Indicador de Letramento Científico. Relatório técnico da edição 2014



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Transcrição:

Indicador de Letramento Científico Relatório técnico da edição 2014 São Paulo, Julho de 2014 Iniciativa: Parceiros:

FICHA TÉCNICA REALIZAÇÃO Instituto Abramundo Ricardo Uzal Garcia Presidente Renata Bove Diretora Executiva Maria Do Carmo Brandt de Carvalho Superintendente Mário D. Domingos Gerente de Desenvolvimento de Produtos (Abramundo) COORDENAÇÃO TÉCNICA Instituto Paulo Montenegro Ana Lucia D Império Lima Diretora Fabiana Freitas Assessora de Projetos Fernanda Cury Consultora de Projetos Ação Educativa Unidade Educação de Jovens e Adultos Roberto Catelli Jr. Coordenador Andréia Lunkes Conrado Assessora Luis Felipe Soares Serrao Assessor CONSULTORES EXTERNOS Carlos Alberto Huaira Contreras Estatístico, Mestrando em Estatística (UNICAMP) e Professor temporário da UFJF http://lattes.cnpq.br/7520539608042405 Felipe Bandoni de Oliveira Biólogo, Doutor em Ciências Biológicas USP e Professor de Ciências no Colégio Santa Cruz http://lattes.cnpq.br/2685420003007902 Luís Carlos de Menezes Físico, Doutor em Física (Universitat Regensburg - ALE) e Professor Livre-docente da USP http://lattes.cnpq.br/9334111274171741 Tufi Machado Soares Engenheiro Elétrico, Doutor em Engenharia Elétrica (UFJF) e Professor Titular da UFJF http://lattes.cnpq.br/1310951746056442 ii

SUMÁRIO Apresentação... 1 Metodologia... 3 Escala de proficiência e interpretação pedagógica... 5 Nível 1 Letramento não-científico... 5 Nível 2 Letramento científico rudimentar... 6 Nível 3 Letramento científico básico... 7 Nível 4 Letramento científico proficiente... 8 Itens... 9 Características gerais da amostra... 9 Principais resultados da edição 2014... 10 Distribuição por nível segundo escolaridade... 11 Desempenho segundo sexo e idade... 13 Desempenho segundo informações de renda e de trabalho... 14 Desempenho segundo auto-avaliação... 17 Percepções em relação às ciências... 19 O que interessa e como se informam... 22 A contribuição e os limites da ciência bem como seu papel estratégico para o país... 23 Referências... 25 Notas explicativas... 26 Sobre o Instituto Abramundo... 26 Sobre o Instituto Paulo Montenegro... 26 Sobre a Ação Educativa... 26 Sobre o Inaf... 27 iii

Apresentação O Indicador de Letramento Cientifico (ILC) é um estudo inédito sobre letramento científico da população jovem e adulta brasileira realizado pela Abramundo, em parceria com o Instituto Paulo Montenegro e a Ação Educativa, a partir da experiência de mais de uma década destas duas organizações na realização do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 1. Tendo em vista a progressiva exigência de uso e interpretação de conhecimentos e informações técnico-científicas nas diferentes dimensões da vida social contemporânea, o objetivo principal deste estudo foi criar um indicador que, periodicamente atualizado, fosse capaz de monitorar a evolução das habilidades de letramento científico da população jovem e adulta brasileira de modo a subsidiar e qualificar o debate público sobre políticas de educação, cultura, ciência, tecnologia e inovação. Assim como afirma Wildson Santos (2007, p 485) Um cidadão, para fazer uso social da ciência, precisa saber ler e interpretar as informações científicas difundidas na mídia escrita. Aprender a ler os escritos científicos significa saber usar estratégias para extrair suas informações; saber fazer inferências, compreendendo que um texto científico pode expressar diferentes ideias; compreender o papel do argumento científico na construção das teorias; reconhecer as possibilidades daquele texto, se interpretado e reinterpretado; e compreender as limitações teóricas impostas, entendendo que sua interpretação implica a não-aceitação de determinados argumentos. Na condição de um estudo inédito no Brasil, o ILC tomou como ponto de partida duas importantes e já consolidadas pesquisas, o Inaf e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em relação ao Inaf, o ILC se aproximou da perspectiva de alfabetismo, que, segundo Vera Ribeiro e Conceição Fonseca (2010), busca medir a capacidade de compreender, utilizar e refletir sobre informações contidas em materiais escritos de uso corrente para alcançar objetivos, ampliar conhecimentos e participar da sociedade. O ILC também adotou o conceito de letramento utilizado pelo Inaf, entendido como um contínuo que abrange desde habilidades e conhecimentos elementares até processos cognitivos mais complexos relativos à linguagem escrita. No caso, a capacidade medida foi a de uso e de compreensão da linguagem técnico-científica, inclusive mediante a utilização de conhecimentos específicos previamente adquiridos, para lidar com situações cotidianas. De modo a mensurar um fenômeno tão amplo, o ILC optou pela realização de entrevistas domiciliares, estruturadas a partir da aplicação de um questionário contextual e de um teste cognitivo padronizado. Enquanto naquele foram utilizadas perguntas sobre aspectos de várias dimensões da vida do entrevistado (entre outras coisas, a vida profissional, cultural, econômica), neste último o entrevistado foi instado a responder oralmente e de 1 Mais informações sobre o Inaf e sobre as instituições citadas podem ser encontradas ao final deste relatório. 1

forma escrita perguntas sobre textos e situações cotidianas que, com maior ou menor intensidade, estivessem relacionados ao mundo da ciência. O ILC caracterizou-se intencionalmente como uma pesquisa de caráter não-escolar. Buscou-se, assim, utilizar textos e situações cotidianas de modo a explorar de maneira significativa processos, fenômenos e evidências das ciências e da pesquisa científica para a construção de argumentos e, no limite, para a tomada de decisões. Nesse sentido, a experiência do ILC tentou avançar em relação à proposta do Pisa, que mesmo partindo também dessa mesma perspectiva conceitual (OECD, 2013), possui ainda elementos constitutivos da cultura escolar, sentidos principalmente quando são analisados os itens utilizados nas provas de ciências, muitas vezes marcados por situações de ficcionalização, focadas em habilidades em abstrato 2. Nesse sentido, o conhecimento sobre ciência que o ILC pretende abordar não é apenas um conjunto de conceitos tradicionalmente ensinados na escola básica. Para além disso, inclui também a capacidade de usar conceitos e procedimentos tipicamente científicos para explicar fenômenos e para resolver problemas, avaliando, ainda que de maneira superficial, em que medida a visão de mundo que um cidadão possui depende desses conhecimentos para fazer sentido. O ILC convidou os respondentes a resolver problemas desenvolvidos a partir de situações do cotidiano, cuja solução está baseada em: Domínio da linguagem científica conhecimento sobre as nomeações relativas ao campo das ciências. Saberes práticos como são colocados em prática os conhecimentos científicos e quais os valores atribuídos a essas práticas. Visões de mundo como os conhecimentos científicos contribuem a visão de mundo dos entrevistados. Paralelamente à coleta de dados sobre desempenho em testes cognitivos, foi utilizado um questionário de contexto para qualificar estes primeiros dados, possibilitando traçar correlações entre possíveis variáveis explicativas e os níveis de desempenho no teste cognitivo, favorecendo a criação de evidências para o desenvolvimento de orientações para as políticas educacionais, de desenvolvimento científico, culturais e econômicas. 2 Alguns itens utilizados pelo Pisa estão disponíveis no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação. Para mais informações, acesse: http://download.inep.gov.br/download/internacional/pisa/itens_liberados_ciencias.pdf. 2

Metodologia A aplicação de testes cognitivos e questionários de contexto foi realizada (assim como no caso do Inaf) por meio de entrevistas pessoais em domicílio, a uma amostra de 2.002 casos, representativa da população de 15 a 40 anos com, no mínimo, 4 anos de estudos (antigo primário completo) dos 211 municípios que compõem as nove regiões metropolitanas brasileiras, além do Distrito Federal. Foram utilizados 36 itens, todos de resposta construída, distribuídos em dois cadernos de teste com 26 itens cada. Dos 36, 16 tiveram mediação do aplicador para o que respondente os resolvessem, sendo que os demais foram realizados sem qualquer auxílio. Em nenhuma hipótese foi possibilitada a utilização de materiais ou equipamentos de apoio na resolução dos itens. As respostas dadas pelos participantes foram submetidas a análises estatísticas com base na Teoria da Resposta ao Item (TRI), sob a coordenação dos especialistas Prof. Dr. Tufi Machado Soares e Prof. Me. Carlos Alberto Huaira Contreras, da Universidade Federal de Juiz de Fora/Caed. Para a aplicação da metodologia TRI, o modelo geral proposto para ser usado nos dados do Inaf é o denominado Logístico de três parâmetros - ML3 (veja detalhes em D. F. de Andrade, 2000). Considerando que as provas foram construídas com questões abertas, de modo que nenhum item possa ser acertado de forma casual, e as questões admitem somente respostas corretas ou incorretas quando respondidas, o modelo ML3 inicial se reduz a: P(U ij = 1 θ j, a i, b i, c i ) = 1 1 + e 1,7 a i(θ j b i ) Finalmente, os valores das proficiências apresentados encontram-se no intervalo entre 0 e 200 e assume-se que a distribuição das proficiências (habilidades) é normal com valor médio 100 e desvio padrão 33,3. De modo geral, foi realizada uma análise da consistência interna dos itens por meio de métodos tradicionais. Os resultados mostraram que todos os itens, exceto um (LC56 3 ), possuem bom grau de discriminação e de fidedignidade (estatística alfa de Cronbach foi de 0,78). A opção pela TRI deveu-se pela construção de uma escala métrica que possibilitasse a comparabilidade entre resultados das diversas edições do ILC, assim como ocorre no Enem, no Saeb, no PISA e no próprio Inaf. Em linhas gerais, a nota técnica do Inep (2011, p. 02) sobre o modo de cálculo da proficiência dos participantes do Enem ressaltou que, pela TRI, [...] a medida de proficiência de um aluno [participante do Enem] não depende dos itens apresentados a ele e os parâmetros de discriminação e de dificuldade do item não dependem do grupo de respondentes. Em outras palavras, um item mede determinado conhecimento, 3 O item LC56 foi excluído do cálculo da proficiência devido ao aporte quase nulo no cálculo da proficiência. As avaliações realizadas garantem que a exclusão do item LC56 não afetou o calculo das proficiências finais. 3

independentemente de quem o está respondendo, e a proficiência de um aluno não depende dos itens que estão sendo apresentados a ele. Segundo Sousa e Bonamino (2012, p. 376-377), A Teoria de Resposta ao Item (TRI) é um modelo matemático que permite estimar a capacidade dos indivíduos em determinada área ou disciplina a partir da premissa de que ela é unidimensional. Vale dizer: presume-se, por exemplo, que os alunos tenham uma capacidade ou competência para a matemática que define a probabilidade de que determinado aluno realize adequadamente as diferentes atividades incluídas no banco de questões. Ela tem algumas vantagens sobre o enfoque clássico, pois permite pôr questões e alunos em uma mesma escala; fazer estimativas mais precisas das mudanças ao longo do tempo, mediante equiparação das pontuações; estimar uma medida da capacidade dos alunos que leva em conta a dificuldade das questões, isto é, as questões mais difíceis têm peso maior na determinação da pontuação individual. Nas pontuações de TRI, o SAEB adota uma média de 250 pontos, o que corresponde à média nacional dos alunos da 8ª série em 1997. A partir das premissas da TRI, distintos níveis de escolaridade: no caso do Brasil, 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª do ensino médio. Isso permite comparar as médias de proficiência em cada disciplina entre os diversos níveis do sistema educativo, entre as regiões do país e entre os vários anos, situando todos os níveis em uma mesma escala. O questionário de contexto do ILC foi construído coletivamente pelas três equipes envolvidas no projeto a partir dos instrumentos utilizados pelo PISA e pelo Inaf. De maneira geral, foram utilizadas perguntas de contexto demográfico, nível socioeconômico, trajetória educacional, mundo do trabalho, hábitos e práticas de leitura e de lazer, entre outras áreas. A realização do trabalho de campo, a correção dos testes e o processamento de dados ficaram sob a responsabilidade do IBOPE Inteligência, também responsável pela realização de tais atividades no Inaf. 4

Escala de proficiência e interpretação pedagógica A partir dos itens parametrizados, foi elaborada a escala de proficiência e sua interpretação pedagógica. Foram estabelecidos quatro diferentes níveis de letramento, como demonstrado a seguir, havendo uma crescente complexidade entre eles, exigindo progressivamente maior domínio de habilidades e conhecimentos de gêneros e tipos textuais e de conceitos científicos para compreender as situações propostas pelo ILC. Nível 1 Letramento não-científico Descrição: Localiza, em contextos cotidianos, informações explícitas em textos simples (tabelas ou gráficos, textos curtos) envolvendo temas do cotidiano (consumo de energia em conta de luz, dosagem em bula de remédio, identificação de riscos imediatos à saúde), sem a exigência de domínio de conhecimentos científicos. Exemplo de item de nível 1 Por quantos dias, no máximo, você pode tomar esse remédio? Chave de correção: Durante, no máximo 7 dias. Porcentagem de acerto: 90% Os indivíduos classificados no Nível 1 revelam ter domínio das habilidades de reconhecimento e localização de informações técnicas e/ou científicas apresentadas em 5

suportes textuais simples (gráficos e tabelas simples, textos narrativos curtos) envolvendo temáticas frequentemente presentes em situações cotidianas. O domínio do vocabulário científico básico evidenciado está associado à familiaridade do sujeito com as temáticas apresentadas, tais como: o consumo de energia mensal de uma residência em uma conta de luz, a dosagem máxima de medicamento na bula de um remédio, os riscos de doenças pulmonares causados pelo tabagismo. Nível 2 Letramento científico rudimentar Descrição: Resolve problemas que envolvam a interpretação e a comparação de informações e conhecimentos científicos básicos, apresentados em textos diversos (tabelas e gráficos com mais de duas varáveis, imagens, rótulos), envolvendo temáticas presentes no cotidiano (benefícios ou riscos à saúde, adequações de soluções ambientais). Exemplo de item de nível 2 Chave de correção: O pneu com estrias facilita o escoamento da água, a perda de atrito, a perda de aderência Porcentagem de acerto: 48% No Nível 2, os indivíduos revelam a capacidade de resolver problemas cotidianos que exigem o domínio de linguagem científica básica, por meio da interpretação e da comparação de informações apresentadas em diferentes suportes textuais (gráficos com maior número de variáveis, rótulos, textos jornalísticos, textos científicos, legislação) com diversas finalidades. Dentre os conhecimentos científicos básicos exigidos podem ser citados o uso e a interpretação de medidas de tendência, a compreensão de fenômenos naturais e impactos ambientais. As situações propostas se relacionam à indicação de 6

Quantiade de bactérias em bilhões Quantidade de bactérias em bilhões solução ambiental mais adequada a um contexto, a identificação de benefícios ou riscos à saúde e à análise de políticas. Nível 3 Letramento científico básico Descrição: Elabora propostas de resolução de problemas de maior complexidade a partir de evidências científicas apresentadas em textos técnicos e/ou científicos (manuais, esquemas, infográficos, conjunto de tabelas) estabelecendo relações intertextuais em diferentes contextos. Exemplo de item de nível 3 Os gráficos a seguir mostram a evolução de populações de bactérias ao longo do tempo em duas pessoas infectadas com a mesma bactéria. Nos dois casos, os doentes tomaram antibióticos. Caso A 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 1 2 3 4 5 6 Tempo (Dias) Caso B 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 1 2 3 4 5 6 Tempo (Dias) Formule hipóteses sobre o que pode ter ocorrido para justificar a diferença nos gráficos dos dois casos. Chave de correção: O segundo paciente (caso B) pode ter interrompido o tratamento, quando os sintomas diminuíram, fazendo voltar assim a infecção. Ou as bactérias desenvolveram resistência/mutação/evolução. Ou o remédio não matou todas as bactérias. Não tomou o remédio conforme indicava a bula ou o médico. Porcentagem de acerto: 25% 7

No Nível 3, os indivíduos apresentam a capacidade de elaborar propostas para resolver problemas em diferentes contextos (doméstico ou científico) a partir de evidências técnico e/ou científicas apresentadas em diferentes suportes textuais (infográficos, conjunto de tabelas e gráficos com maior número de variáveis, manuais, esquemas) com finalidades diversas. A construção de argumentos para justificar a proposta apresentada exige neste nível o estabelecimento de relações intertextuais e entre variáveis. Os temas abordados incluem a leitura de nutrientes em rótulos de produtos, especificações técnicas de produtos eletroeletrônicos, efeitos e riscos de fenômenos atmosféricos e climáticos e a evolução de população de bactérias. Nível 4 Letramento científico proficiente Descrição: Avalia propostas e afirmações que exigem o domínio de conceitos e termos científicos em situações envolvendo contextos diversos (cotidianos ou científicos). Elabora argumentos sobre a confiabilidade ou veracidade de hipóteses formuladas. Demonstra domínio do uso de unidades de medida e conhece questões relacionadas ao meio ambiente, à saúde, astronomia ou genética. Exemplo de item de nível 4 Chave de correção: Deve mencionar termos que tenham o sentido de depende, probabilidade ou possibilidade / São duas possibilidades diferentes, conforme o comportamento humano e da atmosfera / Depende das emissões de carbono. / Não se sabe exatamente o acontecerá, os gráficos lidam com probabilidades/projeções/estimativa. Porcentagem de acerto: 6% 8

No Nível 4, os indivíduos são convidados a avaliar e confrontar propostas e afirmações apesentadas em linguagem científica de maior complexidade, envolvendo diferentes contextos (cotidianos e científicos). Para justificar as decisões apresentadas, os indivíduos aportam informações extratextuais para formular argumentos capazes de confrontar posicionamentos diversos (científicos, tecnológicos, do senso comum, éticos) por meio de linguagem relacionada a uma visão científica de mundo. Dentre os temas propostos podemos citar: potência do chuveiro, temperatura global, biodiversidade, astronomia e genética. Itens Atualmente, o ILC conta com 35 itens de resposta construída pelo respondente prontos para serem utilizados, sendo que outros 23 já foram produzidos, mas não pré-testados e parametrizados segundo a TRI. Como ressaltado anteriormente, há dois tipos de itens: Aqueles em que o respondente lê ou não um texto estímulo e responde oralmente a uma pergunta do aplicador, sem necessidade de escrever sua resposta. Aqueles que são resolvidos individualmente pelo respondente, sem qualquer mediação feita pelo aplicador. Ao todo, contando apenas os itens parametrizados, o banco de itens está atualmente composto por 8 itens de parâmetros condizentes com o nível 1 da escala de proficiência, 8 itens relacionados com o nível 2, 7 com o nível 3 e, por fim, 12 com o nível 4. Características gerais da amostra Uma diferença significativa em relação ao Inaf foi a adoção de um perfil populacional específico mais restrito: pessoas jovens e adultas com idade entre 15 a 40 anos, com, no mínimo, os anos iniciais do ensino fundamental completos (4ª série/5ºano) e moradores de regiões metropolitanas brasileiras. Esses recortes também são diferentes das delimitações utilizadas pela Pisa, que avalia exclusivamente estudantes de 15 anos de idade. A amostra de 2.002 pessoas representa, como dito anteriormente, a população de 15 a 40 anos, que tenha completado 4 anos de estudo no ensino fundamental (antigo primário) e que seja residente em um dos 92 municípios das 9 regiões metropolitanas brasileiras (RMs - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Belém) ou do Distrito Federal. Dado o recorte geográfico e populacional da amostra, podemos afirmar que seus resultados são representativos de cerca de 23 milhões de pessoas com as características descritas. Perfil ILC (RMs, 15 a 40 anos, mínimo anos iniciais do ensino fundamental completos): Faixa etária População % Escolaridade População % Total 23.792.466 100 Total 23.792.466 100 15 a 29 anos 4.654.012 20 EF completo 5.584.929 23 20 a 29 anos 9.351.671 39 EM completo 12.615.893 53 30 a 40 anos 9.786.783 41 ES completo 5.591.644 24 9

Perfil Inaf (Brasil, 15 a 64 anos, independente de escolaridade): Faixa etária População % Escolaridade População % Total 134.674.743 100 Total 134.674.743 100 15 a 29 anos 17.060.769 13 EF I completo 31.601.260 23 20 a 29 anos 31.696.681 24 EF II completo 31.702.878 24 30 a 40 anos 33.448.399 25 EM completo 50.199.735 37 41 a 64 anos 52.468.894 39 ES completo 21.170.870 16 Os indivíduos selecionados para fazerem parte da amostra foram entrevistados em seus domicílios por profissionais do IBOPE Inteligência. Os trabalhos de campo ocorreram entre março e abril de 2014. Principais resultados da edição 2014 De acordo com a interpretação pedagógica dos níveis da escala de proficiência anteriormente apresentados, as pessoas participantes se distribuíram de acordo com a tabela abaixo: Distribuição dos respondentes segundo níveis da escala de proficiência. 2014 Escala de proficiência População analisada Nível 1 314 16% Nível 2 961 48% Nível 3 624 31% Nível 4 103 5% Total 2002 100% Como se pode observar: A grande maioria (79%) das pessoas entre 15 e 40 anos, com mais de 4 anos de estudo e residentes nas 9 regiões metropolitanas do país pode ser classificada nos níveis intermediários da escala: o Quase a metade (48%) desta população foi classificada no nível 2 (Letramento científico rudimentar), no qual o indivíduo revela ter domínio da habilidade de localizar informações em diversos formatos de texto, sendo capaz de reconhecer termos científicos simples, mas não demonstra dominar conhecimentos e habilidades necessárias para resolver problemas ou interpretar informações de natureza científica. o No nível 3 (Letramento científico básico), correspondente a 31% da população de referência do ILC, encontram-se os indivíduos que, embora utilizem informações científicas presentes em gráficos, tabelas, esquemas e textos de maior complexidade para resolver problemas relacionados à vida 10

cotidiana, interpretem fenômenos naturais ou resolvam problemas que envolvam a utilização de conhecimentos científicos básicos, não demonstram possuir suficiente domínio de conceitos científicos necessários para resolver problemas ou interpretar fenômenos mais complexos. Apenas 5 de cada 100 pessoas, classificadas no nível 4 (Letramento científico proficiente), efetivamente compreendem a terminologia científica e aplicam conceitos da ciência para interpretar a realidade que os cercam, para além de aplicações restritas ao cotidiano. No menor nível da escala, o nível 1 (Letramento não-científico), encontra-se 16% da população entre 15 e 40 anos, residente nas regiões metropolitanas e com pelo menos 4 anos de escolaridade. Neste grupo, as habilidades se limitam à leitura de informações apresentadas de forma explícita e em contextos previamente conhecidos, sem contribuição de noções científicas para apoiar sua compreensão da realidade. Distribuição por nível segundo escolaridade Há de se destacar que os dados aqui apresentados precisam ser analisados à luz das características gerais da amostra do ILC, que é representativa da população de 15 a 40 anos e com os quatro anos iniciais do ensino fundamental completos. Pelos recortes amostrais feitos, a população avaliada tem um perfil educacional relativamente mais avançado que a média brasileira: no caso do ILC, 23% haviam ingressado no Ensino Superior, 52% no Ensino Médio e 25% no Ensino Fundamental. Dentre os indivíduos que chegaram ao ensino superior, 48% atingiram o nível de Letramento científico básico (nível 3) e 11% podem ser considerados no nível de Letramento científico proficiente (nível 4). Vale notar que mesmo nesse grupo de mais alta escolaridade houve uma parcela significativa (37%) com Letramento científico rudimentar e 4% que podem ser considerados iletrados do ponto de vista científico. Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 ENS. SUPERIOR 4% 37% 48% 11% ENS. MÉDIO 14% 52% 29% 4% ENS. FUNDAMENTAL 29% 50% 20% 1% TOTAL 16% 48% 31% 5% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 11

Além disso, destaca-se que: Mais da metade (52%) daqueles que cursaram ou estão cursando o ensino médio encontram-se no nível 2 enquanto a proporção de pessoas com nível 3 é de 29% e apenas 4% atingem o nível 4. Quase 1 em cada 7 pessoas deste grupo (14%) permanece no nível 1, mesmo após pelo menos 9 anos de estudo. Também dentre aqueles que completaram no máximo o ensino fundamental prevalece o nível 2 (50%) e a proporção de pessoas no nível 1 chega a 29%. A proporção de pessoas no nível Básico e Proficiente nesse grupo é de 20% e 1%, respectivamente. Pela tabela abaixo é possível perceber um significativo efeito escola: quanto maior a escolaridade completa, maior a proporção de pessoas nos níveis 3 e 4. Interessante notar que, contudo, houve concentração de mais de 50% das pessoas nos níveis 3 ou 4 somente a partir do grupo de pessoas com, no mínimo, ensino superior completo. Distribuição por nível segundo escolaridade completa Escolaridade Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Total 1122 146 547 360 69 EF completo 245 24% 51% 23% 1% EM completo 718 11% 52% 32% 5% ES completo 159 4% 31% 47% 18% De modo similar aos resultados apresentados pelo Inaf, os dados do ILC demonstraram que a educação escolar estava positivamente relacionada com o letramento científico: quanto maior a escolaridade, maior proporção nos níveis básico e proficiente. Entretanto, os dados também revelaram que somente entre aquelas pessoas que, no mínimo, ingressaram no ensino superio houve mais da metade das pessoas nesses dois níveis, sendo apenas 18% chegaram ao nível 4. Os dados da tabela abaixo revelam que houve uma possível correlação entre o background educacional da família, analisado pela escolaridade da mãe (ou responsável do sexo feminino), o desempenho no ILC, reforçando a importância da variável escolaridade no estudo realizado. Em síntese, os dados apontaram que, no grupo de pessoas caracterizadas como de nível 1, houve maior concentração de mães (ou responsáveis do sexo feminino) com até a 4ª série do ensino fundamental. Já dentre aquelas pessoas de nível 4, houve maior proporção de mães (ou responsáveis do sexo feminino) que chegaram ao ensino médio ou ao ensino superior. 12

Distribuição por nível segundo escolaridade da mãe (ou responsável do sexo feminino) Escolaridade Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Até 4ª série EF 25% 34% 28% 18% 13% Até 8ª série EF 33% 25% 33% 37% 24% Até 3º ano EM 27% 22% 25% 31% 42% Ensino Superior 6% 2% 5% 9% 17% Não sabe/ não respondeu / Não teve mãe ou responsável do sexo feminino 7% 16% 8% 3% 1% Total 2002 314 961 624 103 Desempenho segundo sexo e idade As diferenças de desempenho entre homens e mulheres nas áreas científicas, têm sido objeto de investigação em muitos exames e avaliações, além de estudos acadêmicos sobre desigualdades de gênero. Resultados mais recentes do PISA indicam desempenhos similares entre meninos e meninas em ciências e desigualdades no campo da leitura e da matemática (PISA, 2012). Por outro lado, inúmeros estudos tem aprofundado o debate sobre as desigualdades de gênero no acesso às carreiras científicas, indicando menor presença de mulheres em áreas como ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Outro estudo sobre a percepção pública da ciência e tecnologia afirma que quando se pergunta sobre o interesse em ciência e tecnologia, os homens parecem ser ligeiramente mais interessados. Entretanto quando a pergunta é voltada para temas ligados à ciência e tecnologia que têm um maior apelo, como Medicina e saúde ou Alimentação e consumo, a diferença tem sinal invertido: as mulheres declaram ter sensivelmente mais interesse que os homens nesses assuntos. (FAPESP, 2011). Pela tabela a seguir, foi possível verificar que houve variações em relação à distribuição dos participantes em relação à variável sexo. As mulheres predominaram entre aquelas pessoas de níveis 1 e 2, enquanto que os homens predominaram nos níveis 3 e, principalmente, no 4. Distribuição da população por níveis da escala segundo sexo e idade Sexo Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Masculino 41% 47% 51% 58% Feminino 59% 53% 49% 42% Total 314 961 624 103 Tais dados anteriormente apresentados demostram um quadro desfavorável às mulheres, cenário contrastante com os dez anos de pesquisa do Inaf. Em estudo recente, Ribeiro (2013) mostrou que as proporções de homens e mulheres nos diferentes níveis da escala de proficiência se mantiveram praticamente as mesmas, com sensível aumento da proporção das pessoas de nível básico para ambos os sexos. 13

Além disso, é importante destacar que, de acordo com o perfil educacional da população brasileira, as mulheres possuem trajetórias educacionais relativamente maiores do que os homens: possuíam menor proporção de pessoas com ensino fundamental incompleto, maior número de pessoas com o ensino fundamental completo e, logo, maior proporção de pessoas que chegam ao ensino médio. Diante dos resultados apresentados e da importância do tema, é recomendável o aprofundamento de estudos sobre fatores associados às possíveis desigualdades aqui indicadas. Em relação à idade, mais de 60% das pessoas nas faixas destacadas estão localizadas nos níveis 1 e, sobretudo, 2. Nenhuma faixa de idade teve um número expressivo de pessoas no nível 4. Distribuição da população por níveis da escala segundo faixas etárias. 2014 Faixa etária Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 15 a19 396 18% 50% 29% 3% 20 a 24 337 18% 45% 31% 5% 25 a 29 437 13% 48% 33% 6% 30 a 34 364 15% 50% 31% 3% 35 a 40 468 15% 46% 32% 7% Total 2002 16% 48% 31% 5% De um lado, destaca-se que a faixa de idade entre 15 e 19 anos foi a que mais concentrou pessoas no nível 1 e 2, 68%. Este é um dado relativamente coerente com os resultados gerais deste estudo, já que, nesta faixa de idade, somente 20% desses jovens havia terminado o ensino médio ou mesmo iniciado o ensino superior, sendo que 70% ainda estava estudando. De outro, destaca-se também que as faixas de 25 a 29 anos e 35 a 40 anos foram aquelas que tiveram maior proporção de pessoas nos níveis 3 e 4, justamente as faixas que possuem maior proporção de pessoas que ingressaram e concluíram a educação superior, 27% e 26% respectivamente. Soma-se a isso a hipótese de que, com os recortes usados pela metodologia do ILC, adolescentes e jovens têm menor contato e familiaridade com alguns dos gêneros e tipos textuais utilizados e, por isso, podem apresentar maiores dificuldades para lidar com as situações propostas do que pessoas adultas. Nesse sentido, pessoas adultas costumam ter maior contato com, por exemplo, contas de luz e bulas de remédio, gêneros talvez não tão comuns a jovens. Desempenho segundo informações de renda e de trabalho Em relação à condição de atividade, mais da metade das pessoas de cada nível estavam trabalhando, sendo que essa proporção foi maior entre as pessoas de nível 4 quando comparadas com as dos demais níveis. Como esperado, a proporção dos que estão trabalhando é mais alta junto aos indivíduos com ILC mais alto. Nesta dimensão, o ILC confirma dados recorrentes em vários estudos que associam a condição de atividade à 14

escolaridade: por um lado, o mercado de trabalho tende a ser mais favorável para os indivíduos mais qualificados e, por outro, a própria atuação no mundo do trabalho contribui para o desenvolvimento de competências. Distribuição da população por situação de trabalho e nível. 2014 Situação Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 BASE 2002 314 961 624 103 Está trabalhando 67% 58% 66% 72% 74% Está desempregado 11% 13% 12% 10% 7% Está aposentado 0% 0% 0% 0% 0% Está apenas estudando 10% 11% 10% 8% 15% É dona de casa 8% 12% 9% 6% 3% Outra situação (vive de renda, recebe pensão, inválido, etc.) 1% 2% 0% 0% 0% Está procurando emprego pela primeira vez 2% 2% 2% 2% 1% Nunca trabalhou e não está procurando emprego 1% 2% 1% 1% 1% Ao direcionar o olhar para a situação de trabalho como variável independente, foi possível verificar que, embora a proporção de pessoas com menor letramento científico seja mais alta entre donas de casa e entre as pessoas que indicaram estar desempregadas (respectivamente 75% e 70% destes dois grupos são classificadas nos níveis 1 e 2 do ILC), esta proporção permanece alta também para os que estão trabalhando: com efeito, 61% dos trabalhadores brasileiros entre 15 e 40 anos, com pelo menos primário completo e residentes nas regiões metropolitanas do país não atingem o nível básico de letramento científico. Distribuição da população por nível e situação de trabalho. 2014 Situação Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Está trabalhando 1342 14% 47% 34% 6% Está desempregado 219 19% 51% 27% 3% Está aposentado 8 13% 50% 38% 0% Está apenas estudando 203 18% 49% 26% 7% É dona de casa 164 23% 52% 23% 2% Outra situação (vive de renda, recebe pensão, inválido, etc.) Está procurando emprego pela primeira vez Nunca trabalhou e não está procurando emprego 11 45% 27% 27% 0% 33 18% 48% 30% 3% 22 23% 45% 27% 5% Total 2002 314 961 624 103 15

A tabela abaixo mostra a distribuição dos 1.775 entrevistados para o ILC que estavam trabalhando ou que já haviam trabalhado (mesmo que agora estejam desempregadas ou aposentadas), categorizando-as por ramo de atividade e por níveis de letramento científico. Refletindo a distribuição no universo estudado, mais da metade se concentrava em dois principais ramos de atividade, comércio e prestação de serviços. Em ambos os ramos, praticamente dois terços das pessoas estavam nos níveis 1 e 2. Distribuição da população por nível segundo ramo de atividade 4. 2014 Ramo de atividade Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Prestação de Serviços 630 17% 48% 30% 6% Comércio 529 14% 52% 29% 5% Indústria Transformação 178 13% 43% 38% 6% Construção / Outras 126 24% 48% 26% 2% Transporte / Comunicação 83 8% 46% 41% 5% Administração Pública 78 6% 37% 50% 6% Saúde 62 5% 50% 37% 8% Educação 58 5% 43% 41% 10% Atividade Doméstica 13 46% 54% 0% 0% Inativo 7 43% 29% 29% 0% Agricultura 5 40% 60% 0% 0% Não sabe 6 0% 83% 17% 0% Total 1775 264 852 567 92 A administração pública e as áreas de Educação e Saúde foram os setores com maior proporção de trabalhadores entre situados nos níveis 3 e 4. Em seguida, aparecem o setor de Transporte/Comunicação e a Indústria de Transformação. Já na indústria da Construção, esta proporção não chega a 28%. Uma possível chave interpretativa para esse fenômeno pode estar nos diferentes perfis educacionais de cada área de trabalho. Se, no caso da administração pública, educação e saúde, houve um progressivo aumento das credenciais educacionais exigidas para desempenhar suas diferentes profissões, em outros ramos de atividade, tais como a construção civil, ainda não foram incorporados processos e práticas que requeiram uma elevação das competências de seus trabalhadores. Os dados da tabela a seguir demonstram que somente 15% dos empreendedores e profissionais liberais e 12% dos que ocupam cargos de gestão tanto no setor público quanto no setor privado, ou seja, os dois grupos de profissionais comumente responsáveis pela tomada de decisões, estavam situados no nível considerado proficiente. 4 Consideradas somente as pessoas que estavam trabalhando, desempregadas, aposentadas ou que já haviam trabalhado. 16

Função Base Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Total 1.775 15% 48% 32% 5% Profissional liberal / Micro ou Pequeno Empresário / Comerciante / Empregador / Grande Proprietário rural ou industrial / Proprietário ou Produtor rural Funcionário de nível alto / gerencial (setor público ou privado) Funcionário de nível técnico / estagiário / trainee (setor público ou privado) Autônomo formal (representante comercial vendedor - contador) Funcionário de nível operação / produção (setor público ou privado) Trabalhador informal, em casa (ex: manicure, confecção, produção de alimentos,) ou fora de casa (ex: camelô, ambulante, biscate, faz bico, boia fria), sem carteira 80 13% 43% 30% 15% 60 0% 28% 60% 12% 326 8% 44% 40% 7% 264 14% 51% 30% 5% 679 14% 50% 33% 3% 256 25% 48% 23% 4% Serviço doméstico, com ou sem carteira 78 29% 55% 13% 3% Não sabe / Não respondeu 32 19% 56% 22% 3% Em relação à renda familiar, enquanto 87% dos respondentes com renda familiar com até um salário mínimo estavam entre os níveis 1 e 2, 57% das pessoas com renda familiar de mais de cinco salários mínimos estavam nos níveis 3 e 4. Quanto maior a renda, maior a proporção de pessoas nos níveis mais altos do ILC, confirmando a forte correlação entre renda e escolaridade. Distribuição dos respondentes por nível e renda familiar (em salários mínimos). 2014 Base Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Total 2.002 16% 48% 31% 5% Mais de 5 361 5% 37% 45% 12% Mais de 2 A 5 841 15% 48% 33% 5% Mais de 1 A 2 502 22% 51% 25% 3% Até 1 138 34% 53% 12% 1% Desempenho segundo auto-avaliação Nesta seção, são apresentados os dados relativos às percepções que os indivíduos entrevistados relataram sobre suas próprias capacidades de uso da leitura, escrita e raciocínio matemático em algumas atividades presentes em diferentes contextos cotidianos. Tendo em vista que estes dados dizem respeito a um processo de autoavaliação, parte significativa dos resultados está relacionado ao grau de contato e familiaridade com as diferentes práticas sociais do uso da língua escrita nessas situações cotidianas. Verifica-se que cerca de metade dos entrevistados afirma que faria com dificuldade ou não seria capaz de estimar o consumo de energia de aparelhos elétricos a partir de suas 17

especificações técnicas (48%) ou calcular a quantidade de combustível necessária para chegar a um determinado destino conhecendo a distância e a média de consumo por km do veículo (55%). Mesmo para os indivíduos classificados no nível 4 ILC nota-se que mais de 30% apresentam esta característica. Proporção de pessoas que fariam com dificuldade ou não seriam capazes de fazer cada tarefa Compreender as contraindicações de um remédio, lendo a bula. Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 24% 37% 26% 16% 11% Conferir a conta de consumo de energia elétrica. 26% 40% 28% 18% 8% Ler manuais para instalar aparelhos domésticos. 26% 39% 27% 20% 18% Combater um pequeno incêndio seguindo as instruções dos equipamentos contra fogo. Consultar dados sobre saúde e medicamentos na internet. Entender gráficos e tabelas inseridas em matérias de jornais, revistas etc. Estimar o consumo de energia de aparelhos elétricos a partir de suas especificações técnicas. Interpretar dados científicos incluídos nos rótulos de produtos alimentares (ex.: tabela nutricional, composição, etc.). Calcular a quantidade de combustível necessária para chegar a um determinado destino conhecendo a distância e a média de consumo por km do veículo. Interpretar os resultados de um exame de sangue a partir dos valores de referência fornecidos pelo laboratório. 36% 45% 40% 27% 27% 37% 58% 41% 24% 16% 43% 63% 47% 30% 19% 48% 63% 50% 39% 38% 48% 60% 54% 37% 35% 55% 72% 59% 43% 31% 55% 67% 61% 44% 35% Interessante destacar que, coerentes com os dados de autoavaliação de suas próprias capacidades, as pessoas de nível 1 tiveram maior proporção de erro e não resposta no item LC33, que, ao apresentar uma conta de energia elétrica padrão, perguntava sobre o consumo de energia em determinado mês. O mesmo comportamento aconteceu com ao item LC34, que perguntava o mês de maior consumo de energia em um ano. Distribuição das respostas para LC33 segundo nível Resposta Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Certo 60% 94% 99% 100% Errado 22% 4% 1% 0% Não respondeu 18% 2% 0% 0% Total 100% 100% 100% 100% 18

Distribuição das respostas para LC34 segundo nível Resposta Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Certo 61% 94% 99% 99% Errado 27% 5% 1% 1% Não respondeu 12% 1% 0% 0% Total 100% 100% 100% 100% A mesma coerência pode ser vista em relação aos itens LC05 e LC04, construídos a partir de uma bula de remédio. Tanto no primeiro, que perguntava o máximo de dias que se podia ingerir aquele determinado remédio apresentado pela bula, quanto o segundo, que perguntava quais as possíveis finalidades de uma bula, foi entre as pessoas localizadas no nível 1 em que houve maior proporção de erros e não resposta. Distribuição das respostas para LC05 segundo nível Resposta Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Certo 75% 89% 95% 98% Errado 19% 8% 3% 2% Não respondeu 6% 3% 2% 0% Total 100% 100% 100% 100% Distribuição das respostas para LC04 segundo nível Resposta Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Certo 81% 88% 96% 97% Errado 14% 8% 4% 3% Não respondeu 5% 3% 0% 0% Total 100% 100% 100% 100% Percepções em relação às ciências Esta primeira edição do ILC procurou conhecer também a percepção da população investigada sobre a Ciência. Os resultados confirmam tendências verificadas em outros estudos, indicando uma percepção majoritariamente favorável das pessoas com relação aos temas do mundo da Ciência. Convidados a opinar sobre seu próprio interesse em temas científicos e sobre a relevância da formação em ciências para o desenvolvimento profissional e da própria visão de mundo os entrevistados se posicionaram conforme indicado na Tabela 1, abaixo. 19

Percepção sobre interesse em temas científicos e relevância da formação em ciências (base: 2.002 entrevistas) O(a) sr(a) concorda totalmente, concorda em parte, não concorda nem discorda, discorda em parte ou discorda totalmente que: A ciência me ajuda a compreender o mundo em que vivo Quem tem formação na área científica tem asseguradas boas oportunidades de trabalho Procuro estar sempre informado sobre as novidades no campo da ciência e da tecnologia Gosto de ler textos sobre temas científicos Sempre gostei de estudar ciências Gostaria de ter uma profissão da área científica Concordo totalmente Concordo em parte Não concordo nem discordo Discordo em parte Discordo totalmente Não Sabe / NR 42% 30% 15% 6% 6% 1% 41% 27% 15% 8% 8% 1% 34% 28% 13% 11% 15% 0% 24% 21% 17% 16% 23% 0% 21% 23% 17% 17% 22% 0% 17% 20% 16% 16% 30% 1% Conforme indicado pela tabela acima, há, por grande parte dos entrevistados, uma visão positiva em relação à Ciência: Os maiores níveis de concordância se dão no reconhecimento da importância da ciência como fator que tanto auxilia na compreensão de mundo (42% concorda plenamente e 30% concorda em parte) quanto na garantia de boas oportunidades de trabalho (41% concorda plenamente e 27% concorda em parte); Em um segundo patamar, aparece o interesse por estar sempre informado em temas do campo da ciência (62% dos entrevistados concordam, sendo 34% plenamente e 28% em parte); Menos de metade dos brasileiros entre 15 e 40 anos residentes nas regiões metropolitanas do país e que tenham pelo menos completado o 4º ano do ensino fundamental declaram ter gosto pela leitura de textos científicos (45%, sendo que 24% concorda plenamente e 21% apenas em parte) e pelo estudo de ciências (44%, 21% concordando plenamente e 23% em parte); O interesse por uma profissão na área cientifica encontra interesse pleno de 17% da população entrevistada e interesse parcial de outros 20% Interessante notar que a maior favorabilidade se dá na avaliação da importância potencial da ciência, que declina à medida que se avalia a mobilização pessoal pelos interesses nos temas científicos, reduzindo-se sucessivamente quando se avalia a ação individual na busca de conhecimentos dentro e fora do contexto escolar e a disponibilidade a trabalhar na área. Tem-se a impressão de que quanto mais conceitual a afirmação, quanto menos próxima ao cotidiano dos indivíduos, mais positiva é a avaliação. À medida que a ciência se aproxima do mundo real, menor parece ser a favorabilidade. 20

Chama ainda a atenção que embora uma alta parcela (62%) reconheça que a formação científica permitiria melhores oportunidades no mercado de trabalho, uma proporção bastante significativa (46%) não manifesta interesse por uma profissão na área de ciências. Em síntese, apesar da alta favorabilidade, a Ciência é vista por uma parcela significativa dos indivíduos entre 15 e 40 anos com pelo menos 4 anos de estudos e que vivem nas principais capitais brasileiras e nos municípios de seu entorno como algo distante, como uma possibilidade para a qual não se sente atraído ou qualificado. Uma forma de sintetizar a informação é criar perfis a partir das respostas dadas às questões acima. Para esta análise foram atribuídos os mesmos pesos acima mencionados e foi calculada uma média para cada indivíduo, agrupando-os segundo o grau de Favorabilidade aos temas da Ciência: Alta Favorabilidade (mais de 20% acima do ponto médio da escala (= 3)), Média Alta Favorabilidade (entre 20% e 1% acima do ponto médio da escala), Média Baixa Favorabilidade (entre 1% e 20% abaixo do ponto médio da escala) e Baixa Favorabilidade (mais de 20% abaixo do ponto médio da escala). Distribuição da população por grupos de Favorabilidade em relação à Ciência Grupos de Favorabilidade Pontuação Média Intervalo % no Total da população pesquisada Alto 4,4 3,7 5,0 38% Médio alto 3,6 3,1 3,6 21% Médio baixo 2,7 2,4 3,0 24% Baixo 1,7 1,0 2,3 17% Total 3,2 100% O cruzamento destes grupos de Favorabilidade com os níveis de Letramento Científico mostra que há, em certa medida, uma relação entre o grau de Favorabilidade e o nível de domínio das habilidades de Letramento Científico, como mostra a Tabela abaixo. Favorabilidade com relação à Ciência por níveis de Letramento Científico NÍVEIS ILC GRAU DE FAVORABILIDADE TOTAL NÍVEL 1 NIVEL 2 NÍVEL 3 NIVEL 4 Base 2.002 314 961 624 103 Alta favorabilidade 38% 32% 35% 43% 53% Medio alta 21% 24% 20% 23% 17% Medio baixa 24% 24% 25% 22% 19% Baixa favorabilidade 17% 20% 20% 12% 11% Como se observa, embora nos quatro níveis de letramento científico prevaleça uma favorabilidade positiva, quanto mais alto o nível de Letramento Científico, maior a favorabilidade. 21

O que interessa e como se informam Consultados sobre o grau de informação que detém sobre diversos assuntos científicos abordados pelos meios de comunicação, a maioria dos entrevistados nesta primeira edição do ILC declarou ter apenas informações genéricas sobre os vários assuntos avaliados: Conhecimento de assuntos científicos tratados pelos meios de comunicação (base: 2.002 entrevistas) Tema Mudanças climáticas/ efeito de estufa Não sei nada /quase nada sobre o assunto Conheço pouco / apenas por ouvir falar Conheço bastante sobre o assunto Conheço bem o assunto e procuro estar atualizado 24% 59% 14% 3% Informática e tecnologia 26% 48% 21% 6% Poluição/ uso de recursos naturais/ biodiversidade Evolução das espécies; origem da vida Cura de doenças/ novos medicamentos 27% 52% 17% 4% 31% 51% 16% 3% 31% 55% 12% 2% Fontes de energia renováveis 35% 48% 14% 2% Animais pré-históricos, fósseis e descobertas arqueológicas Engenharia genética/ organismos geneticamente modificados/ transgênicos História do desenvolvimento científico Exploração do universo/ buracos negros/ quedas de asteroides 38% 49% 11% 2% 47% 43% 8% 2% 48% 42% 8% 2% 50% 41% 8% 2% Robótica e nanotecnologia 61% 32% 6% 2% Em síntese: Pode-se constatar que em nenhum dos temas citados a proporção de pessoas entre 15 e 40 anos residente nas 9 regiões metropolitanas brasileiras que diz conhecer o assunto para além de noções gerais chega aos 30%. Com efeito, mesmo considerando o assunto citado mais frequentemente como sendo conhecido Informática e Tecnologia a proporção dos que afirmam conhecê-lo bastante ou bem é, respectivamente, de 21% e 6% (27% no total), como indicado na Tabela 5. Por outro lado, observa-se que a maioria dos assuntos tratados conta com algum nível de interesse por parte da maioria das pessoas. Quanto às fontes de informação utilizadas para informar-se sobre assuntos do campo científico fica evidente a importância do papel dos meios de comunicação e em particular os jornais e as revistas, citados respectivamente por 50% e 40% dos entrevistados: 22

Fontes de informação para temas de natureza científica Total Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 BASE 2002 314 961 624 103 Jornais impressos ou na internet 50% 36% 45% 62% 80% Revistas impressas ou na internet 40% 27% 36% 49% 57% Livros (literatura, autoajuda, religiosos ) 28% 21% 23% 36% 43% Livros sugeridos pela escola / faculdade / programas de treinamento empresarial 20% 12% 17% 27% 32% Livros e manuais técnicos 16% 9% 15% 22% 23% Revistas e artigos especializados na área científica, impressos ou na internet 15% 7% 12% 21% 28% Blogs / sites especializados 12% 7% 9% 16% 22% Programas de TV especializados 14% 11% 11% 18% 27% Artigos acadêmicos no campo da ciência 8% 4% 6% 12% 18% Programas de rádio especializados 6% 4% 6% 8% 9% A contribuição e os limites da ciência bem como seu papel estratégico para o país Ainda avaliando aspectos atitudinais com relação à Ciência, mais um grupo de alternativas foi apresentado aos participantes entre 15 e 40 anos entrevistados para esta primeira edição do ILC nas 9 regiões metropolitanas do país, desta vez abordando questões relacionadas às contribuições da ciência no campo do desenvolvimento economico e social. A tabela abaixo traz a síntese das respostas: O(a) sr(a) concorda totalmente, concorda em parte, não concorda nem discorda, discorda em parte ou discorda totalmente que: Um país que não investe em ciência será cada vez mais dependente de interesses estrangeiros O governo deveria investir mais na ciência, pois ela tem importância estratégica para o país O progresso científico e tecnológico traz benefícios econômicos e /ou sociais A ciência é a base da inovação, fator essencial para promover o progresso As empresas privadas são as principais responsáveis pelos avanços da ciência no mundo Em alguns campos a ciência brasileira tem condições de competir com a do primeiro mundo O dinheiro usado na pesquisa científica e tecnológica deve ser destinado para outras finalidades sociais Contribuições e limites da ciência (base: 2.002 entrevistas) Concordo totalmente Concordo em parte Não concordo nem discordo Discordo em parte Discordo totalmente 23 Não Sabe / NR 49% 28% 15% 5% 2% 2% 48% 29% 15% 5% 2% 1% 45% 33% 13% 4% 1% 3% 45% 34% 13% 4% 1% 2% 31% 33% 18% 7% 4% 6% 31% 33% 16% 9% 7% 4% 21% 32% 18% 14% 12% 2%