A observação na pesquisa em educação: planejamento e execução

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Transcrição:

A observação na pesquisa em educação: planejamento e execução Prof.ª MSc. Roberta Chiesa Bartelmebs [...] como procurarás por algo que nem ao menos sabes o que é? Como determinarás que algo que não conheces é o objeto de tua busca? Colocando de outra forma, mesmo que esbarre nisso, como saberás que o que encontrastes é aquilo que não conhecias? (Platão). A Observação e diário de pesquisa Um dos componentes do trabalho deste semestre consiste na elaboração de um roteiro de observação. Além disso, a ida a campo também está prevista no planejamento deste módulo. Por isso, torna-se imprescindível que pensemos nos nossos objetivos e especialmente em nosso papel enquanto pesquisadores da área da Educação. Em que consiste uma observação? Como devemos nos portar? Como podemos registrar nossas impressões acerca da atividade de observação de campo? Essas são questões que povoam a mente do estudante que está sendo inserido no trabalho de campo. Vamos, juntamente com o diálogo com autores experientes na área da pesquisa qualitativa e da pesquisa em educação, tentar formular algumas proposições que facilitem a inserção e o trabalho do acadêmico em trabalho em campo. O que é observar? Na pesquisa em Educação, a observação é um importante instrumento de coleta de dados. No entanto, observar está além da simples capacidade de ver. Isto é, observar é mais do que simplesmente registrar através de uma percepção aquilo

que é produzido por uma sensação. Observar é poder ver e compreender uma situação, é tirar o máximo de abstrações possíveis de um fato ou de uma resposta dada por um sujeito de pesquisa. No entanto, é uma atividade que precisa ser aprendida e exercitada. Ninguém nasce sabendo observar. É uma habilidade científica construída (ou não) ao longo das nossas vidas. Como toda construção e toda aprendizagem, ela requer técnicas. Para poder, por exemplo, melhor observar uma dada situação de sala de aula, não basta que o pesquisador seja inserido no contexto escolar com um bloquinho de anotações em mãos. É preciso que este tenha em mente quais seus objetivos, quais suas questões de pesquisa e o que deseja observar naquele contexto determinado. Além disso, mesmo que dois pesquisadores estejam no mesmo ambiente, a fim de pesquisarem o mesmo objeto ou os mesmos sujeitos, certamente, irão encontrar elementos diferentes para suas observações, isto porque: É muito provável que, ao olhar para um mesmo objeto ou situação, duas pessoas enxerguem diferentes coisas. O que cada pessoa seleciona para ver depende muito de sua história pessoal e principalmente da sua bagagem cultural. Assim, o tipo de formação de cada pessoa, o grupo social a que pertence, suas aptidões e predileções fazem com que sua atenção se concentre em determinados aspectos da realidade, desviando-se de outros (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.25). Então, como a observação pode se tornar um instrumento de coleta de dados para sua pesquisa? Ainda Lüdke e André (1986) afirmam que: Para que se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, a observação precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica a existência de um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador (p.25). Nesse sentido, é preciso saber o quê e como o observador irá desenvolver seu trabalho em campo.

O que observar no meu contexto de pesquisa? Essa questão exige que tenhamos em mente qual nosso objetivo com a observação. Vale lembrar que a observação possibilita um contato pessoal estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.26). Isto é, a vantagem deste método é sua aproximação gradual com o contexto de pesquisa, de maneira menos invasiva, por assim dizer, do que com uma entrevista ou um questionário. Pode ser um instrumento bastante válido também de ser utilizado antes de realizar entrevistas. Isso porque permite captar nuanças tanto do contexto quanto dos sujeitos que podem auxiliar na elaboração de questões significativas para suas entrevistas ou questionários, levando em consideração as hipóteses abaixo: Se o que desejamos é nos preparar para o Estágio Docência, então, teremos que elencar algumas questões que nos auxiliem, como por exemplo, conhecer a turma, sua rotina, os hábitos do professor, as características ambientas e comportamentais da turma etc. Se nosso objetivo é analisar uma determinada metodologia do professor em sala de aula, então, teremos que nos ater às ações do professor, ao modo como se organiza em sala de aula, como conduz a aula, que tipos de questões ou tarefas repassa aos alunos etc. Se, ainda, nosso objetivo é conhecer o contexto sociocultural de uma determinada comunidade, precisamos nos ater aos detalhes físicos e históricos do local, precisamos de questões que nos façam olhar para o ambiente de forma crítica, não apenas descrevendo aquilo que estamos vendo. Portanto, antes de sair a campo, é imprescindível que você pegue seu diário de pesquisa (logo abaixo, detalharemos esse instrumento) e elenque algumas questões que sejam importantes para sua pesquisa. Não se esqueça de registrar seus objetivos e problemas de pesquisa, pois isso facilitará que você mantenha o foco durante sua atividade de coleta de dados.

Como planejar e executar minha observação de campo? Na pesquisa em Educação, existem muitas variações do método de observação. Tais variações são classificadas de acordo com o grau de participação do pesquisador em suas observações. Você pode encontrar maiores detalhes na leitura do texto de Menga Lüdke e Marli André, disponíveis em nossa Plataforma como texto base do Módulo atual. No presente artigo, trataremos da observação participante, tendo em vista que somos um grupo de sujeitos escolares que vamos investigar nossa própria escola ou nosso contexto de trabalho. Para Neto (2004), a observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos (p.59). Nesse sentido, o sujeito pesquisador vai se deparar com o sujeito pesquisado, ambos interagindo de forma a modificarem-se mutuamente. Vale ressaltar que a observação não é neutra, isto é, nenhum pesquisador vai a campo isento de motivações políticas, história pessoal, conceitos pré-formados. Todos temos hipóteses e fazemos a interpretação daquilo que estamos vivenciando na observação, de acordo com nossas preferências teóricas e nossas vivências anteriores. Ainda para o autor: que: A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real (NETO, 2004, p.60). Porém, antes de fazer seu protocolo de observação, é preciso ter em mente Os grupos devem ser esclarecidos sobre aquilo que pretendemos investigar e as possíveis repercussões favoráveis advindas do processo investigativo. É preciso ter em mente que a busca das informações que pretendemos obter está inserida num jogo

cooperativo, onde cada momento é uma conquista baseada no diálogo e que foge à obrigatoriedade (NETO, 2004, p.55). Sendo assim, é importante que os sujeitos pesquisados estejam cientes do papel do pesquisador, isso para que ele não seja como um corpo estranho, invadindo o cotidiano particular de cada um. Certamente, o estranhamento é necessário para o pesquisador, ele precisa sair de si mesmo para poder visualizar a realidade de outra forma. Essa leitura de mundo se amplia com o contato com os sujeitos de pesquisa, mas é importante lembrar que, para os sujeitos de pesquisa, essa inserção também deve ser favorável e confiante. O que devo registrar em meu diário de campo? O diário de campo é segundo Neto (2004): [...] um amigo silencioso que não pode ser subestimado quanto à sua importância. Nele diariamente podemos colocar nossas percepções, angústias, questionamentos e informações que não são obtidas através da utilização de outras técnicas. O diário de campo é pessoal e intransferível (grifos do autor) (p.63). Nesse sentido, o diário de campo se torna poderoso instrumento de coleta e registro de suas informações. Mas vale lembrar que ele por si só não será o determinante do sucesso ou não de suas reflexões. A linguagem do diário deve ser clara e os detalhes das observações bem descritos para que nenhum dado se perca e seja descartado no momento da análise. Sobre o registro, no diário de campo, Lüdke e André (1986) afirmam que: A forma de registrar os dados também pode variar muito, dependendo da situação específica da observação. Do ponto de vista essencialmente prático, é interessante que, ao iniciar cada registro, o observador indique o dia, a hora, o local da observação e o seu período de duração (p.32).

As autoras ainda ressaltam a importância de tomar cuidado com o registro das falas dos sujeitos. Sempre devemos separá-las do corpo do texto para evitar confusões posteriores. Existem também, segundo as autoras Marli André e Menga Lüdke, duas partes que compõe a observação: Parte Descritiva e Parte Reflexiva. Na Parte Descritiva, detalha-se o campo de observação, registrando: Descrição dos sujeitos; Reconstrução de diálogos; Descrição de locais; Descrição de eventos especiais; Descrição das atividades e ainda Os comportamentos do observador (LÜDKE; ANDRÉ, 2004, p.30-31). Já na Parte Reflexiva das anotações no diário, incluem-se as Reflexões analíticas; Reflexões metodológicas; os Dilemas éticos e conflitos; as Mudanças na perspectiva do observador; bem como os Esclarecimentos necessários (LÜDKE; ANDRÉ, 2004, p.31). Vale lembrar que estas são sugestões de itens que podem compor seus registros no diário de campo. Cada pesquisador irá desenvolver seus próprios itens, na medida em que adquire experiência com o campo da pesquisa. É importante destacar seus objetivos e o seu papel enquanto pesquisador, não perdendo o foco de suas atividades. Além disso, lembre-se de que pesquisar é uma aprendizagem, e que toda aprendizagem requer dedicação e paciência (DELVAL, 2002). REFERÊNCIAS: DELVAL, Juan. Introdução à prática do método clínico: descobrindo o pensamento das crianças. Porto Alegre: Artmed, 2002. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. NETO, Otávio Cruz. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa Social. 23.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.