Núcleo de Pesquisa e Extensão do Curso de Direito NUPEDIR IX MOSTRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (MIC-DIR) 9 de novembro de 2016

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Transcrição:

GUARDA COMPARTILHADA COMO FORMA DE EVITAR A ALIENAÇÃO PARENTAL Maurício Cason 1 Jonatan Flach 2 Gustavo finger 3 Izabel Welter 4 Sumário: 1 INTRODUÇÃO. 2 O PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. 3 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL. 4 A GUARDA COMPARTILHADA COMO FORMA DE EVITAR A ALIENAÇÃO PARENTAL. 5 CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS. RESUMO: O trabalho estuda como a guarda compartilhada, pautada no princípio do melhor interesse da criança, trabalha para evitar ou extirpar a alienação parental e seus efeitos nocivos sobre a criança e os genitores. O estudo se justifica em razão de que muitos casais, após separarem-se, entram em conflito direto entre si, prejudicando a sua convivência com os filhos, bem como a saúde mental e física destes, não raras vezes com a instauração da síndrome da alienação parental. O objetivo central é analisar uma forma de evitar que o cônjuge que detenha a guarda do filho promova atos que culminem na alienação parental do outro cônjuge, e, em consequência, faça com que os filhos passem a odiar o cônjuge alienado. O problema é aferir se a cumplicidade entre os pais na tomada de decisões relativas aos filhos atende o melhor interesse destes e se tal convivência pode ou não aumentar os conflitos entre os genitores, dando lugar à síndrome da alienação parental. Utiliza-se, para responder essa questão, o método de abordagem dedutivo e o procedimento bibliográfico e, indiretamente, o comparativo. Conclui-se, a partir da leitura da legislação atualmente existente e da análise do princípio do melhor interesse da criança, que a instauração da guarda na sua modalidade compartilhada é, em geral, a melhor medida a ser tomada na dissolução do vínculo conjugal, objetivando evitar conflitos e preservar o bem-estar da criança sob o ponto de vista psicológico e social, bem como uma boa relação desta com seus genitores. Palavras-chave: Alienação Parental. Direito de Família. Dissolução do Vínculo Conjugal. Guarda Compartilhada. Melhor interesse da criança. 1 INTRUDUÇÃO O trabalho analisará a síndrome da alienação parental, o instituto da guarda e o princípio do melhor interesse da criança. A pesquisa se justifica em razão do fato de que muitos casais, após separarem-se, entram em conflito direto entre si, prejudicando a sua convivência com os filhos, bem como a saúde mental e física 1 Bacharelando do quarto semestre em direito na Fai faculdades de Itapiranga, mauricio123.cason@gmail.com. 2 Bacharelando do quarto semestre em direito na Fai Faculdades de Itapiranga, jonatanflach@outlook.com 3 Bacharelando do quarto semestre em direito na Fai faculdades de Itapiranga, gustavofinger123@hotmail.com 4 Professora Mestre do Curso de Direito da FAI Faculdades. E-mail. izabel.welter@seifai.edu.br

destes. Esse cenário turbulento pode gerar a síndrome da alienação parental. Diante disso, considerando os efeitos negativos que a síndrome possui sobre a prole, questiona-se qual a melhor forma de instituir ou manter a paz nas relações entre os genitores e o filho. O objetivo, então, é analisar o princípio do melhor interesse da criança e como esse trabalha a favor da resolução de conflitos ao instituir um norte a ser seguido para que se evite ou se extirpe eventual alienação parental praticada por um dos genitores, bem como para que se reduza os danos psicológicos e sociais por ela causados. Esse trabalho é de cunho bibliográfico, baseado exclusivamente em doutrinas a fim de esclarecer questões referentes a guarda compartilhada dentro da alienação parental. 2 O PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA Antes mesmo de se aprofundar nos estudos acerca da guarda e da alienação parental, é imprescindível conhecer o princípio do melhor interesse da criança, que serve como norte para a fixação da guarda. O princípio em estudo encontra respaldo constitucional e infraconstitucional. Pereira 5 o considera como o pilar fundamental do Direito de Família contemporâneo. Para fins legais, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 2º, considera como criança o menor entre 0 e 12 anos incompletos. Não obstante, o princípio em estudo, embora traga somente o termo criança em seu nome, se aplica também aos adolescentes, em razão da proteção constitucional. Pereira 6 refere que o princípio teve sua origem no instituto do parens pátria, utilizado na Inglaterra como uma prerrogativa do Rei e da Coroa visando proteger 5 PEREIRA, Caio Mário da Silva; PEREIRA, Tânia da Silva. Instituições de Direito Civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 59. 6 PEREIRA, Caio Mário da Silva; PEREIRA, Tânia da Silva. Instituições de Direito Civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 59.

aqueles que não podiam faze -lo por conta própria (grifo no original). O texto constitucional brasileiro traz, em seu art. 227, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, o seguinte: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Percebe-se, dessa forma, que aqueles direitos sociais previstos no art. 6º da Constituição da República, além de outros, possuem aplicação prioritária às crianças, adolescentes e ao jovem. Aplicar o princípio em análise significa dizer que a criança: [...] deve ter seus interesses tratados com prioridade, pelo Estado, pela sociedade e pela família, tanto na elaboração quanto na aplicação dos direitos que lhe digam respeito, notadamente nas relações familiares, como pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade. 7 Ainda, ressalta-se que o princípio deve ser aplicado em sede do planejamento familiar de forma conjugada com os princípios da paternidade responsável e da dignidade da pessoa humana. 8 Sobre o princípio da paternidade responsável, também chamada de parental idade responsável, a fim de englobar ambos pai e mãe em seu bojo, o autor aponta a responsabilidade do homem e da mulher ao gerar uma nova criança, devendo priorizar o bem-estar físico, psíquico e espiritual desta, bem como seus direitos fundamentais. 9 O melhor interesse da criança, como princípio constitucional e supranacional, acaba, assim, fazendo parte do direito de família como um todo, especialmente no 7 LÔBO, Paulo. Direito Civil, Famílias. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2010. p. 75. 8 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Princípios constitucionais de direito de família: guarda compartilhada à luz da lei nº 11.698/08: família, criança, adolescente e idoso. São Paulo: Atlas, 2008. p. 80. 9 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Princípios constitucionais de direito de família: guarda compartilhada à luz da lei nº 11.698/08: família, criança, adolescente e idoso. São Paulo: Atlas, 2008. p. 77-78.

que concerne à separação e divórcio, à guarda dos filhos menores, ao exercício do poder familiar, e, como refere Gama 10 à educação e formação da personalidade da criança. Feita essa introdução inicial acerca do princípio do melhor interesse da criança, passa-se a estudar os institutos da guarda e da alienação parental. 3 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL A síndrome da alienação parental ocorre quando um dos pais denigre a imagem do outro para o filho, ou impõe empecilhos ao direito de visitação do outro genitor, pondo em risco ou até destruindo totalmente a relação afetiva entre este e o pai alienado. 11 Nas palavras de Lisboa: 12 o ato de alienação parental importa em violação do direito fundamental da criança e do adolescente a convivência familiar. A alienação parental é de tamanha gravidade que foi tema de uma legislação recente. Trata-se da lei 12.318/2010. Segundo o texto da norma, em seu artigo 2º, não só o pai ou a mãe podem ser os alienantes, mas também os avós, aquele que detém a guarda da criança ou adolescente, ou, ainda, o indivíduo encarregado da vigilância destes. Há a possibilidade, ainda, de mais de uma pessoa ser o sujeito ativo do ato de alienação parental, em um verdadeiro concurso de agentes 13. Ainda no artigo 2º da referida lei, o legislador definiu o que se entende por alienação parental, sendo a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente [...] para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Para aferir a ocorrência da síndrome de alienação parental, na maior parte 10 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Princípios constitucionais de direito de família: guarda compartilhada à luz da lei nº 11.698/08: família, criança, adolescente e idoso. São Paulo: Atlas, 2008.p. 82. 11 PEREIRA, Caio Mário da Silva; PEREIRA, Tânia da Silva. Instituições de Direito Civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 309. 12 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: Direito de família e sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 182. 13 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: Direito de família e sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 183.

dos casos o juiz se socorre de uma perícia psicológica ou biopsicossocial, devendo o laudo ser elaborado por perito ou por equipe multidisciplinar, conforme determina o artigo 5º da lei supracitada. No entanto, afirma Akel 14 que, em alguns casos, o sentimento de rejeição surge naturalmente, tanto por parte dos filhos, como dos genitores, tornando difícil a identificação da síndrome. Akel faz algumas observações, sob o prisma psicológico, dos reflexos da separação dos pais sobre os filhos. Para ela, as adaptações infantis dependem da quantidade e qualidade do contato com o genitor não detentor da guarda e do ajustamento psicológico e capacidade de cuidado da figura parental do guardião 15. Afirma, ainda, que o sofrimento infantil, perante um conflito parental, pode ser minimizado através de comunicação, da adequação das informações e das condutas parentais. Diante disso, nota-se que quando da separação conjugal, todo cuidado é pouco no que diz respeito à postura dos genitores na resolução dos problemas conjugais na frente aos filhos. Deve-se primar pela educação e respeito no trato com o ex-cônjuge, bem como quando ao se referir a ele perante a criança. Além disso, imprescindível, seja qual for a modalidade de guarda adotada unilateral ou compartilhada que se preserve o direito de visitas e de convivência de ambos os cônjuges com o filho. Não obstante, segundo a autora anteriormente citada, a fixação do exercício unilateral da guarda cria um cenário mais preponderante para a ocorrência da alienação parental. Por esse motivo é que se deve buscar outras formas de fixação da guarda, tendo como norte o já referido princípio do melhor interesse do menor, buscando a manutenção de um vínculo saudável entre os genitores e seus filhos 16. É nesse ponto que entra a modalidade compartilhada da guarda dos filhos. Conforme já visto, a guarda compartilhada estimula a coparticipação dos genitores 14 2009. p. 59. 15 2009. p. 59. 16 2009. p. 59.

nas decisões que interessam ao menor. Com efeito, essa cumplicidade perante às decisões de vida do filho ajuda a apaziguar eventual sentimento de vingança que um dos genitores tenha em relação ao outro. Como consequência direta desse bemestar entre os pais, encontra-se uma boa saúde mental da criança ou do adolescente 17. Por outro lado, a psicóloga americana Judith Wallerstein, especialista sobre os efeitos em longo prazo do divórcio sobre os pais e filhos, afirma nem sempre a guarda compartilhada é a melhor solução a ser adotada. Para ela, essa modalidade só tem real eficácia quando os ex-cônjuges estão concordes quanto às suas responsabilidades, sendo que para casais que vivem em conflito, este pode se agravar ainda mais 18. De qualquer forma, não se solucionando de forma pacífica, cabe ao juiz, verificando a existência de alienação parental, determinar uma ou mais medidas aos pais. Dentre elas, pode o magistrado impor orientação psicológica ou multidisciplinar aos pais, a fim de estabelecer suas atribuições, e os períodos de convivência sob a guarda compartilhada pode ser determinada de ofício pelo juiz, conforme prevê o artigo 1.854, 3º, do CCB. Cabe frisar, mais uma vez, que em todas essas decisões é levado em conta o princípio do melhor interesse da criança. Diante disso, nota-se que uma convivência pacífica entre os ex-cônjuges ou ex-companheiros é o melhor caminho a ser trilhado após a separação, não tanto pelo interesse dos pais, mas mais pensando no bem-estar da criança, levando-se em conta a manutenção da boa relação deste com seus genitores. 4 A GUARDA COMPARTILHADA COMO FORMA DE EVITAR A ALIENAÇÃO PARENTAL O termo guarda é derivado do alemão wargen, que também deu origem aos 17 2009. p. 60. 18 WALLERSTEIN, Judith; LEWIS, Julia; BLAKESLEE, Sandra. Filhos do divo rcio. Traduc a o Werner Fuchs. Sa o Paulo: Edic o es Loyola, 2002. p. 263.

termos no inglês, warden, e no francês, garde, e, de forma geral, significa proteção, vigilância ou administração 19. No âmbito do Direito Brasileiro, a guarda dos filhos é um instituto que foi previsto primeiramente no ECA. Embora o Estatuto não tenha definido o que é guarda, estipulou-a como um dos deveres parentais no artigo 22. Mais adiante, no artigo 33, a lei impôs obrigações atinentes à guarda dos filhos, consistindo na prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente. Em seu parágrafo primeiro, o artigo afirma que a guarda destina-se a regularizar a posse de fato ; o termo posse é criticado pela doutrina, pois o termo faz referência ao direito das coisas (posse e propriedade), tratando o filho como um objeto, quando, na realidade, é um sujeito de direitos, embora muitas vezes discussões acerca de sua posse sirva como estopim para um litígio judicial 20. Doze anos depois, o CCB trouxe novamente o instituto da guarda, mas, mais uma vez, o legislativo não se preocupo em definir um conceito para o termo. De qualquer forma, o instituto foi previsto no capítulo que trata da proteção da pessoa dos filhos. O artigo 1.583 do Código Civil assim previa, logo que entrou em vigência: No caso de dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal pela separação judicial por mútuo consentimento ou pelo divórcio direto consensual, observar-se-á o que os cônjuges acordarem sobre a guarda dos filhos Grisard Filho 21, por sua vez, entende que a guarda é um direito-dever natural e originário dos pais, que consiste na convivência com seus filhos, sendo o pressuposto que possibilita o exercício de todas as funções paternas. Para Diniz a guarda é mais do que um direito-dever, é um poder: [...] porque os pais podem reter os filhos no lar, conservando-os junto a si, regendo seu comportamento em relação com terceiros, proibindo sua convivência com certas pessoas ou sua frequência a determinados lugares, por julgar inconveniente aos interesses dos menores 22. 19 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990. p. 365-366. 20 LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda dos filhos: os conflitos no exercício do poder familiar. São Paulo: Atlas, 2008. p. 44. 21 GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda compartilhada: um novo modelo de responsabilidade parental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 47 22 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 17 ed. São Paulo:

Dentre as funções paternas atreladas à guarda, existe o dever de assistência, criação, educação, formação da personalidade, orientação moral e apoio psicológico da criança 23. Conforme expõe Lisboa 24, na guarda deve vigorar o princípio do melhor interesse da criança, que pode prevalecer, inclusive, sobre os interesses dos seus próprios genitores, conforme a conclusão judicial extraída a partir do caso concreto. Em havendo o rompimento do vínculo conjugal, pode ser fixada tanto a guarda compartilhada quanto a guarda unilateral dos filhos menores, conforme alteração posterior ao artigo 1.583 do CCB, que diz que A guarda será unilateral ou compartilhada. O parágrafo primeiro do referido dispositivo assim dispõe: Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua e por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. No caso da guarda unilateral, o ex-cônjuge que não detenha a guarda possui o dever legal, esculpido no artigo 1.583, parágrafo quinto, de supervisionar os interesses dos filhos. Veja-se, dessa forma, que independentemente da modalidade de exercício da guarda, o não guardião ainda detém o poder familiar de velar pelos interesses da criança. Já a guarda compartilhada surgiu da necessidade de se encontrar uma maneira que fosse capaz de fazer com que pais, que na o mais convivem, e seus filhos mantivessem os vińculos afetivos latentes, mesmo apo s o rompimento. 25 O objetivo dessa modalidade é manter, entre pais e filhos, os laços afetivos que existiam antes da dissolução do relacionamento conjugal. Isso porque o desentendimento entre os pais na o pode atingir o relacionamento destes com os Saraiva, 2002. p. 444. 23 RODRIGUES, Renata Lima; TEXEIRA, Ana Carolina Brochado. O Direito das Famílias entre a Norma e a Realidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 221. 24 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, v. 5. Direito de família e sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 176. 25 2009. p. 103.

filhos e que e preciso e sadio que estes sejam educados por ambos os pais e na o so por um deles. 26 O problema na seara psicológica se inicia quando da dissolução contenciosa do vínculo conjugal ou de união estável entre o pai e a mãe. O filho fica exposto a um fogo cruzado, podendo inclusive sofrer da chamada síndrome da alienação parental, que será estudada a partir de agora. 5 CONCLUSÃO Considerando o estudo previamente realizado em relação à guarda dos filhos, à alienação parental e ao princípio do melhor interesse da criança, foi possível verificar que o ordenamento jurídico brasileiro dá grande atenção à estabilidade psicológica e emocional da criança, especialmente quando seus genitores resolvem dissolver o vínculo conjugal. Para isso, dispôs-se que o instituto da guarda compartilhada, por envolver a cumplicidade entre os genitores na tomada de decisões que dizem respeito ao filho, pode ser a melhor modalidade de guarda a ser adotada após a separação. Contudo, sua adoção deve considerar o caso concreto, pois, em havendo conflitos intensos entre os genitores, estes conflitos podem se agravar caso seja imposta a eles a guarda compartilhada. Em decorrência desses conflitos entre os pais, verificou-se que pode se instalar um sentimento e uma vontade de vingança do outro cônjuge. Com isso, não é incomum que um dos genitores aquele que detenha a guarda acabe por impor óbices ao direito de visitas do outro e o impeça de manter contato com o filho. Além disso, em casos mais graves, o alienante pode denegrir a imagem do cônjuge alienado para o filho, fazendo com que este passe a odiá-lo e a não querê-lo mais em sua vida. Para dirimir esses problemas, analisou-se a existência de uma legislação específica, que autoriza ao juiz a determinação de diversas medidas de contenção dos conflitos e incentivo de uma boa convivência, levando-se sempre em 26 2009. p. 104.

consideração o melhor interesse da criança e do adolescente. Conclui-se, por conseguinte, que o referido princípio serve como norte para a tomada de decisões perante o judiciário, e deve, também, servir como base para as decisões de vida tomadas pelos pais em relação aos filhos menores, visando preservar uma boa convivência destes com ambos genitores. Para concretizar tal intento, a modalidade da guarda compartilhada mostrou-se como a melhor alternativa, pois preserva as boas relações entre os genitores e incentiva a cumplicidade entre eles perante os filhos. REFERÊNCIAS AKEL, Ana Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Princípios constitucionais de direito de família: guarda compartilhada à luz da lei nº 11.698/08: família, criança, adolescente e idoso. São Paulo: Atlas, 2008. GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda compartilhada: um novo modelo de responsabilidade parental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, v. 5. Direito de família e sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda dos filhos: os conflitos no exercício do poder familiar. São Paulo: Atlas, 2008. LÔBO, Paulo. Direito Civil, Famílias. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2010. ]PEREIRA, Caio Mário da Silva; PEREIRA, Tânia da Silva. Instituições de Direito Civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. RODRIGUES, Renata Lima; TEXEIRA, Ana Carolina Brochado. O Direito das Famílias entre a Norma e a Realidade. São Paulo: Atlas, 2010. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990.

WALLERSTEIN, Judith; LEWIS, Julia; BLAKESLEE, Sandra. Filhos do divo rcio. Traduc a o Werner Fuchs. Sa o Paulo: Edic o es Loyola, 2002.