Apelação Cível n. 2009.037856-0, de Brusque Relator: Des. Monteiro Rocha DIREITO CIVIL - OBRIGAÇÕES - RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - COLISÃO FRONTRAL - MOTOCICLETA DO AUTOR E CAMINHÃO DA RÉ - ESTRADA ESTREITA E NÃO PAVIMENTADA - IMPROCEDÊNCIA - RECURSO DO AUTOR - INVASÃO DE CONTRAMÃO PELO CAMINHÃO DA RÉ - INCOMPROVAÇÃO - COLISÃO NA MÃO DE DIREÇÃO DO VEÍCULO DA RÉ - CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA - RECURSO DESPROVIDO - SENTENÇA MANTIDA. Age com culpa exclusiva, consubstanciada em imprudência, motorista que invade contramão de direção e colide com automotor que trafegava em sentido contrário. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 2009.037856-0, da comarca de Brusque (Vara da Família Órfãos, Sucessões, Inf e Juventude), em que é apelante Márcio Rodrigo Alves, sendo apeladas Calwer Mineração Ltda. e Tokio Marine Seguradora S/A: A Quinta Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, negar provimento ao recurso. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Desembargadores Henry Petry Junior e Odson Cardoso Filho. Florianópolis, 27 de setembro de 2012. Monteiro Rocha PRESIDENTE E RELATOR
RELATÓRIO Trata-se de ação indenizatória movida por Márcio Rodrigo Alves contra Calwer Mineiração Ltda, em razão de danos sofridos em acidente de trânsito. Narrou que, em 2-5-2005, por volta das 10:30 hrs, trafegava com sua motocicleta - Honda CG Titan KS, placa MBI 0493 - pela estrada geral Ourinhos Botuverá, quando, ao fazer uma curva à esquerda, deparou-se com o caminhão conduzido por Cloedir Fidelis Maestri, e de propriedade da empresa ré, que trafegava na contramão, ocasionando a colisão frontal. Afirmou que o caminhão da ré trafegava em velocidade incompatível com a permitida no local do acidente. Disse que o acidente lhe causou danos materiais e pessoais. Asseverou que em virtude das lesões sofridas, teve sua perna esquerda amputada. Por tais fatos, requereu, liminarmente, a fixação de pensão mensal em 10 SM. No mérito, postulou a condenação da empresa ré ao pagamento de indenização nos seguintes termos: a) danos materiais em quantia não especificada; b) pensão mensal em 10 SM desde o acidente e até que complete 75 anos de idade; c) danos morais e estéticos em 5.000 SM. Citada, a ré contestou, requerendo, em preliminar, a denunciação da lide à Real Seguros S/A - ABN AMRO. No mérito, afirmou que o acidente ocorreu por culpa exclusiva da vítima, que transitava na contramão de direção. Afirmou que não é possível conduzir um caminhão em alta velocidade na estrada onde ocorreu o acidente, em virtude de sua precariedade e de seu aclive. Impugnou as verbas pretendidas pelo autor, pugnando, ao final, pela improcedência dos pedidos exordiais. Em decisão interlocutória, o magistrado indeferiu o pedido de antecipação de tutela, determinando, ato contínuo, a citação da litisdenunciada para apresentar contestação. Citada, a seguradora/litisdenunciada contestou, acatando a denunciação nos limites da apólice contratada. Quanto ao mérito, afirmou que o acidente decorreu de culpa exclusiva da vítima. Impugnou os pedidos indenizatórios do autor, requerendo a improcedência de seus requerimentos. Houve réplica. Em audiência de instrução e julgamento, foram ouvidas quatro testemunhas arroladas pelas partes. As partes apresentaram alegações finais. Processado o feito, sobreveio sentença, na qual o magistrado a quo julgou improcedentes os pedidos exordiais. Inconformado, o autor interpôs apelação reiterando os argumentos apresentados na inicial, requerendo o provimento do recurso para julgar procedentes os pedidos iniciais. Ré e litisdenunciada apresentaram contrarrazões.
É o relatório.
VOTO Conheço do recurso, porquanto presentes os pressupostos objetivos e subjetivos de sua admissibilidade. Trata-se de apelação interposta pelo autor contra sentença que julgou improcedentes os pedidos formulados por si contra a empresa ré, em razão de danos sofridos em razão de acidente de trânsito. O dispositivo legal aplicável ao caso vertente é o do art. 186 do Código Civil vigente à época dos fatos, para o qual "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". Para tanto, faz-se mister à procedência desta ação a presença dos seguintes requisitos: a) ação ou omissão do agente; b) existência de dano; c) relação de causalidade; d) dolo ou culpa do agente. Ato lesivo é toda ação ou omissão voluntária que viola direito ou causa prejuízo a outrem. Dano é toda lesão a bens ou interesses juridicamente tutelados, sejam de ordem patrimonial, sejam de ordem puramente moral (AGOSTINHO ALVIM, Da Inexecução das Obrigações e suas consequências, Saraiva, 1972, p. 172). Nexo causal é um liame jurídico que se estabelece entre causa (fato lesivo) e consequência (dano), de uma tal maneira que se torne possível dizer que o dano decorreu daquela causa. Culpa, a seu turno, que em sentido amplo envolve o dolo, é a vulneração a um dever jurídico que possibilita a imputação do ilícito a alguém, em virtude da reprovação social daí decorrente. Busca o apelante a reforma da sentença monocrática para reconhecer a responsabilidade da empresa ré pelo acidente de trânsito que o lesionou, argumentando que o condutor do veículo de propriedade da requerida foi imprudente ao conduzir seu veículo em alta velocidade e pela contramão de direção em estrada estreita. Sem razão o recorrente. De todo o conjunto probatório constante dos autos, extrai-se que o acidente envolvendo a motocicleta do autor e o caminhão de propriedade da ré ocorreu em estrada estreita de chão batido, localizada em um morro e extremamente perigosa para os veículos que ali circulam. Em que pese a divergência dos depoimentos das testemunhas, tem-se que o boletim de ocorrência, contendo croqui, indicou o ponto de colisão entre os veículos do autor e da ré, sendo claro no sentido de que o autor perdeu o controle de seu veículo, invadindo a pista contrária e provocando a colisão (fl. 81 v.). O croqui conduz à premissa de que, após a colisão, o veículo da ré se encontrava em sua mão de direção (ocupando naturalmente o espaço da pista que necessitava para trafegar, em razão do tamanho do caminhão), e a motocicleta do autor completamente na via inversa do tráfego. Embora o acidente não tenha sido presenciado por testemunhas, da
prova testemunhal colhe-se o seguinte: - "o acidente ocorreu antes um pouquinho de fechar a curva. O autor acha que tem uns 45 graus de inclinação ali no local do acidente [mostrou inclinando um livro na mesa]. (...) mas, aonde ocorreu o choque, a motocicleta já podia ver o caminhão. Quando chegou ao local, o caminhão estava mais para sua direita da pista, deixando espaço para a moto passar na sua mão de direção [mostrou cerca de dois metros, comparando sua posição com a parede da sala de audiências]" (testemunha Valdemiro Leoni - fl. 211). - "quando o depoente chegou para atender a ocorrência, o caminhão estava praticamente no meio da pista, porque a estrada é estreita, mas havia um pouco mais de espaço para esquerda do caminhão (sem incluir o barranco - área verde) ao elaborar o croqui de fls. 80 e seguintes dos autos, sendo que confirma as metragens ali expressas" (testemunha Antônio Martins Vieira- fl. 222). Outrossim, não merece guarida o relato do autor de que o caminhão da ré trafegava em alta velocidade, pois se trata de veículo extremamente pesado trafegando em estrada sem pavimentação e na subida de um morro. Logo, não é crível a alta velocidade defendida pelo autor. Assim, conclui-se que o autor agiu culposamente, através de imprudência, pois invadiu a mão de direção do veículo da empresa requerida, ocasionando a colisão. Nesse sentido, já tive oportunidade de manifestar em caso que, mutatis mutandis, aplicou-se raciocínio jurídico análogo ao do caso concreto: "Age com imprudência motorista que invade mão de direção de veículo que trafega em sentido contrário, causando colisão frontal neste" (TJSC, 5ª Câm. Dir. Civ., Rel. Des. Monteiro Rocha, Apelação Cível n. 2012.039226-1, de Gaspar, j. em 13-9-2012). Destarte, evidenciada a culpa exclusiva do autor no evento danoso, a consequência é improcedência dos pedidos exordiais. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. É o voto.