LEITURANA EDUCAÇÃO DE PESSOAS JOVENS E ADULTAS: REVISÃO A PARTIR DA ANPED E DO ENDIPE Vanessa CristrinaGirotto(UNIFAL) Renata de Fatima Gonçalves (UNIFAL) Introdução e referencial teórico Pesquisas no campo da educação de Pessoas Jovens e Adultas (FREIRE, MELLO, FLECHA, PIERRO, entre outros)indicam que essa modalidade de ensino apresenta potencial transformador desde que os educadores passem a propor instrumentos capazes de contrapor modelos edistas que podem estar presentes na Educação de Pessoas Jovens e Adultas, considerando as potencialidades e capacidades de aprendizagem desses sujeitos. Instrumentos capazes de propor uma educação dialógica, política e potencializadora de aprendizagens por meio dos saberes que eles já possuem, considerando-os como possuidores de inteligência, que é cultural, ou seja, pertencente a um contexto. Por outro lado, o que vemos apresentado são discussões teóricas, muitas vezes, pouco aprofundadas em torno desta temática impossibilitando uma visão ampla do potencial que esta discussão pode trazer para o âmbito social. No âmbito dessas discussões é que nasce estapesquisa, com o intuito de apresentar os resultados parciais de um levantamento bibliográfico realizado como parte de uma pesquisa de mestradoque vislumbra o trabalho com leitura literária na Educação de Pessoas Jovens e Adultas. A questão central deste levantamento envolve a discussão diretamente voltada para a Educação de Pessoas Jovens e Adultas, mais precisamente relacionada com as pesquisas em torno da relação entre leitura e a conexão com o contexto do(a) educando(a).a hipótese levantada é a carência desta discussão neste contexto, especialmente em virtude de uma concepção errônea com relação à aprendizagem deste público, como discutido rapidamente acima. Os eventos escolhidos para realizar esta revisão bibliográfica foram o ENDIPE (Encontro Nacional de Didáticas e Práticas de Ensino) e aanped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), por tratar-se de dois eventos tradicionais da área de Educação e que, portanto, constituiria uma amostra expressiva da produção acadêmica da área na última década. 12647
Como objetivo central para a composição deste artigo,realizamos uma revisão do que vem sendo publicado na atualidade (última década) e, o que vem sendo discutido na temática de Leitura e Educação de Pessoas Jovens e Adultas. Procedimentos metodológicos O levantamento bibliográfico teve como fonte o CD- ROM e as publicações do próprio site dos eventos: ENDIPE (2006, 2008, 2010, 2012, 2014) e Anped(2007, 2009, 2011, 2013 e 2015). Na ANPED, como recorte para direcionar a investigação, analisamos as publicações dos seguintes Grupos de Trabalhos (GT): Educação de Jovens e Adultos; Alfabetização/Letramento e Didática, contabilizando um total de 52 artigos. No ENDIPE foram analisados os 3 eixos, contabilizando um total de 67 artigos. Em um primeiro momento, a seleção foi feita de acordo com o título dos trabalhos, no intuito de filtrar os textos que abordavam tal temática.em um segundo momento, para aqueles trabalhos em que os títulos contemplavam as informações desejadas, foi realizada a leitura dos resumos. E, ao final, a leitura integral a partir dos resumos em que os artigos abordavam a temática pesquisada. Discussão/resultados Ao realizar as buscas nos anais da Anped, em um total de 52 trabalhos lidos foram encontrados apenas 2 (dois) que abordavam a temática, ambos encontrados no ano de 2011. O primeiro, intitulado Apropriação de práticas de letramento escolares por estudantes da EJA (SIMÕES, F.FONSECA, M) buscou evidenciar a proposição de ações educativas sustentadas pelo diálogo com a/ e pelo respeito às práticas sociais dos sujeitos envolvidos, analisando os modos como os(as) alunos(as)do ensino Fundamental da EJA apropriavam-se das práticas de leitura e de escrita escolares, considerando a dimensão sociocultural de tais práticas. O segundo trabalho analisado é intitulado A prática da leitura literária de mulheres na EJA. (VALLE, M.)Em suma, tal pesquisa teve como foco a compreensão das práticas da leitura literária entre mulheres que estavam matriculadas no ano de 2009 na Educação de Jovens e Adultos. Assim como as estratégias que elas utilizam para contrariar discursos que negam a presença da leitura literária em seus meios sociais. Por ser, em sua maioria, empregada doméstica,tal fenômeno acaba sendo considerado improvável.verificou-se que a família, tanto a de origem quanto a atual, a 12648
escolarização e principalmente o ambiente de trabalho desempenham um papel preponderante na formação de leitores. Com relação às buscas realizadas no ENDIPE, de 67 artigos lidosforam encontrados um total de 4 (quatro) trabalhos, sendo 3 (três) no ano de 2010 e apenas 1 (um) no ano de 2012. No artigo intitulado A leitura nos livros didáticos de Alfabetização de Jovens e Adultos (MACIEL, F. e OLIVEIRA, J.),as pesquisadoras tiveram como objetivo analisar as propostas de leitura apresentadas nos livros didáticos aprovados no Programa Nacional de Livro de Alfabetização de Jovens e Adultos de acordo com as diretrizes de Educação de Jovens e adultos, e do Guia de Guia de Livros Didáticos para Alfabetização de Jovens e Adultos do Programa Nacional do Livro Didático para Alfabetização de Jovens e Adultos - PNLA 2008 e 2010. O trabalho verificou as obras aprovadas no PNLA apresentam atividades que contribuem para a proficiência de um leitor competente, por trabalhar as capacidades necessárias para o domínio da leitura. Outro artigo analisado foi o intitulado: A leitura na Educação de Jovens e Adultos: o que se lê e como se lê em escolas do meio rural (SILVA, G.)que apresentou resultados de uma pesquisa de mestrado eteve como proposta central identificar duas concepções de leitura: a leitura como aprendizado de capacidades e habilidades para interagir com o texto escrito, a partir da decifração, compreensão e interpretação e da leitura como possibilidade de conhecimento e compreensão do mundo como prática direcionada a interesses sociais. Os resultados indicam, além de algumas lacunas, a falta de clareza dos objetivos e de planejamento, a carência na diversidade de textos, além de inadequação dos textos quanto aos interesses dos alunos. Verificou-se, também, que a decodificação era o maior objetivo das atividades, além de formação carente das professoras em atuação, o que demanda a necessidade uma formação continuada para esses profissionais. Por fim, analisamos o artigo intitulado: Análise da apropriação das obras da coleção literatura para todos pelos leitores pretendidos (SOARES, C.), resultado de uma pesquisa de mestrado da UFMG desenvolvido na linha Educação e linguagem da FAE/UFMG. A pesquisa se dividiu em dois momentos. Inicialmente foi analisado os livros destinados aos alunos do Programa Brasil Alfabetizado. Em seguida buscou-se verificar se as obras são ou não apropriadas para esse público. Os resultados indicam que tais obras são apropriadas para esse público, porém percebeu-se a necessidade do 12649
acompanhamento por parte do professor, por meio de iniciativas mediadoras entre texto e leitor. Já em 2012, analisamos o artigo intitulado: Leitura na educação de Jovens e adultos em escolas públicas de Maceió (CAVALCANTE,V), pesquisa realizada num contexto de duas salas de aula de pós-alfabetização, em uma escola pública de Maceió. Observou-se que os alunos, em sua maioria, tem acesso apenas à livros didáticos, tanto na escola quanto em casa e que as práticas de leitura são na maioria das vezes individuais, em voz alta ou silenciosa, o que impossibilita trocas de experiências. Dessa forma, a autora conclui que mesmo fora do ambiente formal, a escola continua influenciando na prática da leitura cotidiana, o que evidencia a importância da escolarização para esses sujeitos. Além disso, a professora assume um papel de influência e referência de leitora para os(as) estudantes em questão. Considerações finais Todos os trabalhos analisados nos ajudaram a identificar a lacuna que ainda existe no campo da leitura com pessoas Jovens e Adultas. As autoras, de forma unânime, discutem o distanciamento das práticas de leitura, dos materiais didáticos utilizados, das formações pedagógicas, com o contexto do mundo desses adultos. Identificam, assim, uma ideia de educação bancária, em que o ator de ler representa, muitas vezes, apenas a decodificação de letras e palavras, distanciadas de seu mundo da vida. Apesar dos avanços que tivemos nas últimas décadas, com investimentos na área de produção de materiais (livros didáticos, literatura específica para esse público), por exemplo, a forma de se entender essa modalidade ainda é desarticulada de sua função social, ou seja, entender o que se lê e ler o que se entende, como proposta sistemática de uma educação crítica, como já proposta por alguns autores citados no início deste trabalho. Como resultado vale ressaltar que a partir desse nosso primeiro olhar, identificamos que ainda existe a necessidade de outras pesquisas sobre o tema a fim de contribuir para questões relacionadas à leitura e ao desenvolvimento de práticas leitoras críticas para as pessoas adultas em processo de escolarização, revelando a importância da ampliação da discussão de tais práticas nos espaços acadêmicos. Referências Bibliográficas 12650
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