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Transcrição:

RPCV (2004) 99 (550) 93-98 Composição em ácidos graxos e rendimento de filé de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) alimentada com dietas contendo tanino a Fatty acid composition and filet yield of Nile tilapia (Oreochromis niloticus) fed with diets containing tannin Felipe Shindy Aiura b e Maria Regina Barbieri de Carvalho c FCAV/UNESP Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº. Departamento de Tecnologia, CEP:14884-900 Jaboticabal, SP, Brasil Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do tanino sobre a composição em ácidos graxos e rendimento de filés de tilápia do Nilo. Foram utilizados 72 exemplares com peso médio de 400 g, que haviam sido alimentados durante 90 dias com rações elaboradas com milho (T1), sorgo (30%) variedades baixo (T2) e alto (T3), tanino e ácido tânico nos níveis 0,08% (T4), 0,34% (T5) e 0,60% (T6). Os peixes foram abatidos por choque térmico. A filetagem foi realizado após retirada da pele separando-se a musculatura dos ossos da coluna vertebral, a partir da região dorsal em direção à ventral. A utilização de 0,60% de ácido tânico na dieta proporcionou filés com menor teor de gordura, maior concentração de proteína e maior rendimento. Dentre os ácidos graxos saturados, o palmítico foi obtido em maior concentração nos filés em todos os tratamentos. Os ácidos graxos insaturados mais abundantes da fração lipídica dos filés foram oléico e o linoléico. A porcentagem dos poliinsaturados para os tratamentos contendo 0,08% e 0,60% de ácido tânico foram 26,02% e 29,99%, respectivamente. Conclui-se que as fontes e níveis de tanino propiciaram rendimentos semelhantes e não interferiram no perfil de ácidos graxos muscular. Summary: The objective of this study was to evaluate the effect of tannin on the fatty acid composition and filet yield of Nile tilapia. Seventy-two animals with initial weigh of 400 g were utilized, that had been fed during 90 days with diets containing: corn (T1), sorghum (30%) low (T2) and high (T3), tannin variety and tannic acid levels of 0.08% (T4), 0.34% (T5) and 0.60% (T6). The fishes were slaughtered by thermal shock. The filleting was done after removal of the skin, separating muscles from the spine bones, from dorsal towards the ventral region. The diet with 0.60% of tannic acid propitiated filet with smaller fat levels, bigger protein concentration and larger yield than the other treatments. Among the saturated fatty acids, the palmitic was obtained in high concentration on filet in all of the treatments. The most abundant unsaturated fatty acids of the lipidic fraction of the filets were the oleic and linoleic. The percentage of the poliy-unsatured for the treatments containing 0.08% and 0.60% of tannic acid were 26.02% and 29.99%, respectively. It follow that the sources and tannin levels propitiated similar incomes and they did not interfere in the profile of muscular fatty acids. a Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor. Projeto financiado pelo CNPq. b Zootecnista, Mestre, Pós-graduando em Zootecnia, FCAV/UNESP, e-mail: f_aiura@bol.com.br c Professora do Departamento de Tecnologia, FCAV/UNESP e-mail: mrbcar@fcav.unesp.br Introdução Entre as espécies de peixes cultivadas no Brasil, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) tem despertado grande interesse, sendo incorporada de forma volumosa à produção aquícola. É uma espécie exótica e possui grandes atributos para a exploração intensiva, como resistência a manejo, alta produtividade por superfície explorada e aceitação à grande variedade de alimentos (Kubitza e Kubitza, 2000). A carne é de sabor agradável e com rendimento de filé de aproximadamente 35 a 40% em exemplares de peso comercial de 400 g (Hilsdorf, 1995). Um destaque da carne de peixe é a sua baixa quantidade de gordura entre as fibras musculares. Entretanto, outras partes da carcaça apresentam considerável adiposidade, principalmente nos tecidos viscerais, o que tem levado a indústria piscícola a buscar soluções mais efetivas tanto do ponto de vista econômico quanto de saúde do consumidor. De acordo com Meurer et al. (2002) o excesso de gordura na carcaça não é uma característica desejável, devendo manter-se em um nível que não afete as características organolépticas da carne. Ainda, o excesso de gordura acumulada na cavidade abdominal pode diminuir a porcentagem de rendimento de filé e consequentemente o valor comercial do peixe. Uma característica da fração lipídica dos peixes é o seu alto teor em ácidos graxos insaturados, que apesar de ser uma vantagem nutricional, apresenta maior predisposição à rancidez oxidativa. Os ácidos graxos da gordura dos peixes de água doce são provenientes dos ingeridos na dieta e das modificações fisiológicas (Henderson e Tocher, 1987; Huang et al., 1998). O interesse nos alimentos que contêm ácidos graxos poliinsaturados tem sido relevante, devido à influência na prevenção de doenças cardíacas. Os peixes marinhos contêm relativamente grandes quantidades de ácidos graxos poliinsaturados n-3, em relação aos de água doce (Andrade et al., 1995). Entretanto estes são capazes de 93

Aiura, F. S. e Carvalho, M. R. B. RPCV (2004) 99 (550) 93-98 alongar e dessaturar ácidos graxos de cadeia curta em ácidos graxos de cadeia longa de interesse nutricional como os ácidos eicosapentaenóico (EPA) e o docosahexaenóico (DHA) (Bell et al., 1986). A composição de ácidos graxos do tecido muscular de três espécies brasileiras de peixes de água doce foram avaliados por Moreira et al. (2001). Todas as espécies apresentaram predominantemente ácido oléico (38,3 47,8%), seguido do ácido palmítico (8,32 15,61%) e do ácido esteárico (9,32 15,61%). As quantidades de ácidos graxos poliinsaturados n-3 obtidos para a piraputanga (Brycon microlepis), para piracanjuba (B. orbignyanus) e para matrinxã (B. cephalus) foram respectivamente 3,61%, 3,06% e 1,68%. Os teores de ácidos graxos, expressados em porcentagem do lipídio total do músculo de tilápia híbrida (Oreochromis niloticus x O. aureus) alimentadas com várias fontes de lipídios, foi avaliada por Huang et al. (1998). Verificaram que a composição em ácidos graxos muscular refletiu a composição do lipídio dietário. A porcentagem de ácido linoléico (17,2%) foi maior no músculo dos peixes alimentados com dieta contendo óleo de soja e a porcentagem de DHA (docosahexaenóico) foi 3,8%. Um aspecto a ser considerado na exploração piscícola é o custo atribuído ao alimento consumido pelos peixes, tornando necessária uma busca constante de ingredientes alimentícios alternativos que possam atender aos anseios biológicos e econômicos (Pezzato, 2002). O sorgo apresenta-se como ingrediente promissor para a inclusão em rações para peixes. A presença de compostos fenólicos como os taninos deprecia o valor nutricional do alimento, pois quando incorporados às rações ou usado como alimento suplementar diminuem o desempenho dos peixes. No entanto, os taninos possuem numerosas qualidades bioquímicas que podem ser exploradas em sistemas biológicos e alimentares. Menor deposição lipídica nas carcaças e vísceras do piauçu (Leporinus macrocephalus) foram observados por Pinto et al. (2001), supondo apropriada a utilização de baixos níveis de tanino condensado em rações de acabamento para a obtenção de animais mais magros. A quantidade de lipídio muscular da tilápia do Nilo não foi alterada quando alimentada com dietas contendo sorgo variedades alto e baixo tanino, conforme verificado por Freire (2002). Observou, ainda, que na dieta contendo variedade alto tanino suplementada com 0,9% de metionina os peixes apresentaram maior quantidade de lipídio total muscular, indicando que a metionina ameniza o efeito do tanino nas dietas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do tanino sobre o perfil de ácidos graxos e rendimento de filés de tilápia do Nilo. Material e métodos O experimento foi conduzido no CEPTA/IBAMA, Centro Nacional de Pesquisa de Peixes Tropicais, Pirassununga, SP, no período de Fevereiro a Maio de 2002. Foram utilizados 342 exemplares da espécie tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), com peso médio inicial de 120 g. Os peixes foram distribuídos em 18 unidades experimentais, constituídas de tanques com aproximadamente 4 m 3 com vazão de 33 litros por minuto, sendo que cada unidade experimental recebeu 19 peixes. Os peixes foram alimentados com rações isocalóricas e isoprotéicas elaboradas com milho, farelo de soja, farelo de trigo, farinha de peixe, suplemento mineral e vitamínico Supremais, sorgo com alto e baixo tanino (tanino condensado) e ácido tânico (tanino hidrolisável), constituindo os seis tratamentos (Tabela 1). O sorgo substituiu o milho totalmente, e os níveis de ácido tânico adicionados foram 0,08%, 0,34% e 0,60% aproximando-se da quantidade de tanino fornecida pelo sorgo variedade baixo tanino (0,087%), sorgo variedade alto tanino (0,57%) e um nível intermediário utilizado para efeito de comparação. O alimento foi fornecido à vontade, durante 90 dias quando os peixes atingiram peso médio de 400 g. Após jejum por 24 horas os peixes foram pesados e 72 exemplares separados para filetagem, sendo 12 por tratamentos e distribuídos em caixas isotérmicas contendo água e gelo (1:1) para abate por choque térmico. Em seguida foram transferidos para caixas isotérmicas contendo gelo e transportados diretamente ao Matadouro Escola da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP, Pirassununga, SP. O processo de filetagem foi realizado após retirada da pele separando-se a musculatura dos ossos da coluna vertebral, a partir da região dorsal em direção a ventral, tomando-se o cuidado de não romper a cavidade abdominal, evitando a contaminação dos filés pelo próprio conteúdo intestinal. Parâmetros avaliados Foram utilizados 12 peixes por tratamento, sendo quatro de cada unidade experimental para avaliações do rendimento e composição do filé. A composição em proteína bruta, lipídio total e em ácidos graxos foi determinada após a homogeneização dos filés de cada unidade experimental. A análise de proteína seguiu as normas da Association of Official Analytical Chemists (1995). A extração de lipídios para determinação de lipídio total e ácidos graxos foi realizada através do método descrito por Bligh e Dyer (1959) e a metilação dos ácidos graxos foi realizada conforme procedimento descrito por Maia e Rodrigues-Amaya (1993). Para determinação do perfil de ácidos graxos utilizou-se o cromatógrafo a gás GC- 14B Shimadzu e uma coluna capilar Omegawax 250 (30 m x 0,25 mm x 0,25 µm). O hidrogênio foi utilizado como gás de arraste, em 40 cm/seg. A temperatura inicial da coluna, de 50 ºC por 2 minutos, elevou-se, 4 ºC por minuto, até 220 ºC, permanecendo nesta tempe- 94

Aiura, F. S. e Carvalho, M. R. B. RPCV (2004) 99 (550) 93-98 Tabela 1 - Ingredientes e composição químico-bromatológica das rações experimentais. Tratamento Ingrediente Cont(1) SBT(2) SAT(3) AT-0,08(4) AT-0,34(5) AT-0,60(6) Ácido tânico ---- ---- ---- 0,08 0,34 0,60 Milho 30 ---- ---- 30 30 30 Sorgo ---- 30 30 ---- ---- ---- Farelo de trigo 4,4 4,9 4,9 4,32 4,06 3,8 Farelo de soja 51,5 52,0 52,0 51,5 51,5 51,5 Farinha de peixe 10 9 9 10 10 10 Óleo de soja 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 Suplemento vit. min.(7) 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 Total 100 100 100 100 100 100 Composição Proteína bruta (%) 31,96 32,03 32,03 31,95 31,90 31,86 Energia bruta (Kcal/kg) 4291 4295 4295 4288 4277 4267 EB:PB (8) 134 134 134 134 134 133 Extrato etéreo 6,48 6,44 6,44 6,48 6,47 6,46 Fibra bruta 4,44 4,56 4,56 4,43 4,40 4,38 Lisina 2,14 2,08 2,08 2,14 2,13 2,13 Metionina 0,61 0,58 0,58 0,61 0,61 0,61 Cálcio 0,79 0,72 0,72 0,79 0,79 0,79 Fósforo disponível 0,73 0,65 0,65 0,72 0,72 0,72 Taninos hidrolisáveis ---- ---- ---- 0,08 0,34 0,60 Taninos condensados (9) ---- 0,087 0,57 ---- ---- ---- 1 - Cont = Controle; 2 - SBT = sorgo baixo tanino; 3 - SAT = sorgo alto tanino; 4 - AT-0,08 = ácido tânico 0,08%; 5 - AT-0,34 = ácido tânico 0,34%; 6 - AT-0,60 = ácido tânico 0,60%; 7 - Suplemento vitamínico e mineral (Supremais); Ingredientes/kg: A=1.200.000 UI; D3=200.000 UI; E=12.000 mg; K3=2.400 mg; B1=4.800 mg; B2=4.800 mg; B6=4.000 mg; B12=4.800 mg; ác. fólico=1.200 mg; pantotenato de Ca=12.000 mg; C=48.000 mg; Biotina=48 mg; Colina=65.000 mg; Niacina=24.000 mg; Fe=10.000 mg; Cu=600 mg; Mn=4.000 mg; Zn=6.000 mg; I=20 mg; Co=2 mg e Se=20 mg.; 8 - Energia bruta:proteína bruta; 9 - Equivalente de catequina. ratura por mais de 25 minutos. A temperatura do injetor foi de 250 ºC e a do detector 280 ºC. Foram injetados 2 µl de amostra e utilizou-se padrão de ácidos graxos Sigma 189-19. O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado com seis tratamentos e três repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância utilizando-se o programa SAS (1995). Para a comparação entre os tratamentos compostos por diferentes fontes de tanino e níveis de ácido tânico, utilizou-se o teste F para contrastes ortogonais para a composição e rendimento de filé e o teste de Tukey para perfil de ácidos graxos. Para avaliação dos níveis de ácido tânico utilizou-se análise de regressão para os teores de lipídio total e proteína bruta. Resultados Os valores médios para a percentagem em proteína bruta, lipídio total e rendimento de filés dos peixes nos diferentes tratamentos estão apresentados na Tabela 2. Observou-se diferenças significativas (p<0,01) para os valores de proteína bruta e lipídio total. A percentagem de proteína bruta dos filés dos peixes alimentados com dietas contendo tanino assemelhou-se ao controle. No entanto, as fontes de tanino utilizadas interferiram significativamente (p<0,01) na quantidade de proteína muscular, cujos maiores valores foram Tabela 2 - Valores médios de proteína bruta (PB) e lipídio total (LT) muscular e rendimento de filé de tilápia do Nilo alimentada com dietas contendo sorgo e ácido tânico. Estatística Variáveis PB (%) LT (%) Rendimento (%) Controle 18,0 ± 0,20 3,0 ± 0,31 35,4 ± 0,74 SBT 17,3 ± 0,14 4,2 ± 0,41 36,0 ± 1,26 SAT 17,8 ± 0,43 3,7 ± 0,21 36,1 ± 1,33 AT 0,08% 17,3 ± 0,60 4,1 ± 0,49 35,2 ± 1,03 AT 0,34% 17,6 ± 0,06 3,9 ± 0,33 35,9 ± 1,40 AT 0,60% 19,4 ± 0,80 3,5 ± 0,16 36,4 ± 1,31 F para tratamentos Controle vs Demais 6,50** 6,53** 1,31 0,15 21,11** 1,37 Sorgo vs AT 4,12** 0,28 0,48 SBT vs SAT 1,45 3,85 0,08 AT (Efeito linear) 22,91** 7,02* 4,61* AT (Efeito Quadrático) 3,85 0,37 0,20 95

Aiura, F. S. e Carvalho, M. R. B. RPCV (2004) 99 (550) 93-98 proporcionados pelos níveis mais altos de tanino. Entre as variedades de sorgo analisadas as diferenças observadas não foram significativas, mas entre os níveis de ácido tânico, o efeito foi linear inferindo o aumento na deposição de proteína no filé com elevação dos níveis na ração. A maior percentagem de proteína foi obtida com 0,60% de ácido tânico (p<0,01). Os tratamentos influenciaram os teores de lipídio total dos filés (p<0,01), havendo menor deposição para o tratamento controle em relação aos demais (p<0,01). As fontes de tanino (hidrolisáveis e condensados) não interferiram na concentração de lipídio muscular, situação esta também observada entre as variedades de sorgo. A exemplo do verificado para a proteína bruta houve interação significativa (p<0,05) para níveis de ácido tânico, observando-se decréscimo no acúmulo de gordura com o aumento da concentração de ácido tânico na ração. A menor deposição foi verificada para o nível de 0,6% (p<0,05). Para os valores de rendimento de filé dos peixes não houve diferença estatística entre os tratamentos. Entre os níveis de ácido tânico verificou-se efeito linear (p<0,05) para o rendimento de filé, sendo que o nível de 0,60% levou à obtenção de filés mais pesados em proporção ao peso corporal. A composição em ácidos graxos dos filés estão apresentados na Tabela 3. A concentração de ácidos graxos saturados (AGS) variou de 33,85% (dieta contendo 0,60% de ácido tânico) a 37,05% (dieta com 0,08% de ácido tânico), havendo predominância do ácido palmítico (C16:0) em todos os tratamentos (p>0,05), variando de 25,79% (dieta contendo 0,60% de ácido tânico) a 28,12% (dieta com 0,08% de ácido tânico). Os ácidos graxos insaturados constituíram a maior porcentagem da fração lipídica dos filés e os mais abundantes foram oléico (C18:1 n 9) e o linoléico (C18:2 n 6). A porcentagem dos poliinsaturados (AGPI) variou de 26,02% a 29,99%, respectivamente, para os tratamentos contendo 0,08% e 0,60% de ácido tânico. Dentre os ácidos graxos insaturados de cadeia longa a maior quantidade foi observada para o docosahexaenóico (DHA C22:6 n-3). Discussão A quantidade de proteína muscular foi influenciada pelas fontes de tanino utilizadas, proporcionando maiores valores pelos níveis mais altos de tanino. A maior percentagem de proteína foi obtida com o maior nível de ácido tânico. A influência da concentração de tanino no teor de proteína da carcaça do piauçu (r = 0,82*) também foi observada por Pinto et al. (2001). Os teores de lipídio total dos filés foram afetados pelos tratamentos contendo tanino, sendo superiores ao con- Tabela 3 - Composição em ácidos graxos (%) do músculo de tilápia do Nilo alimentada com dietas contendo sorgo e níveis de ácido tânico. Ácido Graxo Tratamento Cont (1) SBT (2) SAT (3) AT-0,08 (4) AT-0,34 (5) AT-0,60 (6) C14:0 2,78±0,25 3,01±0,98 3,04±0,28 3,04±0,08 3,15±0,09 2,80±0,06 C16:0 26,10±0,11 26,33±0,99 27,08±0,93 28,12±0,88 27,31±1,43 25,79±0,75 C16:1 5,68±0,02 6,18±0,45 6,28±0,15 5,95±0,44 6,11±0,36 5,95±0,02 C18:0 5,41±0,02 5,20±0,39 5,48±0,24 5,86±0,04 5,33±0,30 5,34±0,17 C18:1 n 9 29,44±0,36 30,72±0,37 29,97±0,51 29,76±0,51 29,91±1,03 29,02±0,68 C18:2 n 6 22,85±0,11 21,73±0,52 21,57±1,10 20,64±1,02 22,07±2,21 23,32±0,49 C18:3 n 6 1,03±0,05 1,05±0,06 0,97±0,03 0,93±0,01 0,99±0,09 1,07±0,06 C18:3 n 3 1,69±0,05 1,68±0,06 1,63±0,07 1,54±0,09 1,57±0,14 1,68±0,05 C20:1 n 9 1,25±0,03 1,29±0,08 1,31±0,10 1,22±0,08 1,27±0,01 1,21±0,13 C20:2 1,22±0,12 1,22±0,15 1,16±0,12 1,17±0,13 1,23±0,16 1,43±0,26 C22:6 n 3 2,30±0,21 2,03±0,45 2,08±0,29 1,83±0,32 1,57±0,34 2,47±0,51 AGPI 29,11±0,13 27,71±1,08 27,42±0,90 26,02±1,04 27,39±1,82 29,99±1,04 AGS 34,30±0,34 34,54±1,56 35,34±1,33 37,05±0,94 35,64±1,73 33,85±0,85 n-6 23,88±0,06 22,79±0,57 22,54±1,12 21,57±1,01 23,06±1,30 24,39±0,54 n-3 4,01±0,05 3,71±0,39 3,72±0,39 3,28±0,26 3,09±0,22 4,16±0,29 AGPI/AGS 0,85±0,01 0,80±0,03 0,78±0,04 0,70±0,01 0,77±0,02 0,89±0,03 n-3/n-6 0,16±0,00 0,16±0,01 0,16±0,01 0,15±0,01 0,13±0,01 0,17±0,01 1 Cont = Controle; 2 SBT = sorgo baixo tanino; 3 SAT = sorgo alto tanino; 4 AT-0,08 = ácido tânico 0,08%; 5 AT-0,34 = ácido tânico 0,34%; 6 AT-0,60 = ácido tânico 0,60%. 96

Aiura, F. S. e Carvalho, M. R. B. RPCV (2004) 99 (550) 93-98 trole. Estes resultados são discordantes com os de Freire (2002) que não observou diferença significativa entre a dieta controle e dietas contendo sorgo, nem interação significativa entre variedades de sorgo, para lipídio muscular da tilápia. A exemplo do verificado para a proteína bruta o maior nível de ácido tânico afetou o lipídio muscular, observando-se decréscimo no acúmulo de gordura com o aumento da concentração de ácido tânico na ração. Considerando os tratamentos com ácido tânico constatou-se através da análise de regressão que as médias para teores de lipídio total e proteína bruta tiveram tendência linear decrescente com coeficiente de correlação de 98%. Assim, os filés com menos gordura, proporcionalmente apresentaram maior concentração de proteína. O rendimento de filé dos peixes foi semelhante entre os tratamentos, indicando que as fontes de tanino e as variedades de sorgo utilizadas proporcionaram quantidades de massa muscular semelhantes, em relação ao peso corporal. O rendimento de filés dos peixes, com peso médio de 400 g, obtido neste estudo foi considerado bom, se comparado com Ribeiro et al. (1998) que obtiveram rendimento de 31, 89% para tilápias pesando entre 351 g e 550 g. O rendimento de filés para esta espécie variou de 25,4% a 42% segundo Clemente e Lovell, (1994); Contreras-Guzmán, (2002) e de 32,15% a 40,39% para tilápia do Nilo pesando entre 250 g e 450 g conforme Macedo-Viegas et al. (1997). Entre os níveis de ácido tânico, o de 0,60% levou à obtenção de filés mais pesados em proporção ao peso corporal. Embora sem diferença estatística entre os tratamentos contendo tanino, os maiores rendimentos de filés foram obtidos para os contendo maiores concentrações de taninos, os quais foram acompanhados por menores deposições de gordura e maiores concentrações de proteína muscular. Dentre os ácidos graxos saturados (AGS), variando de 33,85% a 37,05%, houve predominância do ácido palmítico (C16:0) em todos os tratamentos. Este ácido graxo também foi encontrado em maior quantidade entre os saturados em três espécie brasileiras de peixe de água doce por Moreira et al. (2001) e em tilápia por Rahman et al. (1995) e Justi et al. (2003). Os ácidos graxos insaturados constituíram a maior porcentagem da fração lipídica dos filés e os mais abundantes foram oléico (C18:1 n 9) e o linoléico (C18:2 n6). A porcentagem dos poliinsaturados (AGPI) variou de 26,02% a 29,99%, respectivamente, para os tratamentos contendo 0,08% e 0,6% de ácido tânico. Esses valores apresentaram-se superiores aos obtidos por Rahman et al. (1995) que encontraram 18,40% para a tilápia e inferiores aos de Andrade et al. (1995) e Justi et al. (2003) que obtiveram 38,57% e 55,60%, respectivamente. A alta concentração de ácidos graxos poliinsaturados torna os filés mais susceptíveis à peroxidação lipídica (Huang et al., 1998). A composição em ácidos graxos dos filés refletiu a composição lipídica do óleo de soja, usado como fonte energética da dieta, cujos ácidos graxos predominantes são palmítico (12%), o oleico (21,5%) e linoleico (55,1%), conforme Huang et al. (1998), o que confirma as observações de Skonberg et al. (1994) e Xu et al. (1996). Dentre os ácidos graxos insaturados de cadeia longa a maior quantidade foi observada para o docosahexaenóico (DHA C22:6 n/3). Embora sem diferenças significativas entre as dietas, o maior nível de ácido tânico proporcionou o maior teor de DHA. Os resultados foram superiores aos obtidos por Andrade et al. (1995) que obtiveram 0,94% de DHA para tilápia do Nilo, aos de Moreira et al. (2001) cujos valores apresentaram-se inferiores a 1,60% e de Justi et al. (2003) o qual foi menor que 0,3%. Apesar da tilápia, particularmente, não requerer ácidos graxos poliinsaturados na dieta (Takeuchi e Watanabe, 1983; Kanazawa et al., 1980), filés de tilápia com maior quantidade destes ácidos aumentaria sua popularidade entre os consumidores (Huang et al., 1998), devido aos benefícios contra doenças cardiovasculares e inflamatórias (Visentainer et al., 2000). A relação n-3/n-6 para os tratamentos foi inferior a encontrada para peixes de água doce, a qual varia de 0,5 a 3,8 conforme Henderson e Tocher, (1987). No entanto a relação aproximou-se da obtida por Maia et al. (1992) para filés de tambaqui. Analisando a relação ácidos graxos poliinsaturados/ácidos graxos saturados (AGPI/ AGS) verificou-se que os valores apresentaram-se superiores a mínima recomendada de 0,45 pelo Departamento de Saúde (HMSO, 1994) e, apesar dos valores não diferirem entre os tratamentos, a maior relação foi observada para o tratamento contendo 0,60% de ácido tânico. Apesar das fontes e níveis de tanino não interferirem significativamente no perfil de ácidos graxos, é interessante considerar a ação dos taninos, inferindo a possibilidade de uso de alimentos alternativos que os contem na alimentação dos peixes, propiciando a obtenção de animais com menor deposição de gordura muscular. Neste estudo a utilização de 0,60% de ácido tânico na dieta proporciona filés com menor conteúdo de gordura, maior concentração de proteína e maior rendimento. As fontes e níveis de tanino não interfere no perfil de ácidos graxos muscular, havendo tendência de melhores relações de ácidos graxos poliinsaturados/saturados para o maior nível de ácido tânico utilizado na ração. Bibliografia Andrade, A.D., Rubira, A.F., Matsushita, M. (1995). Omega-3 fatty acids in freshwater fish from south Brazil. American Oil Chemists Society, 72, 1207-1210. Association of Official Analytical Chemists (1995). Official Methods of Analysis. 16 ed. Washington: AOAC, Vol. II. Bell, M.V., Henderson, R.J., Sargent, J.R. (1986). The role of polyunsaturated fatty acids in fish. Comparative Biochemistry and Physiology, 83B, 711-719. Bligh, E.G., Dyer, W.J. (1959). A rapid method of total lipid extraction and purification. Canadian Journal Biochemistry and Physiology, 37, 911-917. Clement, S., Lovell, R.T. (1994). Comparison of processing 97

Aiura, F. S. e Carvalho, M. R. B. RPCV (2004) 99 (550) 93-98 yield and nutrient composition of culture Nile tilapia (Oreochromis niloticus) and channel catfish (Ictalurus punctatus). Aquaculture, 119, 299-310. Contreras-Guzmán, E.S. (2002). Bioquímica de pescados e invertebrados. Santiago: Centro de Estudios en Ciencia y Tecnologia de Alimentos. Universidad de Santiago de Chile, 309p. Freire, E.D. (2002). Avaliação biológica de sorgo alto e baixo tanino por meio do desempenho e digestibilidade em tilápia do Nilo. 65 p. Dissertação (Mestrado em Nutrição e Produção Animal) UNESP (Universidade Estadual Paulista), Botucatu. Henderson, R.J., Tocher, D.R. (1987). The lipid composition and biochemistry of freshwater fish. Journal Progress Lipid Research, 20, 281-346. Hilsdorf, A.W.S. (1995). Genética e cultivo de tilápias vermelhas: uma revisão. Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo, 22, 73-84. HMSO (1994). Nutritional aspects of cardiovascular disease. Report on health and social subjects. nº 46. London: HMSO, Department of Health. Huang, C.H., Huang, M.C., Lee, A.C. (1998). Characteristics of lipid peroxidation in sarcoplasmic reticulum of tilapia. Food Science, 25, 104-108. Justi, K.C., Hayashi, J.V., Visentainer, N.E., Souza, N.E., Matsushita, M. (2003). The influence of feed supply time on the fatty acid profile of Nile tilapia (Oreochromis niloticus) fed on a diet enriched with n-3 fatty acids. Food Chemistry, 80, 489-493. Kanazawa, A., Teshima, S., Sakamoto, M. (1980). Requirements of tilapia zillii for essential fatty acid. Bulletin Japan Society Science Fish, 46, 1353-1356. Kubitza, F., Kubitza, L.M.M. (2000). Qualidade da água, sistemas de cultivo, planejamento da produção, manejo nutricional e alimentar e sanidade. Panorama da Aquicultura, 10, 44-53. Macedo-Viegas, E.M., Souza, M.L.R., Kronka, S.N. (1997). Estudo da carcaça da tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) em quatro categorias de peso. Revista UNIMAR, 19, 863-870. Maia, E.L., Rodrigues-Amaya, D.B., Franco, M.R.B. (1992). Fatty acid composition of the total, neutral and phospholipids of the brazilian freshwater fish Colossoma macropomum. Food Scince Human Nutrition, 633-642. Maia, E.L., Rodrigues-Amaya, D. (1993). Avaliação de um método simples e econômico para metilação de ácidos graxos com lipídios de diversas espécies de peixes. Revista do Instituto Adolfo Lutz, 53, 27-35. Meurer, F., Hayashi, C., Boscolo, W.R., Soares, C.M. (2002). Lipídeos na alimentação de alevinos revertidos de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Revista Brasileira de Zootecnia, 31, 566-573. Moreira, A.B., Visentainer, J.V., Souza, N.E., Matsushita, M. (2001). Fatty acids profile and cholesterol contents of three brazilian Brycon freshwater fishes. Journal of Food Composition Analysis, 14, 565-74. Pezzato, L.E., Carvalho, M.E., Pezzato, A.C., Barros, M.M., Pinto, L.G.Q. (2002). Digestibilidade aparente de ingredientes pela tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Revista Brasileira de Zootecnia, 4, 1595-1604. Pinto, L.G.Q., Pezzato, L.E., Miranda, E.C., Barros, M.M. (2001). Desempenho do piauçu (Leporinus macrocephalus) arraçoado com dietas contendo diferentes níveis de tanino. Revista Brasileira de Zootecnia, 30, 1164-1171. Rahman, S.A., Huah, T.S., Hassan, O., Daud, N.M. (1995). Fatty acid composition of some Malaysian freshwater fish. Food Chemistry, 54, 45-49. Ribeiro, L.P., Lima, L.C., Turra, E.M. (1998). Efeito do peso e do operador sobre o rendimento de filé em tilápia vermelha Oreochromis spp. In: AQUICULTURA BRASIL 98, Recife. Anais Recife: SIMBRAQ, 2, 773-778. SAS (1995). User s guide, Version 6, 4ª ed. Cary: SAS/STAT, SAS Institute Inc. 365p. Skonberg, D.I., Rasco, B.A., Dong, F.M. (1994). Fatty acid composition of salmonid muscle changes in response to a high oleic acid diet. Journal of Nutrition., 124, 1628-1638. Takeuchi, T., Watanabe, T. (1983). Requirement of tilapia nilotica for essencial fatty acids. Bulletin Japan Society Science Fish, 49, 1127-1134. Visentainer, J.V., Carvalho, P.O., Ikegaki, M., Park, Y.K. (2000). Concentração de ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA) em peixes marinhos da costa brasileira. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 20, 90-93. Xu, R., Hung, S.S.O., German, J.B. (1996). Effects of dietary lipids on the fatty acid composition of triglycerides and phospholipids in tissue of white sturgeon. Aquaculture Nutrition, 2, 101-109. 98