D) Como seria a correção desse distúrbio? A correção seria atuar na causa e proporcionar eliminação de CO2 por aumento da ventilação alveolar.

Documentos relacionados
Profª Allana dos Reis Corrêa Enfermeira SAMU BH Mestranda em Enfermagem UFMG

Lembrando. Ácidos são quaisquer substâncias capazes de ceder H+ Exemplos: ácido clorídrico, ácido lático, ácido úrico

EXAMES COMPLEMENTARES GASOMETRIA GASOMETRIA ARTERIAL EQUILÍBRIO ÁCIDO - BÁSICO EQUILÍBRIO ÁCIDO - BÁSICO

SISTEMA TAMPÃO NOS ORGANISMOS ANIMAIS

Petr Soares de Alencar DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE

Manutenção do ph do sangue

GASOMETRIA ARTERIAL- ARTIGO DE REVISÃO. interpretação

21/07/14. Processos metabólicos. Conceitos Básicos. Respiração. Catabolismo de proteínas e ácidos nucleicos. Catabolismo de glicídios

Distúrbios Ácido Básicos

Reconhecendo os agravos clínicos em urgência e emergência. Prof.º Enfº. Diógenes Trevizan

Equilíbrio ácido-básico. Monitor: Tarcísio Alves Teixeira Professor: Guilherme Soares Fisiologia Veterinária / MFL / IB / UFF

INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

Alterações do equilíbrio hídrico Alterações do equilíbrio hídrico Desidratação Regulação do volume hídrico

DISTÚRBIO HIDRO- ELETROLÍTICO E ÁCIDO-BÁSICO. Prof. Fernando Ramos Gonçalves -Msc

Disciplina de BIOQUÍMICA do Ciclo Básico de MEDICINA Universidade dos Açores 1º Ano ENSINO PRÁTICO 5ª AULA PRÁTICA

Distúrbios do equilíbrio ácido básico. Fisiologia do equilíbrio ácido básico (6,80) 7,35 7,45 (7,80)

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Ano Lectivo 2011/2012. Unidade Curricular de BIOQUÍMICA I Mestrado Integrado em MEDICINA 1º Ano

ph do sangue arterial = 7.4

Problemas Endócrinos

Conceito de ph ph = - Log [H + ] Aumento [H + ] => diminuição do ph => acidose Diminuição [H + ] => aumento do ph => alcalose Alterações são dependent

TROCAS GASOSAS TRANSPORTE DE O 2 E CO 2 FUNÇOES DA HEMOGLOBINA QUÍMICA DA RESPIRAÇÃO. Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes

CONCEITO FALHA CIRCULATÓRIA HIPOPERFUSÃO HIPÓXIA

Choque hipovolêmico: Classificação

FISIOTERAPIA PREVENTIVA

Urgência e Emergência

DROGAS VASODILATADORAS E VASOATIVAS. Profª EnfªLuzia Bonfim.

VENTILAÇÃO MECÂNICA. Profª Enfª Luzia Bonfim

Fisiologia do Sistema Urinário

3) Complicações agudas do diabetes

Testes de Consumo máximo de Oxigênio (Vo 2 máx) Fisiologia Do Esforço Prof.Dra. Bruna Oneda 2016

Hospital São Paulo SPDM Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina Hospital Universitário da UNIFESP Sistema de Gestão da Qualidade

Definições importantes

Objetivos da Respiração. Prover oxigênio aos tecidos Remover o dióxido de carbono

Abordagem da sepse na emergência Rodrigo Antonio Brandão Neto

Disciplina: Clínica Médica de Pequenos Animais

Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar. (EHH) e Cetoacidose Diabética (CAD) na. Sala de Urgência

Fisioterapia em Terapia Intensiva

FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA RICARDO LUIZ PACE JR.

Problemas Endócrinos. Prof.º Enf.º Esp. Diógenes Trevizan

Processo de colapso circulatório ocorrendo uma perfusão tecidual inadequada. Complicação de uma doença que desencadeou, sempre grave, se não

Sistema Urinário. Patrícia Dupim

PROVA OBJETIVA. b) Liste os outros exames que devem ser solicitado para o esclarecimento do quadro e descreva qual seria a abordagem terapêutica.

GASOMETRIA ph E GASES SANGUÍNEOS

Fisiologia - Estudo Dirigido - Respiratório

TRAUMA DE TÓRAX. Prof.ª Leticia Pedroso

PROTOCOLO MÉDICO SEPSE E CHOQUE SÉPTICO

Doença de Addison DOENÇA DE ADDISON

PROCESSO SELETIVO SANTA CASA RESIDÊNCIA MÉDICA PRÉ-REQUISITO

Envelhecimento do Sistema Respiratório

DISFUNÇOES RESPIRATÓRIAS

FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA REVISÃO

Livro Eletrônico Aula 00 Questões Comentadas de Fisioterapia - Terapia Intensiva

PANCREAS A eliminação do suco pancreático é regulada, principalmente, pelo sistema nervoso. Quando uma pessoa alimenta-se, vários fatores geram

Medicações de Emergências. Prof.º Enfº Diógenes Trevizan Especialista em Docência

Resultados da Validação do Mapeamento. Administrar medicamentos vasoativos, se adequado.

DISPNÉIA José Américo de Sousa Júnior

PROCESSO SELETIVO DE TRANSFERÊNCIA EXTERNA CADERNO DE PROVA

15º FÓRUM DE FISIOTERAPIA EM CARDIOLOGIA AUDITÓRIO 10

Desequilíbrio Ácido básico Enfa. Profa. Dra. Paula C Nogueira

Equilíbrio Ácido básico Enfa. Profa. Dra. Paula C Nogueira

Prof. Claudia Witzel DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

Universidade Federal de Pelotas Programa de Pós-Graduação em Veterinária Disciplina de Doenças metabólicas DOENÇAS METABÓLICAS

Cetoacidose Diabética

CRISE HIPOXÊMICA. Maria Regina da Rocha Corrêa

Aula 05 DIABETES MELLITUS (DM) Definição CLASSIFICAÇÃO DA DIABETES. Diabetes Mellitus Tipo I

Atividade Física, sistema respiratório e saúde

Aula-8Gasometria Arterial. Profª Tatiani

Sepse Professor Neto Paixão

A Diabetes É uma doença metabólica Caracteriza-se por um aumento dos níveis de açúcar no sangue hiperglicemia. Vários factores contribuem para o apare

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doenças Respiratórias Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Insuficiência Cardíaca Congestiva ICC

ph arterial entre 7,35 e 7,45 [H+] ~ 40 nanomoles/l (10-9) CO2 (Ácido volátil) O CO 2 não se acumula no organismo, é eliminado pelos pulmões

22/07/14. ! Sucesso anestésico depende...! Escolha de um protocolo anestésico adequado! Adequada perfusão e oxigenação tecidual! Monitoração eficiente

Urgência e emergência na atenção primária. Enfª Karin Bienemann

TRABALHO PESADO. Apostila 09

CHOQUE PROFª LETICIA PEDROSO

Sistema Respiratório. Superior. Língua. Inferior

BIOQUÍMICA II SISTEMAS TAMPÃO NOS ORGANISMOS ANIMAIS 3/1/2012

OBJETIVOS Ao final da aula os participantes terão de. Definir:

26/08/2016. Questões UFG. Enfermagem para Concursos Públicos em exercícios

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

D.P.O.C. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

Equilíbrio ácido-básico 2010

DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA

ALCALOSES 1. Introdução HA H + +A -.

Edema OBJECTIVOS. Definir edema. Compreender os principais mecanismos de formação do edema. Compreender a abordagem clínica do edema

Biologia. Identidade dos Seres Vivos. Sistema Respiratório Humano. Prof.ª Daniele Duó

RESIDÊNCIA MÉDICA SUPLEMENTAR 2015 PRÉ-REQUISITO (R1) / CLÍNICA MÉDICA PROVA DISCURSIVA

Como reconhecer uma criança criticamente enferma? Ney Boa Sorte

EXERCÍCIO DE CIÊNCIAS COM GABARITO 8º ANO 1. (PUC-SP) O esquema abaixo é referente ao coração de um mamífero

Universidade Federal de Pelotas Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária. Pelotas, 11 de novembro de 2015

TRANSTORNOS ÁCIDOS-BÁSICOS

Prof.ª Kalyne de Menezes Bezerra Cavalcanti

Nefropatia Diabética. Caso clínico com estudo dirigido. Coordenadores: Márcio Dantas e Gustavo Frezza

Leia estas instruções:

Síndrome Metabólica. Wilson Marques da Rosa Filho. (Tratamento pela Acupuntura e Homeopatia)

FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NO AVE FT RAFAELA DE ALMEIDA SILVA APAE-BAURU

Informações de Impressão

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

Transcrição:

Exercícios de Gasometria Arterial - Gabarito Docente responsável: Profª Paula C Nogueira Para as situações abaixo, responda às seguintes questões: Considere os seguintes valores de referência: ph: 7,35-7,45 PaCO2: 35 a 45 mmhg HCO3: 22 a 26 meq/l Caso 1: Paciente de 30 anos chega ao Setor de Emergência em estado de coma, apenas respondendo aos estímulos dolorosos. Sua respiração é superficial. Familiares encontraram próximo a ela diversas caixas de tranquilizantes vazias. Gasometria arterial: ph=7,20; PaCO2=80mmHg; HCO3=23 meq/l. Acidose respiratória pura. O ph menor do que 7,35 traduz acidose. PaCO2 elevado indica excesso de ácido e o HCO3 normal descarta componente metabólico. Não existe processo de compensação, porque o HCO3 está normal. Se estivesse em compensação, o HCO3 estaria elevado para aumentar o componente alcalino e elevar o ph. O mecanismo do distúrbio nesta paciente é a diminuição da eliminação de CO2 por redução da ventilação alveolar e insuficiência respiratória aguda. A causa provável, em função da história, é depressão do centro respiratório por excesso de tranquilizantes. A correção seria atuar na causa e proporcionar eliminação de CO2 por aumento da ventilação alveolar. Caso 2: Paciente de 21 anos, com história de diabetes mellitus, chega ao Setor de Emergência torporoso, desidratado, com aumento da frequência e profundidade respiratória, do tipo Kussmaul. Ao exame clínico nota-se hálito cetônico. Gasometria arterial: ph=7,10; PaCO2=20 mmhg; HCO3= 15 meq/l.

Acidose metabólica em tentativa de compensação respiratória. O ph menor que 7,35 sugere acidose. O HCO3 baixo indica déficit de base. A PaCO2 baixa indica pouco ácido e exclui causa respiratória. Sim, existe tentativa de compensação indicada por um CO2 baixo. A acidose é primariamente metabólica e ativa o centro respiratório bulbar que, tentando normalizar o ph, aumenta a ventilação alveolar eliminando CO2 em excesso, que é um ácido. A compensação ainda não é completa, pois o ph ainda está alterado. A provável causa do distúrbio é descompensação aguda do Diabetes Mellitus, com quadro de Cetoacidose Diabética. O organismo faz lipólise, pela ausência de insulina, e libera ácidos graxos na circulação, deixando o sangue ácido. O tratamento visa a correção da causa, ou seja, reduzir a produção de ácidos através da utilização da glicose pelo metabolismo, fornecendo-se insulina ao paciente. O bicarbonato de sódio endovenoso poderia ser indicado, pois o ph se encontra em 7,10. Caso 3: Paciente jovem chega ao Centro Cirúrgico com história de traumatismo abdominal há duas horas. No local do acidente foi encontrado lúcido, hipocorado e com sinais de choque hipovolêmico. Foi reposto rapidamente com solução fisiológica e bicarbonato de sódio. Chegou à emergência estável e equilibrado, o que permitiu avaliação adequada e pronta indicação cirúrgica. Gasometria arterial: ph=7,55; PaCO2=35 mmhg; HCO3=32 meq/l. O distúrbio ácido-básico é alcalose metabólica pura. O ph está maior que 7,45 configurando alcalose. A PaCO2 está normal, mostrando não haver componente respiratório. O HCO3 está aumentado, indicando excesso de base e componente metabólico. Não existe processo de compensação, pois o CO2 está normal. Se houvesse compensação, o CO2 estaria elevado por um processo de hipoventilação alveolar. Nos casos de choque hipovolêmico a alteração ácido-básica esperada é acidose metabólica devido a hipoperfusão sistêmica levando a metabolismo celular anaeróbico. Neste caso houve administração de bicarbonato de sódio para correção da acidose, o que acarretou excesso de bicarbonato circulante que, enquanto não for eliminado pelos rins leva à alcalose metabólica.

O bicarbonato de sódio já foi administrado, então necessita esperar a eliminação do excesso de base através de uma perfusão renal adequada. Caso 4: Paciente de 23 anos está internado com quadro de choque séptico consequente a peritonite e insuficiência respiratória por um processo de pneumonia. Gasometria arterial: ph=7,21; PaCO2=54 mmhg; HCO3=19 meq/l. O distúrbio ácido-básico é acidose mista (respiratória e metabólica). O ph menor que 7,35 indica acidose. A PaCO2 maior que 45 mmhg indica excesso de ácido e sugere componente respiratório. O HCO3 menor que 22 meq/l indica déficit de base e sugere componente metabólico. Não existe processo de compensação, pois os dois sistemas (respiratório e metabólico) estão alterados. Nos casos de choque, as células do organismo não recebem a quantidade de oxigênio necessária ao seu metabolismo, transformando-o em anaeróbico, o que causa acúmulo de ácido láctico. Este é o mecanismo do componente metabólico desta acidose. Na pneumonia ocorre retenção de CO2 por dificuldade nas trocas gasosas e eliminação do CO2. Este é o mecanismo do componente respiratório desta acidose. A conduta quanto à parte metabólica é melhorar ao máximo a perfusão para normalizar o metabolismo. Quanto à parte respiratória será preciso proporcionar um aumento da ventilação alveolar e eliminação de CO2. Caso 5: Paciente de 70 anos em pós-operatório de cirurgia abdominal queixa-se de cãimbras e prostração. Ao exame clínico minucioso observam-se abalos musculares e drenagem elevada pela sonda nasogástrica (2.000mL/24 h). Gasometria arterial: ph=7,62; PaCO2=40 mmhg; HCO3=36 meq/l. O distúrbio é alcalose metabólica pura. O ph maior que 7,45 indica alcalose. A PaCO2 normal exclui componente respiratório. O HCO3 aumentado sugere componente metabólico por excesso de base.

Não existe processo de compensação, pois o CO2 está normal. Se houvesse compensação, o CO2 deveria estar elevado, indicando um aumento de ácido para reduzir o ph. Quando ocorre drenagem alta pela sonda gástrica ocorre grande perda de ácido clorídrico, componente do suco gástrico. A perda do ácido leva a uma alcalinidade sanguínea. A correção seria eliminar o excesso de base através de uma perfusão renal adequada e melhorar o peristaltismo gastrointestinal para reduzir o acúmulo de líquido de estase no estômago. Caso 6: Paciente de 65 anos, fumante, procura o pronto socorro queixando-se de dispnéia, cansaço e tosse acompanhada por secreção clara. O exame clínico revela aumento do diâmetro ânteroposterior do tórax, baqueteamento digital e alguns sibilos esparsos. Gasometria arterial: ph=7,40; PaCO2=58 mmhg; HCO3=34 meq/l. Em função da história e do exame físico, a gasometria sugere uma acidose respiratória compensada. O PH está normal, indicando ausência de distúrbio ou algum distúrbio já completamente compensado. A PaCO2 está elevada indicando excesso de ácido e o HCO3 também está elevado indicando excesso de base por um mecanismo compensatório. Sugere distúrbio primário respiratório e não metabólico pela história das manifestações do paciente estarem relacionadas ao componente respiratório. Sim, a compensação já foi completa, pois o ph está normal. O organismo realizou a compensação metabólica, com aumento da reabsorção de HCO3 renal, e consequentemente aumento de conteúdo alcalino, com normalização do ph. Neste caso o distúrbio inicial foi a retenção de CO2 por hipoventilação alveolar em função da doença pulmonar. A causa do distúrbio é a doença pulmonar obstrutiva crônica, levando a alterações de trocas gasosas pelos pulmões. A conduta seria propiciar uma melhor troca gasosa e aumento da eliminação de CO2 por ventilação alveolar. A compensação, mesmo que completa, em algum momento não ocorrerá mais, então é necessário a correção do distúrbio.

Caso 7: O paciente anterior (Caso 6) apresentou, após dois meses, quadro de tosse produtiva, secreção amarelada e febre. A dispnéia piorou, fazendo com que fosse levado à Emergência. Gasometria arterial: ph=7,20; PaCO2=75 mmhg; HCO3=30 meq/l. O distúrbio é acidose respiratória em tentativa de compensação metabólica. O ph muito reduzido indica acidose. A elevada PaCO2 evidencia excesso de ácido e componente respiratório. O HCO3 elevado indica excesso de base em uma tentativa de compensação. Existe processo de compensação evidenciado por elevação do HCO3 que é uma base, porém a compensação não foi suficiente para compensar completamente o distúrbio, já que o ph ainda está baixo. A compensação ocorre por aumento da reabsorção renal de HCO3. A causa provável é uma dificuldade de troca gasosa e retenção de CO2 por um processo de infecção pulmonar em decorrência do quadro pulmonar primário crônico. A correção do distúrbio seria aumentar a eliminação de CO2 alveolar, através de uma melhora na troca gasosa. Caso 8: Paciente de 55 anos com infarto agudo do miocárdio está na Unidade Coronariana em choque cardiogênico. Apesar de suporte farmacológico com dobutamina, dopamina e adrenalina, a perfusão é inadequada, apresentando extremidades frias, cianose periférica, anúria e sonolência. Gasometria arterial: ph=7,10; PaCO2=35 mmhg; HCO3=12 meq/l. O distúrbio é acidose metabólica pura. O ph baixo indica acidose. A PaCO2 está normal indicando ausência de alteração respiratória. O HCO3 está baixo indicando distúrbio metabólico por déficit de base. Não existe processo de compensação, porque o CO2 está normal. Se houvesse compensação, o CO2 estaria baixo através de um processo de hiperventilação alveolar.

O mecanismo da acidose metabólica é o mesmo dos outros tipos de choque; metabolismo celular anaeróbico com acúmulo de ácido láctico e dificuldade de eliminação de ácidos fixos em decorrência da hipoperfusão renal. A correção seria melhorar a perfusão através de drogas vasoativas e hidratação. Caso 9: Paciente de 17 anos chega à Emergência sem falar, apresentando batimento palpebral e frequência respiratória de 50 incursões por minuto. Gasometria arterial: ph=7,63; PaCO2=18 mmhg; HCO3=25 meq/l. O distúrbio é alcalose respiratória pura. A elevação do ph indica uma alcalose. A PaCO2 reduzida sugere componente respiratório por déficit de ácido. O HCO3 normal indica ausência de alteração metabólica. Não existe processo de compensação, porque o HCO3 está normal. Se houvesse compensação o HCO3 estaria reduzido por diminuição da reabsorção de HCO3 renal. O mecanismo é hiperventilação, por provável etiologia emocional, aumentando muito a eliminação de CO2 e reduzindo a PaCO2 sanguínea. A correção do distúrbio seria reduzir a ventilação alveolar para aumentar o componente ácido (CO2) e reduzir o ph. Também pode ser fornecido sistema fechado (saco plástico) para ventilar nesse sistema e aumentar a inspiração de CO2. Caso 10: Paciente de 57 anos, obeso, está em pós-operatório de retossigmoidectomia por tumor de sigmóide. Mantém-se acamado em decúbito horizontal. Está com uma ileostomia com drenagem de 2.000 ml/24 horas de fezes líquidas. A gasometria revela: ph=7,03; PaCO2=54 mmhg; HCO3=14 meq/l. Acidose mista (respiratória e metabólica). O ph baixo indica uma acidose. A PaCO2 elevada indica excesso de ácido e componente respiratório. O HCO3 baixo indica déficit de base e componente metabólico.

Não existe processo de compensação, pois o distúrbio é misto. Os dois sistemas estão afetados. A causa do distúrbio metabólico é a perda de bicarbonato intestinal através da ileostomia. A causa do distúrbio respiratório é a hipoventilação alveolar pela compressão diafragmática, causada pela obesidade e diminuição da expansibilidade pulmonar pelo decúbito horizontal. A correção do distúrbio metabólico seria a reposição do NaHCO3, já que o ph se encontra muito baixo. A correção do distúrbio respiratório seria proporcionar aumento na eliminação de CO2 por reposicionamento no leito e elevação do decúbito. Caso 11: Paciente de 50 anos chega ao Setor de Emergência desidratado, com respiração profunda, pausa inspiratória e aumento da frequência respiratória. Ao exame clínico nota-se hálito cetônico. Gasometria arterial: ph= 7,10; PaCO2= 20 mmhg; BR= 5 mm/l; BE= -18. Qual(is) o(s) distúrbio(s) ácido-básico(s) apresentado(s), seu mecanismo, sua causa e tratamento? A análise do ph muito menor que 7,35 sugere acidose importante. A PaCO2 menor que 35 mmhg exclui causa respiratória, sugerindo ao contrário, ser uma compensação. O BR muito baixo confirma ser de origem metabólica. O distúrbio é uma acidose metabólica com tentativa de compensação respiratória. Este padrão gasométrico e o exame clínico são típicos de pacientes diabéticos descompensados com cetoacidose. Nestes casos há uma grande produção de ácidos fixos - cetoácidos - responsáveis pelo enorme consumo de bicarbonato e pelo hálito cetônico. A acidose é primariamente metabólica e ativa o centro respirátorio bulbar que, tentando normalizar o ph, aumenta a ventilação alveolar eliminando CO2 em excesso, mas sem conseguir compensar o distúrbio. Se não houvesse a participação respiratória, o ph estaria muito mais baixo. O tratamento visa a correção da causa, ou seja, reduzir a produção de cetoácidos através da utilização da glicose pelo metabolismo, fornecendo-se insulina ao paciente. Paralelamente e igualmente importante é a reidratação do paciente com volumes generosos de soro fisiológico. Este é um dos casos de acidose metabólica em que o bicarbonato de sódio somente é necessário quando o baixo nível de ph coloca a vida do paciente em risco (abaixo de 7,00).