6º ao 9º ano. Agricultura familiar: garantindo uma alimentação segura, saudável e sustentável



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Transcrição:

6º ao 9º ano Agricultura familiar: garantindo uma alimentação segura, saudável e sustentável

Sim, queremos comida! Há 10 mil anos, em diferentes pontos do planeta, aconteceu uma revolução que mudou completamente a forma do ser humano ocupar a Terra. Nessa época, nossos ancestrais aprenderam a plantar e a colher e, com isso, não precisaram mais se mudar atrás de alimento. O surgimento da agricultura traçou novos rumos para a história humana e, séculos depois, ainda tentamos entender e lidar com os ecos dessa revolução. O impacto ambiental das atividades agrícolas é só uma ponta do desafio que temos em nossas mãos. Ao mesmo tempo em que parecemos dominar a natureza, com todo o nosso avanço tecnológico, ainda fracassamos na necessidade mais básica: somos 7,2 bilhões de pessoas na Terra, mais de 800 milhões passam fome. Não falta comida. Os alimentos produzidos no mundo são suficientes para alimentar todas as pessoas. Mas a comida não chega a todos. Seria irônico, se não fosse trágico. Nesta cartilha, você vai fazer um passeio pela agricultura, pelas técnicas que envolve, pelos problemas que enfrenta e que causa. Você vai entender que resolver a questão da fome passa por acabar com a pobreza e com a desigualdade. Vai ver também que, no cenário de insegurança alimentar, um modelo desponta como parte da solução: a agricultura familiar. Responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, a agricultura familiar cria oportunidades de trabalho e renda no campo, gera alimentos mais saudáveis e coloca a produção mais perto de mais pessoas. E então, vamos começar? Agricultura é o conjunto de técnicas utilizadas para cultivar a terra, com o objetivo de produzir vegetais. Além de alimentos, a agricultura é fonte de matéria-prima para diversos produtos, desde remédios, corantes, fibras, roupas, energia, ferramentas, látex e ceras, até flores e plantas ornamentais. Em reconhecimento ao papel fundamental que esse sistema agropecuário sustentável desempenha para a segurança alimentar no mundo, a ONU declarou 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar. 2 Ficha Técnica: Concepção, pesquisa e desenvolvimento editorial e gráfico: Mondana:IB Revisão: Fátima Caldas Assessoria e Consultoria de Língua Portuguesa Ilustrações: Vilmar Conrado Realização e Coordenação: Fundação ArcelorMittal Brasil www.famb.org.br impresso em papel reciclado

Assim caminhou a agricultura... 3 Caçar e colher O homem primitivo encontrava na natureza o que precisava para sobreviver, limitando-se a colher e a caçar. Quando os recursos se esgotavam, precisava procurar comida em outro lugar. Assim, a migração era uma regra. Surge a agricultura Há cerca de 10 mil anos, no período neolítico ou da pedra polida, alguns indivíduos perceberam que grãos enterrados no solo brotavam e davam origem a novas plantas iguais às que os originaram. Surgiu a agricultura. As primeiras formas de cultivo ocorreram perto de moradias e em terras naturalmente férteis, em vales de rios no Egito, na Mesopotâmia e na China. A vida muda Com a agricultura, as pessoas não precisaram mais se mudar porque passaram a ter uma fonte permanente de alimentos bastava plantar e colher. Os homens começaram a construir casas e aldeias e a domesticar animais para produzir leite e queijo. E o mundo muda O surgimento da agricultura foi a base para o desenvolvimento das civilizações. Mas, juntamente com a segurança e o progresso, vieram desafios que enfrentamos até hoje: desmatamento, disputa por terras, comércio, acumulação de recursos nas mãos de alguns, divisão de trabalho, desigualdades sociais... De lá pra cá, de cá pra lá Quando o homem começou a viajar pelo planeta, descobrir e conquistar novas terras, passou a levar plantas nativas de um lugar para outro. Da América, os espanhóis levaram para a Europa batata, tomate, milho e cacau. Do Brasil, os portugueses levaram para a África a mandioca; e, da Ásia, trouxeram o coco, que se espalhou pela costa do Nordeste brasileiro e se incorporou à nossa paisagem. Fonte: Pequenas histórias de plantar e de colher, Ruth Helena Bellinghini.

Agricultura familiar X agroindústria Você sabia que existem formas diferentes de praticar agricultura? Elas se distinguem por fatores como tamanho da propriedade, organização do trabalho e objetivos econômicos. Existe a agricultura industrial, ou agroindústria, que é aquela praticada por grandes produtores, em grandes propriedades, para produzir grandes volumes, geralmente, de uma mesma cultura. Usa trabalho assalariado e seu foco está na produtividade, com muito investimento em tecnologia. Já a agricultura familiar é aquela praticada em pequenas propriedades. A própria família trabalha na terra. A produção é diversificada, com o objetivo de alimentar e gerar renda para a família. Pela lei brasileira, o agricultor familiar é aquele que pratica atividades no meio rural, em área de até quatro módulos fiscais (20 a 400 hectares, conforme o município), conduzindo o próprio negócio e utilizando, predominantemente, mão de obra da família, podendo, eventualmente, ter ajuda de terceiros. A lei abrange também silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores. Qual modelo de agricultura é melhor? Os dois modelos são importantes, necessários e se complementam. A agroindústria gera impostos, empregos e produtos para exportação, tendo, por isso, um grande peso na balança comercial e, por consequência, no desenvolvimento econômico do país. A agricultura familiar, por sua vez, tem grande importância no abastecimento do mercado interno de alimentos. Suas práticas mais ecológicas de plantio asseguram produtos mais saudáveis e com menor impacto sobre o meio ambiente. Além disso, a agricultura familiar gera emprego e renda no campo, diminuindo a evasão rural. Então, nossa preocupação não deve ser discutir qual o melhor modelo, mas sim buscar formas de diminuir os impactos ambientais da agroindústria e incentivar o desenvolvimento da agricultura familiar, tornando-a mais competitiva e eficiente! 4

Muito mais do que plantar e colher A agricultura familiar vai muito além dos alimentos colhidos no campo. Ela inclui outras atividades praticadas na propriedade, que se traduzem em mais oportunidades de negócio para o agricultor. A criação de animais (para fornecer carne, ovos e leite), o artesanato, o turismo rural e a fabricação de produtos (como doces, queijos e linguiça) são alguns exemplos. Produtos da agricultura familiar no meu bairro! atividade Procure no seu bairro produtos que tenham vindo da agricultura familiar. Pesquise de onde eles vêm, como chegam ali e quem os vende. Troque informações com a sua turma. A união faz a força Associações e cooperativas ajudam a organizar a produção, agregar valor e facilitar a comercialização dos produtos de agricultores familiares. Por meio de uma associação, pode ficar mais barato comprar insumos, por exemplo. Uma associação pode viabilizar a aquisição de equipamentos caros, disponibilizando para o uso de todos máquinas e aparelhagem que, sozinhos, os agricultores não conseguiriam comprar. Unidos, os associados podem manter um armazém conjunto ou até montar uma linha para processar alimentos. Uma associação também pode organizar cursos de capacitação para os agricultores e articular parcerias comerciais. A agricultura familiar em números A agricultura familiar é responsável por: 87% da produção de mandioca 70% da produção de feijão 46% da produção de milho 38% da produção de café 34% da produção de arroz 21% da produção de trigo 59% do plantel de suínos 50% do plantel de aves 30% do plantel de bovinos 58% da produção de leite Além disso, 74% das pessoas que trabalham em agricultura no Brasil estão na agricultura familiar. São mais de 12 milhões de pessoas. Fonte: Censo Agropecuário Brasileiro, IBGE, 2006. 5

6 Alimentando a terra As plantas são seres autótrofos, ou seja, são capazes de produzir seu próprio alimento, sem depender de outro ser vivo para isso. Para se desenvolverem, retiram nutrientes do ar, da água e do solo. No ciclo natural, quando as plantas morrem, elas se decompõem e devolvem os nutrientes à terra, possibilitando que outras plantas os usem para crescer. No entanto, o ser humano interfere nesse ciclo, colhendo as plantações, e, com o passar do tempo, os nutrientes vão se esgotando. Assim, o solo deixa de oferecer tudo de que as plantas precisam. É imprescindível, então, que o homem volte a interferir, enriquecendo o solo com adubos ou fertilizantes. Eles vão repor os nutrientes que faltam à terra, na medida certa para as necessidades da plantação. Os nutrientes essenciais para a formação de uma planta são classificados em dois grupos: 1) Macronutrientes (necessários em grande quantidade): carbono, oxigênio, hidrogênio retirados do ar e da água, nitrogênio, enxofre, fósforo, potássio, cálcio e magnésio retirados do solo. 2) Micronutrientes (necessários em pequena quantidade): boro, cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, cobalto, níquel e zinco. Os seres autótrofos (auto = por si mesmo; trofos = alimentação, que se alimenta) produzem o seu alimento por meio de uma reação química, transformando água, sais minerais e gás carbônico em glicose e oxigênio. A maioria (algas, plantas e certas bactérias) faz fotossíntese, captando energia luminosa do sol e utilizando-a na fabricação de matéria orgânica. Existem alguns poucos autótrofos, como certas bactérias, que fazem quimiossíntese, obtendo energia por meio de reações químicas inorgânicas, sem a presença de luz. Os autótrofos fotossintetizantes, além de serem fonte de alimento para os heterótrofos (como nós), liberam oxigênio, que é utilizado na respiração pelo homem, pelos animais, pelas próprias plantas e por muitos micro-organismos. Fonte: <vivendociencias.blogspot.com.br> Acessado em: 03/09/2013.

Os fertilizantes podem ser orgânicos ou inorgânicos. Entenda a diferença! Os adubos orgânicos são obtidos a partir de matéria vegetal ou animal, como esterco, farinhas, bagaços, cascas e restos de vegetais e de comida. Esses materiais sofrem decomposição e viram adubo por meio da compostagem. A compostagem envolve transformações muito complexas de natureza bioquímica, promovidas por milhões de microorganismos do solo que têm na matéria orgânica sua fonte de alimento. O resultado final é o composto orgânico chamado húmus, rico em macronutrientes e micronutrientes, que pode ser aplicado no solo para melhorar suas características. Os principais benefícios da compostagem são: estimula o desenvolvimento das raízes das plantas, que se tornam mais capazes de absorver água e nutrientes do solo; aumenta a capacidade de infiltração de água, reduzindo a erosão; mantém estáveis a temperatura e os níveis de acidez do solo (ph); dificulta ou impede a germinação de sementes de plantas invasoras (daninhas); ativa a vida do solo, favorecendo a reprodução de micro-organismos benéficos às culturas agrícolas. Além disso, o processo é bom para o meio ambiente, porque diminui a quantidade de resíduos que poderiam poluir rios, infiltrar no solo ou lotar aterros e lixões. 7 Super-heroína da compostagem! Quando a compostagem é feita com a ajuda de minhocas, ela se chama vermicompostagem. A minhoca ingere terra e matéria orgânica em quantidade equivalente ao seu próprio peso; então, digere e expele o húmus sob a forma de excrementos, em um processo de transformação muito mais rápido do que aquele realizado pela própria natureza. E, quando se movimenta embaixo da terra, a minhoca vai abrindo pequenos túneis, que ajudam na ventilação das raízes das plantas e na infiltração da água das chuvas! Os fertilizantes inorgânicos são obtidos a partir da extração mineral ou refino do petróleo. A principal vantagem desse fertilizante é apresentar composição química definida. Assim, depois de analisar o solo, é possível escolher exatamente qual fertilizante usar e determinar a quantidade ideal para repor os minerais em falta. Isso é muito importante, pois o uso excessivo de fertilizantes inorgânicos pode alterar o solo, tornando-o menos produtivo, causando, com o tempo, danos irreparáveis ao ecossistema.

Cuidando da plantação Entre plantar e colher, existe um longo caminho. Para que a plantação dê certo e cresça sadia, uma das coisas em que o agricultor precisa prestar muita atenção é o controle de pragas. Todo cultivo está sujeito ao ataque de visitantes indesejáveis como besouros, gafanhotos, lagartas, roedores, ácaros e fungos, que não apenas disputam alimento conosco, mas também fazem as plantações adoecerem. Sem falar nas ervas daninhas, que disputam nutrientes e água com as plantas cultivadas. Para combater o problema das pragas, foram inventados os defensivos agrícolas, pesticidas ou agrotóxicos. Solução que também é problema Os agrotóxicos são produtos químicos que podem controlar as pragas, mas, quando usados de forma incorreta ou excessiva, prejudicam a saúde de quem trabalha com eles e de quem consome os alimentos produzidos, além de prejudicar o meio ambiente. Pesticidas podem contaminar lençóis freáticos e rios, causar doenças, sem falar que sua utilização em excesso acaba provocando resistência na praga, tornando necessário o uso de doses cada vez maiores e de produtos mais fortes. Crianças e adolescentes estão cada vez mais doentes É fato: as crianças e os adolescentes estão mais doentes hoje do que uma geração atrás. E os agrotóxicos podem ser um dos principais culpados, de acordo com estudo realizado pela PANNA, uma organização norte-americana que trabalha para encontrar alternativas mais saudáveis e sustentáveis aos agrotóxicos. Entre os problemas de saúde ligados ao consumo de alimentos contaminados por agrotóxicos estão: defeitos de nascença, desordens de crescimento, puberdade precoce, asma, câncer infantil, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, autismo, obesidade e diabetes. 8 Fonte: <www.drfranklipman.com/pesticides-101-learn-the-dangers> Acessado em: 17/09/2013.

Brasil é campeão no consumo de agrotóxicos Desde 2008, o Brasil é o campeão mundial no consumo de agrotóxicos. Com exceção daqueles que cultivam alimentos orgânicos, todos os produtores agrícolas utilizam algum tipo de pesticida para combater pragas e doenças. O país usa 1/5 dos defensivos agrícolas produzidos no mundo. E nosso consumo está crescendo mais do que no resto do planeta. Para se ter uma ideia, na última década, o uso de agrotóxicos cresceu 93% em todo o mundo, mas no Brasil o percentual foi muito maior: 190%. As quantidades jogadas nas lavouras equivalem a 5,2 litros de veneno por habitante ao ano. Essa quantidade enorme de veneno é resultado de um processo que surgiu com o final da Segunda Guerra Mundial, quando os restos de armas químicas foram adaptados para a agricultura. O objetivo principal era resolver o problema das empresas que ficariam com seus estoques e complexos industriais obsoletos. Esse processo aconteceu em nível mundial e ficou conhecido como Revolução Verde. Fonte: <www.brasildefato.com.br/node/11533> Acessado em: 10/08/2013. Os 10 alimentos mais perigosos Morango com creme, couve na feijoada... Hummm... A gente nem imagina que essas delícias podem ser perigosas. Mas, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), elas estão entre os alimentos que têm mais chance de sofrer contaminação por agrotóxicos. Confira, abaixo, a lista dos 10 alimentos mais perigosos para o consumo no país atualmente: pimentão uva pepino morango couve abacaxi mamão alface tomate beterraba Estima-se que 1/3 dos alimentos consumidos no Brasil esteja contaminado por agrotóxicos. Fonte: <www.ecocidades.com/2010/09/13/agrotoxico-os-10- alimentos-mais-perigosos> Acessado em: 28/09/2013. Faça a sua parte! A solução mais eficaz para evitar alimentos contaminados é consumir orgânicos. Mas como nem sempre isso é possível, a alternativa é tentar eliminar os resíduos de agrotóxicos o máximo possível: Lave frutas e verduras em água corrente, esfregando com uma esponja ou escova. Tire as folhas externas das verduras e descasque as frutas, pois essas partes concentram mais agrotóxico. Diversifique os vegetais consumidos no dia a dia, pois isso reduz a ingestão de quantidades maiores de um mesmo agrotóxico. Como alguns pesticidas podem ser utilizados na fase final da maturação do alimento, reduza o risco comprando frutas e legumes mais verdes e espere alguns dias antes de consumi-los. 9

10 Nada de químico! Uma forma natural de controlar pragas É possível combater pragas sem agrotóxicos, usando o controle biológico. Por não agredir o meio ambiente nem a saúde das pessoas, essa prática é de grande importância para a agricultura sustentável e pode substituir ou reduzir a necessidade de utilização dos agrotóxicos. O controle biológico consiste em introduzir, na lavoura, inimigos naturais das pragas. O agente inserido ataca a praga, mas não causa dano à planta. É o caso, por exemplo, das vespinhas, que são parasitas de pulgões em plantações de trigo; e das tesourinhas, que atacam a lagarta no milho. A praga e o predador Atividade Os agentes de controle biológico podem ser insetos, fungos, bactérias, entre outros. Em grupos de até três alunos, pesquisem, na biblioteca e/ou na internet, um exemplo de inimigo natural de praga. Descubram qual praga ele ataca, como é seu mecanismo de ataque e em que tipo de plantação ele pode ser usado. Façam um cartaz bem ilustrado com os detalhes da pesquisa e apresentem em sala de aula. Você sabia que a joaninha é um agente de controle biológico? Ela devora várias pragas, como pulgões, moscas brancas, ácaros, ovos e larvas de mariposas. Uma joaninha pode chegar a consumir mil pulgões durante sua vida, que dura cerca de 180 dias. Você conhece a agro-homeopatia? Alguns agricultores fazem o controle de pragas usando um método pouco comum: a homeopatia. O tratamento homeopático baseia-se no chamado princípio da cura pelo semelhante. Consiste em fornecer ao paciente sintomático doses extremamente diluídas de compostos que seriam capazes de causar os mesmos sintomas em pessoas saudáveis, quando expostas a quantidades maiores. Desse modo, o sistema de cura natural do paciente seria estimulado a reagir e restaurar a saúde por suas próprias forças. A homeopatia foi criada pelo médico alemão Samuel Hahnemann, no final do século 18, para curar pessoas. Mas, desde então, seu uso tem sido ampliado para tratar animais e até plantas. É um processo alternativo de tratamento, que nem todo mundo aceita como científico. Mas, na prática, são muitos os resultados positivos encontrados. Na agricultura, a homeopatia tem sido utilizada para revitalizar e aumentar a resistência das plantas e combater pragas. O controle de formigas cortadeiras em plantações de uva e laranja, do vírus do mosaico no tabaco, de fungos em produtos armazenados e de percevejos em tomates orgânicos são alguns exemplos.

Saúde, sabor e sustentabilidade Diante dos problemas causados pela agricultura tradicional (como, por exemplo, os ocasionados pelo uso de agrotóxicos), as pessoas estão se conscientizando da necessidade de buscar um modelo agrícola mais saudável e sustentável. É nesse contexto que está ganhando espaço a agricultura orgânica. Ela dá preferência a práticas mais naturais de fertilização e conservação do solo, como o plantio direto (cultivo em cima do resto da cultura anterior, sem que o trator limpe a terra), a adubação verde (quando se adiciona alguma leguminosa para enriquecer o solo) e a rotação de culturas. Não são utilizados agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas que possam contaminar a terra, a água, as plantas, os animais e as pessoas. Também está banido o uso de transgênicos. Tudo isso faz com que os alimentos orgânicos, além de mais sustentáveis, sejam também muito mais nutritivos e saborosos. Alimentos transgênicos são aqueles que sofreram modificação genética para, por exemplo, crescerem fora de estação; para serem resistentes a pragas; ou até para serem mais doces do que o normal. Esses produtos têm a vantagem de tornar a produção mais eficiente, porém podem apresentar riscos, como causar alergias e outros efeitos ainda desconhecidos sobre a nossa saúde e sobre o meio ambiente. É viável consumir orgânicos? Atividade Os alimentos orgânicos ainda são mais caros por causa dos cuidados especiais que o produtor precisa ter com a plantação e porque ainda tem pouca gente produzindo. Mas, com as pessoas valorizando o consumo, a tendência é os preços diminuírem com o tempo. Escolha cinco adultos que você conheça (podem ser parentes, vizinhos e amigos) e peça que respondam à enquete: Você consome alimentos orgânicos? a- Sim. Sempre dou preferência aos orgânicos porque são mais saudáveis. b- Às vezes. Dou preferência aos orgânicos, mas só se não estiverem muito mais caros. c- Às vezes. Os orgânicos são muito difíceis de encontrar. d- Não. Os orgânicos são muito caros. Leve os resultados para sala de aula e debata com os colegas. 11

Saúde no prato Uma alimentação saudável faz a gente crescer forte e inteligente, com energia para estudar, se divertir e planejar o futuro. Mas comer muito não significa estar bem alimentado. A alimentação só é saudável quando é completa e equilibrada, fornecendo, na dose certa, todos os nutrientes de que a gente precisa. Você sabia que a obesidade na adolescência é tão prejudicial quanto o fumo? Um estudo realizado na Suécia concluiu que o número de mortes prematuras na idade adulta dos jovens com peso normal que fumavam mais do que dez cigarros por dia foi o mesmo de não-fumantes obesos! Brasileiro não tem dieta adequada A população brasileira consome gordura saturada em excesso, abusa dos refrigerantes e não se alimenta com a quantidade recomendada de frutas e hortaliças, que é de pelo menos cinco porções ao dia. Fortes aliadas na prevenção de doenças, as frutas e as hortaliças estão sendo deixadas de lado por uma boa parcela dos brasileiros na hora da refeição. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo insuficiente de frutas e hortaliças é responsável por 2,7 milhões de mortes, por 31% das doenças do coração, 11% das doenças cerebrovasculares e 19% dos cânceres gastrointestinais ocorridos anualmente no mundo. Fonte: <www.blog.saude.gov.br/prato-do-brasileiro-tem-dieta-rica-em-gordura> Acessado em: 17/09/2013. 12 Você se alimenta direito? Atividade Faça uma reflexão sobre seus hábitos alimentares. Você tem o hábito de consumir frutas, verduras e legumes? Consome muitas guloseimas, como doces e refrigerantes? E frituras? Você se alimenta em horários regulares ou costuma pular refeições? E atividade física, você pratica? Leve a reflexão para a sala de aula e discuta com os colegas. Pensem sobre o que precisam melhorar e como podem fazer isso.

O poder das frutas e hortaliças! Verduras, legumes e frutas são ricos em nutrientes e, por isso, muito importantes para a saúde. 13 Nome: ABÓBORA Principais nutrientes: fonte de betacaroteno, vitamina C, vitamina E e de vitaminas do complexo B. Rica em fibras e fonte de cálcio, fósforo, ferro e potássio. Suas sementes são fonte de zinco. Para a saúde: Por conter antioxidantes, o consumo de abóbora está associado à redução do risco de certos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, derrames e problemas oculares, como a catarata. As gorduras insaturadas, presentes nas sementes, promovem a saúde cardiovascular e o controle do colesterol. O ferro e o zinco estão relacionados, respectivamente, à formação de glóbulos vermelhos e ao bom funcionamento do sistema imunológico. Curiosidade: Esculpida como um rosto e com uma vela no interior, a abóbora é um dos símbolos do halloween festa que marcava o final do verão no calendário celta e, exportada para os Estados Unidos, ganhou outra tradição, a do dia das bruxas. Nome: BANANA Principais nutrientes: rica em potássio, fósforo, cálcio e magnésio. Fonte de vitamina C, vitamina B6 e folato. Para a saúde: O potássio é útil na prevenção e tratamento da hipertensão arterial, melhora o fluxo sanguíneo e é um grande aliado para evitar câimbras. A banana é uma boa fonte de amido resistente, um carboidrato que é digerido mais lentamente e pode ajudar na redução do colesterol e na prevenção de doenças cardiovasculares. A banana verde, por sua vez, está associada à prevenção de certos tipos de câncer e doenças do cólon, uma vez que ajuda no trânsito intestinal. Curiosidade: Os pontinhos pretos presentes na polpa da banana não são sementes. As espécies consumidas no Brasil não têm sementes esses pontos são óvulos não fecundados. Para plantar uma nova bananeira, é preciso plantar um pedaço da raiz da planta. Fonte: Enciclopédia da Nutrição Nestlé. Disponível em: <www.nestle.com.br/site/cozinha/enciclopedia.aspx> Acessado em: 18/09/2013. Atividade Vamos pesquisar? Siga os exemplos acima, pesquise e faça a ficha nutricional de alguns alimentos: beterraba, berinjela, brócolis, cenoura, espinafre, feijão, laranja, maçã, tomate e trigo. Suco arco-íris Ingredientes: 1/2 folha de couve sem talo 1 porção de fruta da estação (5 morangos, 1 manga, 1 maçã ou outra fruta de sua preferência) 1 copo de suco de laranja 1 colher (chá) de mel ou melado de cana Preparo: Bata tudo no liquidificador até ficar homogêneo. Sirva sem coar. Atenção: Prefira ingredientes orgânicos!

Segurança alimentar: um desafio mundial Uma em cada oito pessoas no mundo vai para a cama, todos os dias, com fome. Quando vemos uma estatística como essa, a primeira coisa que pensamos é: não tem comida suficiente para todas as pessoas. Errado! O problema da fome não é ter pouco alimento no mundo. A produção atual de alimentos é suficiente para toda a população, mas nem todos têm acesso à comida. O principal obstáculo é a falta de dinheiro: a má distribuição de renda impede que todos tenham uma alimentação adequada em quantidade e qualidade. Problema multidimensional A fome é a ponta de um iceberg construído em cima da pobreza e das desigualdades sociais. A parcela da população que passa fome também está carente em suas outras necessidades básicas: ela sofre com a falta de acesso a serviços públicos, como água, esgoto, educação e saúde. E, nesse mesmo trem da pobreza, viajam outras faces do problema preconceito, falta de informação, falta de oportunidades, fatores que comprometem a segurança alimentar. 14 Segurança alimentar é o termo utilizado para definir o direito de todos a uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, que não comprometa outras necessidades essenciais e tenha como base práticas alimentares que promovam a saúde e respeitem a diversidade cultural e a sustentabilidade. A insegurança alimentar acontece diante de problemas como fome, obesidade, doenças associadas à má alimentação, consumo de alimentos de qualidade duvidosa ou prejudiciais à saúde, sistema de produção nocivos ao meio ambiente, prática de preços abusivos e a imposição de padrões alimentares que não respeitam a diversidade cultural.

Algumas coisas que você precisa saber sobre a fome O mundo tem cerca de 870 milhões de pessoas que não têm o necessário para comer para levar uma vida saudável. A fome é o problema número 1 na lista dos dez maiores riscos à saúde. Todos os anos, ela mata mais pessoas que doenças como Aids, malária e tuberculose combinadas. Nos países em desenvolvimento, a má nutrição está ligada a um terço das mortes de crianças com menos de 5 anos. Garantir que uma criança tenha acesso a todos os nutrientes e vitaminas necessários ao crescimento saudável custa menos de 60 centavos de real* por dia. Se, nas áreas rurais, as mulheres tivessem o mesmo acesso à terra, à tecnologia, à educação, ao mercado e aos serviços financeiros que os homens têm, o número de pessoas com fome poderia diminuir entre 100 e 150 milhões. A fome é o maior problema solucionável do mundo. E uma das estratégias para combatê-la é incentivar a agricultura familiar. * Valor de referência: US$ 0,25 Fonte: Programa Mundial de Alimentos. Disponível em: <www.wfp.org/stories/10-things-you-need-know-abouthunger-2013> Acessado em: 31/07/2013. 15 Comer insetos para combater a fome? A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) acredita que a criação de insetos comestíveis em escala industrial pode contribuir na luta contra a fome no mundo. Mais de 2 bilhões de pessoas, em culturas tradicionais, já complementam suas dietas com insetos, tais como besouros, gafanhotos e formigas. Esses animais são altamente nutritivos, fáceis de reproduzir, de baixo custo e também podem ser usados como alimento para peixes e gado. Mas a repugnância de muitos consumidores, especialmente nos países ocidentais, é uma barreira para a inclusão de insetos na dieta global. O que você pensa sobre isso? Fonte: <http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/insetos-podem-ajudar-acombater-a-fome-diz-onu-13052013-31.shl> Acessado em: 10/08/2013. Atividade De olho no futuro! Estima-se que, em 2050, por conta do aquecimento global, a produção agrícola dos países em desenvolvimento caia entre 9% e 21%. Enquanto isso, a população mundial vai continuar crescendo e chegar a 9 bilhões. Discuta com os colegas o agravamento do problema da segurança alimentar no futuro e, juntos, pensem em soluções possíveis. Usando informações desta cartilha, criem folhetos para ajudar a conscientizar as pessoas. Caso seja possível, distribuam na comunidade.

Alimentação adequada: um direito de todos os brasileiros No Brasil, mais de 13 milhões de pessoas passam fome ou sofrem de desnutrição. Esse número vem diminuindo nas últimas décadas passou de 22,8 milhões (em 1992) para 13,6 milhões (em 2013), mas ainda é alto. O cenário brasileiro reflete a situação mundial. A má distribuição de renda faz com que parte da população não tenha dinheiro para comprar comida suficiente. E o desencontro entre a produção de alimentos e a localização das famílias mais necessitadas também é grande: a maior parte da produção está nas regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste, enquanto a maioria dos famintos vive no Norte e Nordeste. Mais atenção à redução da pobreza Você sabia que uma emenda constitucional tornou, desde 2010, a alimentação adequada um direito social do brasileiro? A redução do número de famintos no Brasil acelerou nos últimos anos devido, sobretudo, a ações voltadas para a redução da pobreza implementadas pelos últimos governos. Entre essas medidas, estão, por exemplo, os programas de transferência de renda (como o Bolsa Família), a criação do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), o Programa de Distribuição de Alimentos para populações em situação de vulnerabilidade social, o Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que oferece crédito, assistência técnica e seguros para pequenos agricultores. Logística é um grande obstáculo 16 Existe um índice mundial que mede a segurança alimentar. De acordo com ele, o Brasil está em 29º lugar entre 107 países. Um dos pontos positivos na avaliação do país é o preço dos alimentos, que não é tão impeditivo para o consumo quanto em outros países. Do lado negativo, o principal fator que afeta a colocação brasileira é a logística. A infraestrutura insuficiente de portos, rodovias e armazéns prejudica a distribuição e o acesso da população aos alimentos.

A importância da agricultura familiar Fonte da maior parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, a agricultura familiar também gera trabalho e renda, diminuindo a migração de pessoas do campo para a cidade. Ela estrutura a produção para o consumo local, recupera o consumo de alimentos tradicionais na dieta das famílias e reduz o custo de transporte. Além disso, também ajuda a regular e reduzir o preço dos alimentos no mercado. Por tudo isso, é tão importante fortalecer a agricultura familiar como forma de garantir a segurança alimentar brasileira. Dar treinamento e suporte aos pequenos produtores e ajudá-los a entrar no mercado permite que as comunidades desenvolvam um sistema de produção de alimentos mais eficiente, capaz de abastecer mais pessoas. A agricultura familiar aglutina a carência e o potencial de milhares de comunidades onde se concentram os segmentos mais frágeis da população. Qualquer ganho de produtividade aí ampliará substancialmente a disponibilidade de comida na mesa dos mais pobres e de toda a sociedade, reduzindo a dependência em relação a alimentos importados e protegendo a economia da volatilidade das cotações internacionais. José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO José Graziano é agrônomo e acadêmico. Foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no governo Lula, sendo responsável pela implementação do Programa Fome Zero. Atualmente é diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), sendo o primeiro latino-americano a ocupar tal cargo. 17 Agricultura familiar na merenda No Brasil, pelo menos 30% dos recursos destinados à merenda pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar devem, por lei, ser utilizados para comprar alimentos provenientes da agricultura familiar. A aquisição de gêneros alimentícios deverá ser realizada, sempre que possível, no mesmo município das escolas. Essa iniciativa contribui para que a agricultura familiar se organize e se desenvolva comercialmente, aumenta a qualidade da alimentação servida nas escolas, favorece o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e, além disso, gera desenvolvimento local de forma sustentável! Atividade A merenda na minha escola Em grupos de três alunos, pesquisem sobre a alimentação na sua escola. Quais são os itens provenientes da agricultura familiar e em que quantidade são utilizados na produção diária dos alimentos? De onde eles vêm: são da cidade ou de outro município ou estado? Como vocês avaliam a qualidade desses itens em relação aos outros?

Você é o que você come! A alimentação é uma das atividades humanas mais importantes. Não só porque ela é fundamental para a sobrevivência, mas também porque está ligada à nossa identidade cultural. No mundo globalizado, com propagandas que promovem produtos da moda e com grandes indústrias que têm mais recursos para produzir e distribuir, está cada vez mais comum importarmos não só alimentos de outras regiões ou países, mas também hábitos culturais de outros povos. Quase não percebemos como produtos industrializados e comidas prontas estão substituindo uma alimentação mais saudável e ligada às nossas raízes culturais, feita com produtos nativos. Hábitos alimentares Atividade Faça uma reflexão sobre seus hábitos alimentares. O que você gosta de comer: aquela comidinha feita em casa, pratos típicos da sua região... ou prefere um hambúrguer com batata frita e refrigerante? Você costuma consumir comidas congeladas? Com qual frequência você se alimenta fora de casa, em lanchonetes e praças de alimentação? Anote suas respostas e leve para discussão em sala de aula. Compare com os colegas e debatam sobre o impacto desses hábitos alimentares sobre sua saúde e sobre sua identidade cultural. Produto local é mais saudável e sustentável Frutas e hortaliças fora de época precisam viajar muito para chegar à nossa mesa, sendo importadas de outro estado ou até de outro país e, por isso, custam mais caro. Geralmente, são colhidas verdes para amadurecerem no caminho, medida que prejudica seu amadurecimento natural, fazendo com que percam parte dos nutrientes. Também correm o risco de serem transgênicas, o que pode afetar nossa saúde. Consumir produtos da estação e cultivados por perto, na região onde você mora, constitui um hábito mais saudável e também mais sustentável, pois ajuda a reduzir os custos de transporte e as perdas causadas pela manipulação dos alimentos. 18 Lembre-se: Uma comida gostosa não precisa de ingredientes caros. Para agradar ao paladar, ela precisa ser bem feita!

Teste do consumidor consciente A pobreza é uma das grandes causas da fome no mundo. Mas tem outra coisa que contribui para agravar o problema: o desperdício. Você sabia que 1 a cada 3 alimentos é desperdiçado em algum momento da cadeia produtiva? No Brasil, a quantidade desperdiçada por dia seria suficiente para alimentar 20 milhões de brasileiros! E nossa atitude pode ajudar, já que cerca de 20% do desperdício acontece no processamento culinário, devido a hábitos alimentares. Faça o teste abaixo junto com sua família e descubram se vocês são consumidores conscientes! 1- Quando sua família faz compras: a. Costuma comprar alimentos para o mês inteiro e estocar. b. Planeja e faz compras semanais, para não correr o risco de os alimentos estragarem. c. Às vezes compra mais do que o necessário. 2- Quando sua família compra frutas e hortaliças: a. Prefere ir ao supermercado, pois é mais fácil, bonito e encontra vários produtos. b. Prefere comprar na feira, pois os produtos são mais frescos e é possível conversar diretamente com o agricultor. c. Prefere ir ao lugar mais perto da sua casa. 3- Quando sua família compra frutas e hortaliças: a. Olha a aparência, qualidade externa e preço, não importando se é convencional ou orgânica. b. Procura alimentos livres de agrotóxicos. c. O que tiver o menor preço é o melhor. 4- Na cozinha da sua casa, costuma-se aproveitar talos, folhas e cascas de frutas e hortaliças em receitas criativas? a. Dificilmente. b. Sim, quase sempre. c. Às vezes. 5- Na sua casa, os alimentos são guardados: a. Não nos preocupamos muito com isso. Às vezes ficam em cima da pia mesmo. b. São armazenados em local limpo e na temperatura adequada para que durem mais. c. Todos na geladeira. 6- Os alimentos que sobram das refeições e aqueles que já estão quase perdendo na geladeira: a. Acabam estragando. b. São aproveitados em receitas criativas. c. Costumamos comer a sobra do almoço, mas alguma coisa acaba indo para o lixo. 7- Quando você coloca comida no prato: a. Coloca bastante e acaba sobrando e indo para o lixo. b. Pensa e coloca só aquilo que consegue comer. c. Às vezes coloco demais, mas empurro tudo para não jogar fora. 8- Você acha difícil implementar atitudes sustentáveis no seu cotidiano? a. Sim, pois, na minha casa, as pessoas não têm esse hábito. b. Não, pois posso ajudar dando o exemplo em pequenas coisas. c. Não sei. Veja a avaliação do teste na página 24. Fonte: Adaptado da Cartilha da Agricultura Orgânica para Crianças do Ensino Fundamental, Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR. 19

A parte que te cabe deste latifúndio... O Brasil tem uma herança histórica de distribuição desigual de terras, que vem lá da época em que o país era colônia de Portugal. Enquanto muitas pessoas não têm seu pedaço de chão, outras poucas são donas de grandes propriedades chamadas de L _ F. Quem não tem terra precisa trabalhar para quem é dono, perpetuando a concentração fundiária. Diante desse cenário, surgiram vários M E _ S S O _, como, por exemplo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Como forma de pressionar o governo e reivindicar uma R E G R, os integrantes desses movimentos ocupam latifúndios. No entanto, essas ocupações nem sempre são solucionadas de forma pacífica, desencadeando conflitos e violência no campo. Na reforma agrária, o governo adquire terra dos grandes proprietários e distribui para quem não tem. A aquisição é feita por compra ou D E _ R _ ç (que acontece quando a propriedade é improdutiva). As famílias beneficiadas também recebem financiamentos com juros baixos para comprar adubos, sementes e máquinas. A reforma agrária no Brasil tem sido lenta porque enfrenta várias barreiras, como a resistência dos grandes proprietários rurais, dificuldades jurídicas, além do elevado custo de manutenção dos A S S _ A. Solução na página 24. Um abismo 84,4% dos estabelecimentos agropecuários do país são da agricultura familiar. Entretanto, a área corresponde a apenas 24,3% da área total ocupada por propriedades rurais. Isso reflete a distribuição desigual de terras no Brasil e mostra o abismo que existe entre minifúndio e latifúndio. Fonte: Censo Agropecuário Brasileiro, IBGE, 2006. 20 Curiosidade O título desta página é um verso do livro Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. O livro é um poema dramático que relata a dura trajetória de um retirante nordestino, em busca de uma vida melhor no litoral. Que tal conhecer?