25-27 Julho 2011 Faculdade de Psicologia Universidade de Lisboa Portugal Avaliação das Competências Sociais Estudos psicométricos da prova Socialmente em Acção (SA 360º) com crianças e jovens do Ensino Básico Português Adelinda Araújo Candeias, Nicole Rebelo e João Silva RED - Rendimento Escolar e Desenvolvimento: um estudo longitudinal sobre os efeitos das transições
Competências Socais Enquadramento teórico A competência humana é um conceito estruturante para a capacidade de realizar os objectivos valorizados pelo indivíduo através da resolução de tarefas ou desafios específicos. A competência pessoal tem um significado amplo, integrando processos inerentes ao indivíduo: metacognição, aprendizagem, motivação, pensamento e conhecimento, e processos inerentes ao contexto: adaptação e congruência entre os objectivos do sujeito, as suas capacidades e os desafios das situações, e os recursos informacionais e materiais disponíveis no contexto. Cada um destes elementos é mobilizado em função dos níveis de motivação intrínseca e extrínseca do indivíduo para aquele tipo de situação que por sua vez activam os recursos metacognitivos.
Enquadramento teórico Os recursos metacognitivos, nomeadamente as habilidades para avaliar a situação e planear como actuar regulam o desencadear de processos de aquisição de mais informação através da aprendizagem implícita ou explícita ou da mobilização de conhecimentos armazenados na memória (declarativos e procedimentais). Os conteúdos adquiridos ou recuperados da memória serão analisados, seleccionados, combinados, (re)criados e aplicados numa das seguintes formas de pensamento: Crítico (analítico) que inclui : analisar, criticar, julgar, avaliar, comparar e contrastar. Criativo que inclui: criar, descobrir, inventar, imaginar, supor, e gerar hipóteses. Prático que inclui: aplicar, usar e praticar.
Enquadramento teórico A integração destes elementos far-se-á de acordo com as exigências que cada situação-tarefa coloca ao indivíduo. competência pessoal, incidirá sobre conteúdos sobre o próprio indivíduo como pessoa, as suas emoções e interesses, os seus pensamentos e os seus comportamentos. competência social, incide sobre informações sobre os outros indivíduos as suas emoções e interesses, os seus pensamentos e os seus comportamentos; e as interacções entre eles e com o próprio sujeito competência prática ou quotidiana (onde integramos competência académica e a competência profissional), incidirá sobre conteúdos informacionais formais e organizados e informais ou ocasionais
Operacionalização do conceito Esta proposta de conceptualização da competência humana requer uma operacionalização do conceito que tenha presentes quer os elementos operativos quer os elementos informacionais. Os processos mediacionais que caracterizam a interacção entre indivíduotarefa-situação implicam uma avaliação destes subsistemas quer do ponto de vista da competência autopercebida, da competência heteropercebida e do desempenho (no sentido de performance) propriamente dito. Estes critérios de operacionalização remetem para uma avaliação 360º que cumpre requisitos de veracidade e verosimilhança em termos de validade ecológica.
Método - Participantes Participaram neste estudo 441 crianças, de Portugal continental e da Ilha da Madeira. Os participantes tinham média idade de 8.64 anos (DP = 1.03). Sexo: 248 raparigas Background: 40% (N=99) ) são de NSB, 36% (N=89) são de NSM, 18% (N=44) são de NSA. Escolaridade: 24% (N=60) de 2º ano, 40% (N=101) de 3º ano, 35% (N=87) de 4º ano; 240 rapazes 37% (N=88) são de NSB, 40% (N=97) são de NSM, 13% (N=31) são de NSA. 26% (N=63) de 2º ano, 34% (N=82) de 3º ano, 40% (N=95) de 4º ano.
Método Instrumento A prova Socialmente em Acção é a versão para crianças da Prova de Avaliação de Competência Social PACS (Candeias, 2008). O desenvolvimento desta prova teve como referência o Social Competence Nomination Form (SCNF Ford, 1982), considerado um dos testes de avaliação mais fiáveis e válidos no âmbito das competências sociais (Candeias &Almeida,2005). A PACS, tal como SCNF, foi construída de modo que cada situação proporcionasse referências comportamentais e contextuais específicas e detalhadas, podendo recorrer a percepções de pares, de professores e do próprio, a respeito da competência situacional do indivíduo.
Resultados Estudo dos itens Em termos gerais, a maioria dos itens revelou uma distribuição adequada ao longo dos vários pontos da escala likert utilizada. A análise do poder discriminativo (PD) dos itens revelou correlações do item com o total da escala corrigido (ritc) com valores superiores a.20 (valor considerado crítico para a dimensão da amostra de referência, p<.01). Quadro I Estudo da correlação do item com a escala (corrigido) Itens ritc Alpha se 1.1,539,802 1.2,510,805 2.1,472,809 2.2,497,806 3.1,515,804 3.2,490,807 4.1,500,806 4.2,474,809 5.1,514,804 5.2,537,802 6.1,539,802 6.2,510,805
Resultados Estudo de Fidelidade O estudo da consistência interna, através do coeficiente alpha de Cronbach (Nunnally, 1978), revelou um valor de alfa de.82. Este valor está ligeiramente abaixo do valor encontrado para a prova desenvolvida entre nós para adolescentes PACS cujo alfa é de.87 (Candeias & Almeida, 2005). Os auto-registos de competência apresentam um índice de consistência interna mais baixa comparativamente aos registos dos pares ou dos professores, o que poderá sugerir que self-judgments are more situation specific than judgments by others, which tend to be more traitlike (Ford, 1982, p.330).
Resultados Validade de Construto Baseou-se na análise em componentes principais (ACP), usando o método de rotação varimax, considerando os itens da prova dirigida a crianças (Quadro II)- Os testes preliminares da matriz de intercorrelação (KMO= 0,81) e de esfericidade de Bartlett (χ2= 1164,135; gl=45; p=.000) apresentam índices adequados. As saturações obtidas sugerem a existência de 2 factores: Factor I - factor geral de desempenho em situações sociais. Factor II - reúne itens associados aos conteúdos situacionais, replicando a teoria subjacente à construção da escala,reportase à competência social em situações de comunicação interpessoal e liderança em contextos formais de natureza académica. Quadro II Análise em componentes principais rotação varimax Itens 1 2 1.1,456,475 1.2,401,483 2.1,764,054 2.2,696,153 3.1,449,448 3.2,275,583 4.1,166,717 4.2,042,807 5.1,622,265 5.2,616,295 6.1,456,475 6.2,401,483 Valores próprios 3,85 1,01 % de Variância explicada 38,52 10,09
Conclusões A pertinência empírica fundamentada em estudos psicométricos da operacionalização do conceito de competência a partir de uma perspectiva sociocognitiva, integrando quer os elementos operativos (funções cognitivas) quer os elementos informativos, associados ao indivíduo e ao contexto, pressupõe uma avaliação da competência auto-percebida, da competência hetero-percebida e do desempenho social. Parâmetros métricos promissores: a consistência interna da escala atinge um nível adequado de coeficiente alpha. a análise da estrutura factorial dos itens sugere a existência de um primeiro factor que se confunde com a competência social geral e um mais específico associado aos conteúdos ou especificidades das situações sociais mais formais e académicas.
Conclusões A prova aqui apresentada, na sua versão para crianças é complementada com versões para professores, pares e pais, de que daremos conta em estudos futuros. A prova agora apresentada, constitui uma opção válida para diagnosticar dificuldades e potencialidades dos alunos em situações diversificadas do quotidiano social e interpessoal. Esta prova pode, por isso, constituir um dos instrumentos a integrar o processo de avaliação psicológica de crianças, com vista ao seu desenvolvimento e/ou formação.
Obrigado! joao.pontevel@gmail.com