GINÁSTICA LABORAL A PERCEPÇÃO DO CORPO NO AMBIENTE DE TRABALHO Eder Willian Salvaterra; Fabiana Cristina de Lima UFMT RESUMO: O presente estudo pretende compreender a participação em um programa de ginástica laboral de 10 mulheres, com idade entre 18 a 40 anos, funcionárias de um escritório de contabilidade de Tangará da Serra/MT. A ginástica laboral aplicada durante o programa foi a relaxante e a intervenção teve duração de dois meses, as aulas aconteceram duas vezes na semana, as terças e quintas-feiras, com duração de 15 minutos cada aula. Após o programa, as participantes responderam a duas perguntas norteadoras, onde suas respostas foram analisadas, buscando a compreensão de como a ginástica laboral apresenta-se, segundo a sua própria percepção. METODOLOGIA A pesquisa qualitativa Este estudo teve como característica a pesquisa qualitativa, que se desenvolve numa situação natural, é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada. Para Bogdan e Biklen apud Lüdke e André (1986) o conceito da pesquisa qualitativa deve ser considerado de acordo com cinco características básicas, sendo elas: a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; o significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador e a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Local O estudo foi realizado em um escritório de contabilidade localizado no município de Tangará da Serra, onde primeiramente foi enviado um ofício solicitando a permissão para realização de um programa de ginástica laboral junto às funcionárias, com intuito de realização de um estudo acadêmico. Ao ser autorizado, deu-se a entrada no campo de estudo, onde as atividades voltadas para o programa de ginástica laboral ocorreram no próprio local de trabalho. Participantes Participaram desse estudo 10 mulheres, funcionárias de um escritório de contabilidade de Tangará da Serra/MT, com idade cronológica entre 18 a 40 anos, atuantes nos departamentos de contabilidade, escrita fiscal e pessoal. Em todos os departamentos as funcionárias se caracterizam por utilizarem boa parte do seu tempo digitando, outras vezes utilizam o telefone e fazem arquivamentos. Para identificá-las neste estudo, utilizamos pseudônimos no intuito de preservar suas identidades.
Procedimento Para o desenvolvimento do estudo optou-se pela utilização da ginástica laboral relaxante, aplicada ao término do expediente, momento este disponibilizado pelo escritório. Ocorrendo duas vezes por semana, as terças e quintas-feiras, durante um período de dois meses, de 05 de junho a 06 de agosto de 2007. As aulas tiveram duração de 15 minutos e, para sua realização, foram utilizados os seguintes materiais: balões, bolinhas de borracha, aparelho de som, cd s e jornais. Coleta de dados Como instrumento para coleta de dados, optou-se pela entrevista semi-estruturada, que tiveram duas perguntas norteadoras: Como foi para você participar das aulas de ginástica laboral? Como você percebe a prática de atividade física dentro do ambiente de trabalho? A entrevista foi realizada ao término da intervenção, onde, das dez participantes, uma optou por não responder à entrevista alegando estar muito envergonhada, intimidada com a situação, sua opção fora respeitada pra que não se criasse um mal-estar maior para a participante. As demais responderam, individualmente, as perguntas pertinentes à coleta de dados que, posteriormente, foram analisadas de acordo com o seu significado. Análise dos dados Para a análise de dados consideraram-se os quatro momentos propostos por Boemer (1994): realizando leituras amplas da transcrição, buscando um sentido do todo; agrupando as verbalizações segundo o significado da comunicação, pela aproximação de palavras ou expressões; logo após classificando essas palavras; até que foram sintetizadas em unidades de significados, buscando a compreensão de como a ginástica laboral se apresenta para as participantes. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A contribuição das funcionárias de uma empresa de contabilidade, por meio da participação no programa de ginástica laboral, possibilitou a coleta dos dados que, depois de transcritos e analisados, permitiu-nos encontrar dois temas: Ginástica laboral a percepção do corpo no ambiente de trabalho e Atividade física integração e prazer entre trabalhadoras. Ginástica laboral a percepção do corpo no ambiente de trabalho As atividades físicas, proporcionadas no programa de ginástica laboral, permitiram às participantes desenvolver percepções do corpo no ambiente de trabalho, a partir dessas percepções, constatou-se a inatividade física como característica comum a todas as participantes. Como percebido nos seguintes relatos: [...] vamos embora de carro, na hora de ir para o serviço de carro, na hora do almoço de carro, então anda muito pouco [...] (Docinho) [...] pelo fato do nosso, do desenvolvimento do nosso trabalho, ficar parado praticamente numa única posição durante o dia, fazendo uma única, um único tipo de movimento se
torna bem assim, bem repetitivo, cansativo, exaustivo [...] principalmente quem trabalha em escritório fechado, sentado, desenvolvendo as suas atividades rotineiras, que são diárias, desenvolvendo suas atividades diárias e rotineiras de um exercício só, por exemplo, só digitar, ficar sentando numa única posição. (Sol) A partir de tais informações, percebe-se que o estilo de vida rotineiro das participantes gera poucas possibilidades para a prática de atividades corporais que estimulem um adequado condicionamento físico. Situação essa que nos remete para reflexões a respeito do dia-a-dia das pessoas na atualidade, vez que a modernidade e a tecnologia advindas da revolução industrial trouxeram uma vida muito confortável, conseqüentemente a inatividade física. Dados recentes afirmam que a prática de atividade física contínua ou intervalada, com duração de 20 e 30 minutos, já promove benefícios à saúde (MARTINS, 2001). Além disso, a atividade física regular possibilita o desenvolvimento do ser humano em sua totalidade e diminui a ocorrência de doenças cardiovasculares. A pessoa que pratica atividade física regular melhora a qualidade de vida dentro e fora do mundo do trabalho, diminui o absenteísmo e rotatividade, todos ocasionados por desajustes psicossociais. A falta de atividade física regular acarreta um impacto negativo no trabalho e, conseqüentemente na vida das pessoas (LEITE e MENDES, 2004:97). Percebemos, ainda, apontamento referente ao desgaste físico originado no ambiente de trabalho, pela posição postural, vez que as mesmas ficam sempre sentadas, digitando e repetindo movimentos. Pudemos perceber tal entendimento na fala das participantes: [...] digita tanto e tem que ficar tanto tempo parada, sentada, [...] é difícil pra você ficar só corrigindo sua postura, às vezes você esquece dá uma emborcadinha, ou então às vezes você está digitando muito [...] até você mesmo já se escora, já, o seu pulso já fica até com a mão de qualquer jeito [...] pelos menos aqui no nosso serviço a gente usava bastante, da parte do corpo que forçava muito, principalmente o pulso. (Fofura) Tal situação pode ser revertida por meio da intervenção ergonômica, que tem como objetivo a proposição de melhorias nas condições de trabalho, visando conforto e bemestar do trabalhador, a partir da análise das características da atividade desenvolvida. Codo e Almeida (1995) sugerem algumas soluções ou melhorias, tais como: as características do posto, o planejamento e a localização de dispositivos e materiais de trabalho, a quantidade, qualidade e localização da iluminação, indicações sobre melhorias nas condições de ruído e seu controle, indicações sobre melhorias na organização da atividade, incluindo o planejamento de novos dispositivos de trabalho ou modificações no ritmo e seqüenciamento das várias tarefas desempenhadas pelo trabalhador. Para que fossem adotadas algumas posturas, consideradas como adequadas, no decorrer do desempenhar de suas funções, foram repassados às participantes alguns esclarecimentos durante as atividades praticadas na ginástica laboral. Esclarecimentos estes que percebemos apreendidos de acordo com o seguinte dizer: Olha, pra mim foi muito importante, porque além dos exercícios que a gente fazia de alongamento, relaxamento, além disso tudo, a gente tinha dentro dessas aulas várias informações sobre postura, várias outras informações que o professor tava trazendo pra gente, e isso ajudou muito também. (Olhos Brilhantes) Nesse sentido, segundo Leite e Mendes (2004), a ginástica laboral deve vir acompanhada de informações a respeito de melhorias para as condições físicas do
trabalhador que venham prevenir possíveis desgastes relacionados ao trabalho, desgastes que surgem por alguma disfunção importante na organização das empresas. A partir dessa conscientização espera-se uma mudança no estilo de vida, que possui relação com a saúde. O estilo de vida, por sua vez, é a forma com que cada indivíduo conduz as suas atividades diárias, as quais refletirão diretamente na sua saúde física e mental. Assim, o estilo de vida engloba o trabalho, a família, o lazer, enfim, tudo o que cerca as pessoas em seu dia-a-dia (ALVAREZ, 2002). Atividade física integração e prazer entre trabalhadoras Com a participação nas atividades, observou-se um estreitamento na relação das participantes, tendo em vista que os risos emitidos durante as aulas, fizeram com que elas ficassem mais espontâneas. Percebemos tais ocorrências reforçadas na fala das participantes: [...] há até um maior entrosamento entre equipes. [...] naquele momento todos vão tirar o estresse do dia, vão se comunicar entre a equipe. (Docinho) [...] a ginástica que a gente teve aqui, achei ela bem interessante pelo fato também da gente fazer as aulas, fazer os exercícios que foram bons, que são bem assim interativos, a gente também aprendeu a conviver mais com as nossas colegas de trabalho né. Foi uma coisa bem interativa, bem interessante, diferente. (Lindinha) Acreditamos que a integração seja de fundamental importância no local de desempenho profissional, pois, segundo Maslach e Leiter (1999), a falta de união e eqüidade num ambiente de trabalho representa um sério fator de desequilíbrio entre o trabalhador e o ambiente de trabalho. Esse desequilíbrio propicia medo, ansiedade e desânimo. Nesse sentido, uma das finalidades da ginástica laboral relaxante com dinâmica é a integração das participantes. Tal integração demonstrou um bom relacionamento do grupo, facilitando a sensação de prazer durante a participação nas atividades. [...] terminava eu se sentia alegre, vixe era bem legal, aí a gente chega assim meio né. Eu chegava com um pouco de preguiça depois eu começava aquilo lá meu fi aí a gente fica, se solta, me sentia assim que eu me soltava, mais alegre é legal é bem gostoso [...] na hora que terminava era gostoso, eu sentia assim uma vontade assim de fazer mais, de trabaiá mais, é gostoso, é bem legal. (Coração) Foi bom, foi divertido, as aulas foi bem descontraídas [...] Porque daí realmente quando a gente realmente fazia aula a gente via que ficava, que o corpo ficava mais relaxado, ficava mais, ficava gostoso, ficava bem melhor [...], gostei.(fofura) Ao analisarmos as falas das participantes, demonstradas acima, percebemos o prazer em praticar as aulas. Sendo assim, o professor de ginástica laboral deve estar atento para que as mesmas não se tornem aulas maçantes. É recomendável que o professor diversifique as aulas para torná-las agradáveis, eficazes e até mesmo imprevisíveis. Segundo Oliveira (2003) a monotonia é o grande vilão da motivação e os trabalhadores podem perder o estímulo pela ginástica. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desenvolver esse estudo proporcionou interagir de perto com a ginástica laboral, circunstância esta que conduziu à compreensão da participação de funcionárias de um escritório de contabilidade, em atividades físicas promovidas no próprio ambiente de trabalho. Por meio do resultado encontrado, podem-se abordar algumas considerações: A ginástica laboral contribui, por meio de esclarecimentos e informações, para uma melhor utilização de recursos no trabalho, bem como de posturas adequadas no mesmo, prevenindo assim desgastes físicos; A ginástica laboral surge como fator importante na conscientização da prática de atividades físicas, considerando-se aspectos provenientes das comodidades do mundo contemporâneo; A ginástica laboral, se utilizada adequadamente, pode proporcionar a integração entre equipes no ambiente de trabalho, sendo esta, peça fundamental para o desempenho profissional; A ginástica laboral, quando acompanhada por dinâmicas de grupo, pode proporcionar momentos de lazer e descontração no ambiente de trabalho, torna-se este um local mais agradável. A partir das constatações mencionadas acima gostaríamos, ainda, de explanar uma sugestão para próximos estudos que venham intervir por meio da ginástica laboral: que estes atentem por maior período de realização destas atividades, buscando compreender as ocorrências referentes à prevenção de doenças ocasionadas pelo desgaste funcional no ambiente de trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ, B. R. Estilo de vida e hábitos de lazer de trabalhadores, após dois anos de aplicação de um programa de ginástica laboral e saúde. 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. BOEMER, M. R. A condução de estudos segundo a metodologia de investigação fenomenológica, Revista Latino Americana de Enfermagem. V. 2, n. 1, p. 83-94, 1994. CODO, W. ALMEIDA, M. C. C. G. de. LER: diagnóstico, tratamento e prevenção: uma abordagem interdisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. FIGUEIREDO, F.; MONT ALVÃO, C. Ginástica laboral e ergonomia. Rio de Janeiro: Sprint, 2005. LIMA, V. Ginástica laboral: atividade física no ambiente de trabalho. São Paulo: Phorte, 2003. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E.D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MENDES, R. A.; LEITE, N. Ginástica laboral: princípios e aplicações práticas. 1 ed. Barueri, SP: Manole, 2004.
MARTINS, C. O. Ginástica laboral: no escritório. 1 ed. Jundiaí, SP: Fontoura, 2001. MASLACH, C.; LEITER, M. P.; tradução Mônica Saddy Martins. Trabalho: Fonte de prazer ou desgaste? Guia para vencer o estresse na empresa. Campinas, SP: Papirus, 1999. OLIVEIRA, J. R. G. A prática da ginástica laboral. 2 ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2003. POLITO, E.; BERGAMASCHI, E. C. Ginástica Laboral: teoria e prática. 2 ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.