CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA



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CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA EMENTA: O ASSOCIADO QUE ADERE A COOPERATIVA MÉDICA SUJEITA-SE AO SEU ESTATUTO. NÃO ESTÁ OBRIGADO A NÃO ATUAR LIVREMENTE NO ATENDIMENTO A PACIENTES QUE O PROCUREM. TODAVIA, NÃO PODE VINCULAR-SE A OUTRA ENTIDADE CONGÊNERE, PROVOCANDO CONCORRÊNCIA À COOPERATIVA E DESVIRTUAMENTO A FINALIDADE COM QUE INSTITUÍDA. Referência: Expediente CFM nº 8131/2001. Interessado - Dr. Floriano Rodrigues Riva Filho Presidente/CREMERO Nota Técnica nº 0072/2002, da Assessoria Jurídica I RELATÓRIO 01. Trata-se de questionamento proveniente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia CRM/RO, onde seu presidente, Dr. Floriano Rodrigues Riva Filho, requer a este Conselho Federal um posicionamento de sua Assessoria Jurídica a respeito do Parecer Jurídico CREMERO nº 02/2001, que defende a inconstitucionalidade da cláusula que exige a exclusividade da prestação de serviços médicos (unimilitância) por parte dos cooperados da UNIMED/Rondônia. 02. O referido parecer jurídico, da lavra do Assessor Jurídico Cândido Ocampo Fernandes, possui como cerne de sua fundamentação a violação aos artigos 1º e 8º da Lei nº 9.656, de 03 de junho de 1998 (lei dos planos de saúde) e a violação aos incisos II e XIII, do artigo 5º e parágrafo único, do artigo 170, todos da Constituição Federal, sempre no sentido de que é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente de autorização de órgão público, salvo nos casos previstos em lei. 03. No entanto, a maior exaltação encontrada no parecer em comento, diz respeito ao inciso III, do artigo 18, da Lei nº 9.656/98 (lei dos Planos de Saúde), que dispõe:... III a manutenção de relacionamento de contratação, credenciamento ou referenciamento com número ilimitado de operadoras, sendo expressamente vedado às operadoras, independente de sua natureza jurídica

constitutiva, impor contratos de exclusividade ou de restrição à atividade profissional.... (GRIFO NOSSO) 04. Com base na interpretação do dispositivo legal acima transcrito c/c com o disposto no artigo 20, da Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994, que visa garantir a livre concorrência e a não dominação única do mercado de bens e serviços, o posicionamento do Parecer Jurídico defende a inconstitucionalidade e ilegalidade da cláusula de exclusividade (unimilitância) instituída pela UNIMED/RO. II - PARECER 05. Inicialmente, para deslinde da questão, são indispensáveis alguns esclarecimentos a respeito da conceituação técnica das empresas prestadoras de serviços médicos. 06. À luz da legislação regente dos planos de saúde são empresas prestadoras de serviços médicos, em suas várias modalidades, os seguros-saúde, planos de empresas, medicina de grupo, cooperativas de grupo, planos de autogestão etc. 07. Segundo a doutrina, "seguro-saúde é, fundamentalmente reembolso quer dizer a pessoa tem total liberdade de usar os serviços que desejar seja médico hospitalar ou laboratorial e depois apresentar nota faturas ou recibos para reembolso. 08. Já no caso de planos de empresas as operadoras de seguro prestam serviços para determinadas empresas, mediante a elaboração de planos direcionados ao atendimento específico da necessidade dos funcionários, com uma cobertura básica e cláusulas complementares opcionais, arcando as empresas com todas as despesas, ou dividindo-as com os respectivos funcionários. Também nessa modalidade as seguradoras podem possuir rede credenciada, ou viabilizar ao segurado a livre escolha de médicos, hospitais e laboratórios, com o reembolso das despesas nos termos previamente contratados. 09. A modalidade medicina de, grupo, por sua vez segundo ensina Osíris Borges de Medeiros, nada mais é do que um sistema de criação e administração de serviços médico-hospitalares para atendimento em larga escala com bom padrão profissional e custos controlados. Sua estrutura inclui médicos contratados e credenciados, serviços, exames, prontos-socorros e hospitais próprios e credenciados. Trata-se de um plano de pré-pagamento onde seus beneficiários e dependentes ou são vinculados ao grupo médico por contratos

coletivos, - pelas empresas ande trabalham - ou por planos individuais ou familiares. 10. Os planos de autogestão são definidos pelo citado doutrinador como plano de saúde próprio gerenciado pela empresa ou por uma assessoria especializada. A empresa que implanta a autogestão estabelece o formato do plano define credenciamento de médicos, hospitais carências e coberturas... 11. Por fim, cabe definir o que vem a ser as cooperativas médicas. Estas atuam, por meio dos respectivos profissionais cooperados, mediante a prestação de serviços médicos destinados a pessoas físicas ou jurídicas, com planos criados conforme a necessidade do usuário. Possuem rede credenciada e hospitais/laboratórios próprios. 12. De pronto cumpre ressaltar o caráter comercial de todas as empresas prestadoras de serviços médicos acima definidas, com exceção das cooperativas médicas. Como regra daquelas, os médicos são contratados como empregados ou prestadores de serviços, ligados às mesmas por instrumento contratual, o que cria vínculos e características de relacionamento empregador/empregado ou de prestação de serviços. 13. Urge, neste diapasão, em breves linhas, porém, de forma precisa, definir a natureza jurídica e o funcionamento das cooperativas, à luz do dispositivo legal que envolve a matéria, a Lei nº 5.764/71. 14. Ressalta-se que a falta de um maior conhecimento das peculiaridades da organização e funcionamento das sociedades cooperativas é uma constante em várias áreas e não só por parte do Estado, como também muitas vezes, de parte dos próprios associados. Esse também é o entendimento de Waldirio Bulgarelli 1. 15. Nunca é demasiado recordar, e neste caso é prioritário, os sete princípios regentes das cooperativas, quais sejam, adesão livre e voluntária; controle democrático pelos sócios; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, treinamento e informação; cooperação entre cooperativas e preocupação com a comunidade. 16. Deve-se, então, analisar os dispositivos apresentados dentro do espírito que envolve a cooperativa, para analisar a sua adequação à disposição legal que veda expressamente às operadoras, independente de sua 1 As sociedades Cooperativas e sua Disciplina Jurídica Rio de Janeiro Renovar 1998 - p.188

natureza jurídica constitutiva, impor contratos de exclusividade ou de restrição à atividade profissional. 17. Da definição de empresas prestadoras de serviços médicos, inserida na parte inicial desta nota técnica, subtrai-se o entendimento de que a UNIMED se enquadra na terminologia legal às operadoras, independente de sua natureza jurídica constitutiva. 18. Todavia, o cerne da questão em debate encontra-se na parte final do dispositivo que é interpretar se na relação da cooperativa com seus cooperados pode ser vislumbrada a imposição de contratos de exclusividade ou de restrição à atividade profissional. 19. Pela natureza jurídica que envolve as cooperativas médicas observa-se que não há contrato de vínculo empregatício ou de prestação de serviços, e sim de filiação e sociedade. Na cooperativa não existe empregador, que impõe, ou empregado, que recebe imposição. A cooperativa é o instrumento legal criado para aglutinar aqueles que tenham a mesma necessidade através de uma sociedade que permitiria que conseguissem juntos o que não poderiam ou teriam grandes dificuldades em conseguir sós, ressaltando, portanto, a idéia de cooperação. 2 20. No cerne da terminologia da cooperativa tem-se a cooperação, a sociedade, a ajuda mútua. Não existem empregadores ou imposições contratuais. Existem apenas sócios comprometidos à cooperar para consecução dos fins propostos pela cooperativa, que são livres para atuar em seus consultórios, clínicas e hospitais. 21. Ainda frisando a natureza jurídica da cooperativa, despiciendo recordar que todos os componentes da cooperativa são plenamente cientes das regras e de todas as normas que compõem o estatuto. Conforme entende Carlos Alberto Ramos Soares de Queirós o ingresso na cooperativa de serviços e trabalho é livre a todos os trabalhadores que desejem integrar as atividades e serviços prestados pela sociedade, desde que adiram as condições e aos propósitos sociais e satisfaçam às condições estabelecidas no estatuto. 3 22. Tais considerações foram acolhidas pelo Superior Tribunal de Justiça/STJ tribunal competente para decidir em última instância a legalidade da legislação pátria - que ao analisar a questão, entendeu que em se 2 Ob. Cit. 3 Manual da Cooperativa de Serviços e Trabalho Ed. STS Publicações e Serviços LTDA 1997 p. 79

tratando de cooperativas, não existem normas com características contratuais, e sim, com características regulamentares ou institucionais 4. 23. Portanto, em análise à disposição legal que impõe contratos de exclusividade ou de restrição à atividade profissional resta constatado que a mesma não pode ser aplicada à cooperativa, pelo simples fato de inadequação ao instituto da cooperativa. 24. Desse modo, sob a ótica da tese ora defendida, a exigência da unimilitância dos médicos cooperados à UNIMED não desrespeita dispositivos legais ou constitucionais. No entanto, essa assertiva não pode ser interpretada de forma extensiva, concluindo pela impossibilidade do exercício profissional ao médico cooperado. 25. No mesmo julgado anteriormente citado, a Corte máxima no campo infra-constitucional decidiu que o médico pode exercer a medicina fora da cooperativa, desde que não seja ou esteja ligado à outra entidade similar. Nesse sentido decidiu que o associado que adere a cooperativa médica sujeita-se ao seu estatuto. Não está obrigado a não atuar livremente no atendimento a pacientes que o procurem. Todavia, não pode vincular-se a outra entidade congênere, provocando concorrência à cooperativa e desvirtuamento a finalidade com que instituída. 5 26. É bem verdade que o STJ não analisou de forma explícita a questão em relação ao artigo 18, da Lei nº 9.656/98 (lei dos planos de saúde). No entanto, na data de realização do julgamento já se encontrava em vigor a referida lei e, não obstante ao fato desse dispositivo legal não ser aplicável às cooperativas, como já foi demonstrado, a decisão foi tomada com fulcro nos princípios regentes da cooperativa e em consonância com a legislação vigente. 27. Portanto, se o estatuto contém a punição de exclusão do corpo social pelo desrespeito a unimilitância, esse deve ser respeitado na íntegra. Nesse sentido e complementando o posicionamento adotado pelo STJ leciona Waldirio Bulgarelli que é inegável o direito da cooperativa dispor nos seus estatutos que o cooperado que se desviar do espírito de colaboração a que se obriga seja excluído do corpo social. Note-se, aliás, que este é um traço comum a todas as sociedades de pessoas; as captalistas tendo em conta a affectio socieatis e as cooperativas a eventual falta de cooperação. 28. Finaliza seu posicionamento o referido doutrinador no sentido de que a unimilitância não impede o livre exercício profissional. Ressalta seu posicionamento porque as restrições estatutárias são limitadas não impedindo 4 RESP nº 126391/SP DJU 27.09.99 5 idem

que o médico atenda em seu consultório, na sua casa ou do paciente, quem ele queira. Nem que socorra alguém de que cuidados médicos necessite, por exemplo, em caráter de urgência. O que se impede, e já se disse aqui é que o médico sirva a empresas mercantilistas. III - CONCLUSÃO 29. As razões de fato e de direito acima expostas não deixam dúvidas sobre a não aplicação do artigo 18, da Lei nº 9.656/98 (lei dos planos de saúde) às cláusulas estatutárias da UNIMED/RO. 30. Pela característica única da cooperativa, que aglutina sócios cooperados com objetivos comuns, diferindo ao extremo das empresas com características comerciais, que empregam médicos, não é possível conceber a idéia de que na UNIMED/RO existe imposição de contratos de exclusividade. 31. Nesse ponto cabe destacar que o livre exercício da profissão está plenamente respeitado, conforme rege a Constituição Federal, já que o médico pode atender a qualquer paciente de forma particular, estando vedada apenas a sua filiação a entidade congênere. 32. Desta feita, entende esta Assessoria Jurídica que o acordo estatutário - constante nos atos normativos que regem a UNIMED /RO não pode ser comparado com contrato de exclusividade e encontra-se plenamente em consonância com as normas legais e constitucionais pertinentes, sendo plausível à maioria societária exigir que a cooperativa seja regida pela unimilitância na prestação de serviços médicos. É o parecer, sub censura. Brasília, 22 de abril de 2002. José Alejandro Bullón Assessor Jurídico De acordo: Giselle Crosara Lettieri Gracindo Chefe do Setor Jurídico