INIBIÇÃO COMPETITIVA NO AMBIENTE DE PRODUÇÃO DE FRANGOS Fabio José Paganini M.V., Coopers Brasil Ltda e mail: fabiopag@bewnet.com.br Introdução A avicultura de corte está sofrendo fortes pressões em duas frentes, o que de forma geral resumem o desafio que os profissionais do setor têm enfrentado: A elevação dos custos de produção e as freqüentes crises, levando a uma busca incessante da redução dos custos e de produzir com maior eficácia; Pressão dos mercados consumidores, num primeiro momento no mercado europeu mas também em países emergentes, por alimentos mais saudáveis, com menor resíduo químico e disponibilizando cada vez menos opções de drogas para tratamentos preventivos e curativos. O modelo tradicional de produção de frangos, onde a produtividade é garantida com o uso de drogas, tem um futuro incerto. As drogas usadas na avicultura moderna de forma profilática, e que vêm sofrendo as restrições acima mencionadas, podem ser divididas em 2 grupos: Anticoccidianos; Aditivos melhoradores de desempenho (promotores de crescimento). Como alternativa aos anticoccidianos no controle da coccidiose, não há grande preocupação, já que o uso de vacinas contra coccidiose aviária são hoje seguras e comprovadas. A grande preocupação é com relação à substituição aos aditivos promotores de crescimento. Algumas alternativas têm surgido para sua substituição: Probióticos: são suplementos alimentares compostos por cultura pura ou composta de microorganismos vivos com a capacidade de se instalar e proliferar no trato intestinal, com ação de promover o crescimento, beneficiando a saúde do hospedeiro pelo estímulo às propriedades existentes na microbiota natural. Seus modos de ação são: competição por sítios de ligação (exclusão competitiva); produção de substâncias antibacterianas e enzimas; competição por nutrientes; estimulação do sistema imune. (NEPOMUCENO, 2000). Prebióticos: oligassacarídeos não digeríveis pela ave e pelas bactérias patogênicas, alimentando seletivamente algumas bactérias desejáveis, como Lactobacillus spp. e Bifidobacterium spp. (NEPOMUCENO, 2000). 22
Simbióticos: prebióticos. termo que se refere ao uso concomitante de probióticos e Inibição competitiva: diferencia-se da exclusão competitiva por fazer o controle das bactérias patogênicas no ambiente, diminuindo assim a pressão de infecção sobre as aves. Discutiremos a seguir alguns de seus aspectos e nossa experiência com seu uso. O que é inibição competitiva A inibição competitiva consiste em inocular a cama com quantidades bastante elevadas de bactérias que tenham condições de se multiplicar e predominar sobre populações bacterianas potencialmente patogênicas. O Impact P, produto que atua por inibição competitiva, é um composto a base de Bacillus subtilis e suas enzimas proteases. Atua através de 2 mecanismos: Efeito físico: a partir de um grande inóculo inicial e de uma grande capacidade de multiplicação, ocorre a rápida colonização da cama e a ocupação dos espaços disponíveis; Efeito químico: obtido com a liberação para o meio de enzimas proteases, que tem efeito na viabilidade das principais bactérias de importância avícola. Esses efeitos reduzem a chance das aves se inocularem com bactérias nocivas ao ciscarem, reduzindo o stress imunológico e a possibilidade da ocorrência de doenças. Vários estudos foram realizados a fim de comprovar o efeito de Bacillus subtilis no ambiente de produção. Em um dos estudos, a bactéria foi cultivada até a fase log, que é a fase onde morre na mesma taxa em que se reproduz. O meio de cultura foi centrifugado para a remoção das bactérias, permanecendo o meio de cultura e os materiais secretados pelas bactérias durante o crescimento. Dez microgramas desta solução foram impregnados em discos de papel de filtro. Os discos foram colocados em placas de Petri onde havia culturas de E. coli, Salmonella e Clostridium. Foram usados dois discos com antibióticos (controle positivo) e um disco sem antibiótico (controle negativo). Houve a formação de grandes halos de inibição ao redor dos discos de antibióticos e ao redor dos discos impregnados com o extrato de Bacillus subtilis observou-se a presença nítida de uma anel de inibição do crescimento bacteriano. O Bacillus subtillis cria um ambiente desfavorável aos vários patógenos, incluindo E. coli, Clostridium, Salmonella, e recentemente obtivemos dados da Universidade da Georgia mostrando que o intestino das aves criadas sobre cama tratada apresenta menos de 1/3 de bactérias do gênero Campylobacter quando comparado com o intestino de aves criadas sobre cama não tratada. Embora tenhamos avaliado individualmente o efeito do Bacillus subtillis sobre as espécies de bactérias mencionadas acima, foram realizados estudos avaliando-se a contagem total de bactérias Gram negativas no ambiente de produção e sobre o corpo das aves. Estes estudos foram realizados pelo PARC INSTITUTE (Easton Maryland EUA). 23
Dezesseis grupos de aves foram divididos em dois tratamentos (cama tratada e cama não tratada) com oito repetições em cada tratamento. Neste experimento, avaliamos a contagem de bactérias Gram negativas presente na cama de cada box e a contagem de bactérias presentes no exterior das aves. A contagem bacteriana na cama (Tabela.1) foi determinada através da semeadura de 50g de cama em 500 ml de meio triptose fosfato e posterior semeadura de 0,20 ml desta cultura em placas com ágar MacConkey. A contagem bacteriana no exterior das aves (Tabela.2) foi determinada através da imersão total do corpo da ave sacrificada aos 49 dias de idade, em 500 ml de meio triptose fosfato. Em seguido foi realizada a semeadura de 0,40 ml em placas com ágar MacConkey para a contagem de colônias. Tabela 1 Análise microbiológica da cama (N o de bactérias por ml) Box Cama não tratada Inibição competitiva 1 246 102 2 154 85 3 302 137 4 214 196 5 139 165 6 441 43 7 152 87 8 207 49 Média 231.88 108.00 Análise estatística* b a Desvio padrão 94.11 50.68 C.V. 40.59 46.92 * Médias na mesma linha, seguidas de letras diferentes são significativamente diferentes (p<0.05) 24
Tabela 2 Contagem bacteriana no exterior das aves (N o de bactérias por ml) Box Cama não tratada c 1 69 15 2 16 6 3 54 33 4 38 49 5 48 15 6 93 8 7 32 29 8 57 18 Média 50.575 21.625 Análise estatística* b a Desvio padrão 22.07 13.53 C.V. 43.38 62.55 * Médias na mesma linha, seguidas de letras diferentes são significativamente diferentes (p<0.05) Podemos afirmar que a inibição competitiva proporciona um ambiente com menos estresse imunológico, através da inibição competitiva na cama, o que pode proporcionar uma redução de mortalidade, melhora na conversão alimentar, redução das condenações no abatedouro, e melhora no ganho de peso. Indicações para o uso da inibição competitiva em frangos de corte 1. Na melhoria da produtividade A redução ambiental da carga bacteriana se reflete no desafio imunológico a nível de trato digestivo, o que por sua vez leva a um benefício em conversão alimentar. Isso foi comprovado em todas as avaliações feitas no Brasil. Além disso, a mortalidade decorrente de doenças infecciosas também é menor. É o que podemos observar nos dados apresentados a seguir. 25
Tabela 3 Performance de 10 produtores de frango de corte, por 3 lotes consecutivos. Primeiro ciclo Segundo ciclo Terceiro ciclo Média In. In. In. In. Com. Controle Com. Controle Com. Controle Com. Controle Peso médio 2,201 2,299 2,101 2,265 1,973 2,111 2,123 2,157 C. A 1,754 1,839 1,776 1,838 1,789 1,842 1,769 1,839 C. A (2Kg) 1,706 1,768 1,752 1,775 1,795 1,816 1,74 1,801 Idade 41,58 43,13 40,44 43,01 40,4 41,55 40,86 41,97 Mort. (%) 2,413 2,789 2,67 2,93 2,509 2,846 2,53 2,85 IEE 294,53 281,77 284,75 278,12 266,2 267,97 282,08 275,95 Tabela 4 Resultados de performance em 4 produtores de frangos de corte. Aloja Abatidos Mortali mento dade CA GPD PM IEE Controle 7000 6021 13,98 2,084 42,581 1,831 180 Inib. Comp. 7000 6525 6,78 1,831 51,142 2,148 266 Controle 7000 6840 2,28 1,879 50,38 2,116 267 Inib. Comp. 7000 6750 3,57 1,781 50,142 2,106 277 Controle 11550 9945 13,52 1,84 42,439 1,74 204 Inib. Comp. 15200 13803 9,19 1,834 43,658 1,79 222 Controle 6800 6475 4,77 1,973 53,977 2,375 266 Inib. Comp. 6700 6471 3,41 1,797 55,159 2,427 303 Média Controle 8075 7319 8,63 1,935 47,344 2,017 229 Inib. Comp. 8975 8137 5,93 1,81 50,025 2,118 267 Benefícios -2,02-0,125 2,681 0,101 38 Na avaliação a seguir, pode-se constatar outro benefício do uso da inibição competitiva, e para o qual ele é mais utilizado nos EUA, que é a melhoria de performance de produtores com histórico ruim. Vejamos os resultados quando selecionamos produtores com histórico de desempenho inferior à média da integração. 2. Na produção de aves orgânicas Com base em trabalhos anteriores que demonstraram os benefícios da inibição competitiva, quando aplicada em camas de frangos de corte diminuição de 60% de bactérias potencialmente patogênicas na cama e incremento na performance, desenvolvemos o trabalho que apresentamos a seguir. Os tratamentos A,B,C,D e E são diferentes associações de promotores de crescimento Gram negativos com Enramicina (Gram positivo), todos nas dosagens recomendadas pelos fabricantes. No tratamento com Impact P não foram usados promotores de crescimento. 26
Tabela 5 Resultados de performance em produtores com histórico ruim. Produtor Idade Mort. Peso C.A. Cond. C. Parcial IEE IEE Total (6 lotes) A 47 3.83 2651 1,99 0,26 0,30 272,58 246,87 B 47 3.48 2537 1,97 0,45 0,33 264,47 248,28 C 47 5.40 2565 2,10 0,65 0,81 245,84 239,41 D 48 9.54 2565 2,10 0,35 1,00 230,19 248,99 E 48 4.92 2613 2,01 0,61 0,77 257,51 247,90 F 47 3.61 2441 1,98 0,23 0,32 252,83 233,35 G 48 3.64 2517 1,96 0,36 0,17 257,80 244,73 Média 47,42 4.92 2555 2,02 0,42 0,53 254,46 244,22 Integração 46,31 5.02 2486 2,02 0,62 0,61 252,41 O controle da coccidiose em todos os tratamentos foi feito com a vacina Coccivac B, aplicada no primeiro dia de vida. Tabela 6 Resultados de performance de lotes com diferentes associações de promotores de crescimento e um produto para inibição competitiva. Tratamento Peso Ganho de peso Consumo de Conversão Mortalidade (g) (g) ração (g) alimentar (%) A 2596,37 2553,04 4850,07 1,853 2,00 B 2626,07 2582,75 4828,38 1,828 3,00 C 2654,39 2611,14 4926,51 1,836 2,67 D 2648,01 2604,82 4947,40 1,840 3,00 E 2627,43 2584,02 4898,38 1,843 1,00 Inib. Comp. 2605,31 2561,80 4906,61 1,858 2,00 Os resultados obtidos para os diferentes parâmetros não diferiram estatisticamente entre os tratamentos. Aves foram necropsiadas ao longo do experimento para avaliar a incidência de enterites, e também não foram observadas diferenças entre os tratamentos. O tratamento com inibição competitiva apresentou também os menores escores de cake, comprovando o benefício em qualidade de cama obtido com seu uso. 3. Outros benefícios com o uso da inibição competitiva Redução de condenações no abatedouro: condenações de caráter infeccioso, como aerossaculite e celulites; Redução da contaminação de carcaças; Prevenção de doenças bacterianas em geral; Diminuição na condenação por calos de pé; Melhora da qualidade da cama e do ar; Uso da cama por mais lotes consecutivos. 27
Indicações para uso da inibição competitiva em matrizes 1. Controle de Salmonella enteritidis Com base nos excelentes resultados de ação in vitro na inibição de Salmonella spp., desenvolvemos trabalhos que nos permitissem dar maior segurança na sua indicação. Após a antibioticoterapia, a inibição competitiva faz o controle da bactéria no ambiente, evitando que as aves se recontaminem, como vemos no trabalho a seguir. Tabela 7 Resultados de análise de swab de arrasto em galpões de matrizes de corte. Lote 1 Semanas idade 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 Salmonella enteritidis - + - - - - - - - - - Lote 2 Semanas idade 49 51 53 55 57 59 61 Salmonella enteritidis - + - - - - - Ambos os lotes foram diagnosticados positivos. Foi feita antibioticoterapia por 10 dias e aplicação posterior de Impact P. No lote 1 foi feita uma reaplicação na semana 30, mantendo alta a população de Bacillus subtilis na fase de pico de produção, quando as aves são submetidas a forte stress. 2. Reaproveitamento de cama em galpões de recria A grande maioria das empresas está segmentando as granjas de matrizes em galpões de recria e galpões de produção. Ao final das 20 semanas nos galpões de recria, percebe-se que a cama ainda tem, na maioria dos casos, condições de abrigar mais um lote. A grande preocupação é a possibilidade de veicular agentes patogênicos para os lotes consecutivos. Quando tivermos diagnosticado algum problema sanitário importante, o recomendável é não só trocar a cama, como tomar outras medidas que visem eliminar a possibilidade de contaminação do lote seguinte. Entretanto, quando a condição sanitária estiver sob controle, o efeito da inibição competitiva, associado ou não à fermentação da cama tem condições de nos dar a tranqüilidade necessária para alojarmos mais de um lote em galpões de recria. 3. Prevenção de doenças bacterianas em geral A inibição competitiva por Bacillus subtilis tem excelente ação na prevenção de diferentes doenças bacterianas, como artrites bacterianas, colibaciloses, pasteureloses e clostridioses. Para esses casos, recomenda-se a aplicação do produto 2 semanas antes do pico de desafio e aplicações posteriores com intervalo de 6 semanas. 28
Conclusão A partir da experiência que adquirimos com inibição competitiva, acreditamos estar disponibilizando à avicultura brasileira uma alternativa comprovada no incremento de performance e saúde das aves. Sua eficácia e flexibilidade de uso serão sem dúvida um aliado do setor na produção de carne sem riscos à saúde do consumidor, aliando excelente resultado zooeconômico aos lotes. Referências Bibliográficas NEPOMUCENO, E. Probióticos e Prebióticos na Alimentação das Aves. Conferência APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas. Campinas, 2.000. Anais. LOGAN, W. Manejo da cama de frangos de corte e impacto microbiológico no ambiente de produção. Cocciforum. Campinas, junho 2.000. Anais. PAGANINI, F. J. Inibição competitiva no ambiente de produção de frangos de corte Programa Impact P. Cocciforum. Campinas, junho 2.000. Anais. 29