YALORIXÁ MÃE PENHA: PRÁTICAS E VIVÊNCIAS A PARTIR DO TERREIRO DE IEMANJÁ SABÁ

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Transcrição:

1 YALORIXÁ MÃE PENHA: PRÁTICAS E VIVÊNCIAS A PARTIR DO TERREIRO DE IEMANJÁ SABÁ KETLEN OLIVEIRA ESTEVAM, Universidade Estadual da Paraíba- eka.cat@hotmail.com MARIA JOSÉ CORDEIRO DE LIMA, Universidade Estadual da Paraíba-, mcordeiro16@ yahoo.com.br RESUMO: Nosso trabalho tem como objetivo identificar, descrever, mesmo que preliminarmente, como se deu o processo de consolidação do Terreiro de Umbanda e de sua própria Associação Cultural chamada Associação Filhos de Iemanjá Sabá localizada no bairro de Mandacaru na cidade de João Pessoa, Paraíba. Iniciativa esta tomada a partir da mãe-de-santo e também presidente da associação, Mãe Penha de Iemanjá Sabá, que mesmo sendo alvo de críticas por pessoas que não aceitam a diversidade de religiões afro-brasileiras, sempre persistiu em trocas de informações sobre suas práticas e condutas dentro da religião Umbanda juntamente com sua comunidade local. Assim, a associação prestadora de serviços culturais serve-se de várias atividades para engajar pessoas à inclusão social, e compartilhar um espaço que se faça presente estas práticas faz parte de um dos objetivos de Mãe Penha. Tomaremos como subsídios teóricos os autores MATTOS (2007), MEIHY (2005), OLIVEIRA (2008) para uma melhor fundamentação e desencadeamento das idéias construídas ao longo do trabalho, além de uma entrevista semi-aberta relacionando a mulher na instituição social (religiosa) e associação no terreiro de Umbanda. Palavras chave: Associação Filhos de Iemanjá Sabá, Umbanda, Práticas Culturais 1. Introdução Nos dias de hoje a religião Umbanda é propagada de maneira a considerar a diversidade cultural brasileira um marco para práticas e liberdade de culto as suas divindades que perpassa o imaginário popular das pessoas tanto inseridas no modo de vida urbano e civilizado (OLIVEIRA, 2008). Considera-se que para a consolidação desta identidade cultural afro- brasileira começou com a chegada dos negros e escravos

2 trazidos da África pelos colonizadores portugueses, eles trabalhavam arduamente nos serviços na casa- de engenhos e entre outros locais impostos pelos patrões lusitanos para consolidação da mesma. Os colonizadores só buscavam o crescimento da metrópole, não queriam saber do bem estar dos povos colonizados. Com um tempo não querendo perder os laços com sua terra-natal, os negros, adaptaram seus costumes aos já pré-estabelecidos pelos povos lusitanos, isto é, o nascimento da religião afro-brasileira especificamente a Umbanda nasce com a modelagem das divindades negras, com os santos católicos, com finalidade de continuação das práticas e cultos as divindades dos escravos, pois perder a fé era a único pensamento que não poderia existir na mente dos escravos em busca de liberdade individual e também religiosa. Percebe-se que as práticas culturais como: cantos, danças, rezas foram remodeladas ao contexto dos lusitanos para não negação da cultura africana. Foi a partir daí que começou a busca da identidade da cultura afro- brasileira. Vale-se dizer que por meio disso outras religiões se estabeleceram na luta por liberdade de culto brasileira. Segundo MATTOS (2007) os africanos se integravam em irmandades católicas, praticavam o islamismo e o candomblé e reuniam-se em batuques e capoeiras, contribuições importantes para a cultura afro-brasileira. De acordo com OLIVEIRA (2008) a Umbanda vai além de... manifestações rituais de origem multicultural. Concordamos com o autor no que tange a construção de uma religião institucionalizada dos seus cultos com o reconhecimento e ascensão social dos seus adeptos. Como se trata de uma pesquisa feita dentro de um terreiro de Umbanda não poderia ser diferente nossa abordagem conceitual sobre o que tratamos neste trabalho. Assim inicialmente descrevemos o Terreiro de Umbanda, a criação da Associação Cultural dentro do terreiro identificando-se práticas e vivências da Yalorixá Mãe Penha de Iemanjá Sabá e ao término as considerações finais do trabalho realizado com a entrevista feita a Yalorixá Mãe Penha. 2. O nascimento do Terreiro de Umbanda de Iemanjá Sabá

3 O Terreiro de Umbanda de Iemanjá Sabá está localizado na cidade de João Pessoa especificamente no bairro de Mandacaru Rua 18 de Maio, nº58 - Paralela a Tranquedo Neves que tem como dirigentes a Yalorixá Mãe Penha de Iemanjá e o Babalorixá Pai Erinho de Xangô. De acordo com a mãe-de-santo, o terreiro possui 34 (trinta e quatro) filhos-de-fé aproximadamente. Diante disso, tomamos Mãe Penha para estudo do nosso trabalhado por se tratar de práticas e saberes educativos no cotidiano de mulheres. Segundo a mãe-de-santo Mãe Penha de Iemanjá Sabá, falar do nascimento do terreiro de Umbanda é em suas palavras... parte mais importante porque nasceu do sofrimento, porque eu saí do sofrimento pra uma luz porque eu tinha 12 anos de idade e foi nos meus doze anos de idade que fiz minha primeira obrigação que foi de Jurema. E foi uma obrigação de saúde porque eu era uma pessoa completamente doente e não teve médico que me curasse. Então foi na casa do santo que eu recebi a primeira cura. Percebe-se que foi a partir daí que começa a vida e caminhada espiritual de Mãe Penha para começar seus trabalhados em busca de paz, saúde e prosperidade em sua vida. Ela comenta que logo depois de completar seus dezesseis anos começou a trabalhar para pessoas que necessitavam de ajudas espirituais. Ao falar desta época, logo se remeteu a um fato ocorrido relatando o seguinte: quando eu tinha dezesseis anos aí eu fiz meu primeiro trabalho espiritual para um pessoal que vieram do Rio de Janeiro e não teve médico que desse a cura da esposa desse senhor. Eu não tinha licença para trabalhar. Mas ainda sim ajudei o casal que precisava de ajuda. Depois que a rua toda tinha fechado as portas eu trabalhei para eles... o motivo era que eu não tinha licença... era de menor e não tinha condição de tirar uma licença, porque a licença era muito cara. Vê-se dentre vários pontos a questão da dificuldade de estabelecimento das práticas e cultos da religião Umbanda existindo pessoas que aceitavam os cultos das divindades e outras a rejeitarem estas práticas gerando assim a questão do preconceito religioso dentro da sociedade brasileira, que são até hoje motivo de grandes discussões.

4 A história de Mãe - Penha começa a partir desta iniciativa de mover fronteiras para ajuda do próximo. Logo depois, com ajuda de pessoas conhecidas e também familiares tirou sua licença do terreiro que levou o nome de Templo religioso de Iemanjá Sabá escolhido pela mesma na década de 80 aproximadamente. Ela ainda acrescenta que nos dias de hoje eu sou uma pessoa que não pago federação porque quando eu completei 27 anos de federação paga aí eu já fiquei dispensada para não pagar mais federação. Percebe-se que a consagração do terreiro de Umbanda como algo que é legalizado por lei, isto é, práticas e reverências as divindades e abertura de um Terreiro é o primeiro passo para ascensão social das práticas e vivências no terreiro da Yalorixá Mãe Penha para desmistificar preconceitos. 3. Associação Cultural Filhos de Iemanjá Sabá Segundo MEIHY (2005) a evocação da memória e das práticas culturais é convocada para projetos que tratam de aspectos da localização dos indivíduos na sociedade, seus enquadramentos são como filtro que conduzem a narrativa das experiências. Assim, denota-se que uma associação cultural como a dos Filhos de Iemanjá deve se organizar para construção de práticas relevantes a sociedade paraibana. Vale ressaltar que a associação está diretamente ligada ao terreiro de Umbanda por se tratar da criação desta dentro do terreiro de Mãe-Penha. Segundo a Yalorixá não podemos separá-los, pois estão interligados, unidos, fazem parte de um trabalho feito em equipe tanto pelos filhos-de-santo como por voluntários, sem ligação ao terreiro na comunidade. Quando perguntávamos a Yalorixá o que era a associação cultural dentro da casa do seu santo, como nasceu, o porquê, e os projetos nela desenvolvidos para comunidade local a mãe-de-santo fala: Só faz 6 meses que temos essa associação... que eu criei essa associação né... mais pra agente ter uma associação agente não cria ela só, agente temos que ter uma equipe para fazer uma associação, pelo menos uma equipe de 13

5 pessoas você já faz uma associação. Aqui fica evidenciado sua preocupação com a estrutura, o tanto de pessoas que pode compor uma associação em trocas de informações com a comunidade local mandacaruense. A criação da mesma nasceu, nas palavras de Mãe-Penha, como situação em que via o sofrimento das pessoas quando ela chegava aos templos religiosos umbandistas que se encontrava estampado no rosto de cada pessoa que era umbandista. Mãe-Penha afirma que esse sentimento que perpassa o olhar dos umbandistas está relacionado com o sofrimento por necessidade, é sofrimento por doença, é sofrimento por desprezo, é sofrimento por discriminação... Todos estes fatores interferem na vida dos umbandistas e para que isso não ocorresse mais, procurava-se um meio pelo qual pudesse ajudar estas pessoas, condições financeiras Mãe-Penha não possuía, mas, a perseverança, a força de procurar caminhos para auxiliar o próximo era que falava alto em sua prática dentro da comunidade local. A Associação Filhos de Iemanjá tem o objetivo desenvolver projetos para inclusão social das pessoas dentro da comunidade mandacaruense e com isso romper as barreiras do preconceito social e religioso nesta comunidade e também em toda João Pessoa. A Yalorixá considera o projeto que está sendo desenvolvido, um projeto-piloto, visto que só faz seis (06) meses de sua criação e início das atividades culturais, porém é o primeiro passo de uma grande caminhada e também divulgações das mesmas para que a comunidade se faça presente e possua oportunidades no mercado de trabalho. Podem-se citar dentre vários projetos desenvolvidos dentro da associação: pessoas com habilidade em artesanato paraibano: como crochê, fuxico e entre outros; cursos de corte de cabelo; reforço escolar; atendimento psicológico também oferecido a comunidade. Segundo Mãe Penha é cobrado à taxa simbólica de 01 (um) real para compra de materiais pertinentes ao curso que a pessoa participa. Estes cursos são cruciais uma vez que fazem a comunidade interagir, participar, dialogar espaço este fornecido pela associação.

6 4. Considerações Finais: Portanto, considera-se que o brasileiro possui uma mix de culturas, e negar estas raízes, valores, ensinamentos dos nossos antepassados é negar sua própria sua própria identidade, visto que está presente inevitavelmente nos nossos princípios e valores que identificamos como cultura afro-brasileira. A iniciativa da mãe-de-santo Mãe Penha de Iemanjá Sabá de criação juntamente com seus filhos- de -santo de uma associação cultural, vale-se por ajudar a comunidade mandacaruense em uma luta incansável por melhores condições sociais, práticas e trocas de informações. È lastimável que os projetos da Associação Cultural não tenham totalmente refletido ainda na comunidade local onde se localiza o terreiro de Umbanda e sua associação, pois a questão do preconceito religioso permanece arraigada no íntimo das pessoas que não aceitam a diversidade cultural. Precisa-se quebrar as barreiras e preconceitos religiosos para ascensão de uma associação comprometida com o social, um trabalho organizado que reflete em práticas e vivências como já foram elencadas dentro do Terreiro de Iemanjá no bairro de Mandacaru para toda a sociedade paraibana. 5. Referências ENTREVISTA com a mãe-de-santo Mãe Penha de Iemanjá Sabá em 28 de agosto de 2009. MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2007. MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo, Editora: Loyola, 5 ed., 1996. OLIVEIRA, José Henrique Motta de. Das macumbas à Umbanda: Uma análise histórica da construção de uma religião brasileira, 1 ed.- Limeira, SP: Editora do Conhecimento, 2008.

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