AS IMPLICAÇÕES SOBRE A CONDIÇÃO DE SER DO GÊNERO MASCULINO NO CURSO DE PEDAGOGIA

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Transcrição:

AS IMPLICAÇÕES SOBRE A CONDIÇÃO DE SER DO GÊNERO MASCULINO NO CURSO DE PEDAGOGIA Fernando Santos Sousa fernandossousa@msn.com Faculdade de Educação UnB Resumo Profª Drª Shirleide Pereira da Silva Cruz shirleidesc@gmail.com Faculdade de Educação - UnB O presente trabalho tem como objetivo identificar implicações sobre a condição de ser do gênero masculino no curso de graduação em Pedagogia. Os dados foram analisados seguindo uma perspectiva crítica, que permite um estudo mais aprofundado e aproximado das situações concretas dos indivíduos, não se limitando a uma simples transcrição, além de permitir ao pesquisador se colocar como pensador crítico sobre os dados apresentados. Este estudo foi sustentado a partir de reflexões teóricas de Louro (1997), Cortez (2008), Sousa (2014), Scott (1995), Connel (2008) entre outros. É possível destacar entre os achados do trabalho a necessidade de ações que valorizem a presença do estudante do gênero masculino nos cursos de Pedagogia. Embora gostem do curso e queiram exercer a docência após a formatura, os sujeitos de pesquisa apresentaram uma insegurança no que diz respeito a sua aceitação no mercado de trabalho devido a sua identidade de gênero. Desde cedo à criança deve ter contato com a diversidade de gênero, isso irá contribuir na construção de sua personalidade preparando-a para respeitar o diferente. Os professores são os agentes que podem dar espaço a pluralidade e valorização das diferenças presentes dentro da escola. Para tanto, se faz necessário reflexões sobre práticas e trajetórias profissionais, ampliando saberes e construindo um espaço de discussão e reconstrução de significados. Recomenda-se a promoção de mais estudos que foquem na presença do pedagogo do gênero masculino em turmas de educação infantil e alfabetização, afim de identificar possíveis implicações relacionadas a construção da sua identidade de gênero no exercício da Pedagogia. Palavras-chave: Formação de Professores; Gênero Masculino; Pedagogos; Introdução A falta de conhecimento do conceito de gênero e a análise de suas interferências nas relações sociais por professoras e professores, sejam de anos iniciais ou não, acabam por reforçar os papéis construídos socialmente. Faz-se necessário então discutir o que é gênero e suas implicações nas atividades pedagógicas das escolas. Neste sentido, a categoria de gênero pode ser usada para compreender a maneira com que se estabelecem as relações de conflito sofridas por pedagogos do gênero masculino nos anos iniciais e educação infantil. As consequências dessas relações 9390

2 poderiam passar despercebidas caso não houvesse essa categoria. Portanto é preciso refletir sobre a importância de estudos de gênero na formação de professores. Segundo Scott (1995) existem funções sociais atribuídas a homens e a mulheres que muitas vezes são perpetuadas mas não percebidas, como por exemplo a sexualidade da mulher submetida aos interesses pessoais do homem. Nessas representações simbólicas, as práticas de cuidado, de controle maternal e com a saúde são atribuídas ao gênero feminino. Esse contexto gera um clima de tensão, já que o cuidar de crianças exige contato físico constante e posturas afetivas por parte dos profissionais, e estes são atributos cultural e socialmente femininos. Logo, quando os pedagogos utilizam gestos, carinhos e até contato corporal, isso pode ser visto como algo não recomendável por parte destes profissionais às crianças no ambiente escolar. Uma vez que a escola ainda é permeada por esses valores, percebe-se a cada dia maior afastamento de profissionais do gênero masculino da profissão. Um dos argumentos que justificam o distanciamento dos homens na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental está ligado a casos de pedofilia. Segundo Cortez (2008) a interpretação do cuidar, como gestos e carinhos implicando um contato corporal, levantam alguns problemas na competência destes profissionais. Aspectos na atividade profissional relacionados ao cuidado continuam sendo associados ao gênero feminino, fazendo com que alguns educadores evitem contatos corporais com as crianças, para evitar supostas alegações de assédio e abuso sexual. A compreensão e divulgação das vivências e sentimentos do pedagogo do gênero masculino em suas dificuldades podem trazer contribuições no que se refere a um novo diálogo ou nova perspectiva sobre as relações de poder, possibilitando a construção de novas formas de atuação neste ambiente de construção humanista. Uma educação de qualidade não é construída pela relação de homens e mulheres, e sim por relações que visam promover o desenvolvimento social, psicológico e cultural de seres humanos. Para tanto, tivemos como objetivo identificar as implicações sobre condição de ser do gênero masculino nos cursos de Pedagogia. Utilizamos uma abordagem qualitativa a partir de uma perspectiva crítica que permite um estudo mais aprofundado e aproximado das situações concretas dos indivíduos, não se limitando a uma simples transcrição, além de permitir ao pesquisador se colocar como pensador crítico sobre os fatos sociais. Foram aplicados 20 questionários aos estudantes do gênero masculino do 9391

3 curso de graduação em Pedagogia da Universidade de Brasília de forma aleatória. Estes continham questões como a expectativa para o mercado de trabalho, justificativas para a escolha do curso, impressões da docência a partir de suas vivências acadêmicas, os caminhos que tomam durante a graduação e seus objetivos profissionais após a conclusão. Implicações sobre condição de ser do gênero masculino no curso de Pedagogia Através das análises percebemos que existe na concepção dos estudantes uma desvalorização do trabalho docente, o que acaba por afastar, no momento atual, não só homens como também mulheres do espaço de sala de aula. Os estudantes que responderam ao questionário demonstraram o objetivo de assumir espaços de atuação mais rentáveis e de maior status como a Pedagogia empresarial, hospitalar, gestão escolar, entre outras áreas do curso que não são as de sala de aula. As implicações relacionadas ao gênero acabam por sobrecarregar os indivíduos de metas, expectativas, e determinações que são feitas pelas características e responsabilidades atribuídas socialmente a homens e mulheres. As construções a respeito do gênero determinam o que é próprio para homem ou que é próprio para mulher de acordo com sua condição biológica. Destaca-se também nos dados da pesquisa que quando os estudantes de pedagogia escolheram o curso, contaram sempre com a opinião de alguém que dissesse que eles deveriam fazer um curso de maior status social, de maior ganho financeiro e reconhecimento. Entre os entrevistados, 10 afirmaram que sofreram críticas de amigos por ter escolhido o curso de Pedagogia, 8 responderam que são respeitados quanto à escolha e apenas 2 afirmaram que sofreram críticas de familiares. A cobrança por uma normatividade existe para ambos os sexos, entretanto, o homem é constantemente cobrado a ser viril, ter uma postura severa e de maior distanciamento de atividades ou sentimentos que podem levá-lo a ser comparado com uma mulher. Quando perguntados sobre as áreas da Pedagogia que querem atuar após a formatura, a maioria dos estudantes manifestaram o desejo em trabalhar com Pedagogia Empresarial, espaços administrativos, entre outros ambientes que não são os de sala de aula. Isso se confirma na perspectiva dos estudantes após a conclusão do curso, em que apenas 1 respondeu querer atuar como professor de educação infantil, 3 desejam atuar na área de Educação de Jovens e Adultos e 12 confirmam o direcionamento desses 9392

4 estudantes homens para outros campos do curso, sendo a área de maior interesse a Pedagogia Empresarial. Ao serem questionados se existem habilidades próprias a homens e mulheres. Os resultados mostraram que para metade dos respondentes, homens e mulheres possuem habilidades próprias, enquanto a outra metade não acredita existir essa diferença de habilidades entre os gêneros. As respostas positivas, como podemos perceber na fala de um estudante de 19 anos do quarto semestre, apontam uma aproximação das atividades nos anos iniciais com as características emotivas, atividades artísticas e ligadas a sensibilidade: As mulheres estão dentro da sala de aula, os homens estão em cargos administrativos Com base nesta fala é possível mais uma vez relacionar as atividades a serem executadas por homens e mulheres no âmbito da escola neste nível de ensino, com características natas a cada sexo, sendo o homem bem visto no cargo de diretor e a mulher como professora. Louro (1997) defende a promoção de reflexões que incentivem da (des)construção de verdades estabelecidas socialmente em relação ao gênero, bem como as relações de poder inseridas nesse processo. Quando os cursos de formação desconsideram o grau de complexidade dessa questão, também contribuem para a perpetuação e reforço das relações de poder dentro da escola e fora dela. Em acordo com Connel (1995), uma nova política de gênero significa uma nova ótica, um novo pensamento, desconstrução de culturas repressoras. Para isso, defende-se uma maior atenção à condição de ser estudante do gênero masculino na graduação, preparando-o para lidar com possíveis situações embaraçosas em seu ambiente profissional por consequência de sua identidade de gênero. Considerações Finais Este trabalho teve como objetivo identificar implicações sobre condição de ser do gênero masculino nos cursos de Pedagogia. Através dos dados coletados foi possível perceber a necessidade de discussões a respeito da construção do gênero masculino e feminino nas relações sociais, em especial na formação e nas atividades docentes de professores, sejam eles dos anos iniciais ou não. Destaca-se nos dados analisados, que o constante medo dos homens em serem mal interpretados acaba por submetê-los a fazer escolhas de outras atividades profissionais dentro do curso de Pedagogia, sendo estas atividades ligadas à 9393

5 administração, política e distanciamento de práticas sensíveis e a aproximação das atividades de poder. Essas visões estereotipadas os fazem acreditar na incompetência ou na falta de habilidades para atuarem como professores de educação infantil e turmas de alfabetização. Faz-se necessário a promoção de discussões a respeito das implicações do gênero no trabalho pedagógico e na formação da identidade profissional. 7 dos 20 estudantes que responderam os questionários pensaram em desistir do curso ao refletir sobre a condição de ser do gênero masculino na Pedagogia. Tal dado mostra a necessidade dos cursos de graduação em Pedagogia promoverem ações que visem o acolhimento desses futuros profissionais e também a problematização da questão a fim de buscar caminhos que visem a transformação dessa realidade. É recomendável maiores incentivos a estudos que foquem na presença de pedagogos do gênero masculino nos anos iniciais, em especial na educação infantil e turmas de alfabetização, enfatizando os aspectos positivos de tê-los atuando como professores neste nível de ensino. Vale ressaltar que as masculinidades e feminilidades devem estar interligadas. Em nosso contexto educacional tudo ainda é visto de forma fragmentada, a negação da incorporação das masculinidades e feminilidades em ambos os sexos dificulta o desenvolvimento integral das pessoas, de suas emoções, anseios e objetivos. Referências Bibliográficas CONNELL, Robert. Políticas da masculinidade. In: Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 185-206, 1995. CORTEZ, Mariana. Educar no Feminino e Masculino. In: Estudos Políticos e Sociais. Lisboa. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2008. p. 293-471. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pósestruturalista. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997. p. 43. SOUSA, J. V. Método materialista histórico-dialético e pesquisa em políticas educacionais uma relação em permanente construção. In: CUNHA, C; SOUSA, J. V; SILVA, M, A. (Org). O método dialético na pesquisa em educação Ed. Autores Associados. Brasília, 2014. SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2jul./dez. 1995. 9394