ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE CATALÃO - GO

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Transcrição:

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE CATALÃO - GO (2003-2006) MARTINS, Priscila Celeste Graduada em Geografia CAC/UFG. E-mail: cm.priscila@gmail.com RESUMO: Com o rápido processo de urbanização da sociedade brasileira, incitado pela industrialização, a demanda por terra urbanizada aumentou muito. Isso favoreceu a especulação com terras, ao mesmo tempo em que construía um padrão caótico de urbanização. Visando analisar a transformações sócio-espaciais de Catalão (GO), é preciso versar sobre o envolvimento dos proprietários fundiários, assim como o papel do Estado na especulação imobiliária e inquirir sobre a importância da mídia na produção dos espaços urbanos. As diversas contribuições de natureza teórico-metodológicas permitiram enriquecer sobremaneira esse artigo, revelando a complexidade e a relevância da problemática em questão. Palavras-chave: Especulação Imobiliária. Transformações Sócio-Espaciais. Solo Urbano.

1 INTRODUÇÃO Para se falar sobre o capital especulativo na cidade, primeiro considera-se importante pensar sobre a própria cidade contemporânea enquanto produto de relações sociais e produtivas. Para Lefebvre (2001) a cidade se transforma quando muda a sociedade de forma global. Em sua trajetória histórica, a cidade passou por várias transformações que se inscreveram no tempo e no espaço através de atos e agentes sociais. Estes a marcaram e fizeram as relações de produção e propriedade e por conseqüência as relações entre as classes e as relações de lutas de classe, portanto as ideologias (religiosas, filosóficas, isto é, ética e estética, jurídicas, etc). (Lefebvre, 2001, p. 55). A cidade, entretanto, não está submissa às transformações globais sociais ou às suas modificações, ela depende também das relações imediatas, das relações entre as pessoas e entre os grupos da sociedade. Enquanto o lugar do processo generalizado da troca também compreende espaço de materialização da vida humana, produto históricosocial que revela a realidade social, por isso as contradições do processo histórico, a materialização do processo é a dimensão da produção/reprodução do espaço passível de ser vista, percebida, sentida, vivida (Carlos, 2004, p. 14). Para Carlos (2004) na análise da cidade é necessário considerar os três planos: o econômico, o político e o social, os quais compreende buscar as novas formas, funções, estruturas e processos na cidade, um lugar de contradições e conflitos espaço com a sua forma de apropriação. Na opinião de Barreira (2003, p.315), os discursos sobre a cidade estão circunstanciados a diferentes contextos e múltiplas interlocuções [...] A urbe tem sido, desta forma, ponto de referência para se nomear a vida social moderna com seus problemas e utopias. Sob este aspecto, em meados da década de 1970, com o rápido processo de urbanização da sociedade brasileira, incitado pela industrialização, a demanda por terra urbanizada aumentou muito, fazendo desse espaço uma referência para a especulação com terras. No entanto, o processo de urbanização não se dá apenas com o crescimento das cidades, mas também com o processo da distribuição interna de seus componentes, seus

centros de emprego, seus bairros, seus sistemas de transporte. Assim a cidade é um enorme ninho que envolve os diversos locais onde se dão, de um lado o trabalho e de outro, os inúmeros locais onde a vida se reproduz. É o local onde se dá a articulação entre os interesses econômicos e tecnológicos, concomitando em revalorização dos espaços internos, fonte de investimentos vindos de vários campos da atividade social e conseqüentemente, em transformação espacial. Desta forma, o mercado imobiliário se posiciona em um papel central na transformação do espaço urbano capitalista, representando um dos principais agentes que, ao consumir e produzir espaço utiliza-se de práticas que conduzem a um constante processo de (re)organização espacial, processando-se via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudanças do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade. Diante disto, o mercado imobiliário envolve proprietários fundiários e incorporadores. Com freqüência, alia-se ao poder público em sua atuação sobre a terra urbana, refletindo sobre o espaço da cidade e, conseqüentemente, no quotidiano de sua população. Em Catalão (GO), esse processo fica evidente, principalmente nos últimos anos, devido à industrialização, a modernização da agricultura, a exploração de minérios, dentre outros fatores. Cabe aqui ressaltar que, nos últimos cinco anos a especulação imobiliária na região tem recebido atenção especial por se constituir em um dos principais agentes de (re)organização do espaço urbano, sendo fomentado pelo Estado e incidindo sobre os demais agentes que produzem o espaço urbano como, os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários e os grupos sociais excluídos. A partir da especulação imobiliária o espaço urbano é (re)organizado e (re)dimensionado por meio do capital, tendo como conseqüência o encarecimento da moradia urbana, os vazios urbanos e a má utilização da infra-estrutura urbana. Nesse sentido, como profissionais ligados ao Saber Geográfico, que almejam analisar o espaço urbano além da paisagem, atenta-se para o que está por trás ou mesmo implícito naquilo que nossos olhos vêem, buscando compreender o fenômeno urbano em seu contínuo processo de transformação. A preocupação com o espaço permeia os estudos geográficos nos mais diversos aspectos e na atualidade, observa-se que o conhecimento, como considera Milton Santos, em sua maioria, está a serviço das elites. O geógrafo deve compreender a dinâmica espacial que o cerca, interpretar e não apenas descrever o espaço.

Além disso, deve construir a Geografia Moral, que não se vende e está a serviço do pobre, do trabalhador, do explorado, buscando a construção de uma sociedade mais humana, justa e igualitária. A geografia é uma ciência social e seu objeto de estudo é o espaço, com todas as suas singularidades e contradições, cabe a nós, o uso correto desta ciência social, a serviço do bem comum. Aqui primamos pela discussão em torno da especulação imobiliária, por se tratar de uma especificidade no município de Catalão (GO) e pela escassez de estudos inerentes ao tema. Todavia, apesar de uma abordagem mais generalista sobre a temática proposta, as literaturas consultadas foram de fundamental importância para o aflorar do espírito crítico e investigativo, pré-requisitos necessários para aprimoramento do conhecimento científico.

2 ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE CATALÃO - GO (2003-2006) O princípio essencial que influencia a distribuição das residências no espaço é o prestigio social, cuja expressão positiva é a preferência social (preferência por vizinhos semelhantes) e a expressão negativa, é a distância social (rejeição de vizinhos diferentes). (CASTELLS, 1983, p. 212). Conforme Munford (1991), a cidade desde seus primórdios, foi tratada não como uma instituição pública, mas como uma aventura comercial privada a ser moldada de qualquer modo que pudesse aumentar a rotatividade e fazer encarecerem ainda mais os valores dos terrenos. Em Catalão (GO), essa aventura comercial privada faz-se presente, principalmente nos últimos anos, devido à industrialização, à modernização da agricultura, à exploração de minérios, dentre outros fatores. Assim, propõe-se uma discussão teórico-metodológica dentro da perspectiva geográfica, analisando o fenômeno urbano em seu processo de transformação, enquanto meio, condição e produto do processo de (re)produção do capital. Em movimento, apresentam uma relação dialética, onde a condição aparece no sentido de que não há relações sociais fora do espaço, é nele que essas relações se realizam e o espaço se torna, portanto, produto da sociedade. Assim, a cidade é produto das relações sociais e seu espaço se torna mercadoria através das relações de trabalho. O mercado, por sua vez, enquanto mediador das relações capitalistas orienta a disputa pelos usos do solo urbano, deliberando as decisões e incidindo dialeticamente nas condições de vida da sociedade em geral. Dessa maneira, o espaço urbano está em constante disputa pelos diversos segmentos sociais, portanto fragmentado e articulado pelos agentes que produzem e consomem o espaço, os quais Corrêa (1995), classifica em cinco agentes principais: os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e os grupos sociais excluídos. No que tange à ação dos proprietários dos meios de produção na transformação do espaço urbano, Corrêa (1995) destaca que:

[...] as relações entre proprietários dos meios de produção e a terra urbana são complexas. A especulação fundiária, geradora do aumento do preço da terra, tem duplo efeito sobre as suas atividades. De um lado onera os custos de expansão na medida em que esta pressupõe terrenos amplos e baratos. De outro, o aumento do preço dos imóveis, resultante do aumento do preço da terra, atingem os salários da força de trabalho: gera-se assim uma pressão dos trabalhadores visando salários mais elevados, os quais incidirão sobre a taxa de lucro das grandes empresas, reduzindo-a. (CORRÊA, 1995, p.14). Por essa razão, a especulação imobiliária não interessa aos proprietários dos meios de produção, e sim aos proprietários fundiários, os quais extraem renda da terra, através da criação da escassez de terra, aumentado assim o seu preço. Os conflitos entre proprietários dos meios de produção e proprietários fundiários se acirram no momento em que o aumento do preço da terra faz com que os trabalhadores busquem melhores salários, que, como já citado por Corrêa (1995), incidem diretamente sobre a taxa de lucro do capitalista. Os proprietários de terras atuam no sentido de obterem a maior renda fundiária de suas propriedades, interessando-se em que estas tenham o uso que seja o mais remunerador possível, especialmente o uso comercial ou residencial de status. Estão particularmente interessados na conversão da terra rural em terra urbana, ou seja, tem interesse na expansão do espaço da cidade na medida em que a terra urbana é mais valorizada que a rural. Isso significa que estão fundamentalmente interessados no valor de troca da terra e não no seu valor de uso. (CORRÊA, 1995, p. 16). Partindo desse pressuposto, a especulação imobiliária interessa essencialmente aos proprietários fundiários que, na maioria das vezes tornam-se promotores imobiliários, loteando, vendendo e construindo casas de luxo, transformando-se em importantes agentes na (re)elaboração dos espaços urbanos. No que concerne à participação do Estado na especulação imobiliária, Corrêa (1995) afirma que: A intervenção do Estado quer direta ou indiretamente, se torna necessária. Indiretamente, através do financiamento aos consumidores a as firmas construtoras, ampliando a demanda solvável e viabilizando o processo de acumulação capitalista. (CORRÊA, 1995, p. 63). A (re)elaboração dos espaços urbanos, com maciça intervenção do Estado, a mídia tem papel fundamental no sucesso do empreendimento imobiliário. Seu papel fundamental é

atuar pregando ideologias e dirigindo as necessidades de consumo da elite.não adianta ter infra-estrutura, boa localização geográfica, amenidades se ele não é considerado artigo a ser consumido e mais que isso, se ele não é considerado alvo do desejo da sociedade de consumo dirigido, caracterizando o consumo não como a mera possessão individual de objetos isolados, mas como a apropriação coletiva. Este esforço se desdobra no questionamento dos processos pelos quais os diferentes grupos sociais hierarquicamente posicionados têm acesso aos novos e clássicos circuitos e modalidades de bens culturais que são colocados no mercado, ou seja, as possibilidades socialmente codificadas de consumo e as estratégias dos diversos grupos e indivíduos envolvidos na produção, circulação e apropriação de bens, uns criando os artefatos e tentando atingir o público, com os que geram e ampliam necessidades e demandas, trabalhando seletivamente a segmentação social e/ou o consumo de massa, garantindo ou conquistando redes de distribuição para a colocação dos bens para seu público alvo potencial. Nesse sentido, é preciso ter um discurso que seja absorvido pela sociedade e que traga retornos financeiros a curto prazo. Insere-se nessa estratégia, a mídia televisiva, impressa, visual e também a propaganda informal (boca-a-boca). As campanhas publicitárias exaltam a qualidade da área e obtém financiamento do Estado para implantação da infraestrutura, refletindo na valorização do preço da terra. É impressionante o aumento do preço do m² da terra quando essa passa de rural para urbana em áreas especuladas. No explicitar de Spósito (1991) as áreas residenciais ricas afastaram-se do centro à procura de ares mais limpos, e as famílias de maior poder aquisitivo passaram a construir suas casas distanciadas da linha da rua. Essa disparidade de renda transforma a malha urbana constantemente, dinamizando o espaço urbano através da convivência de novos loteamentos, voltados para a transferência das antigas elites econômicas e políticas, e loteamentos voltados para o atendimento das reivindicações dos trabalhadores. Neste sentido, a existência simultânea de velhas e novas formas na paisagem urbana de Catalão, marcada por relação da sociedade como espaço natural, transformandoo progressivamente em ambiente urbanizado. Sob esse aspecto, as histórias das cidades, são marcadas pelas áreas rurais que foram sendo incorporadas progressivamente, em áreas urbanas, sejam elas com construções edificadas ou não. Por sua vez, as áreas ainda não construídas, dentro da lógica do capital, estão destinadas a futuras especulações imobiliárias, uma vez que, é a procura que suscita o preço da terra e não o encontro no

mercado de produtores e compradores de solo. (RIBEIRO, 1996 apud BUENO, 2000, p. 152). Portanto, a terra é considerada uma mercadoria que possui valor de uso e valor de troca e que agrega valor no espaço urbano, reforçando a distinção entre os grupos sociais. Por conseguinte, os terrenos de maior preço, geralmente são utilizados para as melhores construções, atendendo à demanda solvável. Em contrapartida, os terrenos com menores preços e pior localizados serão utilizados na construção de residências inferiores, a serem habitadas pelos que dispõem de menor renda (CORRÊA, 1995). Dentro desse contexto, a chamada especulação imobiliária promovida pelos incorporadores (construtoras, imobiliárias, financeiras, proprietários fundiários), encobre os mecanismos de apropriação privada do processo de valorização das áreas, via incorporação do trabalho social e da atuação direta e/ou indireta do Estado.

3 CONSIDERAÇÕES Como percebemos, a cidade está em constante processo de (re)estruturação, de contradição, de conflitos de interesses, e tem seu espaço fragmentado e articulado pelo capital especulativo imobiliário. Para assegurar a intensificação do processo de reprodução do capital, em muitos casos, grandes glebas de terras rurais se transformam em áreas urbanas consideradas áreas de status e que tem seu valor agregado e apropriado pela especulação imobiliária. Nota-se que a decisão de atuar em determinada localidade, criando novos estoques residenciais, influenciarão nas decisões futuras dos incorporadores. Essa decisão é deliberada à medida que ocorrem as transformações no espaço urbano, onde novos arranjos espaciais se estabelecem, revelando um papel do espaço que vai além de um mero palco a observar as transformações do mercado serem implementadas. As ações acumuladas através do tempo sobre o espaço, atribuem a este uma estrutura que sempre deve ser considerada pelo mercado. Para voltar atuar novamente, novas estratégias devem ser articuladas pelos especuladores imobiliários, a fim de promover a rotatividade do capital imobilizado. Em conseqüência, novas áreas são incorporadas e um novo processo de especulação se inicia. Desta forma, a construção sócio-espacial da cidade é designada pelos mecanismos de mercado, onde o uso do solo urbano é considerado mercadoria e as pessoas que possuem maior poder aquisitivo constituem-se o público alvo dos especuladores imobiliários. Sabendo da dinâmica sócio-espacial a que o espaço urbano se submete, os especuladores inovam nas estratégias, criando novas necessidades e contando com maciço investimento do Estado. Enfim, as articulações entre os incorporadores e o Estado se aglomeram por todo o território, fragmentando e (re) organizando o espaço urbano.

REFERÊNCIAS BARREIRA, I. A. F. A cidade no fluxo do tempo: invenção do passado e patrimônio. In: Sociologias. Porto Alegre, ano 5, nº 9, jan/jun. 2003, p. 314-339. BUENO, E. P. A segregação sócio-espacial: a (re) produção de espaços em Catalão GO. 2000. 239 f. Dissertação (Mestrado em Geografia - Organização do Espaço) Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro. 2000. CARLOS, A. F. A. Espaço e indústria. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1989. 69 p. (Coleção repensando a geografia).. A (re) produção do espaço urbano. São Paulo: EDUSP, 1994. 210 p.. Uma leitura sobre a cidade. Cidades: Revista cientifica/ Grupo de estudos urbanos. n.1, vol. 1, Presidente Prudente: Grupo de Estudos Urbanos, 2004.

CORRÊA, R. L. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. 95 p. (Série princípios).. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1995. 94 p.. A rede urbana brasileira e sua dinâmica: Algumas reflexões e questões. In: SPÓSITO, M. E. B. (Org.). Urbanização e cidades: perspectivas geográficas. Presidente Prudente: UNESP/FCT, 2001. p. 359-367. FREIRE, A. L. O. As práticas sócio-espaciais urbanas: contribuições para refletir sobre a cidade. In: SPÓSITO, M. E. B. (Org.). Urbanização e cidades: perspectivas geográficas. Presidente Prudente: UNESP/FCT, 2001. p. 445-460. GONÇALVES, J. C. A especulação imobiliária na formação de loteamentos urbanos: um estudo de caso. 2002. 160 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Economia do Meio Ambiente)- Instituto de Economia, UNICAMP, Campinas, 2002. 1991. LEFEBVRE, Henri. A vida cotidiana no mundo moderno. São Paulo. Ática. MUMFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 450-470. SPÓSITO, M. E. B. Capitalismo e urbanização. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1991. 80 p. (Repensando a Geografia).