Metodologia de Investigação I Investigação Narrativa Ana Matos Filomena Barradas Neusa Branco Mestrado em Educação - DEFCUL
Nós organizamos a nossa experiência diária e a nossa experiência de acontecimentos humanos principalmente sob a forma de narrativa. Criamos histórias, desculpas, mitos, razões para fazer ou não fazer. (Bruner, 1991, referido por Couto, 1998, p. 115) Vivemos através de histórias, ou seja, pensamos, imaginamos e fazemos escolhas morais de acordo com estruturas narrativas. (Oliveira, Segurado & Ponte, 1999, p. 194)
Porquê a narrativa? (...) as histórias tornaram-se um meio de capturar a complexidade, a especificidade e inter-relação dos fenómenos com que lidamos. (Carter, 1993, citado por Couto, 1998, p.116)
O que é a narrativa? A definição de narrativa é apresentada por diversos autores: ( ) as narrativas são histórias que se reportam a acontecimentos passados e específicos e têm propriedades comuns. (Labov, 1972/1982, referido por Couto, 1998, p.121) Uma narrativa é a apresentação simbólica de uma sequência de acontecimentos ligados entre si por determinado assunto e relacionados pelo tempo. (Scholes, 1981, referido por Couto, 1998, p.122)
Autobiografias Biografias Narrativas pessoais Histórias de vida Investigação Narrativa Etnobiografias Etnografias Memórias populares Entrevistas narrativas
Investigação qualitativa do tipo interpretativo - Começou por se focar: nos professores, enquanto indivíduos. na compreensão pessoal que revelam sobre si próprios e sobre os processos e orientações dentro dos quais se situam e situam os trabalhos das suas escolas. (Luwish, 2002) - Pode facilitar a aproximação à opinião, às ideias, à experiência e à prática dos professores, a partir das suas próprias percepções. (Oliveira, 1999)
Construção das narrativas ( ) é essencial, em primeiro lugar, dar voz ao professor, deixá-lo contar a sua história mas, simultaneamente, construir uma relação colaborativa que facilite a participação comum na elaboração das narrativas. (Oliveira, 1998, p. 49) Para a construção das narrativas podem concorrer diversos tipos de dados e não, simplesmente, as histórias orais ou escritas dos professores. Por exemplo: - Notas de campo; entrevistas; conversas informais. (Oliveira, 1998)
O processo de investigação narrativa Segundo Riessman (1993) existem cinco níveis de representação: Dar sentido Contar Transcrever Analisar Ler (Couto, 1998)
Como pode o investigador estruturar a narrativa? Modelo de Labov 1 Resumo Sobre o que é? 2 Orientação Quem? Quando? O quê? Onde? 3 Compilação da acção Então o que aconteceu? 4 Avaliação E então? 5 Resolução O que aconteceu finalmente? 6 Coda Transporta a narrativa para o presente. (Opcional) (Cortazzi, 1993)
Exemplo de um estudo que se inclui no âmbito da investigação narrativa, realizado por Hélia Oliveira, em 1999. Conhecer as perspectivas das professoras sobre a natureza das investigações matemáticas e o papel do professor e dos alunos.
História - Teresa Houve uma altura que eu achei que eles não iam conseguir lá chegar (à expressão geradora) porque estavam muito agarrados a isto, à expressão dos números. Então, houve alguns grupos em que eu fui dizendo Vejam como é que contam os fósforos. Arranjem uma maneira sistemática de contar e não sei quê. Resumo Porque, como foi assim que eu lá cheguei, achei que era a melhor maneira. Orientação Mas depois pensei assim, quem é que me diz que os miúdos não chegam lá de outra maneira? Complicação da acção Então deixei de dizer isto. Pensei, Não digo nada, absolutamente nada, nem que eles não descubram nada a aula inteira. E fiquei realmente com a sensação que eles não iam descobrir nada a aula inteira, que não iam descobrir a expressão geradora. Resolução da acção E ao fim e ao cabo aqueles outros dois grupos conseguiram lá chegar por outro processo. De maneira que não sei se não é melhor não lhes dizer nada e deixá-los a desenvencilharem-se e depois logo se vê. Avaliação/Coda
A partir da análise da narrativa, construída através da interacção entre a professora e a investigadora, foi possível distinguir cinco características principais a respeito do papel do professor numa aula com uma investigação matemática: Criar condições para o desenvolvimento da actividade; Predispor para a actividade; Sustentar a actividade; Promover o desenvolvimento do processo investigativo; Promover a comunicação e o desenvolvimento de conceitos e procedimentos. (Oliveira, 1999)
Validação da investigação narrativa: Persuasão; Correspondência; Coerência; Uso pragmático. (Riessman, 1993, referido por Oliveira, 1998)
Diferenças entre o método narrativo e outras formas de análise qualitativas: Método narrativo: Há a participação directa do professor na elaboração do próprio discurso; Permite a compreensão experimental do pensamento dos professores; É ideal para analisar histórias de professores; As histórias revelam conhecimento tácito; Têm lugar num contexto significativo; Elbaz Apelam a tradição de contar histórias; (1990) Geralmente está envolvida uma lição moral a ser aprendida; Podem dar voz ao criticismo de um modo social aceitável; Reflectem a não separação entre pensamento e acção no acto de contar. (Couto, 1998, pp. 124 e 125)
Limitações do método narrativo: Dificuldade na distinção entre uma história mais significativa de outra menos significativa. (Luwisch, 2002) Selecção, por parte dos narradores, da informação de forma a tornar a história mais apelativa. (Blumenfeld, 1995, referido por Luwisch, 2002) Perigo de não considerar a interpretação, os valores e a própria história do investigador. (Carter, 1993, referido por Couto, 1998)
Método da Narrativa Exaustivo Rico Difícil Aprofundamento / Necessidade de estratégias e recolha de informação Experiência humana / Interacções entre pessoas Conjugação coerente de todos os elementos passíveis de análise Método de investigação interacção entre investigadores e participantes Método de análise domínio das técnicas linguísticas Relato da investigação discurso claro e coerente (Couto, 1998)
Referências Bibliográficas Cortazzi, M. (1993). Narrative Analysis. London: The Falmer Press. Couto, C. G. (1998). Professor: O Início da Prática Profissional. (Tese de doutoramento, Universidade de Lisboa). Lisboa: APM. Luwish, F. E. (2002). O Ensino e a identidade narrativa. Revista de Educação, XI (2), 21-32. Oliveira, H. M. (1998). Actividades de investigação na aula de matemática: Aspectos da prática do professor. (Tese de mestrado, Universidade de Lisboa). Lisboa: APM. Oliveira, H. M. (1999). Narrativa na prática e na investigação sobre as investigações matemáticas dos alunos. In P. Abrantes, J. P. Ponte, H. Fonseca, & L. Brunheira (Eds), Investigações matemáticas na aula e no currículo (pp. 207-214). Lisboa: Projecto MPT e APM. Oliveira, H. M., Segurado, M. I., & Ponte, J. P. (1999). Tarefas de investigação em matemática: Histórias da sala de aula. In P. Abrantes, J. P. Ponte, H. Fonseca, & L. Brunheira (Eds.), Investigações matemáticas na aula e no currículo (pp. 189-206). Lisboa: Projecto MPT e APM.