Processo Administrativo-Setor de Compras e Licitações nº 46.2009 Referência: Pregão Eletrônico nº 8/2009 Assunto: Recurso Administrativo contra ato do Pregoeiro Trata-se de RECURSO interposto pela empresa SINGULAR SOLUÇÕES E SERVIÇOS GERAIS LTDA, com íntegra constante do sítio Comprasnet, doravante denominada recorrente, contra decisão deste Pregoeiro que declarou a empresa SUPREMA SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA-ME vencedora do Pregão Eletrônico nº 8/2009, cujo objeto é a contratação de empresa especializada na prestação de serviços contínuos de agente de portaria para o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM/DF). 1 DA ADMISSIBILIDADE A empresa denominada recorrente apresentou seu recurso, via sistema Comprasnet, de forma tempestiva, conforme subitens 9.1 e 9.1.2 do edital supra. De igual modo, a empresa SUPREMA SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA- ME, denominada recorrida, apresentou suas contra-razões, via sistema Comprasnet, de forma tempestiva, conforme subitens referenciados acima. 2 DAS ALEGAÇÕES A recorrente pugna pela desclassificação da empresa declarada vencedora, com base nas seguintes alegações (em síntese): que a vencedora não poderia ter se beneficiado dos benefícios decorrentes do SIMPLES NACIONAL, tendo em vista vedação expressa contida no inciso XII do artigo 17 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, bem como pelo fato da mesma não estar enquadrada nas exceções dispostas no 1º do mesmo dispositivo legal; que o percentual de tributos utilizado pela vencedora na ordem de 4,5% (quatro vírgula cinco por cento) não foi devidamente detalhado em sua memória de cálculo (Planilha de Custos e Formação de Preços); 1/6
3 DAS CONTRA-RAZÕES que jamais uma empresa optante pelo SIMPLES poderá alocar mãode-obra, haja vista que não apenas a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 veda, mas regras de tributação do âmbito geral não permitem; que as irregularidades apontadas são de cunho insanáveis, devendo a proposta de preços da recorrida desclassificada do certame. A recorrida apresentou contra-razões pela manutenção da decisão deste Pregoeiro, com base nas seguintes alegações (em síntese): 4 DA APRECIAÇÃO que está habilitada a executar os serviços objeto do certame; que por estar enquadrada no Código de Atividades Econômicas Secundários sob o nº 81.11-7-00 pode utilizar-se dos benefícios decorrentes da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006; que está enquadrada com MICROEMPRESA optante pelo SIMPLES NACIONAL enquadrada no Anexo IV (onde consta o percentual da alíquota unificada de tributos e o que se refere); que o artigo 47 da referida Lei é clara no sentido de possibilitar o tratamento diferenciado e favorecido às microempresas e empresas de pequeno porte e optantes pelo SIMPLES NACIONAL; que cumpre com todas as obrigações decorrentes da atividade comercial que o inserta; que a recorrente não realizou leitura atenta da legislação que cita no recurso, bem como omite outras situações dispostas. O Recurso Administrativo interposto ataca, basicamente, a opção da empresa declarada vencedora no SIMPLES NACIONAL, no que concerne à prestação dos serviços objeto da licitação. Para tanto, se socorre do que prevê o artigo 17, inciso XII da Lei Complementar 123/2006, que in verbis, dispõe:.. Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte: XII que realize cessão ou locação de mão-de-obra; 2/6
Como é sabido, nem todas as microempresas e empresas de pequeno porte recolhem tributos por meio do SIMPLES NACIONAL. Isso deriva da opção de algumas delas em assim não proceder, ou porque há vedação expressa na Lei Complementar 123/2006. Essa última hipótese é justamente o que ocorre em relação às sociedades empresárias cujas atividades envolvam a cessão ou locação de mão-de-obra, tal como prevê o art. 17, XII, da Lei Complementar 123/2006. Contudo, a questão não pode ser vista de modo absoluto, porquanto existem microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) cujas atividades envolvam a cessão ou locação de mão-de-obra, mas que recolhem tributos por meio do SIMPLES. É o caso das empresas que se dediquem exclusivamente às atividades de vigilância, limpeza e conservação, por exemplo, as quais envolvem a cessão de mão-de-obra. As ME ou EPP que se dediquem exclusivamente a tais atividades poderão recolher tributos por meio do SIMPLES. Também poderão recolher tributos pelo SIMPLES os particulares que, embora exerçam atividades vedadas, as realizem em conjunto com outras que permitem a adesão a tal sistema diferenciado de recolhimento de tributos. Mas isso ocorre apenas porque a própria Lei Complementar faz remissão a tais hipóteses em seu art. 17, 1º, in verbis:.. Art. 17. 1o As vedações relativas a exercício de atividades previstas no caput deste artigo não se aplicam às pessoas jurídicas que se dediquem exclusivamente às atividades referidas nos 5º-B a 5º-E do artigo 18 desta Lei Complementar, ou as exerçam em conjunto com outras atividades que não tenham sido objeto de vedação no caput deste artigo. O 5º-C, VI, do art. 18 da Lei em questão prescreve:.. 5º-C. Sem prejuízo do disposto no 1º do art. 17 desta Lei Complementar, as atividades de prestação de serviços seguintes serão tributadas na forma do Anexo IV desta Lei Complementar, hipótese em que não estará incluída no Simples Nacional a contribuição prevista no inciso VI do art. 13 desta Lei Complementar, devendo ela ser recolhida segundo a legislação prevista para os demais contribuintes ou responsáveis: 3/6
VI serviço de vigilância, limpeza ou conservação. Portanto, se a empresa em questão executa objetos cuja adesão ao SIMPLES é proibida, mas o faz conjuntamente com outras para as quais não há vedação alguma, a rigor nada impede a sua inscrição no SIMPLES. Há, todavia, uma questão que não pode passar despercebida. É que a licitante é optante pelo SIMPLES NACIONAL. Isso significa que, para a RECEITA FEDERAL, a interessada dispõe da condição de optante por tal regime de tributação. Diante disso, não nos parece ser possível que a Administração, por ato seu, decida sobre o acerto ou não da situação fiscal de qualquer licitante. Afinal de contas, para a Receita Federal, que é órgão competente para deliberar sobre a questão, a empresa declarada vencedora é optante pelo SIMPLES. Assim, pairando dúvida sobre a situação fiscal da licitante o que poderíamos fazer seria a realização de diligências perante a Receita Federal, visando a identificar o erro ou acerto da inscrição do interessado no regime do SIMPLES. Porém, a realização de diligência para sanar dúvidas quanto ao enquadramento correto ou não da empresa SUPREMA SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA-ME se mostra desnecessária ao presente caso devido o que se segue. Analisando novamente a Planilha de Custos e Formação de Preços da empresa inicialmente considerada vencedora do certame podemos constatar as seguintes cotações em relação aos TRIBUTOS: Tributos Federais Simples Nacional: 2,50% - ISS: 2,00% Total dos Tributos (SIMPLES): 4,50% Analisando também as contra-razões apresentadas pela empresa declarada vencedora se manifesta, dentre outras coisas, in verbis: Sendo a empresa SUPREMA SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA-ME, uma microempresa e optante pelo simples nacional enquadrada no Anexo IV (onde consta o percentual da alíquota unificada de tributos e o que se refere) (grifamos) Portanto, é inquestionável que a empresa SUPREMA SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA-ME cotou seus tributos, ainda que de forma não detalhada, da seguinte forma: 4/6
IRPJ 0%, CSLL 1,22%, COFINS 1,28%, PIS/PASEP 0% e ISS 2%, totalizando assim 4,50%, conforme consta do Anexo IV da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. O CSLL igualmente o IRPJ são tributos diretos, que incidem sobre o lucro, e não sobre o faturamento. É o lucro que deve fazer rente ao seu pagamento, não sendo admitida sua inclusão na composição do custo e, por conseqüência, sua transferência para o consumidor final. Reportando-se ao conteúdo do instrumento convocatório lei interna das partes verificamos in verbis: 4.11.4 Planilhas de Custos e Formação de Preços EXATAMENTE igual ao ANEXO II deste Edital, com detalhamento de todos os elementos que influem no custo operacional, inclusive tributos e encargos sociais, exceção feita quanto ao IRPJ e CSLL e taxas de obrigação exclusiva da licitante. 4.15 SOB PENA DE DESCLASSIFICAÇÃO DA PROPOSTA DE PREÇOS, A LICITANTE NÃO DEVERÁ COTAR NA PLANILHA DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS (ANEXO II) PARCELAS RELATIVAS A GASTOS COM OS TRIBUTOS IRPJ E CSLL, TENDO EM VISTA A DETERMINAÇÃO PREVISTA NO ACÓRDÃO Nº 950/2007-TCU-PLENÁRIO. 7.6 SOB PENA DE DESCLASSIFICAÇÃO DA PROPOSTA DE PREÇOS, A LICITANTE NÃO DEVERÁ COTAR NA PLANILHA DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS (ANEXO II) PARCELAS RELATIVAS A GASTOS COM OS TRIBUTOS IRPJ E CSLL, TENDO EM VISTA A DETERMINAÇÃO PREVISTA NO ACÓRDÃO Nº 950/2007-TCU-PLENÁRIO. Consta do Anexo II ao Edital o modelo da Planilha de Custos e Formação de Preços que toda e qualquer licitante deveria observar. Nota-se logo após o campo dos tributos a seguinte informação, in verbis: Nota (****): sob pena de desclassificação da proposta de preços, não deverá cotar na planilha de custos e formação de preços parcelas relativas a gastos com os tributos IRPJ e 5/6
5 DA DECISÃO CSLL, tendo em vista a determinação prevista no acórdão nº 950/2007-TCU-Plenário Em vista do que alega a recorrente, não lhe reconheço razão para julgar ilegal o enquadramento da recorrida no SIMPLES NACIONAL, face a impossibilidade do CRM-DF manifestar-se de matéria atinente à Receita Federal, julgo PREJUDICADO o recurso nessa parte, tendo em vista que a mencionada manifestação deveria se dar mediante realização de diligência junto ao órgão tributário federal. Quanto à cotação de percentual de Tributos utilizada na Planilha de Custos e Formação de Preços (4,50%) nota-se que a recorrida contrariou os dispositivos expressos nos subitens 4.11.4, 4.15 e 7.6 do Edital, bem como da observação constante do Anexo II (Nota ****) ao contemplar no referido percentual parcela relativa à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Parcela essa também vedada pelo Tribunal de Contas da União (Acórdão 950/2007-TCU-Plenário), revelando-se IRREAL o preço proposto no que diz respeito os tributos, acolho as razões invocadas pela recorrente, para, nesse ponto, lhe dar PROVIMENTO. Assim, no exercício da competência que me confere o art. 9º, VII, do Decreto 3.555/200 c/c art. 11, VII, do Decreto 5.450/2005, com subsídio do art. 109, 4º da Lei 8.666/1993 c/c item 9 do Edital de Pregão Eletrônico nº 8/2009, em decorrência do DEFERIMENTO PARCIAL do recurso interposto, revejo a decisão anteriormente proferida para DESCLASSIFICAR a proposta apresentada pela empresa SUPREMA SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA-ME do certame. Brasília, DF, 20 de agosto de 2009. ALEXANDRE RAMOS VERÍSSIMO Pregoeiro 6/6