A EDUCOMUNICAÇÃO NOS DEBATES SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE

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Transcrição:

A EDUCOMUNICAÇÃO NOS DEBATES SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE Magna Cély Araújo Santos 1 Universidade Federal de Campina Grande celymagna@hotmail.com Introdução Antes de começarmos a explanar sobre os debates de gênero e sexualidade nas escolas através da educomunicação, é necessário um pequeno apanhado teórico acerca das definições sobre os componentes da sexualidade humana. Diferenciar sexo de gênero é essencialmente necessário para a compreensão de um estudo que envolva os temas. A Educomunicação, segundo afirma Soares (2000,p.20), não se trata, pois, de educar usando o instrumento da comunicação, mas que a própria comunicação se converta no eixo vertebrador dos processos educativos, o campo da educomunicação visa o diálogo entre as partes componentes do sistema social, nesse caso, Professor x Aluno e Escola x Sociedade. Desse modo, tendo a educomunicação como um processo dialógico e de mediação, temos as premissas necessárias para a abordagem de temas complexos e que mexem com a estrutura formadora da sociedade. A educomunicação busca a formação de sujeitos capazes de construírem sua própria concepção através dos debates promovidos com outros sujeitos e, assim, os indivíduos têm a possibilidade de conhecer os diversos pontos de vista sobre o assunto. Soares D. refere-se à educomunicação como um processo horizontal, em que os indivíduos têm a capacidade de pensar e participar do processo de construção da sua vida: Apostamos na real possibilidade de que os grupos humanos caminhem no sentido de fazer da autonomia dos indivíduos o seu 1 Estudante do curso de Comunicação Social com linha de formação em Educomunicação da UFCG.

grande objetivo. Que, antes de tudo, as pessoas se constituam autoras de sua existência individual e co-autoras de nossa existência social. Que, longe de se contentarem com o papel de atores sociais, assumam o de diretores, roteiristas, produtores e apresentadores do que sentem e pensam de si mesmas e do mundo em que vivem. Que não se conformem nos lugares reservados aos que são representados por quem quer que seja, mas que ousem sair do cercadinho e digam de onde vêm e para onde querem ir (SOARES, 2006, p. 8). Para tanto, o presente estudo visa analisar possíveis formas de aplicação de estudos e debates sobre gênero e sexualidade nas escolas através da educomunicação, tendo como ponto base a mediação proposta por esse campo que abrange educação e comunicação como unidade dialógica de construção do sujeito. Metodologia Este trabalho foi desenvolvido utilizando a metodologia de pesquisa bibliográfica em bases impressas de periódicos e livros, com consulta a autores de renomado saber para as temáticas tratadas. Discussão teórica Sendo a educação um meio de se diminuir os problemas referentes a intolerância em todos os âmbitos sociais, o método utilizado em sala de aula deve ser revisto, para que a metodologia dialógica seja aplicada e possa efetivar a formação de um sujeito atuante. Como afirma Freire (1997, p.14), a concepção humanista e libertadora da educação, jamais dicotomiza o homem do mundo, nesse sentido, essa pesquisa visa a elaboração de métodos de ensino que proporcionem a troca de valores entre as partes componentes do sistema de ensino, para uma formação humanista dos valores referentes a gênero e sexualidade. A concepção humanista, problematizante, da educação, afasta qualquer possibilidade de manipulação do educando. De sua adaptação. Disso resulta que, para os que realmente são capazes de amar o homem e a vida, para os biófilos, o absurdo está não na problematização da realidade que minimiza e esmaga o homem, mas no mascaramento dessa realidade que desumaniza (FREIRE, 1997, p.16). Ao colocarmos esse debate nas escolas, devemos ter o cuidado de excluir os valores agregados anteriormente, pela própria sociedade, aos alunos. O dever,

nesse caso, é uma educação que imprima valores sociais aos alunos, valores que desagreguem os pré-conceitos que eles possuem. Em nossa sociedade, a norma que se estabelece, historicamente, remete ao homem branco, heterossexual, de classe média urbana e cristão e essa passa a ser a referência que não precisa mais ser nomeada. Serão os outros sujeitos sociais que se tornarão marcados, que se definirão e serão denominados a partir dessa referência (LOURO, 1999 p.14). As transformações e evoluções tecnológicas contribuíram para a disseminação de ideias ao longo da história, todavia, os debates em torno de gênero e sexualidade tem sua efervescência em meados do século vinte com o movimento feminista e o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) que tiveram maior visibilidade a partir da globalização. O processo de globalização não só colaborou com a difusão de movimentos sociais como os citados, como contribuiu para a formação de uma nova "forma de identificação coletiva", que segundo Burity representam os limites que antes eram impostos sobre a carga cultural do indivíduo e como esses limites se modificaram com a globalização: A globalização pode permitir a emergência de novas formas de identificação coletiva, as quais, por não mais se definirem em função de um pertencimento territorial, ou de uma tradição imemorial, mas em função de questões de relevância global, se subtraem às exigências de lealdade tradicional ou de atuação localizada (BURITY, 2001, p.10). Inserir as discussões acerca de gênero e sexualidade nas escolas é um tema que desperta muitas inquietações na sociedade. O processo de discussão desses aspectos se refere a relação de hierarquia e poder 2 ligados ao corpo e aos ideais difundidos ao longo da história. Muitos consideram que a sexualidade é algo que todos nós, mulheres e homens, possuímos naturalmente. [...] no entanto podemos entender que a sexualidade envolve rituais, linguagens, fantasias, 2 O corpo ganhou um papel primordial, tornando-se causa e justificativa das diferenças[...] as características físicas passaram a ser tomadas como a fonte ou a origem das distinções e não apenas como um sinal, marca ou manifestação das distinções. (CARVALHO, 2004, p.208)

representações, símbolos e convenções... Processos profundamente culturais e plurais (LOURO, 1999, p.10,11). Segundo afirma Foucault (1988, p. 100), citado por Louro (2007, p.210), "Sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico, ela, por sua vez, não deve ser atribuída a biologia. Na referência a gênero, temos os construtos sociais absorvidos pelo indivíduo nas suas experiências em relação com as estruturas de formação da hierarquia social. Gênero é um conceito relacional e uma estrutura de dominação simbólica: os gêneros são um par de opostos que constituem uma relação e as relações de gênero são relações de poder em que o princípio masculino é tomado como medida de todas as coisas (BOURDIEU, 1999, p. 23 apud CARVALHO, 2014). Nos processos de relação da educomunicação as aplicações metodológicas de gênero e sexualidade nas escolas se torna possível graças aos conceitos aplicados a educomunicação, que caracteriza-se não pelo interesse em respostas supostamente definitivas para os problemas que diuturnamente se nos apresentam, mas pelo aguçamento das contradições (SOARES D. 2006, p. 1). A inserção desses temas, além de tudo, proporciona auxilio as crianças e adolescentes que comumente sentem-se oprimidos por terem a sexualidade diferente para os padrões sociais ligados as regras heteronormativas e patriarcais. Uma Educação só é verdadeiramente humanista se, ao invés de reforçar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado, esforça-se no sentido da desocultação da realidade. Desocultação na qual o homem existencialize sua real vocação: a de transformar a realidade. Se ao contrário, a educação enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptação do homem a realidade, não pode esconder seu caráter desumanizador (FREIRE, 1997 p.13). A aplicação da educomunicação como campo mediador destes debates implica numa nova forma de educar, a sala de aula será um âmbito de trocas mútuas de cultura e saber, onde ambas as partes aprendem e contribuem para a formação de sujeitos capazes de vivenciar as diferenças, sociais, raciais, culturais, sexuais, a partir do diálogo e da educomunicação. Falar sobre o tema no ensino básico é de suma importância para demonstrar a pluralidade e fatores socioculturais que os definem e para desmistificar o pensamento de que gênero e sexualidade são definidos pela biologia.

Conclusão Sendo o Brasil um país culturalmente multifacetado, a possibilidade de trocas de experiências a partir da discussão desses temas desde o ensino básico torna-se válido para a construção de sujeitos dialógicos capazes de compreender e construir colaborativamente conceitos que absorvam em si os processos socioculturais que caracterizam o gênero e a sexualidade. A prática da educomunicação como mediadora dos processos dialógicos sobre gênero e sexualidade dentro das escolas proporciona aos alunos e professores uma troca de valores, que trazem problemáticas como o patriarcalismo e a homofobia ao centro dos debates sobre gênero e sexualidade na educação básica. Referências BURITY, Joanildo A. Globalização e identidade: desafios do multiculturalismo. Fundaj, Fundacao Joaquim Nabuco. 2001. CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. Pierre Bourdieu sobre gênero e educação. 2004. Revista Ártemis N.1, João Pessoa. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/artemis/article/viewfile/2364/2068. Acessos em: 06, 07 e 08 de Agosto de 2014. FREIRE, Paulo. Papel da educação na humanização. Rev. Da FAEEBA, N7. 1997. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: das afinidades políticas às tensões teórico-metodológicas. Educação em Revista. 46. Ed. 2007. LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, p. 9-34, 1999. SOARES, Donizete. Educomunicação - O que é isto?. Gens Instituto de Educação e Cultura. São Paulo. 2006. SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: Um campo de mediações. Comunicação e Educação V7, N.19. 2000.