MATEMÁTICA ESCOLAR PARA TODOS Solange Hassan Ahmad Ali Fernandes Universidade Anhanguera de São Paulo Público alvo: (Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos, Ensino Especial). Resumo: Ao abordar temas que envolvem a diversidade presente nas salas de aula, nossas atenções não podem se fixar nas dificuldades específicas dos educandos, mas sim em suas potencialidades. O propósito deste minicurso é refletir sobre a perspectiva inclusiva e seus desafios. Incluir não é juntar em um mesmo espaço físico. Antes de tudo, incluir é uma atitude. Deste modo, a questão norteadora deste minicurso é: Como os educadores podem explorar as potencialidades dos seus alunos respeitando a diversidade de cada indivíduo? A proposta é compartilhar dois cenários inclusivos para aprendizagem elaborados para serem aplicados em classes inclusivas, envolvendo alunos com limitações sensoriais ou aqueles que podem ter dificuldades associadas com as práticas pedagógicas tradicionais. Esses cenários exploram a natureza multimodal e multissensorial da cognição matemática. Os participantes serão convidados a vivenciar situações de aprendizagem nas quais os objetos matemáticos são expressos por meio de representações que exploram diferentes sistemas sensoriais. Palavras-chave: Inclusão. Ferramenta material. Ferramenta tecnológica. Multissensorial. Multimodal. Introdução Atualmente, ao abordar temas que envolvem a heterogeneidade do público presente nas salas de aula, nossas atenções não podem se fixar nas dificuldades específicas dos educandos, mas sim em suas potencialidades. Com isso em mente, a questão norteadora das atividades propostas neste minicurso é: Como os educadores podem explorar as potencialidades dos seus alunos respeitando a diversidade de cada indivíduo? O reconhecimento de que há uma grande diversidade de estilos cognitivos 1 e de que cada um dos aprendizes presente nas salas de aula é singular, torna crucial buscarmos compreender como a construção do conhecimento é mediada por diferentes meios de acesso aos sistemas sensoriais do corpo humano, uma vez que, corroborando com as ideias de Damásio (2007), corpo e cérebro formam um organismo 2 indissociável e dinâmico. Esta busca nos conduz a um movimento na contramão do ensino tradicional que parte do princípio de que o processo de apropriação dos conceitos acontecesse de forma semelhante para todos os aprendizes. O trabalho do nosso grupo de pesquisa desafia essa proposição e sugere que 1 Os estilos cognitivos se referem ao meio preferido pelo qual um indivíduo processa a informação. 2 Para Damásio corpo e cérebro formam um organismo indissociável e dinâmico já que corpo e cérebro interagem intensamente, e o organismo que eles formam interage profundamente com o meio ambiente físico e social, sendo essas relações mediadas pelos movimentos do organismo e pelos aparelhos sensoriais. ISSN 2359-4608 1
um primeiro passo na direção a uma educação de fato inclusiva é identificar como diferentes recursos (corporal, material e semiótico) levam a diferentes percursos de aprendizagem. Nos nossos estudos as atividades instrucionais são desenvolvidas em um ambiente (não limitado ao espaço físico) que denominamos cenários inclusivos para aprendizagem. Esses ambientes instrucionais são planejados com o propósito de constituir uma práxis de interação multissensorial e multimodal para a sala de aula a qual reconhece que o aprendiz é muito mais que seu cérebro e que os objetos matemáticos são mais do que suas representações no papel. Cenários inclusivos para aprendizagem As análises dos dados coletados em diferentes pesquisas que conduzimos, apontam que as formas distintas que diferentes indivíduos acessam e interpretam o mundo impacta seus processos cognitivos e consequentemente o processo de aprendizagem. Privilegiando diferentes ferramentas multimodais temos proposto recursos pedagógicos (materiais, semióticas e/ou digitais) que oferecem diferentes formas de ouvir, sentir, ver e expressar a matemática. Minha intenção com esta proposta é compartilhar algumas dessas ferramentas elaboradas para envolver os alunos que podem ter dificuldade com o fazer matemática convencional. Ensinar, porém, não se resume a disponibilizar ferramentas. Requer também a promoção de oportunidades para que o aprendiz possa fazer uso da matemática embutida em sua vida. Para este fim, um outro objetivo importante é discussão a respeito da elaboração e investigação do que denominamos cenários inclusivos para aprendizagem que são compostos pela associação intencional de tarefas específicas ou por uma sequência de tarefas interrelacionadas, de ferramentas mediadoras multimodais (materiais, tecnológicas e/ou semióticas) a serem empregadas para a realização da tarefa, e por interações entre os diferentes atores que tomam parte da cena (que podem incluir diferentes combinações de alunos e professores). Para explorar esta proposta podemos iniciar com algumas considerações teóricas que nos permitem interpretar os processos de aprendizagem matemática de aprendizes com diferentes limitações e transtornos. Particularmente nos interessa discutir o papel mediador dos elementos de cena produzidos e disponibilizados para impressionar diferentes sentidos dos aprendizes. Ponderando sobre as particularidades daqueles educandos que tem limitações sensoriais ou cognitivas, a ideia de mediação não pode ficar limitada ao uso de ferramentas ISSN 2359-4608 2
materiais e semióticas, mas deve incluir também ferramentas corporais. Partindo deste pressuposto, cremos que os significados matemáticos são estruturados a partir do nosso encontro com o mundo que experimentamos por meio do nosso corpo e cérebro. Ao mesmo tempo reconhecemos a matemática como uma disciplina constituída culturalmente, e a aprendizagem como um processo delicado, no qual os aprendizes se tornam cada vez mais conscientes do modo como seus sentidos subjetivos dos objetos matemáticos conectam-se aos significados culturais enfatizados na matemática escolar. Os participantes do minicurso serão convidados a vivenciar situações de aprendizagem matemática nas quais os objetos matemáticos serão expressos por meio de representações que exploram os sistemas háptico, visual e auditivo. O propósito é sensibilizar educadores para a importância de ressignificar suas crenças pedagógicas e epistemológicas para enfrentar o desafio de atender as necessidades de todos os alunos por meio de práticas pedagógicas que tornem os aprendizes sujeitos ativos e capazes de usar não só seus olhos e ouvidos, mas todo o potencial do seu corpo perceptivo para a construção do seu conhecimento. Para isso discutiremos dois cenários inclusivos para aprendizagem, um deles explorará uma ferramenta material que pode ser empregada para o reconhecimento de alguns polígonos e de suas propriedades ou para o estudo das operações com números escritos na forma fracionária. O outro cenário contempla a inserção da tecnologia nas salas de aula, fazendo um convite para que se reflita sobre o uso de dispositivos móveis (smartphones ou tablets) nas aulas de Matemática. Cenário 1 - O hexágono e suas frações O jogo do hexágono envolve 12 peças sendo: um hexágono, dois trapézios isósceles, três losangos e seis triângulos equiláteros (Figura 1). Figura 1: Jogo do hexágono Fonte: Arquivo pessoal Nesta proposta usaremos as peças que compõem o jogo para realizar algumas operações com números fracionários. Na atividade as frações correspondem a uma ISSN 2359-4608 3
representação das partes de um todo, assim temos, por exemplo, um triângulo correspondendo a 1/6 do hexágono. A manipulação das peças nos permite discutir alguns tipos de frações como a própria, a mista e a equivalente, além das operações como, por exemplo, a adição e a subtração sem a redução a um mesmo denominador. Cenário 2 - A Matemática e a música Atualmente, os processos educacionais não devem deixar de usufruir das possibilidades de aprendizagem advindas dos avanços tecnológicos. O uso das tecnologias de informação e comunicação pelo professor, no processo de ensino e pelo aluno no processo de aprendizagem, pode gerar independência na busca de informações e na construção do conhecimento. Nessa oficina os músicos João e Marcos os convidam para atuarem como compositores musicais e para discutir atividades envolvendo princípio multiplicativo de contagem. Nesse cenário, associamos tarefas e outros elementos de cena a ferramentas ainda pouco exploradas em atividades escolares como os aplicativos (App) disponibilizados gratuitamente baixados em tablets e smartphones. Neste exemplo, usaremos um aplicativo denominado Xilofone (Figura 2) baixado em smartphones ou tablets. Figura 2: Imagem do App Xilofone Fonte: Arquivo pessoal Para este trabalho, as atividades foram preparadas para que os alunos tivessem empatia com os personagens que criamos. Associado a isso, as soluções musicais dos problemas tendem a mantê-los interessados nas tarefas e na busca de argumentos para defender suas respostas nos momentos de debates. ISSN 2359-4608 4
Algumas considerações Nesse minicurso exploraremos alguns exemplos de como a natureza multimodal e multissensorial da cognição matemática pode ser aproveitada na elaboração de cenários inclusivos para aprendizagem. As propostas apresentadas podem ser empregadas em salas de aula com diferentes configurações. Ambos os cenários se concentram nos processos de apropriação que ocorrem quando os aprendizes são convidados a usar suas mãos, ouvidos e estruturas cognitivas não usualmente ativadas nas aulas de Matemática, para ver, sentir representar e ouvir os objetos matemáticos. As análises dos processos de resolução das tarefas propostas nesses cenários têm confirmado a centralidade dos aspectos corporais nas práticas dos aprendizes. Outra questão é que as falas, gestos, expressões faciais e a manipulação dos materiais revelam que a relação entre ação e cognição é como duas faces de uma mesma moeda, ou seja, a aprendizagem matemática não parece envolver um processo de descontextualizar, uma separação rígida entre concreto e abstrato. Nossos dados sugerem que os aprendizes com limitações sensoriais, por exemplo, continuam a sentir e (re)vivenciar as experiências multimodais envolvidas no processo de identificar generalidades matemáticas. O desafio dos professores é planejar cenários nos quais os objetivos da atividade estimulem todos os alunos a envolverem-se com os objetos de estudo e compartilharem suas reflexões com seus pares. Referências DAMÁSIO, A. O erro de Descarte: Emoção. Razão e o cérebro humano. Tradução Dora Vicente & Georgina Segurado. 2ª ed. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007. FAUSTINO, T. A. S. O pensamento algébrico em atividades relacionadas ao princípio multiplicativo: empregando tecnologias móveis em uma sala inclusiva. (Dissertação de Mestrado em Educação Matemática). Universidade Anhanguera de São Paulo, SP, Brasil, 2015. ISSN 2359-4608 5