SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE UM ADITIVO TIPO SUPERPLASTIFICANTES OBTIDO A PARTIR DE COPOS PLÁSTICOS DE POLIESTIRENO



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Transcrição:

2013 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2013 Recife, PE, Brazil, November 24-29, 2013 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR - ABEN ISBN: 978-85-99141-05-2 SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE UM ADITIVO TIPO SUPERPLASTIFICANTES OBTIDO A PARTIR DE COPOS PLÁSTICOS DE POLIESTIRENO Carolina G. L. Araújo¹, Carolina B. Freire² e Clédola C. de O. Tello³ Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN) Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Presidente Antônio Carlos, 6.627 31270-901 Belo Horizonte, MG ¹carolina_gabriela316@yahoo.com.br ²cbf@cdtn.br ³tellocc@cdtn.br RESUMO A indústria em geral, incluindo a nuclear, gera resíduos, alguns considerados perigosos, denominados rejeitos; os quais devem ser condicionados para mantê-los estáveis. Para tanto, utiliza-se cimento para solidificar os rejeitos líquidos e imobilizar os sólidos. Na busca de pastas e argamassas com melhor trabalhabilidade, os aditivos comerciais são largamente utilizados. Devido ao alto custo desses aditivos, bem como à necessidade de criar produtos sustentáveis, a pesquisa tem por objetivo sintetizar, a partir de copos plásticos usados de poliestireno, um aditivo tipo superplastificante, que possui como principal propriedade a redução da quantidade de água para a produção da argamassa. Para alcançar esse objetivo foram realizados experimentos para a determinação de um processo viável. Usando-se o processo selecionado, sintetizou-se um aditivo cujas propriedades foram determinadas: propriedades físicoquímicas (cor, ph, % de massa seca, índice de consistência), químicas e iônicas (composição) e estrutural (determinação dos grupos funcionais). Na sequência da pesquisa, o superplastificante sintetizado será utilizado em argamassas para verificação da sua eficiência. 1. INTRODUÇÃO Toda forma de produção de energia gera rejeitos que devem ser tratados para não causar danos ao meio ambiente e aos seres humanos. Os rejeitos radioativos, gerados pela produção e utilização da energia nuclear, devem ser condicionados de forma a se tornarem química e fisicamente estáveis pelo tempo que for necessário, para assim poderem ser manuseados e transportados sem riscos. Materiais como o cimento, betume, vidro e cerâmica, são os mais utilizados para a imobilização dos rejeitos. Dentre estes materiais, o cimento é o mais utilizado para a imobilização de rejeitos líquidos de baixa e média atividade, uma vez que é o de menor custo, por poder ser processado em temperatura ambiente e por existir uma larga experiência na sua utilização. Para melhorar algumas propriedades físicas das pastas e argamassas como a durabilidade, a resistência, a fluidez e a trabalhabilidade, os aditivos são acrescentados durante a cimentação [1]. Entende-se por aditivo qualquer produto que seja adicionado ao concreto ou argamassa em uma quantidade inferior ou igual a 5% em massa em relação à quantidade de cimento - sendo que em determinados casos pode-se adicionar uma quantidade superior à 5% - com o intuito de melhorar as propriedades da mistura. Existem vários tipos de

aditivos. Eles diferem entre si pelo efeito nas pastas, nas argamassas e no concreto, pela solubilidade em água e pelas interações físico-químicas que realizam com o cimento. Dentre os vários tipos, destacam-se os superplastificantes. Os superplastificantes são polímeros de elevada massa molecular, solúveis em água e são usados para reduzir a relação água/cimento na mistura, aumentando assim a trabalhabilidade do concreto e argamassa. Seu modo de ação está baseado na repulsão eletrostática e impedimento estérico, pois quando as moléculas do aditivo entram em contato com a superfície das partículas de cimento, estes dois fenômenos evitam temporariamente a floculação do concreto [1]. O comportamento dos aditivos depende de sua composição química e iônica, dos grupos funcionais orgânicos presentes, da estrutura do polímero e da distribuição de pesos moleculares dos diferentes polímeros que o constituem. Além disso, depende da concentração utilizada e do modo de adição à mistura. Conhecer a natureza química de um aditivo é fundamental para identificar o produto, controlar sua qualidade e explicar os mecanismos de sua atuação nas misturas contendo cimento. Os aditivos comerciais, além de serem produtos de custo elevado, não são de composição conhecida e muitas vezes são retirados do mercado de forma inesperada, prejudicando assim os trabalhos de pesquisa e aqueles relacionados à engenharia civil. Este trabalho tem como objetivo descrever a síntese de um aditivo tipo superplastificante a partir de material alternativo copos plásticos usados de poliestireno e caracterizá-lo física e quimicamente, a fim de verificar sua eficiência e compará-lo com um superplastificante de uso comercial. 2. MATERIAIS E MÉTODOS O processo experimental constituiu-se na sulfonação dos copos plásticos usados de poliestireno, formação do precipitado e por último, na dissolução da massa de precipitado formada na segunda etapa do processo, obtendo-se o superplastificante [2,3]. 2.1. Materiais Copos plásticos descartáveis usados de poliestireno. Foram utilizados copos plásticos usados de poliestireno recolhidos no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN); Sulfato de prata ( ). Sal inorgânico branco, sem odor que é utilizado para catalisar a reação de sulfonação do poliestireno; Ácido sulfúrico 98% ( ). Ácido forte, altamente corrosivo e solúvel em água. É utilizado como agente sulfonante na reação de sulfonação do poliestireno; Água destilada ( ). É utilizada no processo de precipitação do poliestireno sulfonado; Hidróxido de sódio ( ). Base forte, altamente corrosiva quando em contato com a pele, olhos e mucosas. Utilizado para ajustar o ph do aditivo sintetizado; Cimento da marca Liz CP IV 40 de densidade igual a 0,9633g/cm 3 ; Fluidificante comercial da marca Sika ViscoCrete 5100/5700 [4];

Resíduo de mineração de baixíssima granulometria (<200#) de densidade igual a 1,56 g/cm 3 ; Vidraria convencional de laboratório; Agitador da marca Fiastom; Estufa de secagem e esterilização da marca Fanem, modelo 315 SF; Fitas de ph da marca Merk de diferentes faixas. 2.2. Síntese No processo de produção do poliestireno sulfonado, 2g dos copos plásticos recolhidos no CDTN foram recortados com o cuidado de não incluir as áreas de maior concentração do polímero (bordas e fundo dos copos). Após o corte, 4g de sulfato de prata ( ) foram dissolvidos em 400mL de ácido sulfúrico 98% ( ) em um béquer de 500mL com agitação constante. Após a completa dissolução do catalisador ( ) no ácido, os copos plásticos cortados foram adicionados à solução. Imediatamente a solução, que antes era incolor, passou a apresentar coloração bege, característica do processo de sulfonação do poliestireno. À medida que os copos foram sendo dissolvidos, a solução foi se tornando mais escura (Figura 1). Figura 1. Mudança de coloração durante o processo de sulfonação. O processo de sulfonação foi realizado sob agitação durante duas horas. Depois deste período, a agitação foi interrompida e deixou-se a solução em repouso durante 24 horas. Passadas 24 horas, o béquer com a solução de poliestireno sulfonado foi colocado em uma bacia contendo pedras de gelo e sal para a precipitação (Figura 2).

Figura 2. Montagem do processo de precipitação. Em seguida, 800mL de água destilada foram adicionados à solução. Após alguns minutos observou-se a formação do precipitado. Esta massa foi separada da solução e comprimida com o auxílio de uma espátula para a retirada do ácido presente (Figura 3), sendo então colocada em uma estufa a 90 C durante três horas para retirar o excesso de ácido e água. Figura 3. Massa de precipitado formada. Para a obtenção do aditivo, foi necessário solubilizar a massa de precipitado formada. Durante este processo de dissolução, o ph do aditivo foi ajustado para ph básico. Foram adicionados 26,6mL de solução de hidróxido de sódio 1mol/L ao precipitado. Percebeu-se que logo após a adição da base, a coloração da solução era clara, indicando um meio básico. À medida que a massa foi sendo dissolvida, a coloração tornou-se escura, indicando um meio ácido (Figura 4). Para tornar o aditivo com ph básico, foi adicionada a esta solução 4,5mL de solução de hidróxido de sódio 50%m/v.

Figura 4. Processo de dissolução da massa de precipitado. 2.3. Caracterização do superplastificante 2.3.1. Caracterização estrutural do produto da sulfonação Logo após a formação da solução de poliestireno sulfonado, foi feita sua análise por infravermelho em um equipamento do CDTN para a verificação da sulfonação e, dessa forma, dar prosseguimento ao processo de síntese do aditivo. A espectroscopia de infravermelho é uma técnica simples, cujo objetivo é a identificação dos grupos funcionais presentes na amostra. Ao receber a radiação eletromagnética, a substância em análise absorve parte da energia e transmite o restante. A energia absorvida gera vibração dos átomos presentes na molécula, sendo que cada molécula absorve a radiação em uma frequência específica. Essa técnica consiste na obtenção experimental de espectros que indicam quanto de radiação é absorvida (ou transmitida) pelo composto para cada valor de frequência, sendo que cada grupo funcional gera uma banda específica [5]. 2.3.2. Composição química Após a obtenção do aditivo, foi realizada a Análise por fluorescência de raios X no CDTN para determinação da composição química do superplastificante. Essa técnica permite, da mesma forma que a espectroscopia de infravermelho, a análise qualitativa da amostra (identificando seus elementos presentes) e também quantitativa, pois é estabelecida a proporção de cada elemento. Na Fluorescência por raios X, uma fonte de radiação gama (ou radiação X de elevada energia) é utilizada para excitar os átomos da substância que será analisada. Os níveis eletrônicos são K, L, M e N a partir do núcleo do átomo. Quando há a excitação, uma vacância forma-se em um dos níveis eletrônicos e esta pode ser preenchida por elétrons do nível L, M ou N. Quando esse preenchimento ocorre, há a emissão de energia na faixa de energia dos raios X. A fluorescência corresponde aos espectros gerados por essas transições que são únicas para cada elemento, o que permite sua identificação [5]. 2.3.3. Caracterização físico-química

Para melhor caracterizar o aditivo sintetizado, foram realizadas análises físico-químicas como cor, ph, densidade e % em massa seca. O ph foi medido com fitas de ph, em triplicata. Para a determinação da densidade, utilizou-se um balão volumétrico (10mL) e, em seguida, aplicou-se a definição de densidade (relação entre a massa do material e o volume por ele ocupado. A porcentagem em massa seca foi determinada após 1,05g do aditivo terem sido deixadas em estufa a 100ºC por 28 horas. Após esse período, a massa do cadinho que continha o aditivo foi medida e a massa de sólido presente, o que permitiu calcular a porcentagem em massa seca. 2.4. Ensaios na argamassa Para testar a eficiência do aditivo como um redutor de água, foi feito o ensaio de índice de consistência de argamassa [6,7]. Para este ensaio, utilizou-se uma mesa de consistência em que foram feitas 30 batidas em 30 segundos, ou seja, uma batida por segundo. Mediram-se dois diâmetros ortogonais da argamassa antes e após o ensaio para a determinação do índice de consistência [6]. Para este ensaio, foram preparadas três tipos de argamassa de traço 1:2,5 e ac = 0,80. A primeira foi preparada com fluidificante comercial, a segunda sem fluidificante e a terceira com o fluidificante sintetizado. Como agregado, empregou-se um resíduo de mineração. Tendo como referência o Manual técnico de produtos Sika 2007 [4], aplicou-se, inicialmente, a maior concentração indicada para o fluidificante comercial (0,6% sobre o peso do cimento). Essa concentração foi aplicada para ambos os aditivos. Para o ensaio realizado, as quantidades de materiais foram utilizadas para a preparação da argamassa são apresentadas na Tabela 1, com base em 1kg de argamassa. Tabela 1. Quantidade de material utilizado para preparação da argamassa Cimento (g) Agregado (g) Água (g) Aditivo comercial e sintetizado (g) 962,96 237,85 190,28 1,43 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Caracterização estrutural do produto da sulfonação Os espectros na região do infravermelho apresentados na Figura 5 e 6 mostram a análise da amostra antes e após a sulfonação. O espectro da Figura 5 apresenta as bandas características do poliestireno. Isso se confirma a partir da comparação com espectros do poliestireno encontrados na literatura. No espectro da Figura 6, há o aparecimento de compostos sulfurados entre 1310 e 1335cm -1 e da banda de ácido sulfônico entre 1150 e 1210cm -1. Além disso, há também o aparecimento do grupo hidroxila ( ) entre 3250 e 3750cm -1. A presença das bandas de compostos sulfurados e do ácido sulfônico evidencia que a reação foi efetiva, ou seja, o poliestireno foi sulfonado. A presença da hidroxila justifica-se pela presença da água.

Figura 5. Espectro do poliestireno. Figura 6. Espectro do poliestireno sulfonado. 3.2. Composição química O resultado da análise de fluorescência esta apresentado na Figura 7.

Figura 7. Resultado da fluorescência de raios X. Este resultado apresenta a porcentagem de matéria orgânica, que é proporcional à porcentagem de trióxido de enxofre. No entanto, a quantidade de trióxido é muito baixa, enquanto que a de água é muito elevada. Este resultado sugere que a sulfonação não obteve o rendimento esperado e que o superplastificante encontra-se muito diluído, já que a quantidade de água encontra-se muito elevada. 3.3. Caracterização Físico-químicas Na Tabela 2 são apresentadas algumas características físico-químicas do aditivo sintetizado e comercial. Tabela 2. Propriedades físico-químicas do aditivo sintetizado e comercial. Propriedades físico-químicas Aditivo sintetizado Aditivo comercial* Cor Marrom escuro Marrom claro ph 10-11 5-7 Densidade (g/cm 3 ) 1,131 1,08-1,11 % sólidos (100 C) 10,48 36,94 *ViscoCrete 5100/5700 [4] Em comparação com as propriedades físico-químicas do aditivo comercial usado, a grande diferença encontra-se na porcentagem em massa seca. Essa propriedade para o aditivo 5100/5700 tem valor de 36,94%, enquanto que o valor para o aditivo sintetizado é de 10,48%. 3.4. Ensaios na argamassa O aditivo comercial tornou a argamassa plástica, como mostrado na Figura 8; sendo que os diâmetros iniciais tinham os valores de 112mm e 113mm e após o ensaio passaram a

ter os valores de 135mm e 137mm. A partir da variação do diâmetro determinou-se o índice de consistência igual a 235mm. Figura 8. Argamassa com o aditivo comercial, antes e depois do ensaio de índice de consistência. Como mostrado na Figura 9, a argamassa sem o aditivo não apresentou característica plástica, que é interessante para permitir sua trabalhabilidade. Os diâmetros iniciais tinham os valores de 111mm e 110mm e, como a argamassa despedaçou-se durante o ensaio, não foi possível medir os diâmetros finais. Logo, também não foi possível a determinação do índice de consistência. Figura 9. Argamassa sem aditivo, antes e depois do ensaio de índice de consistência. Inicialmente, o ensaio com o aditivo sintetizado foi realizado com uma concentração de fluidificante igual a 0,6% sobre o peso do cimento. Com essa concentração não foi possível realizar o ensaio. Variou-se então a concentração para 1%, 4% e 6%. Apenas com o ultimo valor, a argamassa adquiriu características plásticas. Para a concentração de 6% de aditivo em peso do cimento, os diâmetros iniciais tinham os valores de 108mm e 109mm e após o ensaio passaram a ter os valores de 134mm e 131mm. A partir da variação do diâmetro determinou-se seu índice de consistência igual a 242mm (Figura 10).

Figura 10. Argamassa com o aditivo sintetizado de concentração igual a 6%, antes e depois do ensaio de índice de consistência. Para constatar a ação do fluidificante sintetizado, adicionou-se quantidade de água equivalente aos 6% de aditivo em outra argamassa, mas ela não adquiriu características plásticas e quebrou-se ao longo do ensaio de índice de consistência. 4. CONCLUSÃO A partir do ensaio de índice de consistência, conclui-se que o fluidificante sintetizado tornou a argamassa plástica, porém com o uso de uma alta concentração (6% em peso do cimento), o que pode ser conseqüência do rendimento baixo da reação de síntese. Esta conclusão é comprovada a partir da análise dos resultados da Fluorescência e da % em massa seca. Pela a Análise por Fluorescência ficou evidenciado que há pouco trióxido de enxofre presente no aditivo (5,50%). A porcentagem em massa seca determinada mostra que o teor de sólido também foi bem baixo em comparação com o aditivo comercial (10,48% e 36,94% respectivamente). Dessa forma, é necessário fazer melhorias no processo de síntese como, por exemplo, aumentar a quantidade de copos plásticos utilizados, a fim de aumentar o rendimento da reação (aumentar a sulfonação) e, consequentemente, aumentar a eficiência do aditivo sintetizado. REFERÊNCIAS 1. ALONSO, M. M. et al., Influencia de la estructura de aditivos basados en policarboxilato sobre el comportamiento reológico de pastas de cemento, Materiales de Construcción, Vol. 57, pp. 65-81 (2007). 2. OMENA, T.H. e MOTTA, L.A de C., Argamassa modificada com poliestireno: reflexões e perspectivas para o uso no patrimônio histórico, Proceedings 4 Congresso de Argamassas e ETICS, Coimbra, 29-30 março 2012. Universidade de Coimbra, APFAC / ITecons, Coimbra, Portugal (2012). 3. CARROLL, W.R. e EISENBERG, H., Narrow molecular weight distribution poly(styrenesulfonic acid). Part I. Preparation, solution properties, and phase separation, Journal of Polymer Science, Vol. 4, pp. 599-610 (1966).

4. SIKA, Manual Técnico de Produtos Sika, Sika, Osasco, Brasil (2007). 5. PALACIOS, M.; SIERRA, C. e PUERTAS, F., Métodos y técnicas de caracterización de aditivos para el hormigón, Materiales de Construcción, Vol. 53, pp. 89-106 (2003). 6. ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas., Anexo B. Determinação do índice de consistência normal, Rio de Janeiro (1996). 7. ASSUNÇÃO, R. M.N. de; ROYER, B.; OLIVEIRA, J.S.; FILHO, G.R.; MOTTA, L. A. de C., Syntheses, characterization, and aplication of the sodium poly(styrenesulfonate) produced from waste polystyrene cups as na Admixture in Concrete", Journal of Applied Polymer Science, Vol. 96, pp. 1534-1538 (2005).