Fatores Condicionantes e Predisponentes da Puberdade e da Idade de Abate

Documentos relacionados
Manipulação da Curva de Crescimento para Otimizar a Eficiência de Bovinos de Corte

MANEJO DA NOVILHA EM GADO DE CRIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO Campus Experimental de Dracena PROGRAMA DE ENSINO CURSO DE GRADUAÇÃO EM: ZOOTECNIA

16/3/2010 FISIOLOGIA DO CRESCIMENTO E CRESCIMENTO COMPENSATÓRIO EM BOVINOS DE CORTE. 1. Introdução. 1. Introdução. Crescimento. Raça do pai e da mãe

2. RESULTADOS DE CRUZAMENTOS ENTRE RAÇAS DE BOVINOS NO BRASIL

CRIAÇÃO DE NOVILHAS DESMAMA AO PRIMEIRO PARTO 34) TAXA DE CRESCIMENTO Michel A. Wattiaux Babcock Institute

BOVINOS RAÇAS PURAS, NOVAS RAÇAS, CRUZAMENTOS E COMPOSTOS DE GADO DE CORTE. Moderador: Prof. José Aurélio Garcia Bergmann UFMG

A PESQUISA EM MELHORAMENTO GENÉTICO ANIMAL DA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE

ÍNDICES ZOOTÉCNICOS DO COMPOSTO MARCHANGUS CONSIDERADOS PARA O MELHORAMENTO DO REBANHO

CLASSIFICAÇÃO E CORTES DA CARNE BOVINA ANA BEATRIZ MESSAS RODRIGUES PINTO TÉCNICA DE LINHAS ESPECIAIS MARFRIG GROUP

Vantagens e Benefícios: Vantagens e Benefícios:

Curva de Crescimento e Produtividade de Vacas Nelore

Criação de Novilhas Leiteiras

MÁXIMA PERFORMANCE O ANO TODO

CARACTERÍSTICAS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS DA CARCAÇA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO, BIOMETRIA CORPORAL E GENEALOGIA DE BOVINOS DA RAÇA ANGUS E SUAS CORRELAÇÕES

TERMINAÇÃO. Sistemas de produção de carne no Brasil Sistema de 2010 (x 1000) 2010 (%) Sistemas de Produção 11/03/2015

Características da carcaça e da carne de tourinhos terminados em confinamento com dietas contendo grão de milheto e inclusão de glicerina bruta

Cruzamentos. Noções de melhoramento parte 3. Cruzamentos. Cruzamento X Seleção. Como decidir o cruzamento? EXEMPLOS

Estratégia de seleção e produção de carne no Brasil

fmvz Prof. Dr. André Mendes Jorge UNESP - FMVZ - Botucatu - SP- Brasil Pesquisador do CNPq

Uso de marcadores moleculares na seleção de fêmeas precoces e seus benefícios

A DEP é expressa na unidade da característica avaliada, sempre com sinal positivo ou negativo:

A marca que valoriza o seu rebanho

Noções de Melhoramento genético animal

ESTAÇÃO DE MONTA: UMA FERRAMENTA PARA MAXIMIZAR A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA E O MELHORAMENTO GENÉTICO DOS REBANHOS

MÁXIMA PERFORMANCE O ANO TODO

Técnicas de manejo para preparo de touros para comercialização e readaptação a sistemas de reprodução

Cruzamento em gado de corte. Gilberto Romeiro de Oliveira Menezes Zootecnista, DSc Pesquisador Embrapa Gado de Corte

CURSO MEDICINA VETERINÁRIA

Seleção para fertilidade e precocidade sexual : em zebuínos:

Estratégias para melhorar a eficiência reprodutiva em rebanhos de corte

INTRODUÇÃO IJOP= 10%PN + 20%PD + 30%PSOB + 25%PE + 5%AOL + 10%EGS

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO. Recria - Gestação Lactação. Cachaço 08/06/2014. Levar em consideração: Exigências nutricionais de fêmeas suínas

APRIMORAMENTO DA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA NO PÓS-PARTO DE BOVINOS

Suplementação de gordura para vacas leiteiras em pasto

TECNOLOGIAS APLICADAS PARA INTENSIFICAR O SISTEMA DE PRODUÇÃO

Ultrassonografia como suporte para a seleção de características de carcaça e de qualidade da carne

Valor das vendas dos principais produtos Agropecuários em 2008

RAPP 2014 Reunião Anual dos Parceiros PAINT

Inovações nutricionais para incremento da produtividade na cria: A Suplementação Tecnológica

Melhoramento da qualidade da carcaça e da carne de bovinos no Brasil

EFICIÊNCIA PRODUTIVA E REPRODUTIVA DE VACAS DE CORTE DE DIFERENTES GENÓTIPOS CRIADAS NO SUL DO BRASIL

Acélio Fontoura Júnior

NRC Gado Leiteiro Nutrição para máxima eficiência produtiva e reprodutiva

Avaliação da produção de leite e da porcentagem de gordura em um rebanho Gir leiteiro

Gado de Leite. NRC Gado Leiteiro. Nutrição para máxima eficiência produtiva e reprodutiva. Antonio Ferriani Branco

MELHORAMENTO GENÉTICO DE SUÍNOS

Melhoramento Genético de Suínos

Criação Eficiente de Bezerros. Antonio Carlos Silveira

~~Jraê5r

MELHORAMENTO GENÉTICO E CRUZAMENTOS DE OVINOS

OBJETIVOS PASTAGENS NA RECRIA DE TERNEIROS REDUÇÃO NA IDADE DE ABATE. Luís Fernando G. de Menezes

Avaliação da recria de Novilhas Leiteiras nas propriedades assistidas pelo Programa Mais Leite

VII ENCONTRO NACIONAL DO NOVILHO PRECOCE CUIABÁ-MT

Manejo nutricional de vacas em lactação

Manejo reprodutivo em bovinos

Curva de crescimento e consumo alimentar em suínos em crescimento e terminação. Estratégia para atingir a melhor conversão alimentar

Efeito de uma alimentação intensiva sobre o crescimento de bezerras, idade da puberdade, idade ao parto, produção de leite e economia

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Técnicas de manejo para preparo de touros para comercialização e readaptação a sistemas de reprodução

CARCAÇAS BOVINAS E QUALIDADE DA CARNE

Programa Analítico de Disciplina AGF473 Produção de Ruminantes

A ULTRASSONOGRAFIA COMO CRITÉRIO DE ABATE EM BOVINOS DE CORTE

Condições de Pagamento

Exterior do Suíno. Exterior do Suíno

Nutrição do Gado de Cria no Inverno e no Período Reprodutivo

POLO DE DESENVOLVIMENTO DA RAÇA GUZERÁ DE CORTE 1 PORTAL DO CERRADO. Circuito de Provas de Eficiência Produtiva (PEP) PEP-Unesp

TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA NA PECUÁRIA INTENSIVA. Cleandro Pazinato Dias

REPETIBILIDADE. O termo repetibilidade refere-se a expressão de um mesmo caráter em épocas distintas na vida do animal.

INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO ANIMAL

Marcos Jun Iti Yokoo Zootecnista, MSc, DSc em Genética e Melhoramento Animal Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (CPPSul), Bagé-RS Agosto de 2012

RAÇAS PARA CONFINAMENTO

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

Seleção: Processo que dá preferência a certos indivíduos para a reprodução da geração seguinte.

Utilização de cruzamentos e resultados em rebanhos de Girolando. José Reinaldo Mendes Ruas Pesquisador Epamig Norte de Minas

fmvz-unesp FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA - BOTUCATU Curso de Pós-Graduação em Zootecnia Nutrição e Produção Animal

RAÇAS E ESTRATÉGIAS DE CRUZAMENTO PARA PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES

7,1% SISTEMAS DE ENGORDA LOCALIZAÇÃO DOS MAIORES CONFINAMENTOS DO BRASIL UTILIZAÇÃO DO CONFINAMENTO NA BOVINOCULTURA DE CORTE

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Produção de Novilhos em Sistema Superprecoce. Cheyla Magdala de Sousa Linhares 1

Potencial de IG para raças locais: caso do Bovino Pantaneiro. Raquel Soares Juliano

Alimentação do Frango Colonial

Manual de Instruções DataCollection. Nome do Documento. Novas Funcionalidades DataCollection versão 3.0

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Hereford e Braford Brasileiros Raças Tipo Exportação

Prof. Sandra Gesteira Coelho Departamento de Zootecnia. Universidade Federal de Minas Gerais

O EQUILIBRISTA. Ou, por que não consegue interpretar a informação?

DESEMPENHO REPRODUTIVO DO NELORE BACURI. Gabriel Luiz Seraphico Peixoto da Silva (1) Maria do Carmo Peixoto da Silva (2)

Teorias de Consumo Voluntário em Ruminantes

Bovinocultura de Corte. Raças. Professor: MSc. Matheus Orlandin Frasseto

Gerenciamento da Ovinocultura

SEU RESULTADO É O NOSSO COMPROMISSO + TECNOLOGIA + ATENDIMENTO + QUALIDADE. linhaconfinatto.com.br

EXPERIMENTAÇÃO ZOOTÉCNICA. Profa. Dra. Amanda Liz Pacífico Manfrim Perticarrari

Reprodução em Bubalinos. Prof. Raul Franzolin Neto FZEA/USP

ALIMENTAÇÃO DE BOVINOS NA ESTAÇÃO SECA: PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS 7 FORMULAÇÃO DA DIETA

Biotecnologias i da Reprodução em Bubalinos- I

Recria de bovinos de corte

II SIMPAGRO da UNIPAMPA

Relação bezerro boi.

Avanços em Nutrição Mineral de Ruminantes Suplementando com precisão

Transcrição:

Fatores Condicionantes e Predisponentes da Puberdade e da Idade de Abate Prof. Dr. Dante Pazzanese Lanna Laboratório de Biotecnologia Animal Departamento de Zootecnia, ESALQ/USP 1. Introdução Os baixos índices de produtividade da bovinocultura de corte no Brasil são reconhecidos pelos diferentes agentes econômicos envolvidos no processo de produção e comercialização. Em anos recentes intensificaram-se os esforços para melhorar estes índices. Conscientes da importância dos resultados de pesquisa, produtores passaram a adotar tecnologias que gerassem aumentos tanto na produtividade como na eficiência econômica de produção. Esta preocupação é função da crescente competição dentro deste setor da pecuária, assim como com outros setores envolvidos na produção de fontes de proteína de alta qualidade. O trabalho das Universidades e Institutos de Pesquisa, em parceria com produtores, é o de utilizar conhecimentos científicos na formulação de pacotes tecnológicos. Adoção destas tecnologias em sistemas de produção de bovinos de corte requer compreensão dos conceitos básicos da interrelação ambientenutriente-animal. O objetivo desta revisão é discutir e cristalizar alguns conceitos sobre a curva de crescimento animal. Procurou-se discutir o efeito das interrelações entre genética e manejo, notadamente a nutrição, na forma da curva de crescimento. O alcance de pontos importantes na curva de crescimento, específicamente a puberdade, a maturidade sexual e o início da rápida deposição de gordura foram avaliados dentro do conhecimento atual na área. Um dos objetivos desta revisão é identificar objetivos e estratégias que podem ser utilizados na alteração da curva de crescimento. Estas estratégias incluem seleção, nutrição, manejo, uso de modificadores metabólicos e, a longo prazo, a produção de animais transgênicos. 2. Importância da precocidade sexual e de abate Em sistemas de bovinos de corte, o segmento de cria utiliza cerca de 70% do total de nutrientes exigidos para produção de um animal terminado (Jenkins e Ferrel, 1993). Esta elevada proporção de custos para produção do bezerro desmamado é função, entre outros, da baixa prolificidade e do elevado intervalo entre gerações de bovinos. Consequentemente, incrementos na eficiência de produção do setor de cria teriam grande efeito sobre a eficiência do sistema como um todo. O aumento na eficiência do setor de cria pode ser atingido por diversos meios, entre eles a redução na idade ao primeiro parto e o aumento na fertilidade das primíparas. Estes dois objetivos são alcançados quando elevada

proporção de novilhas apresenta cio ao início da estação de monta, aos 15 meses de idade. A aceleração da maturidade sexual pode ser obtida através da utilização de uma série de técnicas de manejo, mas é ultimamente limitada pelo potencial genético. Dado um ambiente adequado, elevada precocidade sexual e de terminação podem ser obtidas através da escolha de genótipos superiores (raças ou linhagens) e com contínuo melhoramento genético. Entretanto, melhorar animais para precocidade, tanto sexual como de crescimento, é algo complexo pois: 1) é difícil e caro identificar animais efetivamente precoces; e 2) seleção para elevados pesos à idade jovem está correlacionada a uma série de características que podem ser altamente negativas à eficiência do sistema de produção, notadamente o aumento do peso adulto e diminuição da taxa de maturação. A precocidade sexual da fêmea e do macho são altamente correlacionadas (Morris et al, 1992; Morris and Cullen, 1994). No macho, por sua vez, a precocidade sexual medida pela circunferência escrotal, está correlacionada com a idade de abate e com a precocidade de terminação (Mavrogenis et al., 1978). O termo precocidade de terminação é utilizado para denotar animais que atingem composição corporal da carcaça adequada ao abate à uma idade jovem. Esta composição, definida pelo mercado, pode ser estimada pela espessura de gordura subcutânea. Ainda hoje existe uma grande resistência dos produtores em abater animais em função do seu grau de acabamento, ou teor de gordura. A maioria dos pecuaristas tem definido o peso em que acreditam que os animais devem ser abatidos, geralmente tendo orgulho em abater animais muito pesados. O abate de animais a pesos elevados, com elevada proporção de gordura na carcaça, reduz sensivelmente a eficiência de produção. Não raramente animais que alcançam elevados pesos à desmama ou como sobreanos são denominados precoces. Na realidade, animais com altas taxas de crescimento não são necessariamente precoces, pois podem ser animais com elevados pesos à idade adulta. Para identificar animais efetivamente precoces é necessário estudar a curva de crescimento como proporção do peso adulto (i.e. taxa relativa de maturação). 3. Curvas de crescimento e a precocidade sexual e de terminação 3.1. Parâmetros das curvas O produto de sistemas de bovinos de corte é o crescimento. Lanna (1988) resumiu o objetivo da pecuária de corte como a otimização do crescimento pré e pós-natal. Por conseguinte, o objetivo da pesquisa nesta área é descrever a curva de crescimento animal pré e pós-natal e estudar os efeitos dos diferentes fatores que a influenciam. A maior parte das atividades desenvolvidas por produtores envolvem a alteração nas curvas de crescimento. Procura-se atingir pontos importantes desta curva, como maturidade sexual, peso e composição de abate, da forma 2

mais rápida e econômica possível. No quadro 1 estão as equações geralmente utilizadas para descrever as curvas de crescimento em mamíferos. Quadro 1. Curvas não lineares para ajustes de medidas pesoidade: curvas de crescimento. Nome Curva 1 Brody PV = A.( 1 b.e ( k.t) ) Brody modificada PV = A (A PN).e ( k.t) Logística P V = A. ( 1 + b. e ( k. t ) ) 1 Gompertz P V A e b e k t =. ( (. (. ) ) ) Richards P V = A. ( 1 b. e ( k. t ) ) m 1 A, peso adulto; PN, peso ao nascer; t, tempo; b, coeficiente integração; k, taxa de maturidade; m, ponto de inflexão. Fonte: Tedeschi (1996) Os diversos parâmetros que compõem as curvas de crescimento devem ser avaliados para identificação de animais mais eficientes dentro de um sistema de produção. Dois parâmetros em particular devem ser conhecidos: o peso adulto (denominado A) e a taxa de maturação ou taxa de precocidade (fator k). O peso ao nascer, peso à desmama e peso adulto são fundamentais na determinação da curva de crescimento, porém um maior número de pesos intermediários devem ser obtidos para permitir computar a taxa de maturação, principalmente próximos ao ponto de inflexão da curva que ocorre ao redor de 200 dias de idade. O primeiro parâmetro que deve ser definido é o peso adulto, também denominado de peso maduro ou simplesmente pela letra A. Definir este parâmetro não é simples e existe controvérsia com relação à melhor metodologia para tanto. Segundo Taylor e Young (1968), peso adulto é o peso do animal quando este atinge 25% de gordura (química) no corpo vazio e, segundo o autor, tem seu crescimento esquelético completo. Este conceito é utilizado pelo sistema australiano de cálculo das exigências nutricionais (CSIRO, 1991). O conceito é interessante especialmente quando se compara diferentes espécies animais, mas diversos trabalhos demonstram que bovinos com 25% de gordura ainda não completaram o crescimento ósseo e muscular (Reid et al, 1955; Fortin et al, 1980). Outra definição utiliza o peso no qual o animal atinge a máxima deposição de matéria desengordurada (soma de proteína, água e minerais), ou seja, quando o ganho de peso passa a ser composto exclusivamente por gordura (Fox e Black, 1984; Owens et al,1995). Ainda outros autores sugerem a utilização do peso das fêmeas adultas, corrigido para uma mesma condição corporal ou para mesma época do ano (e.g. peso ao parto). Este último conceito utiliza um valor de peso que é geralmente mais fácil de ser determinado e é muito importante para o estudo da eficiência dos rebanhos em 3

diferentes sistemas de produção. O conceito sugerido por Fox e Black (1984) parece o mais lógico, porém requer a determinação ou estimativa da composição corporal dos animais, uma tarefa importante, mas extremamente trabalhosa e de alto custo (Lanna et al., 1995). Um dos aspectos importantes sobre o peso adulto é a sua alta herdabilidade, cerca de 0,50 quando avaliado pelo peso adulto de vacas em Bos taurus (Koots et al., 1994). Barbosa (1991), revendo a literatura, obteve média de herdabilidade de 0,75 para peso à idade adulta de vacas Nelore. Dentre os parâmetro das curvas de crescimento, a taxa de maturação talvez seja o de maior importância. Naturalmente, a taxa de maturação pode ser grandemente alterada por modificações no manejo, e portanto tem herdabilidade menor do que a observada para peso adulto. Definir um valor de taxa de maturação para um genótipo ou para uma determinada estratégia de manejo é muito difícil, especialmente quando se considera a existência de complexas interações entre genótipo e ambiente. 700 600 Peso, kg 500 400 300 A=650 kg k=0,3% A=550 kg k=0,3% A=650 kg k=0,5% A=550 kg k=0,5% 200 200 400 600 800 1000 1200 1400 Idade, dias Figura 1. Curva de crescimento da desmama à idade adulta (modelo de Brody) de bovinos com diferentes pesos adultos e diferentes taxas de maturação. É interessante discutir o valor destes parâmetros nas curvas de crescimento de animais de diferentes padrões genéticos. A Figura 1 apresenta a curva de crescimento teórica, da desmama à idade adulta, de bovinos de diferentes composições genéticas, descrita segundo a equação de Brody (Brody, 1945). As linhas sólidas representam animais com taxa de maturação baixas, de 0,3% enquanto as curvas de crescimento pontilhadas são daqueles 4

animais com taxas de maturação mais elevadas. Os pesos adultos variam entre 550 e 650 kg. Animais de peso adulto mais elevado tendem a apresentar peso à desmama mais elevados, mesmo que a taxa de maturação seja igual à do animal de menor peso adulto. Na figura 1 nota-se que animais de elevado peso adulto apresentam pesos intermediários semelhantes ao de animais de menor peso adulto, mas com elevada taxa de precocidade. Logo, não é possível distinguir um animal precoce de um animal com elevado peso adulto apenas pelo peso à uma idade jovem. 3.2. Utilização das curvas na seleção de animais verdadeiramente precoces Na maioria dos experimentos de seleção, realizados com bovinos ou mesmo com frangos de corte e ratos, a seleção para os animais mais pesados a uma idade jovem resulta na seleção dos animais de maior peso adulto (Ricards, 1975; Taylor, 1989). Este aumento no peso adulto pode ser observado em inúmeros programas de seleção com bovinos baseados no peso à idade jovem, geralmente 12 a 18 meses. Frias (1996) aponta para o problema e sugere que ao utilizar o peso ajustado à desmama e sobreano incorpora-se o peso ao nascer ao mérito genético do animal. Peso ao nascer elevado não é mérito, mas geralmente um problema em termos de aumento de partos distócicos e no peso adulto das matrizes (com consequente aumento nas exigências nutricionais). A proposta de Frias (1996) para os programas de seleção de bovinos envolve utilizar o número de dias gasto pelo animal para ganhar 160 quilos de peso do nascimento à desmama e da desmama ao peso de abate, por volta de 440 kg. Embora a proposta de Frias (1996) seja um passo importante no sentido de se minimizar a seleção para peso adulto, como pode ser visto na figura 2, animais de maior tamanho corporal apresentam maiores taxas de ganho de peso (curva C em relação à A). O peso de abate, assinalado na Figura 2, é atingido mais cedo tanto por animais mais precoces (k=0,5%, B) quanto por animais de maior peso adulto, mas de mesma precocidade (K=0,3%, A). Em resumo, melhoramento para taxa de ganho se traduz em pressão de seleção para aumento no peso adulto. Um fator complicador é a existência de correlação negativa entre peso adulto e taxa de maturação (Taylor e Young, 1968; Taylor, 1989; Tedeschi, 1996). Ou seja, animais com elevados pesos adultos tendem a apresentar menores taxas de maturação. Dados obtidos no programa de avaliação de germoplasmas do Departamento de Agricultura dos EUA foram utilizados para ilustrar esta correlação (Figura 3). O peso à idade adulta de diferentes genótipos foi regredido em função da taxa de maturação determinada através de múltiplas pesagens dos animais ao longo da curva de crescimento. Deve-se ressaltar, entretanto, a possibilidade de confundimento caso o efeito da heterose seja distinto para as diferentes características (Jenkins e Ferrel, 1993). 5

700 600 Abate, idade B C Peso, kg 500 400 Abate, peso A 300 A=650 kg k=0,3% A=550 kg k=0,3% A=550 kg k=0,5% 200 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Idade, dias Figura 2. Curva de crescimento a partir da desmama (Brody) de bovinos com diferentes pesos adultos e taxas de maturação. 600 Correlação entre taxa de precocidade (k) e peso adulto. Peso Adulto, kg 580 560 540 520 500 480 460 440 y = -1,9014x + 710,47 R 2 = 0,2732 420 80 85 90 95 100 105 110 115 120 Taxa de precocidade, % da média Figura 3. Correlação entre peso adulto e a taxa de maturação de produtos F 1 de diferentes raças paternais (cada ponto representa uma raça). Regressão dos dados de Jenkins e Ferrel (1993) obtidos no programa de avaliação de germoplasmas do Meat Animal Research Center, Nebraska, EUA. 6

A correlação negativa proposta por Taylor e Young (1968) também foi demonstrada por Tedeschi (1996) trabalhando com curvas de crescimento de diferentes grupos raciais zebuínos e cruzamentos Bos taurus x Bos indicus em condições brasileiras (Figura 4). Os resultados de Tedeschi (1996) apontam para um efeito maior que o proposto por Taylor e Young (1968), embora aquela seja uma avaliação fenotípica para condições específicas. Como aparente para puberdade em fêmeas (ver figura 8), os programas de melhoramento parecem não ter piorado a taxa de maturação. Isto pode estar ocorrendo porque na seleção para peso à idade jovem (12-18 meses), animais que depositam gordura mais cedo tem maior mérito. Estes animais seriam mais precoces. Talvez por este motivo (somado à seleção das novilhas com menor idade à puberdade) a pressão de seleção para animais de elevado peso adulto não tenha piorado a taxa de maturação relativa, segundo a relação apresentada nas figuras 3 e 4 (Taylor e Young, 1968; Jenkins e Ferrel, 1993; Tedeschi, 1996). Muito relevantes são os resultados de Ricards (1975) que demonstram claramente ser possível selecionar animais precoces sem alterar o peso adulto. Logo a correlação genética entre estas variáveis é menor do que 1, e alguns genes distintos estão envolvidos na regulação destes processos. Para obter estes resultados Ricards (1975) selecionou os animais mais pesados a uma idade jovem e posteriormente descartou os animais de maior peso adulto. 0,008 0,007 Taylor (1968) Ajustado Observado taxa de maturidade 0,006 0,005 0,004 0,003 0,002 0,001 240 340 440 540 640 740 840 940 1040 peso adulto Figura 4. Correlação entre o peso adulto e a taxa de maturação de fêmeas B. indicus e de cruzamentos B. taurus x B. indicus. Nota-se uma redução na taxa de maturação com o aumento no peso adulto (Tedeschi, 1996). 7

As respostas a estas perguntas só serão respondidas em trabalhos conjuntos de grupos de pesquisa com atuação em diferentes áreas do conhecimento. O grupo da ESALQ tem colaborado com o Instituto de Zootecnia em Sertãozinho e Nova Odessa, com objetivo de identificar os efeitos da seleção sobre parâmetros da curva de crescimento, e sobre a composição corporal de rebanhos em processo de seleção (Nardon, em andamento). 4. Idade de abate e precocidade de terminação A idade de abate é função de um grande número de variáveis, entre elas o peso e a composição da carcaça desejada. Normalmente os bovinos são abatidos com cerca de 50% do peso adulto do macho inteiro de genótipo correspondente. Diferentes genótipos e diferentes sistemas de produção geram animais com pesos e idades de abate muito distintos. Um fator complicador do estudo da idade e peso de abate é que os agentes econômicos influenciam a decisão de acordo com seus objetivos, porém o consumidor brasileiro tem sido pouco ouvido. Frigoríficos e produtores acabam definindo o peso e composição das carcaças produzidas sem levar em conta parâmetros técnicos e mercadológicos de produção e qualidade. Esforços estão sendo conduzidos com objetivo de identificar a composição da carcaça que atende ao consumidor e daí identificar o animal e o sistema de produção que aumentariam a eficiência do processo produtivo como um todo. Em termos mercadológicos, o problema fundamental é estabelecer o teor de gordura para o abate. Em termos biológicos, como será discutido a seguir, é necessário compreender que a eficiência de produção animal é definida pela taxa de ganho e pela composição química deste ganho. Devido ao grande número de variáveis envolvidas, técnicas de modelagem do crescimento e de sistemas de produção deverão ser utilizadas. O nosso grupo na ESALQ tem procurado contribuir neste esforço desenvolvendo um programa de computador que modela o crescimento e a composição corporal (Lanna et al, 1994; Lanna et al., 1996), programa este denominado CNCPS, ou Cornell Net Carbohydrate and Protein System. A definição da idade de abate será obtida pela integração dos processos biológicos modelados pelo CNCPS, bem como de fatores econômicos pósprodução a serem incorporados ao sistema de análise. 4.1. Conceitos de eficiência do crescimento de bovinos Um dos mais importantes fatores para determinação do peso de abate é a eficiência de ganho de peso nas diversas fases da curva de crescimento. Diversos fatores alteram a eficiência do crescimento de bovinos. Poderíamos citar o peso, idade, nutrição, genética (raça e tamanho corporal), sexo, utilização de hormônios exógenos e manipulação do genoma. Entretanto, a eficiência de 8

crescimento de animais de corte é função de duas características básicas: 1) taxa de ganho; e 2) composição química dos tecidos depositados. Quanto maior a taxa de ganho maior a eficiência de conversão em função da diluição das exigências de mantença, que são relativamente constantes. O efeito da composição do ganho de peso sobre a eficiência do ganho é mais complexo. Quando se menciona eficiência de ganho, é primordial definir qual a eficiência a que se refere. Nutricionistas muitas vezes estão preocupados com a eficiência energética, ou da transformação de energia da dieta em energia dos tecidos corporais depositados. Esta eficiência é expressa em Mcal depositada/mcal de alimento ingerido. Quanto maior a proporção de gordura no ganho, maior a eficiência energética de deposição de tecidos. Entretanto, para o produtor e para o extensionista a eficiência de maior importância é geralmente a conversão alimentar, também chamada de eficiência bruta de conversão, expressa como kg de ganho de peso ou de carcaça / kg de alimento ingerido. No quadro 2 estão apresentadas: a) a eficiência de deposição de energia; b) a eficiência de deposição dos componentes químicos em peso (proteína ou gordura); c) a eficiência de deposição de tecidos em peso (músculo ou tecido adiposo). A deposição de proteína é menos eficiente energeticamente (Mcal/Mcal), porém é mais eficiente em termos de peso de tecido depositado (kg músculo/mcal ingerida) uma vez que para cada unidade de ganho de proteína cerca de três unidades de água são depositadas em associação. De acordo com o quadro 2 a deposição de peso na forma de músculo é cerca de quatro vezes mais eficiente que a deposição de tecido adiposo (2,8g para 0,7g tecido/10 Kcal). Este dado é o que interessa ao produtor. Entretanto, a utilização de animais eficientes, mas muito magros, pode significar problemas na aceitação da carcaça produzida. Estes problemas tem sido observados em sistemas de produção de novilho precoce que utilizam raças tardias e terminação a pasto. As desvantagens observadas incluem o encurtamento das fibras musculares em função da falta de gordura de cobertura, carne mais dura e com pouco sabor. Quadro 2. Eficiência de deposição de energia, de peso dos componentes químicos e dos diferentes tecidos. Energia Metabolizável Disponível Para deposição de proteína, 10 kcal Para deposição de lipídeo, 10 kcal Energia 3,5 kcal (35%) 6,0 kcal (60%) proteína = 5,5 kcal/g, eficiência retenção de 35% Ganho Componente s químicos Tecidos 0,64 g proteína 2,8 g músculo 0,64 g lipídeo 0,7 g tecido adiposo 9

gordura = 9,4 kcal/g, eficiência de retenção de 60% Para técnicos em qualidade de carnes e frigoríficos o conceito de eficiência mais importante é a de kg de carcaça comestível ou músculo aparado/r$ de alimento + fretes, processamento, distribuição e impostos. Como referido anteriormente, identificar esta eficência de produção de músculo por R$ gasto no sistema requer que toda a estrutura de produção seja modelada (Loewer et al., 1981). Mais esforços neste sentido seriam importantes, estabelecendo uma noção clara do peso de abate ideal e por conseguinte do tipo de animal a ser empregado. O quadro 3 ilustra claramente que animais de maior tamanho corporal são mais eficientes apenas quando abatidos ao mesmo peso pois depositam menos gordura no ganho. Entretanto, quando o abate foi realizado para produção de uma carcaça semelhante (contendo 4,5% de gordura no longissimus), animais de menor tamanho corporal foram mais eficientes, pois foram efetivamente mais precoces, diluíndo as exigências de mantença. Parece mais lógico avaliar animais pelo segundo critério de abate, quando estes produzem um mesmo produto. Recentemente alguns técnicos sugeriram que se o abate de animais ocorresse com cerca de 14@ haveria um notável aumento na eficiência de produção de bovinos de corte (Lazarini, 1995). Entretanto, este aumento na eficiência seria resultado fundamentalmente de uma diminuição do teor de gordura do animal abatido. A qualidade da carne do animal típico utilizado nas condições brasileiras, alimentado a pasto com taxas de crescimento Quadro 3. Efeito do peso de abate e do grau de acabamento do animal sobre a eficiência de ganho de peso de diferentes genótipos. Raça Peso final de 540 kg 4,5% gordura contra-filé Eficiência, g de ganho/mcal EM ingerida Angus 48 53 (aos 477 kg) a Hereford 48 54 (aos 503 kg) Limousin 51 37 (aos 986 kg) Simental 52 44 (aos 770 kg) Charolês 52 43 (aos 880 kg) a Peso de abate aos 4,5% de gordura no longissimus. 4.2. Técnicas para determinação da composição corporal Definida a qualidade da carcaça exigida pelo consumidor, a determinação do peso ideal de abate envolve o conhecimento da composição da carcaça de diferentes genótipos em diferentes sistemas de produção. O método padrão para determinar a composição corporal de bovinos é a moagem de todos os 10

tecidos do animal, amostragem e análise em laboratório (Lanna, 1988). Esta metodologia é cara porque destrói grande parte do animal, extremamente trabalhosa e, logicamente, só pode ser medida no animal uma única vez. Diversas metodologias foram propostas para obtenção da composição corporal in vivo, sem necessidade de abate (Leme et al, 1994; ver revisão Lanna, 1988). Dentre estas metodologias, uma das mais baratas e de fácil aplicação é o ultrassom. Diversos autores tem procurado validar as estimativas da composição corporal de bovinos utilizando o ultrassom (Perry e Fox, 1996), entretanto os resultados tem sido medíocres. Na figura 5, está a regressão entre espessura de gordura na carcaça estimada pelo ultrassom e a determinada na carcaça após abate. O coeficiente de determinação, de apenas 0,82, é bastante enganador em função da extrema amplitude de dados, entre 0 e 40 milimetros (4 cm!) de espessura de gordura sobre a 12 a costela. Nas condições brasileiras a espessura de gordura mínima requerida no programa do novilho precoce é de apenas 3 mm, e a amplitude observada em frigoríficos de 1 a 8 mm. Regressões nesta faixa apresentam coeficientes de determinação muito baixos e elevados desvios padrões das estimativas. A utilização do ultrassom em tourinhos de sobreano, para efeito de seleção seria ainda mais problemática. O método só pode ser empregado em grupos e de forma nenhuma para identificar indivíduos. Além disto machos inteiros depositam gordura mais tardiamente. Entre 12 e 18 meses a espessura de gordura encontrada nestes animais é muito baixa. Finalmente, as correlações mais importantes, entre espessura de gordura e teor de gordura determinados diretamente na carcaça, e entre espessura de gordura e marmorização do longissimus, são baixas (Luchiari Filho, 1986; Lanna, 1988; Alleoni, 1995). Figura 5. Estimativa da espessura de gordura sobre a 12 a costela através do ultrassom. 11

4.3. Genética Da mesma forma que para a maturidade sexual, sem dúvida alguma o genótipo é determinante da precocidade de terminação. Diferentes genótipos (raças e linhagens) podem alcançar objetivos de espessura de gordura e grau de marmorização em idades e/ou pesos bastante diferentes (Southgate et al, 1982; 1988; Quadro 4). Esta precocidade pode ser entendida como peso (Quadro 4), bem como proporção do peso adulto. Em função da grande variabilidade individual, bem como dos cruzamentos entre raças (inclusive o cruzamento rotativo), torna-se difícil identificar o genótipo dos animais. Portanto, para identificação da idade de terminação (peso a uma determinada composição) utiliza-se fundamentalmente do grau de estrutura corporal. A correlação genética entre espessura de gordura sobre a 12 a costela e peso aos 365 dias é de 0,29, embora os autores não tenham corrigidos os dados para mesmo peso (Mavrogenis et al, 1978). A espessura de gordura é uma característica de média herdabilidade quando ajustada ao mesmo peso (aproximadamente 0,44; Koots et al, 1994) e altamente correlacionada geneticamente com consumo de alimentos e taxa diária de ganho. Da mesma forma, a espessura de gordura e a circunferência escrotal são altamente correlacionadas com a taxa de ganho e com o peso aos 365 dias de idade (Koots et al, 1994). Um outro aspecto interessante é o efeito positivo de heterose sobre a precocidade de abate. A literatura indica que existe um efeito heterótico positivo na taxa de deposição diária de gordura e também sobre a idade à puberdade de fêmeas em animais F 1 (Gregory et al., 1993; 1994). O aumento da eficiência de produção requer a identificação do genótipo mais adequado para as condições ambientes. A utilização de animais de maior tamanho corporal (peso adulto), que apresentam taxas de crescimento mais elevadas por maior período de tempo, e cujas fêmeas apresentam maiores produções de leite, somente será viável se as condições de manejo e principalmente a nutrição o permitirem. O ranking de eficiência (kg de bezerro desmamado/kg de vaca exposta a touro) de vacas de diferentes tamanhos corporais é função da nutrição (Nugent et al, 1993). Em elevados níveis nutricionais vacas de maior tamanho corporal tem altas taxas de concepção e desmamam bezerros mais pesados. Entretanto, em nívei nutricionais mais baixos, vacas menores tem uma maior taxa de concepção que mais do que compensa o menor peso do bezerro desmamado. Deve-se notar, entretanto, que a eficiência de produção em kg bezerro/mcal de alimento ingerido por vaca+bezerro é maior quanto mais baixo o nível nutricional (Jenkins e Ferrel, 1993). Animais muito precoces (com elevadas taxas de maturação), independentemente do seu peso adulto tem exigências nutricionais elevadas e quando submetidos a períodos de sub-nutrição apresentam maiores problemas de restrição permanente do crescimento. 12

Quadro 4. Eficiência de conversão de alimentos por diferentes raças em um sistema de produção de 16 meses. Animais foram abatidos quando alcançaram a mesma espessura de gordura subcutânea. Raça Peso ao abate, kg Eficiência, GPV / kg MS ingerida Aberdeen Angus 371 203 Devon 387 213 Hereford 400 217 Charolês 510 192 Friesian 438 192 Simental 489 201 Southgate et al., (1982) Outra consideração sobre melhoramento se refere a existência de um limite para precocidade. Em função dos mecanismos fisiológicos que limitam a ingestão de alimentos em pastagens (Forbes, 1987) é possível imaginar que existe um limite para o melhoramento nas taxas de precocidade, mesmo se resolvido o problema da estacionalidade de produção forrageira. Estes limites só poderão ser superdados através de programas de suplementação a pasto. 4.4. Peso Uma vez definida a qualidade da carne desejada pelo consumidor, o peso de abate ideal deve ser definido, para cada genótipo, em função da composição química da carcaça nas condições do sistema de produção utilizado. A forma mais simples de alcançar a composição desejada é alterar o período de alimentação, basicamente aumentanto o peso de abate. Alguns autores têm sugerido reduzir o peso de abate como forma de aumentar a eficiência de produção de bovinos (Lazzarini, 1995). Como discutido acima, quanto mais leve o animal ao abate, mais eficiente será o ganho em função das baixas proporções de gordura. Entretanto esta carcaça pode ser rejeitada pelo consumidor. 4.5. Nutrição A nutrição é sem dúvida o parâmetro de manejo que mais altera a idade do animal ao abate. Em outras palavras a precocidade, ou a taxa com que o animal se aproxima do seu peso adulto e de abate (fator k) é muito sensível às alterações do ambiente. Consequentemente esta característica tem baixa herdabilidade. O maior determinante da baixa taxa de maturação de bovinos nas nossas condições é a estacionalidade de produção forrageira. Suplementação durante o 13

primeiro ou segundo período de seca, bem como a suplementação durante o aleitamento ( creep-feeding ) tem enorme influência sobre a taxa de maturação dos animais. Entretanto, deve-se atentar para o efeito do ganho compensatório que tende a minimizar efeitos positivos destas tecnologias. Além de alterar a taxa de maturação, tratamentos nutricionais podem alterar o peso adulto. Geralmente modificações no peso adulto causadas por nutrição são de pequena magnitude. Restrições alimentares muito severas, principalmente no animal jovem, podem resultar em diminuição significativa do peso adulto. O animal resultante é geralmente denominado pelos criadores de tucura. 120 Extrato etéreo no corpo vazio, kg 110 100 90 80 70 60 Alib85 Rest85 50 40 300 350 400 450 500 Peso vazio, kg Figura 6. Efeito do consumo de energia sobre a composição corporal de tourinhos nelore (Boin et al, 1994). O fornecimento de altos níveis de energia por períodos longos também pode reduzir o tamanho corporal adulto, mas este efeito é relativamente pequeno (Fortin et al, 1980; Anrique, 1976). Experimentos conduzidos no Instituto de Zootecnia de São Paulo demonstraram que tourinhos Nelore alimentados desde a desmama até o abate com consumo de energia ad libitum tendem a apresentar maiores teores de gordura ao mesmo peso que animais com consumo restrito (Figura 6; Boin et al, 1994). Este efeito não foi observado nos animais que entraram no confinamento com idade de 20 meses (Boin et al., 1994). 14

Em outras palavras, a taxa de maturação do tecido adiposo em relação ao corpo vazio é aumentada quando o animal é severamente restrito ou com fornecimento de dietas com elevadas proporções de energia. 4.6. Promotores de crescimento Modificadores metabólicos podem diminuir o tempo para o animal atingir o peso de abate, incluindo esteróides (Preston et al, 1978), beta-adrenérgicos (NRC, 1994) e hormônio do crescimento (Moseley et al., 1992). Trabalhos de pesquisa com diferentes implantes (estrogênios e/ou adrogênios) demonstraram que, embora a deposição de gordura total seja reduzida, o efeito sobre a deposição de gordura sub-cutânea é relativamente menor (Quadro 5; Johnson et al, 1996). Portanto, esteróides tendem a reduzir a idade de abate, mas pouco alteram a espessura de gordura e a qualidade da carcaça produzida (Perry et al, 1992). Os esteróides aumentam o ganho de peso e de proteína por dia, não havendo redução na taxa diária de deposição de gordura e na espessura de gordura medida após o mesmo período de alimentação (maior peso final). Quadro 5. Efeito de um implante combinado de acetato de trembolona e estradiol no desempenho e características da carcaça de novilhos confinados por 115 dias. Item Controle Estrogênio+ androgênio Peso final, kg 575 614 Ganho de peso, kg/d 1,55 1,87 Consumo, kgms/d 9,7 10,8 Conversão, kgms/kg GPV 6,3 5,8 Teor de gordura, % 33,7 33,3 Teor de proteína, % 14,6 14,9 Espessura de gordura, mm 7,9 9,4 Área de olho de lombo, cm 2 85,1 91,0 Johnson et al. (1996) Outros promotores de crescimento, como o hormônio do crescimento e os beta-adrenérgicos têm efeito muito pronunciado sobre a deposição de gordura, limitando drasticamente a atividade lipogênica. Nestes casos existem reduções pronunciadas na proporção de gordura da carcaça, sendo o uso do produto viável apenas se houver aceitação desta carne magra. Em outras palavras, a ST e os beta-adrenérgicos reduzem drasticamente a taxa de maturação do tecido adiposo em relação ao resto do corpo, tornando o animal mais tardio. 15

4.7. Distribuição da gordura e idade de abate Diferentes padrões de distribuição de gordura na carcaça do animal podem alterar a precocidade do animal. A deposição de gordura intramuscular é importante em alguns países onde o consumidor exige mais sabor na carne, como nos EUA. Animais da raça Angus depositam gordura intramuscular em proporções mais baixas do seu peso adulto (menor porcentagen de gordura na carcaça) que outras raças (Gregory et al, 1994). Em sistemas de produção que exigem carne marmorizada, esta propensão de deposição de gordura, permite que o animal esteja pronto para o abate mais cedo. Como consequência o animal será mais eficiente pois há necessidade de menor deposição de gordura interna e intermuscular para que o animal atinja a qualidade exigida pelo mercado. Deve-se selecionar animais e desenvolver modificadores do metabolismo que privilegiem a deposição de gordura intramuscular e de cobertura (necessária para proteção da carcaça). 4.8. Manejo da idade de abate Na prática o peso de abate é determinado, basicamente, em função do escore de condição corporal, que reflete o teor de gordura sub-cutânea. Embora características genéticas e de manejo definam o peso e a idade de abate, existe significativa variabilidade individual. Infelizmente, observa-se que os produtores não dividem os animais de acordo com a precocidade de acabamento. Este problema é observado tanto na terminação a pasto como na terminação em confinamento, onde sempre existem lotes de animais excessivamente terminados, com excesso de gordura. Esta deficiência de manejo causa perdas econômicas significativas uma vez que animais acabados ganham peso mais lentamente e têm conversão alimentar extremamente ineficiente. O mesmo problema é muito comum em confinamentos que utilizam vacas. Devido ao baixo custo da engorda em pastagem, a manutenção de animais excessivamente terminados é menos crítica nestes sistemas. Os custos mais elevados da alimentação em confinamento e a maior facilidade do produtor em identificar animais ineficientes, permitem ao produtor observar o benefício do animal precoce e do abate no grau de acabamento adequado. Pesquisas demonstram que a manutenção dos lotes de engorda, sem retirada e, principalmente, sem inclusão de novos animais é benéfica em termos de desempenho e de qualidade da carcaça produzida. Isto é tanto mais importante em lotes de animais inteiros. Para alcançar este objetivo o produtor deve ser mais consciente dos fatores que definem o peso de abate de diferentes genótipos, fundamentalmente do grau de estrutura corporal. Animais de tamanho grande, com muita caixa, devem ser separados dos animais menores, que depositam gordura mais cedo. 4.9. Maturidade sexual 16

A maturidade sexual do macho afeta a idade de abate sob o ponto de vista do manejo. A produção de machos inteiros é comprometida por problemas que incluem a dificuldade de manejo e as perdas econômicas em função da agressividade e do comportamento de monta. Outros problemas envolvem características indesejáveis da carne de animais inteiros em função da menor quantidade de glicogênio (carne mais escura), menor teor de marmorização e fibras colágenas com estrutura indesejável (carne mais dura). 5. Puberdade ou maturidade sexual 5.1. Conceito de puberdade Produtores, extensionistas e pesquisadores empregam livremente os termos precocidade, puberdade e maturidade sexual. Muitas vezes aquilo que alguns chamam de precoce ou puberdade não corresponde exatamente ao que outros entendem por estes termos. Torna-se necessário, portanto, definir melhor estes conceitos para em seguida discutirmos os aspectos que os afetam. A precocidade, como vimos nas figuras 1 e 2, representa a velocidade com que o animal atinge uma determinada proporção do peso adulto. Em mamíferos a puberdade é definida como a idade em que o animal se torna capaz de reproduzir, enquanto a maturidade sexual é definida como a idade em que o animal atinge todo o seu potencial reprodutivo. Estes dois conceitos não podem ser utilizados indistintamente. Muitas vezes novilhas são incapazes de reproduzir após a primeira ovulação. Portanto, a primeira ovulação não é sinônimo de maturidade sexual, e a implantação de sistemas de produção depende do conhecimento destes conceitos e da utilização dos dados que representam estes processos distintos. Outra consideração é com a novilha que apresenta ovulação fértil, mas sem sinais exteriores de cio, o que a impedirá de conceber quando exposta à inseminação artificial. A fertilidade de novilhas cobertas em seu primeiro cio foi 21% menor do que a obtida no terceiro estro (Byerley et al, 1987) e, consequentemente, seria ideal que novilhas atingissem a puberdade cerca de 2 meses antes da estação de monta (Patterson et al, 1992). Isto evitaria que novilhas concebam ao final da estação de monta, e consequentemente tenham ainda menores possibilidades de conceber durante a estação de monta seguinte como primíparas. Lesmeister et al. (1973) demonstrou que novilhas que concebem cedo na estação de monta desmamam bezerros maiores e tem maior produtividade durante a vida. Em função do exposto acima, acreditamos que o conceito proposto por Moran et al. (1989) seja aquele que melhor descreva o que chamamos de puberdade: puberdade é atingida por uma novilha quando de seu primeiro estro seguido de uma fase luteal normal. Maturidade sexual é quando o animal atinge a fertilidade funcional, fisiológica e comportamental. Existem poucos trabalhos na literatura nacional que determinaram a idade à puberdade. Esta falta de dados é notável pois este parâmetro é definido por interações entre material genético e manejo encontrados nas nossas condições, sendo dados de outros países de difícil aplicação. Resultados da 17

literatura científica nacional para idade à puberdade e idade ao primeiro parto são inferiores aqueles obtidos na prática em fazendas com bom manejo. Dados obtidos em revisões de literatura indicam idades à puberdade de 22 a 36 meses, com relatos de idades ao primeiro parto de 44 a 48 meses (Silva e Pereira, 1986; Alencar e Bugner, 1986; Barbosa, 1991; Manzano et al, 1993; Souza et al, 1995). Problemas de manejo deficiente das pastagens, falta suplementação adequada em termos de energia, proteína e minerais parecem explicar os resultados encontrados. Por outro lado propriedades que adotaram tecnologias como cruzamento com B. taurus, suplementação a pasto, utilização de ionóforos (monensina e lasalocida) e adequado manejo das pastagens tem alcançado resultados muito superiores. Muitas vezes entretanto, resultados obtidos em fazendas são inflados, e o desempenho de animais superiores apresentados como média do rebanho. Este tipo de promoção não é benéfico pois fica difícil identificar a relação custo/benefício para as diferentes técnicas adotadas. 0,05 0,04 Puberdade Maturidade sexual 0,04 0,03 Frequência 0,03 0,02 0,02 0,01 0,01 1 o cio Estação de Monta 0,00 230 260 290 320 350 380 410 440 470 500 530 560 590 Idade à puberdade, dias Figura 7. Efeito da idade à puberdade sobre a proporção de fêmeas que alcançam a maturidade sexual ao início da estação de monta. Utilizou-se o dado de idade à puberdade de novilhas F 1, Bos Indicus (Brahma) x Bos taurus (Hereford/Angus), de 400 dias com variância de 59 dias, determinada por Gregory et al., (1979) em sistemas com suplementação de volumoso e concentrado. Estação 18

de monta de 90 dias, com período de gestação de 289 dias e maturidade sexual ao 3 o cio (Byerley et al, 1987). A questão básica é a eficiência econômica destas técnicas. Dependendo do manejo, a idade à puberdade de novilhas Nelore pode ser alcançada aos 15 meses, mas é importante notar que existe uma distribuição da idade de ocorrência da puberdade ao longo da média (Fig. 7). Combinando-se esta variância para a idade à puberdade (59 dias segundo Gregory et al., 1979) ao conceito de maturidade sexual (animais púberes se tornam sexualmente maduros ao terceiro cio, Lesmeister et al., 1973), podemos calcular as relações de custo/benefício de alterações no manejo de novilhas de corte. Utilizando o exemplo da figura 7, cerca de 50% das novilhas F 1 (B. indicus x B. taurus) não estavam sexualmente maduras ao início da estação de monta (Gregory et al, 1979). É pouco provável que a suplementação de 100 novilhas para obter 40 gestações positivas aos 17 meses seja viável econômicamente (e.g.. taxa de concepção de 80%). Entretanto, a figura 7 demonstra que existem animais que podem atingir esta meta com facilidade. A importância do conceito de maturidade sexual e da existência de uma variância para idade à puberdade é tanto maior quanto mais definida é a estação de monta da propriedade. 5.2. Fatores que afetam a maturidade sexual de fêmeas Normalmente recomenda-se incluir novilhas ao sistema de produção quando estas atingem cerca de 60% do peso adulto da vaca de genótipo correspondente. Na prática o produtor utiliza um número mais próximo de 50-55% (Kunkle et al., 1995). Segundo o NRC (1996) estes valores seriam de 60% para a maioria das raças de Bos taurus e de 65% para Bos indicus; raças B. taurus de duplo aptidão como Gelbvieh, Braunvieh e Red Poll tendem a chegar à puberdade a uma idade mais jovem, geralmente com 55% do peso adulto. Um grande número de fatores pode ser manipulado dentro de um sistema de produção com objetivo de alterar a taxa de crescimento e de maturação das fêmeas de reposição. Dentre estes incluem-se a escolha e o melhoramento do material genético, bem como alterações do ambiente. Talvez o mais imporante seja a elaboração de um sistema de produção cujo material genético seja compatível com às características do manejo a ser empregado. 5.2.1. Raça e linhagem Como referido acima a raça tem um profundo efeito sobre o tamanho adulto e a taxa de maturação de bovinos (Quadro 6). Utilizando dados de A e k, para diferentes raças (Quadro 6, Jenkins e Ferrell, 1993), e dados de características das fêmeas no período pós-desmama, obtidos nos mesmo animais por Gregory et al. (1993), fez-se algumas 19

correlações entre o peso e idade à puberdade em função do peso adulto das vacas. É importante ressaltar que todas as novilhas testadas eram filhas de vacas britânicas Hereford ou Angus, variando apenas a raça paternal. Os resultados obtidos para as regressões entre as características podem ser vistos no figura 8. Quadro 6. Resultados do peso à maturidade e da taxa de maturação de novilhas produtos 1/2 sangue de diferentes raças paternais cruzados com fêmeas Hereford ou Angus (Jenkins e Ferrel, 1993). Peso Adulto A Taxa de Maturação (k) Taxa de Maturação kg k % da média Agus 511 5,4 96 Pardo Suiço 519 5,5 98 Brahma 549 6,1 109 Charolês 553 5,0 89 Chianina 588 4,7 84 Gelbvieh 538 5,3 95 Hereford 499 6,0 107 Jersey 424 6,1 109 Limousin 515 5,0 89 Maine Anjou 582 4,9 88 Pinzgauer 524 6,6 118 Red Poll 510 4,9 88 Sahival 485 6,2 111 Simental 513 5,7 101 South Devon 511 5,4 96 Tarantês 518 6,3 113 Jenkins e Ferrell, 1993 Há uma correlação positiva entre peso adulto e peso à puberdade, embora uma parte da variação não seja explicada pelo peso adulto apenas (Figura 8). Arije e Wiltbank (1971) observaram correlação genética entre idade e peso à puberdade de 0,36. Como proposto por Taylor (1989), uma vez que a correlação genética entre estas características é menor que 1, seria possível selecionar animais para precocidade. Isto foi demonstrado experimentalmente por Ricards (1975). O fato mais notável, observado na figura 8, é que não houve efeito do peso adulto sobre a idade à puberdade. Em outras palavras raças de maior peso adulto tem taxas de crescimento mais elevadas, o que contrabalança a necessidade de chegarem a pesos mais elevados para atingir a puberdade. 20

410 Peso ou idade à puberdade 390 370 350 330 310 290 y = -0,2662x + 514,58 R 2 = 0,0481 y = 1,0356x - 209,56 R 2 = 0,6183 dias kg 270 495 505 515 525 535 545 555 Peso adulto, kg Figura 8. Correlação entre idade e peso à puberdade de novilhas em função do peso adulto. Comparação entre animais de diferentes raças paternais. Resultados foram obtidos regredindo-se dados de Jenkins e Ferrell (1993) com dados de Gregory et al. (1993). De qualquer forma, em função dos resultados de pesquisa obtidos com fêmeas B. indicus e cruzamentos com B. taurus (Gregory et al., 1993;1994), parece indicado introduzir sangue europeu sempre que o objetivo for, no curto prazo, a redução da idade de cobertura para 15 meses. 5.2.2. Melhoramento genético Uma vez escolhida a raça e a linhagem dos animais, o produtor pode procurar selecionar os animais para características de precocidade. Já nos referimos à dificuldade de se selecionar animais efetivamente precoces, em função da necessidade de se manter os animais até a idade adulta para cálculo da sua taxa de maturação. Em termos de melhoramento, como proposto por Frias (1996), é fundamental premiar animais que chegam mais rapidamente à puberdade e a idade de abate, sem valorizar animais excessivamente grandes ou dar crédito aos animais com elevado peso ao nascer. Novilhas que atingem puberdade ou maturidade sexual a pesos e/ou idades mais elevadas devem ser descartadas. 21

A herdabilidade para idade ao primeiro parto é, das carcaterísticas reprodutivas, a de maior herdabilidade, da ordem de 0,30 (Arije e Wiltbank, 1971; Ghulam, 1983; Barbosa, 1991; Koots et al., 1994). Esta herdabilidade mais alta é função do alto grau de correlação entre esta variável de reprodução e do potencial de crescimento do animal. Entre raças, exite uma correlação negativa de -0,88 entre idade à puberdade e produção de leite subsequente (Laster et al., 1979). Entretanto, como citado por Patterson et al., (1992), Cundiff (1986) demonstra que raças selecionadas conjuntamente para produção de leite e tamanho atingem a puberdade em idades mais jovens do que raças selecionadas apenas para produção de carne. Em outras palavras, a correlação negativa entre produção de leite e idade à puberdade pode ser tão elevada quanto a correlação positiva entre o tamanho adulto e a idade ao primeiro cio. A única forma de se estudar adequadamente este assunto é gerar dados de curvas de crescimento, determinando-se composição corporal e aparecimento da puberdade. Como mencionado anteriormente, existe correlação positiva entre precocidade sexual das fêmeas e circunferência escrotal do macho, sendo esta uma outra oportunidade para melhoramento. O desenvolvimento das técnicas de manipulação do DNA permite que se identifique sequências de DNA relacionadas aos genótipos mais precoces. Trabalhos estão sendo conduzidos na ESALQ para identificar marcadores para estas e outras características que poderão ser utilizados em programas de seleção assistida por marcadores (L.L. Coutinho, em andamento). 5.2.3. Nutrição Creep-feeding : Sem dúvida a idade ao primeiro parto é função do programa nutricional do sistema de produção. Diversas técnicas de manejo de pastagens e de suplementação do rebanho podem resultar em diminuição significativa da idade à puberdade e ao primeiro parto. A suplementação de bezerros em aleitamento ( creep-feeding ) tem sido utilizada para aumentar a precocidade sexual das novilhas. O aumento do ganho de peso nesta fase pode trazer uma redução significativa da idade à puberdade. Entretanto, um dos maiores problemas desta técnica é a de que o efeito desta suplementação tende a desaparecer quando os animais voltam para o pasto, uma vez que os animais não suplementados tendem a apresentar uma taxa de crescimento superior (Patterson et al., 1991; 1992; Lanna, dados não publicados). Outro problema do uso desta técnica é que taxas de ganho muito elevadas à idade jovem influenciam negativamente o desempenho reprodutivo da matriz (Patterson et al., 1991; 1992). Em bovinos de corte há uma correlação negativa entre produção de leite da vaca e produção de leite da filha (Byers, 1984). Sejrsen e Purup (1996), revisando a literatura demonstram que ganhos muito elevados no período pré-púbere podem reduzir significativamente o potencial de produção de leite da fêmea. Este, efeito ocorre em taxas de ganho maiores em animais de maior tamanho corporal (Sejrsen e Purup, 1996). O 22

CNCPS, Cornell Net Carbohydrate and Protein System, é um modelo de simulação dos processos de digestão e metabolização de nutrientes por ruminantes em crescimento e lactação. Temos colaborado no desenvolvimento deste modelo (Lanna et al, 1994; Lanna et al., 1996), que estima as taxas de ganho ótimas de novilhas em função do tamanho adulto potencial. O produtor pode evitar problemas não ultrapassando as taxas de ganho sugeridas pelo modelo para fêmeas na fase pré-púbera. Nutrição no período pós-desmama: Níveis nutricionais inadequados no período pós-desmama, geralmente em função dos períodos de estacionalidade de produção de forragens é provavelmente a maior causa das elevadíssimas idades à puberdade observadas nas nossas condições. Por sua vez esta resulta em elevada idade ao primeiro parto e no baixíssimo índice de desfrute da pecuária nacional. Estaria fora dos objetivos desta revisão discutir os mecanismos fisiológicos que regulam a idade à puberdade. Entretanto, é interessante observar que, em animais mantidos à pasto, parece existir um peso mínimo, para cada germoplasma, para que a fêmeas comece a ciclar. Já para animais alimentados em altos planos de nutrição parece existir uma idade mínima para que a fêmea atinja a puberdade (NRC, 1996). Também no período pósdesmama o consumo excessivo de energia pode trazer problemas com relação à capacidade produtiva da vaca (Sejrsen, 1994). Quadro 9. Quantidades de suplemento com 75% de NDT necessárias para novilhas atingirem ganhos de 0,5 ou 0,7 kg (Kunkle et al., 1995). Ganho Nível Proteín a IQ = 1,0 IQ = 1,2 IQ = 1,4 Nível Proteín Nível a Proteín a 0,5 kg/d 3 15 2 13 2 8 0,7 kg/d 5 13 4 12 6 12 IQ, índice de qualidade da forragem, (1,0 = mantença). IQ = 1,0, NDT=47%, PB=6% IQ = 1,2, NDT=54%, PB=9% IQ = 1,4, NDT=58%, PB=12% Normalmente, um manejo de pastagem que evite superlotação, somado a suplementação com sal mineralizado é suficiente para que fêmeas cruzadas ou zebuínas sejam cobertas aos 27 meses, durante a segunda estação de monta após a desmama. Um manejo mais intensificado das pastagens, com eventual suplementação proteica (e/ou NNP) durante o período de inverno permite, na maioria dos casos, que fêmeas cruzadas (B. indicus x B. taurus) sejam cobertas aos 15 meses de idade. O quadro 9 estima, para pastagens de diferentes valores nutritivos, a quantidade de suplemento (com 75% NDT) necessária para que o animal possa 23