ADRIANA DE ALMEIDA BEZERRA A CARACTERIZAÇÃO DO VIBRATO NOS GÊNEROS LÍRICO E SERTANEJO: ASPECTOS ACÚSTICOS E PERCEPTIVO-AUDITIVOS

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Transcrição:

ADRIANA DE ALMEIDA BEZERRA A CARACTERIZAÇÃO DO VIBRATO NOS GÊNEROS LÍRICO E SERTANEJO: ASPECTOS ACÚSTICOS E PERCEPTIVO-AUDITIVOS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2006

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ADRIANA DE ALMEIDA BEZERRA A CARACTERIZAÇÃO DO VIBRATO NOS GÊNEROS LÍRICO E SERTANEJO: ASPECTOS ACÚSTICOS E PERCEPTIVO-AUDITIVOS Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde. Área de concentração: Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr. Lídio Granato Co-orientadora: Prof a Dr a Zuleica Camargo FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2006

DEDICATÓRIA

Aos meus pais Emiliano e Maria Alegria e minha irmã Guiga por me ensinarem o valor da palavra amor e respeito. Ao meu noivo, futuro marido Renato Amatto meu porto seguro e maior incentivador na minha difícil profissão.

AGRADECIMENTOS

Ao Meu Deus por me guiar em tudo o que vivi até esse momento, por me trazer paz em todos os momentos de desespero e angústia e por iluminar o meu caminho. Ao meu orientador, Prof. Dr. Lídio Granato, pelo respeito, pela generosidade, pelo acolhimento, pela atenção e pelo exemplo de profissional. À minha co-orientadora, Prof a Dr a Zuleica Camargo pelo envolvimento, por todo o conhecimento acerca da análise acústica e pela leitura atenta do trabalho. Ao Dr. André Duprat pelo incentivo e atenção no desenvolvimento do trabalho. Por sempre acreditar com respeito no meu potencial. À Prof a Dr a Marta Assumpção de Andrada e Silva por despertar em mim o instinto da pesquisa e o encantamento da voz cantada, pelas discussões e questionamentos. À Dr a Samantha Dutra pela disposição em realizar TODOS os exames otorrinolaringológicos e pela sua incontestável doçura no atendimento aos pacientes e pela total disponibilidade em ajudar sempre. À Dr a Cláudia Alessandra Eckley pelas valiosas contribuições e muitas discussões durante o desenvolvimento do trabalho.

À Prof a Dr a Sílvia Pinho pelas preciosas contribuições na qualificação do trabalho. À minha amiga Fonoaudióloga Sabrina Cukier, melhor analista acústica que conheci, pelas aulas, pelo incentivo, pelo respeito; sem dúvida muito desse trabalho se deve a você!!! Ao Prof. Dr. Maurílio Nunes Vieira, pelo suporte á extração de medidas e leitura a cerca da inspeção de dados acústicos. Ao Prof. Dr. Leonardo Fucks pela disponibilidade na leitura e valorosas idéias. Ao Aderbal Soares, meu professor de inglês por toda a ajuda nas difíceis e complexas traduções, por estar sempre disponível nas horas de maior desespero. À minha secretária Angélica, meu anjo da guarda, pela palavra amiga nos momentos de desespero, pela sua impecável organização e incentivo. À Rita, secretária da Pós Graduação em Ciências da Saúde, por segurar a barra literalmente e ter sempre uma solução para os problemas. À Yara Gustavo de Castro, consultora estatística do LIIAC (PUC-SP) por toda paciência e disponibilidade na realização da análise estatística.

Às juízas (professora de canto popular, professora de canto lírico e fonoaudióloga) pela valiosa contribuição a esta pesquisa. Ao Sérgio Casoy, meu professor de história da ópera pela enorme contribuição e por despertar em mim a paixão pela ópera. À soprano Solange Siqueirolli, querida paciente e amiga, pelo enorme conhecimento da técnica lírica e por disponibilizar as partituras. Ao tenor Miguel Geraldi por todo conhecimento no canto lírico, por todas sugestões e pela humildade. À cantora Meire Galvão, minha paciente linda pela ajuda constante na escassa literatura sertaneja e por acima de tudo defender o canto sertanejo com muita dignidade e coração. À Fonoaudióloga e amiga Thays Vaiano por de alguma forma sempre querer ajudar. A todos os residentes do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo pela disponibilidade e ajuda ao trabalho. À todos os cantores que participaram da pesquisa com interesse e disponibilidade.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 01 1.1. OBJETIVO... 06 1.1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 06 2. REVISÃO DE LITERATURA... 07 2.1. O VIBRATO... 08 3. MATERIAL E MÉTODO... 17 4. RESULTADOS... 25 5. DISCUSSÃO... 40 6. CONCLUSÃO... 46 ANEXOS... 48 7.1 ANEXO 1... 49 7.2 ANEXO 2... 50 7.3 ANEXO 3... 51 7.4 ANEXO 4... 52 7.5 ANEXO 5... 53 7.6 ANEXO 6... 54 7.7 ANEXO 7... 55 7. BIBLIOGRAFIA... 56 FONTES CONSULTADAS RESUMO ABSTRACT

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Estrofe 8 da partitura da ópera L Elisir d Amore, Ária Una fortiva lágrima.. 21 Figura 2. Forma de onda (I) e espectrograma de banda estreita (II) de amostra de emissão do cantor lírico da vogal sustentada [a] com vibrato 23 Figura 3. Nuvem de pontos referente à avaliação perceptivo-auditiva realizada pelos juízes nas emissões de voz cantada nos gêneros lírico e sertanejo 30 Figura 4. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 1 33 Figura 5. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 2 33 Figura 6. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 3 33 Figura 7. Espectrograma de banda estreita deamostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 4 34 Figura 8. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 4 34

Figura 9. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 6 34 Figura 10. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 7 35 Figura 11.. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 8 35 Figura 12. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 9 35 Figura 13. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero lírico Sujeito 10 36 Figura 14. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 1 36 Figura 15. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 2 36 Figura 16. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 3 37

Figura 17. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 4 37 Figura 18. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 5 37 Figura 19. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 6 38 Figura 20. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 7 38 Figura 21. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 8 39 Figura 22. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 9 39 Figura 23. Espectrograma de banda estreita de amostra de emissão da vogal sustentada [a] no canto do gênero sertanejo Sujeito 10 39

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Respostas do questionário de formação do cantor e auto-percepção do vibrato no gênero lírico 27 Tabela 2. Respostas do questionário de formação do cantor e auto-percepção do vibrato no gênero sertanejo 28 Tabela 3. Avaliação perceptivo-auditiva do vibrato, na emissão da vogal sustentada [a] no canto, pelos juízes para os gêneros lírico e sertanejo 29 Tabela 4. Resultados da taxa de vibrato na emissão da vogal sustentada [a] no canto, nos gêneros lírico e sertanejo 31 Tabela 5. Resultados estatísticos em relação à taxa do vibrato na emissão da vogal sustentada [a] no canto, nos gêneros lírico e sertanejo 31 Tabela 6. Resultados da extensão do vibrato, na emissão da vogal sustentada [a] no canto, nos gêneros lírico e sertanejo 32 Tabela 6. Resultados estatísticos em relação à extensão do vibrato, na emissão da vogal sustentada [a] no canto, nos gêneros lírico e sertanejo 32

1. INTRODUÇÃO

A voz cantada nas últimas décadas tem sido amplamente estudada pela Fonoaudiologia, Otorrinolaringologia, Música, Engenharia e Física pensando-se não apenas no produto final e sim nas etapas de produção e no mecanismo do trato vocal necessário para o canto trazendo com isso boas contribuições para o aperfeiçoamento da técnica vocal. A arte de cantar nasceu há séculos atrás e vem se aperfeiçoando nas diferentes escolas de música. Com isso novas técnicas tem sido criadas e desenvolvidas para o canto. A maior parte da literatura sobre voz cantada baseia-se na técnica lírica, na qual cantores extremamente treinados realizam grandes estudos acerca de sua técnica. É valido ressaltar que esse grupo de cantores líricos extremamente treinados é pequeno, uma vez que outros estilos, entre eles o popular, o gospel, o pop, o rock e o sertanejo representam a grande massa da população de cantores. Assim novos estilos de voz cantada também surgiram demandando um estudo apurado e cada vez mais técnico. O vibrato é um ornamento vocal bastante encontrado não só na voz como também em instrumentos de sopro e cordas. Em muitos gêneros de voz cantada, o vibrato é característico entre eles o lírico, o sertanejo, o rock e o gospel. O vibrato varia de acordo com o gênero de voz cantada, ou seja, o gênero é determinante para a produção do vibrato Sataloff (1987).

Em alguns gêneros de canto o seu aparecimento é condenado e antiestético como em outros o seu aparecimento caracteriza o estilo de canto. Poucos estudos sobre o vibrato em diferentes gêneros de canto foram feitos com isso o vibrato lírico foi o que mais se estudou e dessa forma acabou sendo a maior referência para o aperfeiçoamento da técnica. O vibrato lírico vem sendo estudado, tanto do ponto de vista acústico, quanto da fisiologia do trato vocal já há muito tempo. Seashore (1937) foi o primeiro a definir o vibrato como sendo uma pulsação do pitch, geralmente acompanhado de uma variação do loudness e do timbre, afirma que a extensão e o pulso do vibrato garantem a flexibilidade, a firmeza e a riqueza do tom. Também é definido como um tremor vocal fisiológico e ordenado, com uma modulação regular da freqüência fundamental (Hirano et al, 1995). Desde a primeira publicação científica realizada por Seashore (1937) duas medidas em relação ao vibrato são consistentes: a taxa e a extensão. Defini-se como taxa do vibrato, o número de ciclos por segundo, sendo medida em hertz (Hz) enquanto que a extensão do vibrato é definida como o quanto a freqüência de fonação afasta-se acima e abaixo da sua média durante um ciclo do vibrato, medida em semitons Sundberg (1995). Já o vibrato sertanejo começou a ser estudado por CURCIO (1999) que em seu trabalho, comparou o vibrato em diferentes gêneros de canto: o sertanejo, o lírico e o rock, observando que os valores médios da taxa do vibrato no estilo lírico e no estilo sertanejo se mostraram equivalentes e mais

elevados quando comparados com o estilo rock. ROSA (2003) estudou o vibrato sertanejo do ponto de vista acústico e fisiológico e concluiu que a taxa do vibrato no canto variou entre 5,2 e 7,8 Hz; enquanto que a extensão do vibrato no canto variou entre 0,03 e 1,57 semitons. Esses achados não diferiram dos valores descritos na literatura para o vibrato lírico. No canto lírico a utilização do vibrato é bastante controversa na formação do cantor em virtude do amadurecimento vocal. Muitos professores referem que no início da formação do cantor o vibrato não é bem vindo, pois ainda não se tem técnica para a produção relaxada do vibrato. Sendo assim o cantor em formação lírica costuma prender o vibrato na tentativa de fortalecer a produção da voz. Já com a técnica incorporada, o vibrato deve aparecer mostrando o relaxamento do trato vocal e a firmeza da voz. A técnica de como adquirir o vibrato também é bastante controversa, muitos cantores referem que o aparecimento se dá com o amadurecimento vocal aliado a técnica, outros referem certos facilitadores, como posicionamento da base de língua e da mandíbula e sustentação da musculatura abdominal. Houve com o tempo um refinamento dos estudos a cerca da produção do vibrato avaliando não somente o trato vocal como também a Eletroglotografia (EEG), a Eletromiografia (EMG) e análise acústica.

A análise acústica tem fundamental importância uma vez que o aprofundamento do plano acústico media a relação entre a percepção e a produção do sinal vocal. Com isso traz grandes contribuições dos aspectos impressos no sinal sonoro os quais desencadeiam a sensação auditiva. Dessa forma o presente estudo tem como objetivo analisar o vibrato lírico e sertanejo no que diz respeito aos correlatos acústicos e perceptivoauditivos, traçando com isso as diferenças e semelhanças observadas nos dois gêneros. Sendo assim a caracterização do vibrato nos gêneros lírico e sertanejo, poderá trazer contribuições não somente aos intérpretes e professores desses gêneros, como também a fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas os quais atuam no atendimento à profissionais da voz despertando o interesse de novas pesquisas a fim de conhecer melhor o universo do canto.

1.1 OBJETIVO Analisar, do ponto de vista acústico e perceptivo-auditivo, a produção do vibrato na voz cantada, no gênero lírico e no gênero sertanejo. 1.1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Descrever do ponto de vista acústico as emissões do vibrato no gênero lírico e no gênero sertanejo. - Descrever do ponto de vista perceptivo-auditivo as emissões do vibrato no gênero lírico e no gênero sertanejo. - Comparar as percepções dos cantores, os achados acústicos e perceptivo-auditivos nos dois gêneros de voz cantada, o lírico e o sertanejo e definir diferenças e semelhanças entre os dois gêneros.

2. REVISÃO DE LITERATURA

O canto vem sendo estudado há alguns séculos; escolas foram criadas na tentativa de se conseguir estabelecer técnicas facilitadoras do canto lírico em diferentes línguas entre elas, as de maior nome, são: a italiana, a francesa e a alemã. Conservatórios e escolas de música surgiram fazendo do canto uma arte cada vez mais técnica. Atualmente, o canto popular tem um grande destaque, com surgimento de cursos de graduação destinados a esse estilo de canto. Alguns ornamentos vocais, entre eles o vibrato, são objetos de estudo desde o século passado até os dias atuais, desenvolvendo-se algumas teorias e provocando muitas discussões. SEASHORE (1938) foi o grande precursor do estudo do vibrato, e refere que o vibrato é o mais importante ornamento musical tanto na voz como nos instrumentos. Em sua pesquisa relata que o vibrato é uma pulsação do pitch e do loudness ocorrida em toda extensão vocal e capaz de proporcionar à voz flexibilidade, firmeza e riqueza. Em estudo realizado com 29 cantores líricos observou valores da taxa do vibrato variando de 5,9 a 7,8 Hz e da extensão do vibrato variando de 0,31 a 0,98 semitom. VENNARD (1967) em seu trabalho relata que o vibrato é um fenômeno natural e perfeito embora sua origem seja no centro nervoso e sua taxa seja a mesma encontrada nos tremores vocais oriundos de alterações neurológicas. Refere que os músculos envolvidos na produção do vibrato são respiratórios,

ressonadores e laríngeos. Os músculos ressonadores são os músculos do véu palatino e da mandíbula, os músculos laríngeos especialmente o músculo cricotireoideo e o músculo respiratório é o epigastrium e não o diafragma, como muitos autores referem, pois o diafragma apenas se movimenta na mudança do tom e não na produção do vibrato especificamente. Em sua pesquisa realizada com cantores líricos da época, encontrou valores para a taxa do vibrato entre 6 e 7 Hz e extensão maior ou igual a 0,5 semitom. ROSENTHAL (1974) afirma que o vibrato é uma oscilação de altura e de intensidade da voz, agradável se empregada com propriedade, para manter "viva" uma nota, mas quando utilizado em demasia é frequentemente associado a ocasiões de abuso vocal. HICKS, TEAS (1987) em seu estudo com utilização da eletroglotografia com foco na produção do vibrato em cantores treinados do gênero lírico observou que muitos cantores não conseguem inibir a produção do vibrato quando solicitado, mostrando o quanto o vibrato está incorporado na performance do cantor. Sugere que o sexo não age como uma variável diferenciadora na produção do vibrato. A Eletro-gloto-grafia (EGG) não mostrou diferença alguma nas ondulações envolvendo a presença ou ausência de vibrato, ou seja, as ondulações não se alteraram, não havendo mudança na vibração das pregas vocais percebida pelo exame. SUNDBERG (1987) define dois tipos de vibrato, o de amplitude e o de freqüência. Sendo ambos modificações periódicas da modulação de uma

destas duas características físicas. Relata ainda que o vibrato seja fruto de uma contração alternada da musculatura diafragmática e laríngea, principalmente o músculo cricotireoideo, podendo haver envolvimento de outras estruturas do trato vocal como os músculos milohioídeo, véu palatino, língua, paredes laterais da faringe e até mesmo a mandíbula. Refere que a taxa do vibrato varia de 5,5 Hz a 7,5 Hz e a extensão do vibrato varia de 1 a 2 semitons. Taxas maiores que 7,5 indicam a presença do tremolo o qual é caracterizado por uma modulação mais rápida e menos regular que o vibrato enquanto que o trillo é caracterizado por uma extensão maior que 2 semitons. Extensões maiores que 2 semitons e com taxas de vibrato muito baixas tendem a ter uma qualidade acústica ruim e geralmente estão associadas a vozes com senilidade enquanto que extensões menores que 0,5 são típicas no vibrato de instrumentos de sopro. RAMIG, SHIPP (1987) realizaram estudo comparando o tremor vocal característico em doenças neurológicas com o vibrato vocal produzido por cantores do gênero lírico. Foram executadas análises do vibrato vocal produzido por nove cantores de óperas e do tremor vocal na fonação sustentada de pacientes com Parkinson, esclerose lateral amiotrófica, atrofia muscular espinhal, tremor essencial e disfonia espasmódica adutora. O autor observou que o tremor vocal teve uma taxa de oscilação mais rápida e uma extensão de amplitude maior que o vibrato. A taxa média do vibrato vocal em cantores foi de 5,52 Hz enquanto que a taxa média de tremor vocal foi de 6,77 Hz. O autor cria a hipótese de que o vibrato em cantores e o tremor vocal em pacientes possam ser originados pela mesma estrutura.

ROTHMAN et al (1990) em seu trabalho tentaram relacionar correlatos acústicos e perceptuais do vibrato em amostras cantadas produzidas por cantores diferentes em estágios inicias e tardios em relação á carreira desses cantores. A análise dos dados revelou que alguns parâmetros podem distinguir entre bom e mau vibrato apesar da variação de julgamentos dos ouvintes. Os autores referiram ainda que o declínio vocal não seja sempre devido ao vibrato dos cantores, dessa forma muitos cantores em estágios de dificuldade vocal podem manter um bom e saudável vibrato. SHIPP et al (1990) em sua pesquisa com quatro cantores sendo três profissionais e um amador, estudou o vibrato durante a emissão da vogal sustentada [a] em nota reta, com vibrato e com vibrato exagerado utilizando a Eletromiografia (EMG) do músculo cricotireoideo. Observaram que o sinal do músculo sofreu relativa mudança durante ambas as produções de vibrato. Os autores propuseram duas classes de vibrato: 1) mediado pelo abdômen, ou seja, produzido por contrações dos músculos abdominais para modular a freqüência fundamental. Este tipo de vibrato está sob controle voluntário e há um movimento de modulação de intensidade sincrônico com a oscilação da freqüência fundamental já que as variações subglóticas de pressão de ar são intimamente relacionadas à intensidade vocal 2) mediado pela laringe, o mais comum dos vibratos na qual a modulação da freqüência fundamental resulta da atividade do músculo cricotireoideo. Este tipo de vibrato está sob controle involuntário e aparece apenas quando um equilíbrio de força adutória e abdutora é aplicado sobre as pregas vocais.

SATALOFF (1991) caracteriza o vibrato como uma variação da freqüência e da intensidade que variam de acordo com o tipo de voz e o estilo de música. Algumas partes do trato vocal, entre elas véu palatino, base de língua e paredes lateral e posterior da faringe, podem produzir movimentos sincrônicos de oscilação durante a produção do vibrato. SCHUTTE, MILLER (1991) realizaram pesquisa sobre os detalhes acústicos do ciclo de vibrato nos agudos de tenor e observaram que o impacto dos formantes do trato vocal nos harmônicos da fonte de voz durante a modulação de freqüência do vibrato, resulta em um padrão de som com harmônicos de grande complexidade, particularmente nos agudos de tenor, onde a F1 e F2 e o formante do cantor podem cada um fazer substanciais contribuições separadas ao nível de pressão de som total. WARRACK (1992) descreve o vibrato como sendo a flutuação do pitch, da intensidade e do timbre da voz. A taxa da flutuação aumenta com o volume e com a dramaticidade da interpretação, mudando o brilho do tom produzido. DINVILLE (1993) afirma que o vibrato só se adquire à medida que o cantor domina sua técnica e realiza da melhor maneira possível o apoio respiratório e a resistência glótica sem tensão. MIOLI (1993) refere que o vibrato é um efeito e também embelezamento muito usado no canto e na música instrumental, principalmente nos

instrumentos de corda e sopro. Na música vocal, acontece como recomendação expressiva para que a voz alcance o brilho desejado. HIRANO et al (1995) estuda três parâmetros que caracterizam o vibrato, a modulação de pitch, a variação de intensidade e o número de ondulações por segundo. Um vibrato normal apresenta 6 ondulações por segundo e se o número de ondulações for maior do que 7 à 8 por segundo, resultará um som trêmulo. Refere também que a presença de vibrato na voz caracteriza um bom timbre e o vibrato deve ser produzido sem nenhum movimento de laringe. MILLER (1996) classifica o wobble como sendo uma taxa lenta de vibrato oriunda de uma fraqueza na musculatura das pregas vocais e insuficiente resistência subglótica. Normalmente encontrado em cantores idosos, em função da diminuição do tônus do aparelho fonador, e também em cantores com dificuldade na sustentação do apoio respiratório, uma vez que a pressão subglótica fica diminuída. Com relação ao tremolo, o autor o define como sendo uma taxa muito rápida de vibrato em torno de 8 a 10 Hz e uma pequena variação de extensão normalmente ocasionando uma desafinação. Associado a uma hiperfunção fonatória da respiração e da musculatura laríngea, o tremolo se parece com o tremor patológico encontrado nos pacientes neurológicos. Em relação ao trill, o autor o define como uma exagerada forma de vibrato, enquanto que para o vibrato o cantor necessita de uma exatidão na movimentação laríngea, no trill o cantor depende de uma habilidade na oscilação da caixa de ressonância.

COSTA, ANDRADA E SILVA (1998) refere que o trinado é uma modificação periódica da freqüência de 6 a 8 Hz assim como o vibrato, porém o nível de oscilação da extensão é muito maior até 2 semitons, enquanto que no vibrato é menor que um semitom. Os autores relatam ainda que o trinado é bastante característico na música country americana. CALLAGHAN (2000) define o vibrato como sendo uma ondulação da freqüência fundamental e utilizado no canto clássico ocidental. Os mecanismos responsáveis pela sua produção são o respiratório e o fonatório. Pode ser analisado em quatro parâmetros: taxa, extensão, regularidade e forma da onda nas ondulações. Refere que a taxa e extensão são os parâmetros mais estudados em pesquisas. A taxa de vibrato ao longo dos anos sofreu mudanças com relação à sua aceitabilidade, no início do século passado os valores esperados eram de 6 a 7 Hz, atualmente os valores podem ser de 5 a 7Hz. CURCIO (2000) em sua pesquisa estudou o vibrato em três estilos de canto: ópera, rock e sertanejo a partir de amostras extraídas de CDs musicais comercialmente disponíveis e foram analisadas ao todo 423 emissões em vibrato. A autora observou que tanto os cantores de ópera como os cantores sertanejos apresentaram valores equivalentes da taxa do vibrato e mais elevados em relação aos cantores de rock, apesar de referir maior estabilidade do vibrato no canto operístico. BEHLAU (2001) refere que o vibrato é caracterizado por uma variação sincrônica de pitch e loudness incluindo a oscilação de partes do trato vocal,

entre elas: mandíbula, véu palatino, base de língua, epiglote e paredes lateral e posterior da faringe. É mais estável em vozes treinadas no canto lírico apesar de ser característico em alguns estilos populares como o country e o sertanejo. Refere também que o vibrato de maior flutuação, chamado pelos professores de canto como wobble costumam indicar fadiga muscular ou contração muscular insuficiente. DIAZ, ROTHMAN (2003) desenvolveram estudo de comparação acústica entre amostras de bom e mau vibrato em cantores. Utilizaram 80 amostras de 8 cantores, sendo 10 amostras por cantor, nas quais cinco amostras eram de bom vibrato e cinco de mau vibrato. Concluíram que o maior número de resultados significativos foi encontrado na variabilidade de extensão do vibrato, sugerindo que a qualidade do vibrato provem da variabilidade da extensão. Os resultados mostraram uma relação direta entre a periodicidade da onda do vibrato e sua percebida qualidade. ESTIENNE (2003) relata que o vibrato é uma variação de altura resultante dos impulsos nervosos produzidos na presença de uma coordenação correta entre o mecanismo da respiração e da fonação. É o resultado de uma ponderação dinâmica entre a passagem do ar e a aproximação das pregas vocais. FUSSI (2003) define o vibrato como sendo uma flutuação no tempo da freqüência, da intensidade e do timbre da voz. Sendo encontrado em diversos estilos de canto e freqüente no canto de várias espécies de pássaros; utilizado

também nos instrumentos de arco e sopro. Refere que há dois tipos de vibrato: o de amplitude ou intensidade e o de freqüência, este último mais constante e presente em todos os cantores. O vibrato oscila entre valores de ¼ de tom e pouco mais de ½ tom. A freqüência se situa entre 5 e 7 Hz. Se apresenta em forma de onda senoidal regular. Aparece sempre com leve atraso com relação ao ataque do som. ROSA (2003) em seu estudo com o vibrato sertanejo correlacionou a análise acústica à fisiologia do trato vocal em 11 cantores nas amostras da vogal prolongada [i], com e sem vibrato e em intensidade habitual e forte, em 25%, 50% e 75% do registro modal de cada cantor. Além da emissão da vogal prolongada, foi analisado o vibrato no contexto do canto em uma música préestabelecida. Observou que há atividade de faringe e do complexo ariepiglótico sincrônicos ao vibrato. Os valores médios da taxa do vibrato no canto (6,4 Hz) e da extensão do vibrato no canto (0,36 semitons) não diferiram significativamente dos valores apresentados na literatura para o vibrato lírico, enquanto que a regularidade se mostrou bastante variável e pareceu ser a distinção para o estilo sertanejo quando comparado com o estilo lírico.

3. MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa teve início após ser aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, sob o número 021/04 (Anexo 1). 3.1 Seleção dos sujeitos Fizeram parte do grupo inicial dessa pesquisa, 28 cantores do sexo masculino, sendo 10 cantores líricos e 18 cantores sertanejos. Os cantores líricos faziam parte do Coral Lírico do Teatro Municipal de São Paulo e eram classificados como tenores; os cantores sertanejos faziam parte do X Festival de Música Sertaneja realizado na Rede Biroska (casa noturna freqüentada por cantores sertanejos) e se apresentavam na forma de duplas sertanejas. No gênero sertanejo tanto as primeiras vozes, como as segundas vozes foram selecionadas. A carta de informação ao paciente (Anexo 2) foi lida a todos os sujeitos explicando sobre a pesquisa, seus riscos, o sigilo dos dados obtidos e a possibilidade da desistência dos sujeitos na participação em qualquer momento do estudo. Todos os sujeitos, após devidamente orientados sobre a pesquisa, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 3). 3.1.1 Critérios de exclusão Não realizar o vibrato Apresentar alteração estrutural em pregas vocais

O fato de realizar o vibrato foi avaliado pela fonoaudióloga e autora da pesquisa juntamente com a otorrinolaringologista responsável pela execução dos exames de laringoscopia a fim de verificar a existência de alteração estrutural em pregas vocais. Foram selecionados do grupo inicial apenas 20 cantores que estavam dentro dos pré-requisitos para a realização da pesquisa, sendo 10 do gênero lírico e 10 do gênero sertanejo. Os cantores excluídos foram encaminhados para tratamento médico e fonoaudiológico no Ambulatório de Artes Vocais da Santa Casa de São Paulo por apresentarem doenças laríngeas. 3.2 Coleta de dados Os sujeitos realizaram uma entrevista fonoaudiológica, gravação em áudio digital da voz cantada e posteriormente foi realizada análise acústica com medição da taxa do vibrato e da extensão do vibrato. 3.2.1 Entrevista Fonoaudiológica Os cantores primeiramente realizaram o exame otorrinolaringológico já que o fator de exclusão da pesquisa era a presença de alterações laríngeas. Após o exame os cantores que não apresentaram alterações realizaram entrevista fonoaudiológica no Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo. A entrevista consistiu de perguntas sobre idade, tempo de profissão, profissão paralela ao canto e formação no canto.

3.2.2 Gravação da voz Feita a entrevista, os cantores se dirigiram à cabine acústica, com metragem de 2 metros por 2 metros, do Setor de Audiologia Clínica da Santa Casa de São Paulo para gravação das amostras vocais no canto. Na cabine acústica, apenas o sujeito, a fonoaudióloga pesquisadora e a otorrinolaringologista responsável pela execução dos exames de laringoscopia estavam presentes. Os cantores líricos tiveram acesso ao diapasão e os cantores sertanejos tiveram acesso ao teclado a fim de melhorar a afinação. As gravações das amostras vocais foram realizadas com os sujeitos posicionados de pé, mantendo postura ereta com base alargada, ou seja, pés paralelos fixados ao chão, e encaixe de quadril. As emissões foram gravadas em gravador digital modelo HI MD SONY MZ RH910 e registradas em mini compact disc SONY por meio de um microfone head set da marca SHURE profissional, unidirecional, posicionado uma distância de dez centímetros e angulação inferior de 45 graus em relação à boca dos sujeitos. Em seguida, os sujeitos receberam uma ária (uma música) para cantá-la durante a gravação digital e foi pedido a cada cantor que executasse a ária escolhida uma única vez em tom confortável. A ária escolhida para os cantores líricos foi Una fortiva lágrima da ópera L Elisir d Amore de Gaetano Donizetti, abaixo na figura 1 está a estrofe em que o vibrato foi avaliado [Ma---ma],

segundo verificação da ocorrência do vibrato em gravações comerciais disponíveis. Para os cantores sertanejos a música escolhida foi É o amor de Zezé de Camargo e interpretada pela dupla Zezé de Camargo e Luciano. Figura 1 Estrofe 8 da partitura da ópera L Elisir d Amore, Ária Una fortiva lágrima.. 3.3 Análise dos dados 3.3.1 Avaliação perceptivo-auditiva Foi realizada avaliação perceptivo-auditiva das vozes nos dois gêneros, com professor de canto lírico, professor de canto popular e fonoaudióloga especialista em Voz com experiência em voz cantada. As juízas receberam o material separadamente com edição das vozes feita de modo aleatório em relação aos dois gêneros de voz cantada. Foi definido a qualidade da emissão do vibrato como sendo ausente, ou seja, não havendo vibrato, assimétrica, ou seja, quando o vibrato acontece de forma inconstante durante sua emissão ou simétrica, ou seja, quando o vibrato acontece de forma constante durante sua emissão. Cada jurado atribuiu nota zero para ausência de vibrato, nota um para emissão assimétrica e dois para emissão simétrica.

3.3.2 Analise acústica A análise acústica consistiu na inspeção acústica e extração de medidas com mensuração da taxa do vibrato e extensão do vibrato. A medição foi feita manualmente conforme proposto por Vieira, Rosa in Pinho et al (2006) utilizando o software de análise acústica Praat a partir da criação dos arquivos em.wav. Os parâmetros do Praat foram detalhados com extensão de janela em 0,03 segundos, faixa dinâmica de 40 db e faixa de análise de freqüência de 3500 a 5000 Hz. Foi medido no espectrograma de banda estreita durante a emissão da vogal [a] com vibrato, para isso contou-se cerca de 10 ciclos e obteve-se a média da duração. Para amostras com duração menor que 10 ciclos, foi realizada média a partir do número de ciclos apresentados pelo sujeito e foi utilizado cálculo estatístico com análise do desvio padrão. O valor da taxa do vibrato é expresso em Hz, a duração do ciclo é dada em segundo e a taxa do vibrato é: Taxa do vibrato = 1 Duração de 10 ciclos O valor da extensão do vibrato é dado em semitom através da fórmula: Extensão do vibrato = 1 2 x 34,62 x ln 2Fs (Fs + Fi)

A extensão fornecida pelo cálculo é de pico-a-pico, assim uma nota F com uma extensão de vibrato de um semitom pico-a-pico, a altura vai de F - ½ semitom até F + ½ semitom. Dessa forma o valor estará antecedido pelos dois sinais matemáticos. I Fs II Fi T = duração de 10 ciclos Figura 2. Forma de onda (I) e espectrograma de banda estreita (II) em amostra de emissão do cantor lírico da vogal sustentada [a] com vibrato Foram comparadas as taxas de vibrato e a extensão ou profundidade do vibrato em ambos os gêneros, caracterizando-se com isso as diferenças e semelhanças do vibrato no gênero lírico e sertanejo. Também foram analisadas as oscilações de freqüência se qualificando como regular ou irregular, nos espectrogramas de banda estreita dos dois gêneros de canto. A avaliação estatística foi realizada utilizando o nível de significância 5% (p 0,05) para determinar quais dados foram estatisticamente significantes. Foi utilizado para obtenção dos resultados o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) em sua versão 13.0.

Os testes estatísticos aplicados foram: Teste Levene s para comparação de variâncias, Teste t para comparação de médias para amostras independentes, Teste exato de Fisher para pequenas amostras e para medir a relação entre as variáveis qualitativas referentes à auto-percepção do vibrato e análise fatorial de correspondências múltiplas para verificar se houve concordância nas análises perceptivo-auditiva dos juízes para os dois gêneros de voz cantada. Em relação ao cálculo, P é a profundidade ou extensão, ln é o logarítimo de n, Fs é a freqüência superior e Fi a freqüência inferior de um harmônico qualquer entre 3500 Hz e 5500Hz, conforme Figura 2.

4. RESULTADOS

Os resultados serão apresentados em tabelas e espectrogramas conforme o gênero da voz cantada e a classificação de cada sujeito, na ordem em que foram coletados, a saber: Os dados relacionados ao protocolo de formação do cantor e autopercepção do vibrato (referente ao Anexo 4) estão apresentados nas Tabelas 1 e 2. Os dados relacionados ao protocolo de análise perceptivo-auditiva das vozes (referente ao Anexo 7) estão apresentados nas Tabelas 3 e 4. Os resultados da análise acústica com medição da taxa e extensão do vibrato nos dois gêneros de voz cantada (referente ao Anexo 9 e 10) estão apresentados nas Tabelas 5 a 8. Os espectrogramas de banda estreita da emissão com vibrato da vogal sustentada [a] grave, [a] aguda, [a] no canto estão apresentados nas Figuras de 4 a 63. Os resultados da análise estatística estão apresentados na Figura 3 e nas Tabelas 9 e 10.

Apresentação das respostas do gênero lírico sobre a idade, formação no canto, utilização da voz cantada e percepção do vibrato Sujeito Idade Aula de canto Uso da Voz Duração do espetáculo Como desenvolveu o Vibrato? Como o Vibrato é produzido? Onde o vibrato mais aparece? Lírico 1 39 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório aumento da intensidade Lírico 2 45 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório aumento da intensidade Lírico 3 35 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório aumento da intensidade Lírico 4 38 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório sustentação de uma nota Lírico 5 69 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório sustentação de uma nota Lírico 6 47 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório aumento da intensidade Lírico 7 46 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório sustentação de uma nota Lírico 8 33 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório sustentação de uma nota Lírico 9 37 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório sustentação de uma nota Lírico 10 38 anos Sim 5x semana 2 horas aula de canto apoio respiratório sustentação de uma nota Tabela 1 Respostas do questionário de formação do cantor e auto-percepção do vibrato no gênero lírico

Apresentação das respostas do gênero sertanejo sobre a idade, formação no canto, utilização da voz cantada e percepção do vibrato Sujeito Idade Aula de canto Uso da Voz Duração do espetáculo Como desenvolveu o Vibrato? Como o Vibrato é produzido? Onde o vibrato mais aparece? Sertanejo 1 18 anos Não 3x semana 2 horas imitação apoio respiratório final da frase Sertanejo 2 44 anos Não 3x semana 2 horas imitação apoio respiratório final da frase Sertanejo 3 30 anos Sim 3x semana 3 horas aula de canto apoio respiratório final da frase Sertanejo 4 32 anos Não 5x semana 4 horas imitação pregas vocais final da frase Sertanejo 5 21 anos Não 5x semana 4 horas imitação apoio respiratório final da frase Sertanejo 6 29 anos Sim 5x semana 3 horas imitação pregas vocais final da frase Sertanejo 7 35 anos Não 4x semana 3 horas imitação pregas vocais sustentação de uma nota Sertanejo 8 34 anos Não 4x semana 3 horas imitação apoio respiratório sustentação de uma nota Sertanejo 9 25 anos Sim 3x semana 3 horas imitação pregas vocais final da frase Sertanejo 10 41 anos Não 5x semana 4 horas imitação pregas vocais final da frase Tabela 2 Respostas do questionário de formação do cantor e auto-percepção do vibrato no gênero sertanejo

Apresentação das notas atribuídas pelos juízes (Professor de canto popular, Professor de canto lírico e Fonoaudiólogo) na análise perceptivo-auditiva das vozes com vibrato na vogal sustentada [a] no canto nos gêneros lírico e sertanejo Sujeitos Vibrato Gênero Lírico Vibrato Gênero Sertanejo Juízes Popular/Lírico/ Fonoaudiólogo Popular/Lírico/ Fonoaudiólogo Sujeito 1 2/1/2 2/2/2 Sujeito 2 2/2/2 2/2/2 Sujeito 3 2/2/2 2/1/1 Sujeito 4 2/1/2 2/1/1 Sujeito 5 2/1/1 2/2/1 Sujeito 6 2/2/2 1/2/1 Sujeito 7 1/2/1 1/1/1 Sujeito 8 2/2/2 1/1/1 Sujeito 9 2/2/2 2/2/1 Sujeito 10 2/2/2 2/2/1 Tabela 3 Notas atribuídas à qualidade do vibrato, na emissão da vogal sustentada [a] canto, pelos juízes para o gênero lírico Legenda: 0: vibrato ausente 1: vibrato presente e assimétrico 2: vibrato presente e simétrico

Análise estatística das notas atribuídas pelos juízes (Professor de canto popular, Professor de canto lírico e Fonoaudiólogo) na análise perceptivoauditiva do vibrato na vogal sustentada [a] no canto nos dois gêneros de voz cantada com utilização da análise fatorial através do agrupamento na nuvem de pontos.

Taxa do vibrato Sujeitos Gênero lírico Gênero Sertanejo Sujeito 1 5,26 * 6,54* Sujeito 2 4,95 * 5,05* Sujeito 3 5,32 * 5,38/n=7 Sujeito 4 4,95 * 5,00/n=7 Sujeito 5 4,76 * 5,10/n=5 Sujeito 6 6,25 * 5,71/n=4 Sujeito 7 4,55 * 6,16/n=9 Sujeito 8 4,88 * 6,17/n=5 Sujeito 9 4,88 * 6,56/n=4 Sujeito 10 5,15 * 6,56/n=4 Tabela 4 Resultados à medição da taxa de vibrato lírico Legenda: ----: a taxa não pode ser medida pela ausência de ciclos ou pela irregularidade dos ciclos. *: duração de 10 ciclos (n=10) n: número de ciclos obtidos Análise estatística dos valores da taxa do vibrato, na vogal sustentada [a] grave, vogal sustentada [a] aguda e vogal sustentada [a] no canto, nos dois gêneros de voz cantada, com utilização do Teste Lovane s e Teste t Gênero n Média Desvio Padrão Erro Padrão t p Lírico 10 5,095 0,467 0,148-2,874 0,01 Sertanejo 10 5,823 0,652 0,206 Tabela Resultados estatísticos em relação à taxa do vibrato nos dois gêneros

Extensão do vibrato no canto em semitom no gênero lírico e no g~enero sertanejo Extensão do vibrato Sujeitos Gênero Lírico Gênero Sertanejo Sujeito 1 0,78 0,68 Sujeito 2 0,99 0,65 Sujeito 3 0,88 0,92 Sujeito 4 1,39 0,58 Sujeito 5 1,65 0,54 Sujeito 6 0,54 0,72 Sujeito 7 0,75 0,72 Sujeito 8 1,08 0,95 Sujeito 9 1,24 0,70 Sujeito 10 1,66 0,69 Tabela 5 Resultados da extensão do vibrato no gênero lírico Análise estatística dos valores de extensão do vibrato, na vogal sustentada [a] grave, vogal sustentada [a] aguda e vogal sustentada [a] no canto, nos dois gêneros de voz cantada, com utilização do Teste Lovane s e Teste t Gênero n Média* Desvio Padrão Erro Padrão t p Lírico 10 1,096 0,384 0,121 2,884 0,14 Sertanejo 10 0,716 0,146 0,052 Tabela Resultados estatísticos em relação à extensão do vibrato nos dois gêneros

5. DISCUSSÃO

O vibrato é sem dúvida o mais importante dos ornamentos vocais e tem sido considerado uma das características mais expressivas da voz no canto lírico. Já se sabe que esse ornamento não é exclusivo do canto lírico, aparecendo também em outros gêneros de voz cantada, tais como o sertanejo, rock e gospel (SUNDBERG, 1987, COSTA, 1998, CURCIO, 1999). Esta pesquisa teve como objetivo comparar o vibrato, na sua taxa, extensão e qualidade, em dois gêneros de voz cantada: o lírico e o sertanejo. Conforme muitos autores relatam, o vibrato pode ser qualificado por três formas distintas: sua freqüência (taxa), sua amplitude (extensão) e a sua regularidade em relação aos ciclos (HIRANO, 1995; SUNDBERG,1987; FUSSI, 2003). O tema dessa pesquisa gera alguns conflitos e diferentes argumentos de forma que alguns autores acreditam que o vibrato é produzido por contração dos músculos laríngeos, em especial o cricotireoídeo, e a musculatura respiratória (VENNARD, 1967, HIRANO,1995); enquanto que outros autores atribuem a produção do vibrato à uma ordem neurológica desencadeada pelo tronco cerebral (SHIPP, 1990). As idades dos sujeitos estudados no gênero lírico variaram entre 33 e 69 anos, com média de 42,7 anos enquanto que as idades dos sujeitos no gênero sertanejo variaram entre 18 e 41 anos; com média de 30,9 anos. A média do tempo de profissão no gênero lírico foi de 16,2 anos e no gênero sertanejo foi de 12,4 anos.

Quanto à formação técnica dos sujeitos, há uma incrível diferença entre os dois estilos, nos cantores líricos todos fizeram e ainda fazem aulas de canto enquanto que os cantores sertanejos apenas três dos dez sujeitos fizeram aula de canto, esse dado mostra como a formação técnica é diferente sendo imprescindível para o gênero lírico o aprimoramento do estudo. Com relação à percepção da produção do vibrato, todos os sujeitos (100%) do gênero lírico acreditam que a produção se deva ao apoio respiratório enquanto que no gênero sertanejo todos os sujeitos (100%) acreditam que a produção se deva à vibração das pregas vocais. Acredito que essa diferença possa estar relacionada à formação e preparação dos cantores do gênero sertanejo, uma vez que a grande maioria nunca fez aula de canto e possivelmente não domina a técnica vocal do apoio respiratório, produzindo o vibrato na garganta com tensão. Os cantores sertanejos referiram que o vibrato foi desenvolvido por imitação de outros cantores do mesmo gênero, isso mostra que por se basearem somente no som do vibrato há maior chance de produzirem força e tensão. Nos cantores sertanejos todos os cantores referiram que o vibrato foi desenvolvido nas aulas de canto, dessa forma o auto-conhecimento e a percepção foram fundamentais para o domínio desse ornamento vocal. Com relação à utilização da voz cantada, todos os cantores do gênero lírico, por serem de um mesmo coral, fazem uso da voz cantada durante cinco dias da semana. Os cantores sertanejos, por sua vez, utilizam-na em média três dias da semana, pois a grande maioria apresenta outra profissão. A

duração dos espetáculos no gênero sertanejo é maior em relação ao gênero lírico, alguns cantores sertanejos (Sujeito 4, Sujeito 5 e Sujeito 10) se apresentam por quatro horas seguidas enquanto que todos os cantores líricos se apresentam por duas horas seguidas. Para os dados de formação no canto e auto-percepção do vibrato as respostas foram estatisticamente significativas (p 0,05) com relação aos dois gêneros de voz cantada. Na avaliação perceptivo-auditiva feita pelos juízes houve relevância entre juízes e intra juízes. Todos os três juízes (professora de canto popular, professora de canto lírico e fonoaudióloga) atribuíram notas para a ausência do vibrato, irregularidade do vibrato e regularidade. Foi aplicada a análise fatorial observando-se na nuvem de pontos (Figura 3) o cruzamento das notas atribuídas pelos juízes, mostrando que as notas foram muito semelhantes e se agruparam. Quanto aos valores da taxa do vibrato na emissão da vogal sustentada [a] no canto, no gênero lírico a média foi de 5,09 Hz enquanto que no gênero sertanejo a média foi de 5,82 Hz. Em relação aos valores de extensão do vibrato na emissão da vogal sustentada [a] no canto, no gênero lírico a média foi de 1,09 semitons enquanto que no gênero sertanejo a média foi de 0,72 semitom.

Houve significância estatística entre os dois gêneros de voz cantada no que se refere aos valores de taxa e extensão na produção do vibrato na emissão da vogal [a] sustentada aguda e no canto. Na emissão da vogal sustentada [a] grave com vibrato não se pode realizar análise estatística uma vez que no gênero sertanejo apenas em um sujeito se conseguiu medir o valor da extensão e mesmo no gênero sertanejo 50% dos sujeitos também não foi possível medir o valor da extensão. É possível perceber que no gênero lírico os juízes atribuíram maior regularidade ao vibrato do que no gênero sertanejo (CURCIO, 2001; COSTA E ROSA, 2004). Na emissão com vibrato da vogal sustentada [a] grave tanto os cantores líricos como os sertanejos apresentaram dificuldade na produção do vibrato, isso condiz com VENARD (1967) e HIRANO (1995) o qual referiu que o vibrato é produzido com mais facilidade e perfeição nas notas agudas. Dessa forma se nas freqüências mais agudas o vibrato foi maior encontrado, se mostrando mais regular, esses dados condizem com as referências da literatura existente, quando os autores referem que os músculos cricotireóideos são os maiores responsáveis pela produção do vibrato e a função desses músculos esta ligada justamente a emissão do tom agudo (VENNARD,1967; HIRANO, 1995; SUNDBERG, 1987). Observa-se que a carga interpretativa da música é muito importante para o cantor por isso a diferença no vibrato entre o canto e a vogal sustentada,

principalmente no gênero sertanejo no qual há grande apelo para a interpretação.

6. CONCLUSÃO

No que diz respeito à produção do vibrato houve diferença entre os dois gêneros de voz cantada, o lírico e o sertanejo. O vibrato para o gênero lírico é produzido pelo uso do apoio respiratório e para o gênero sertanejo é produzido pela vibração das pregas vocais. Quanto aos valores da taxa do vibrato na emissão da vogal sustentada [a] no canto, no gênero lírico a média foi de 5,09 Hz enquanto que no gênero sertanejo a média foi de 5,82 Hz. Em relação aos valores de extensão do vibrato na emissão da vogal sustentada [a] no canto, no gênero lírico a média foi de 1,09 semitons enquanto que no gênero sertanejo a média foi de 0,72 semitom. Com relação à análise da forma da onda do vibrato, no gênero lírico se apresentou mais regular e obteve maior tempo de duração quando comparado com o gênero sertanejo.

7. ANEXOS

7.1 ANEXO 1

7.2 ANEXO 2 CARTA DE INFORMAÇÃO AO PACIENTE Prezado Senhor: Esta pesquisa será parte integrante da dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, desenvolvida pela Fonoaudióloga Adriana de Almeida Bezerra sob a orientação do Prof. Dr. Lídio Granato. No canto, a voz é o instrumento principal. Muitas técnicas são usadas com o objetivo de se conseguir a melhor performance ao cantar. O vibrato é uma técnica bastante utilizada em diversos gêneros de voz cantada e pode ser produzido de formas distintas. Com isso essa pesquisa estudará como se caracteriza a produção do vibrato em diferentes gêneros de canto. A participação dos cantores na pesquisa se resumirá em uma entrevista com enfoque na Saúde Vocal e na percepção da produção do vibrato e na realização de uma laringoscopia, que é um exame no qual se usará uma micro câmera acoplada a uma fibra ótica de pequeno diâmetro colocada a um ângulo de 70 o na boca até a laringe, a fim de verificar as estruturas da cavidade nasal, faringe e laringe, podendo provocar leve desconforto respiratório ou náusea. Será também realizada com os sujeitos, gravação visual e áudio digital da voz cantada e da vogal /a/ sustentada, com vibrato, em duas freqüências confortáveis (grave e aguda). Todos esses procedimentos serão gravados em DVD e gravação digital MD para posterior avaliação e análise acústica, de acordo com protocolos previamente estabelecidos. Por meio dessa pesquisa, estaremos contribuindo na prevenção e reabilitação das alterações vocais do cantor, auxiliando em seu maior conhecimento sobre as questões da voz, principalmente relacionada ao uso, aperfeiçoamento e cuidados necessários para manter uma produção vocal adequada.