérios de Cientificidade

de ideias, de pontos de vista, de práticas, para que, em confronto com as próprias experiências, cada um possa chegar a conclusões pessoais que

FILOSOFIA E SOCIEDADE: O TRABALHO NA SOCIEDADE MODERNA

ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA UFF DISCIPLINA: ANÁLISE DE DADOS PROFESSOR: HUMBERTO J. BORTOLOSSI

A EPISTEMOLOGIA E SUA NATURALIZAÇÃO 1 RESUMO

RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: CONSTRUÍNDO A GESTÃO DEMOCRÁTICA PARTICIPATIVA

EDUCAÇÃO BILÍNGUE: DESAFIO EDUCACIONAL PARA A PESSOA SURDA

TÍTULO: O CONCEITO DE IDEOLOGIA PARA KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS

Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE COMUNICAÇÃO, ARTES E LETRAS GRUPO DE ESTUDOS INTERARTES OS DEMÔNIOS DA TEORIA DA LITERATURA Mirella Rodrigues Flores Orientador: Dr. Paulo Custódio de Oliveira Orientandas: Maessa Dilândia Paiva Este trabalho tem como objetivo, apresentar as complexidades que envolvem a construção de teorias que buscam definir o que é literatura. Outro aspecto importante, a ser demostrado no trabalho, é a necessidade da produção de novas teorias, para que perguntas e respostas sobre a literatura não voltem a se fundamentar no senso comum. Nosso objeto de estudo é o livro O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum (1999), do autor Antoine Compagnon. Nesselivro, Compagnon inicia suas observações com questionamentos sobre o que é teoria, isolando esse conceito do senso comum. Ele nos apresenta diversasquestões abordadas pela teoria da literatura, bem como um grande número de teóricos que se debruçaram sobre elas, todos com o propósito de responder a uma mesma pergunta. O que é literatura? Essa pergunta, um dos grandes questionamentos dos estudos teóricos da literatura, até hoje não foi respondida de maneira satisfatória. E pelo visto nunca será. O autor considera que existe uma dificuldade em se definir o que é, de fato, literatura e em seu livro mostra alguns, do que chamamos conceitos literários.

Primeiramente, conceituando a teoria de forma simples, percebemos que ela não é uma explicação que habita no óbvio. Notamos haver na teoria certa complexidade, pois ela não é apenas uma avaliação crítica, observação histórica, ou um método de explicação. Teoria é tudo isso, junto. Em segundo lugar, trazendo a teoria para o campo da literatura, vemos que ela não se resume a uma avaliação de escrita, ou de escola literária, muito menos se resume a história da literatura. Compagnon (1999) não nega que a teoria apresente aspectos pedagógicos e explicativos. No entanto, para o autor o que tem mais relevância na teoria, seria sua postura resistente e questionadora, diante do senso comum. O teórico francês sugere que a teoria tem o caráter crítico, opositivo ou polêmico, gravado na sua essência. [...] porque o que a caracteriza, na verdade, é justamente o contrário do ecletismo, é seu engajamento, sua vis polêmica, assim como os impasses que esta última a leva sem que ela se dê conta. (COMPAGNON, 1999, p.16). Sendo assim, a teoria questiona visões do estudo literário, que são pré-concebidas e se estabelecem como naturais, sendo aceitas sem discussões. Ou seja, a teoria contestaas respostas prontas e triviais que o senso comum costuma dar as questões literárias. Como foi dito anteriormente, um dos traços da teoria é que ela é complexa, formada por conjecturas que são difíceis de afirmar como sendo absolutas. Dessa maneira, diversas teorias vão sendo construídas. Ora com objetivo de reafirmar as teorias já existentes utilizando novos argumentos. Ora, opondo-se a elas, trazendo uma nova linha de pesquisa, com nos pontos de vista, contestando e diminuindo a autenticidade das teorias anteriores. Mas sempre procurando responder a pergunta presente em toda teoria, no estudo literário: O que é literatura? Esta questão, no entanto, não é tão simples de ser respondida. Primeiramente, porque no campo das definições é preciso fazer certos recortes, para adotar uma linha de pensamento. Ao fazer a escolha, de qual linha de pensamento seguir, estamos colocando-a em detrimento de outras. Podemos entender que o fato de observar a literatura sob diferentesaspectos, dá margem para o surgimento de diferentes análises. Ou seja, é possível dar várias respostas à pergunta o que é literatura. Entretanto, essa possibilidade deixa claro que o que é considerado literatura para uma teoria, não o é para outra. E dessa forma, surgem as várias teorias, trazendo respostas [...] possíveis, não compossíveis; aceitáveis, não compatíveis [...]. (COMPAGNON, 1999, p.26). Em segundo lugar, outro ponto que dificulta a definição de literatura, é o vinculo que acabamos fazendo entre ela e a estética (beleza). De acordo com Jorge Wanderley (1992, p.253) [...] é que definir literatura se confunde com a definição do poético e da beleza.

(Jorge Wanderley,1992, Literatura, p.253). Como beleza é um termo difícil de ser definido, dependendo muito das particularidades de cada um, é praticamente impossível definir literatura se baseando nesta linha de pensamento. Até aqui, notamos que existe um vasto campo de pesquisa para a teoria na literatura. Possibilitando assim um grande volume de obras crítico teóricas. Falando sobre o volume de obras sobre teoria da literatura, segundo Compagnon, ela teve seu auge na França, por volta dos anos de 1970. Os jovens dessa geração viam a teoria com forte atração, devido às perguntas inquietantes e desafiadoras que o pensar teórico propunha. Através dos anos que seguiram este apoio que a teoria concede ao estudo literário, fez surgir uma forte aproximação entre a teoria e as instituições acadêmicas. Porém, essa aproximação fez com que o foco da teoria fosse o seu caráter pedagógico, em detrimento a seu caráter crítico. A teoria institucionalizou-se, transformou-se em método, tornou-se uma pequena técnica pedagógica [...]. (Antoine Compagnon, 1999, p.13). A teoria passou a ser compartimentada. Ela chega até os estudantes, como um simples método de ensino da literatura. Não cabe mais a teoria apresentar a importância do estudo literário. O ajuste da teoria aos moldes escolares fez parecer que ela já estivesse pronta, com suas incertezas anuladas. Essa ideia de teoria pronta, sem ter necessidade de ser renovada, fez com que a produção teórica fosse diminuindo, até chegar a sua estagnação atual. Tendo em vista o que foi dito até aqui, é possível concluir que a estagnação atual é resultado dos ajustes mencionados anteriormente. Ajustes que foram realizados por estruturas que, normalmente, são dirigidas por ideologias dominantes. O que seria então, essas ideologias dominantes? Para entendermos isso, em primeiro lugar, temos que entender o que seria essa ideologia, que pressupõe a ideia de que existem dominados. Primeiramente, precisamos ter consciência de que a nossa sociedade esta dividida em classes. Isso se reflete na educação dos menos favorecidos, que propõe apenas sua capacitação para o mercado de trabalho, e não a educação para formação intelectual desse sujeito. Em contrapartida, existem os mais favorecidos, que também sentem o reflexo da classe a que pertencem na educação que recebem. Eles têm acesso a uma educação diferenciada, de melhor qualidade, voltada para formação de indivíduos críticos. Entendemos que aqueles que se encontram tanto na camada mais alta, os com maior poder econômico, quanto os que se encontram nas camadas mais baixas, os com menor poder econômico, não se encontram em tais situações por escolha própria. Mas sim por condicionamento. Posto isso, concluímos que a sociedade é verdadeiramente dividida entre

dominantes e dominados. Logo, temos neste ponto, espaço para entender que aqueles que são considerados dominantes, impõem suas ideias aos dominados, de maneira sutil, dificultando a percepção deste ato. A classe dominante usa da literatura, ou melhor, das produções artísticas, de um modo geral, para fazer essa transmissão da sua ideologia, e naturalizá-la. A ideologia dominante propõe que as coisas são assim desde sempre, que é esse o melhor, e único, jeito. Seguindo esse raciocínio, acabamos por deixar de duvidar e questionar, já que os conflitos aparentam ser inexistentes. Passamos a nos acomodar com nossa situação. Este processo é facilitado pela falta de teoria nos dias atuais. Os conceitos e teorias que já existem, não têm dado conta de explicar as situações que acontecem no presente. Nesse ponto, fica clara a importância da construção de novas teorias. Notamos que a falta dela, fez com que ressurgisse respostas baseadas no senso comum. Respostas essas, que mesmo não sendo profundas, nos fazem dar por satisfeitos. Contribuindo assim, para que continuemos no mesmo lugar, com a falsa ideia de que as dúvidas estão esclarecidas. Porém, as dúvidas e questionamentos permanecem vivos. Mesmo com o enfraquecimento que se decorreu, existem ainda as inquietações, a não aceitação de respostas prontas. Por fim, é possível concluir que, para que a teoria, nos dias de hoje, seja vista com interesse, e que o estudo dela seja encorajado, é preciso que alguns paradigmas sociais sejam mudados. É preciso que a sociedade seja encorajada a questionar, e não se satisfazer com as respostas que têm sido dadas. Somente assim poderemos sair desse apagão teórico, das rasas respostas do senso comum, que na quase totalidade das vezes vale menos que as perguntas feitas pela teoria. Com isso, talvez possamos fazer da teoria da literatura, algo moderno, que se encaixe nas novas condições de vida da sociedade contemporânea. 1999. Referências bibliográficas COMPAGON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. UFMG, CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. Brasiliense, 1980. WANDERLEY, Jorge. Literatura. Palavras da Crítica, Rio de Janeiro, 1992.