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Transcrição:

Gestão ambiental e recursos hídricos: Análise do plano de bacias 2010-2020 do comitê de bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ) Karina de Lima Rufino Souza 1 Ana Luiza Fonseca Fortes Furtado 2 RESUMO Esta Iniciação Científica teve como objetivo realizar levantamentos dos elementos de gestão ambiental e recursos hídricos com abordagem do Plano de Bacias do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios 2010-2020, o qual contempla o grande pacto para recuperação ambiental e almeja a garantia de sustentabilidade hídrica da bacia. Esse plano tem como proposta a atualização do enquadramento dos corpos d água e programa para efetivação do enquadramento dos corpos d água até o ano de 2035. Dessa forma, o artigo apresenta uma análise do sistema de recursos hídricos e de saneamento para o Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Por meio do exposto, o objetivo do projeto é analisar o Plano de Bacia do CBH-PCJ 2010-2020, relatar o enquadramento dos corpos d água, a outorga de direito do uso da água, a cobrança pelo uso da água e sistemas de informações, dentre outros que se fizerem necessários. Palavras-chaves: comitê de bacias hidrográficas; recursos hídricos; comitê do PCJ; enquadramento dos cursos d'água. 1 Introdução A água é considerada por lei um recurso natural com múltiplos usos. Ela é essencial ao consumo humano e dessedentação de animais, além de ser dotada de valor econômico. A bacia hidrográfica é a unidade territorial delimitada para a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos e a gestão desse recurso deve contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades, levando-se em conta o desenvolvimento sustentável, isto é, deve-se assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade considerados adequados de acordo com os parâmetros estabelecidos em lei e aos seus respectivos usos. A quantidade total de água na Terra, de aproximadamente 1,36 x 109 km3, tem permanecido de modo aproximadamente constante durante os últimos 500 milhões de anos (IHP, 1998). Mesmo sendo constante, a sua distribuição não ocorre de maneira homogênea, havendo algumas regiões com escassez desse recurso. O maior desafio atualmente, além da quantidade desse recurso, é a qualidade do mesmo, que se dá devido ao seu comprometimento com produtos químicos e lançamento de esgoto urbano in natura. O uso mais intenso de água no mundo é a irrigação para produção de alimentos. No Brasil, 72% do consumo de água é destinado a essa finalidade (Figura 1). O abastecimento urbano representa 9%; a dessedentação animal, 11%; o industrial, 7%; e o abastecimento rural, 1%. 1 Aluna do curso de Tecnólogo em Gestão Ambiental do Claretiano Faculdade. 2 Doutorado em Hidráulica e Saneamento, professora do Claretiano Faculdade. Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 49

Figura 1 Demanda consultiva no País. Fonte: ANA, 2012b. Desse modo, por meio dos seus usos múltiplos e por vários setores, uma legislação mais abrangente sobre o tema se tornou necessária. A Lei Federal 9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997), criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídrico, regulamentou o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e alterou o art. 1º da Lei 8.001/90, a qual modificou a Lei 7.990/89. A Lei 9.433/97, em seu Título I, da Política Nacional de Recursos Hídricos, no Capítulo I Dos Fundamentos, Art. 1º, cita: Art.1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: V a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. E, no Capítulo IV, Dos Instrumentos, temos em seu Art. 5º: Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos: I os Planos de Recursos Hídricos. Braga e demais colaboradores (2008) nos ensinam que, apesar de o tema da gestão de recursos hídricos ser afeito à União e aos estados conforme nossa Constituição Federal e demais instrumentos legais, os serviços de abastecimento de água e saneamento são de responsabilidade dos municípios, e conclui que, para se alcançar uma boa gestão de recursos hídricos, é necessária uma articulação entre todos os seus entes federados, isto é, federal, estadual e municipal. Para que ocorra uma gestão em comum, vários dispositivos jurídicos para disciplinar o assunto foram editados. Um deles é o Plano de Bacias Hidrográficas. Como estudo de caso, iremos analisar o Plano de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí 2010-2020, o qual foi aprovado por Deliberação do Comitê PCJ nº 097/2010 em nove de dezembro de 2010 (COMITE PCJ, 2010a). Esse plano é central para análise e entendimento dos recursos hídricos e de saneamento para o Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios. 2 Recursos hídricos Recursos hídricos são as águas superficiais ou subterrâneas disponíveis para qualquer tipo de uso de região ou bacia. A gestão dos recursos hídricos é um procedimento que visa adotar as melhores soluções no uso da água nas suas diferentes necessidades e para a conservação do meio ambiente. Essa gestão deve se basear num planejamento proativo, o qual deve apresentar como seu principal objetivo a Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 50

sustentabilidade. Podem ser analisados de várias formas, de acordo com seu uso, por exemplo, irrigação, abastecimento, energia hidráulica, controle de enchentes, piscicultura, lazer e outros. A água é considerada um recurso renovável, estando sempre disponível para o ser humano utilizar, mas com o aumento do consumo o recurso está ficando em escassez, ou seja, ocorre a falta de água doce principalmente junto aos grandes centros urbanos, e também a diminuição da qualidade da água devido à poluição hídrica por esgotos domésticos e industriais. Os recursos hídricos superficiais no Brasil representam 50% do total dos recursos da América do Sul e 11% dos recursos mundiais, totalizando 168.870 m3/s, sendo que sua distribuição e duração ao ano não é uniforme, destacando-se desde os extremos do excesso de água na Amazônia até as limitações de disponibilidade no Nordeste. A Amazônia brasileira representa 71,1% do total gerado da vazão no Brasil e, portanto, 36,6 % do total da América do Sul e 8% do mundial. Considerando a vazão total da Amazônia que escoa pelo território brasileiro, a proporção é de 81,1% de todo o total nacional (TUCCI; HESPANHOL; CORDEIRO NETTO, 2001). A concentração da população em determinadas regiões, cidades e áreas metropolitanas é um dos principais aspectos a ser considerado na gestão integrada de recursos hídricos, uma vez que implica demanda tanto por disponibilidade de água para o abastecimento público quanto para dissolução de cargas poluidoras urbanas, pois a disponibilidade hídrica leva em conta não somente o quanto efetivamente dispõe de vazão hídrica, mas o número de habitantes que a estão consumindo. A situação de poluição hídrica tem-se agravado no país, considerando-se o aumento de cargas poluidoras urbana e industrial, uso inadequado do solo, erosão, desmatamento, uso inadequado de insumos agrícolas e mineração, dentre outros problemas ambientais que necessitam de uma gestão mais eficiente. Esses fatores, associados à distribuição anual de chuvas e às características climáticas, levam a danos ambientais dos recursos hídricos, dentre os quais se destacam o aumento do transporte de sedimento e a contaminação orgânica e química das águas. Os impactos ambientais decorrentes da poluição de águas fluviais provocada pelos polos agroindustriais, no sul do Brasil, e os relacionados à agroindústria sucroalcooleira do Nordeste e do estado de São Paulo são exemplos de alterações significativas dos recursos hídricos no Brasil. Destacase, ainda, o alto grau de comprometimento ambiental dos recursos hídricos da região carbonífera no sul do país e da região de garimpo e de mineração no norte do país, onde não há tecnologia ambientalmente adequada para a exploração e o processamento desses recursos minerais ambientalmente menos impactantes (MMA, 1998). Outras atividades causadoras de poluição das águas são as termelétricas e os complexos siderúrgicos, os quais ainda operam com processos industriais antigos e não contam com a instalação de equipamentos de controle da poluição ambiental adequados. Os conflitos de interesses com relação ao uso da água representados pelo setor hidrelétrico, pelos complexos industriais, pelas necessidades de abastecimento urbano, irrigação e adensamento urbano industrial evidenciam a necessidade de articulação institucional para a adoção de política de gestão integrada dos recursos hídricos (MMA, 1998). 3 Os instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos Os principais instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos são: os Planos de Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 51

compensação a municípios; e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, conforme a Lei 9.433/97 anteriormente citada, os quais serão discutidos abaixo. Os Planos de Recursos Hídricos visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e o gerenciamento dos recursos hídricos com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos através de vários cenários futuros, como previsto nos arts. 6º, 7º e 8º. O seu conteúdo deve incluir o diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos, análises e estudos prospectivos da dinâmica socioeconômica, identificação de conflitos potenciais, metas de racionalização de uso, projetos a serem implantados, diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, entre outros elementos, além de medidas que visem à proteção dos recursos hídricos. Esses planos são elaborados por bacia hidrográfica, por estado e para o país e constituem elementos do PNRH. O enquadramento dos cursos d'água apresenta como objetivos: assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas e diminuir os custos de combate à poluição das águas mediante ações preventivas permanentes, sendo as classes de corpos de água definidas pela legislação ambiental, conforme arts. 9º e 10. Os objetivos da outorga são: assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Estão sujeitos à outorga as diferentes derivações, captações, lançamentos, aproveitamentos e outros usos que alterem o regime das águas superficiais e subterrâneas, conforme a legislação. A outorga para fins hidrelétricos está subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso. A outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes. A outorga está contemplada nos artigos 11 a 18. Os objetivos da cobrança são: reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor; incentivar o uso sustentável da água; obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados, conforme arts. de 19 a 23. O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos, bem como sobre fatores intervenientes em sua gestão, com dados gerados pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos SINGREH. São princípios básicos para a sua organização: descentralização da obtenção e produção de dados e informações; coordenação unificada do sistema; acesso garantido a toda a sociedade aos dados e informações. Seus objetivos estão assim definidos: reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil; atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo território nacional, e fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos, contemplados nos arts. de 25 a 27. A compensação a municípios e rateio de custos das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo, foram vetados. Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 52

4 Enquadramento dos cursos d'água O enquadramento de corpos d água estabelece a qualidade a ser alcançada ou mantida ao longo do tempo por meio de parâmetros estabelecidos pela legislação, como OD (oxigênio dissolvido), DBO (demanda bioquímica de oxigênio), turbidez, cor verdadeira, ph, densidade de cianobactérias, dentre outros. Mais do que uma simples classificação, o enquadramento deve ser entendido como um instrumento de planejamento, realizando seu diagnóstico, prognóstico, propostas de metas relativas às alternativas de enquadramento e programa para sua efetivação. O corpo d água sem a qualidade necessária compromete seu potencial para demanda humana e para a sua biota nativa. No Brasil, é adotado o enquadramento por classes de qualidade de acordo com os parâmetros estabelecidos em lei. Esse sistema faz com que os padrões de qualidade estabelecidos para cada classe, ou seja, classe de 1 a 4 e classe especial, sejam formados pelos padrões mais restritivos dentre todos os usos contemplados naquela classe. A Resolução CONAMA 357/2005 estabelece as classes de qualidade para as águas doces, salobras e salinas por meio de sua diretriz para o enquadramento dos corpos d água, alterado o art. 34 da Resolução pela Resolução CONAMA 397/2008, Resolução CNRH 91/2008 com procedimentos gerais para o enquadramento e Resolução CONAMA 396/2008 para enquadramento das águas subterrâneas. As águas de classe especial devem ter sua condição natural, não sendo aceito o lançamento de efluentes, mesmo que tratados. Para as demais classes, são admitidos níveis crescentes de poluição, sendo a classe 1 com os menores níveis e as classes 4 para águas-doces e 3 para águas salobras e salinas as com maiores níveis de poluição (Figura 2). Figura 2 - Classes de enquadramento e respectivos usos e qualidade da água. Fonte: ANA, 2012b. Esses níveis de poluição determinam os usos que são possíveis no corpo d água. Por exemplo, nas águas-doces de classe 4, os níveis de poluição permitem apenas os usos menos exigentes de navegação e harmonia paisagística, pois apresentam pior qualidade. Segundo o Portal da Qualidade das Águas (ANA, 2012b), a classe do enquadramento de um corpo d água deve ser definida em um pacto acordado pela sociedade, levando em conta as prioridades de uso da água. A discussão e o estabelecimento desse pacto ocorrem no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). O enquadramento é referência para os outros instrumentos de gestão de recursos hídricos (outorga e cobrança) e instrumentos de gestão ambiental (licenciamento e monitoramento), sendo, portanto, um importante elo entre o SINGREH e o Sistema Nacional de Meio Ambiente. Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 53

5 O Comitê de Bacias Hidrográficas De acordo com a legislação brasileira vigente, os Comitês de Bacias Hidrográficas possuem três fundamentos, eles devem ser descentralizados, participativos e integrados, isto é, têm que ser descentralizados, para que ocorra a gestão por Bacias Hidrográficas, participativo, por meio da atuação dos estados, municípios e sociedade civil, e integrado, levando-se em conta a qualidade e quantidade, os usuários, as águas superficiais e subterrâneas e seus usos, dentre outros. Para a gestão dessas bacias hidrográficas, utilizam-se de estratégias, por meio dos Planos de Bacias, das Diretrizes e Ações, da Avaliação Anual de Situação, dentro das perspectivas de custos e prazos. Comitê é o termo empregado para dar significado à comissão, à junta, à delegação, à reunião de pessoas para debater e executar a ação de interesse comum, e bacia hidrográfica é a região compreendida por um território e por diversos cursos d água. Da chuva que cai no interior da bacia, parte escoa pela superfície e parte se infiltra no solo. A água superficial escoa até um curso d água (rio principal) ou um sistema conectado de cursos d água afluentes; essas águas, normalmente, são descarregadas por meio de uma única foz (ou exutório) localizada no ponto mais baixo da região. Da parte que infiltrou, uma parcela escoa para os leitos dos rios, outra parcela é evaporada por meio da transpiração da vegetação e outra é armazenada no subsolo, compondo os aquíferos subterrâneos. Juntando os dois conceitos: Comitê de Bacias Hidrográficas (CBH) significa o fórum em que um grupo de pessoas se reúne para discutir sobre um interesse comum o uso d água na bacia (Agência Nacional de Águas, Brasil). Os Comitês de Bacias Hidrográficas são organismos colegiados que fazem parte do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos previstos na legislação e existem no Brasil desde 1988. Em 2009, o total de Comitês no país era de 149, sendo 141 estaduais e 8 interestaduais, conforme Figura 3 (ANA, 2009) e em 2011 finalizou o ano com 169 CBH instalados (ANA, 2012). Figura 3 - Evolução dos Comitês de Bacia Estaduais e Interestaduais. Fonte: ANA, 2009. Ainda segundo ANA (2012), a composição dos Comitês contribui para que todos os setores da sociedade com interesse sobre a água na bacia tenham representação, participação e poder de decisão sobre sua gestão. Os membros que compõem o colegiado são escolhidos entre seus pares, sejam eles dos diversos setores usuários de água, das organizações da sociedade civil ou dos poderes públicos. Suas principais competências são: aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia; arbitrar conflitos pelo uso da água, em primeira instância administrativa; estabelecer mecanismos e sugerir os valores da cobrança Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 54

pelo uso da água, entre outros. Cabe aos Comitês a realização dos Planos de Bacias, a definição dos valores da cobrança pelo uso das águas e onde aplicá-los, realizar o reenquadramento dos cursos d água, atribuir diretrizes, prioridades e critérios para as outorgas de direito de uso das águas, analisar em primeira instância os conflitos pelo uso das águas, definir o rateio de custos de obras hidráulicas, implantar a Agência de Água ou de Bacias, dentre outras. 6 O Comitê do PCJ O Comitê CBH-PCJ está inserido na segunda maior região populacional do Brasil (Figura 4), gerando, por esse motivo, conflitos pelo uso da água e degradação da qualidade dos recursos hídricos. Em termos hidrográficos, há sete unidades (Sub-bacias) principais, sendo cinco pertencentes ao Piracicaba (Piracicaba, Corumbataí, Jaguari, Camanducaia e Atibaia), além do Capivari e Jundiaí. Possui área de 15.303,67 km², sendo 92,6% no estado de São Paulo e 7,4% no estado de Minas Gerais (MG) e está situada entre os meridianos 46 e 49 O e latitudes 22 e 23,5 S, apresentando extensão aproximada de 300 km no sentido Leste-Oeste e 100 km no sentido Norte-Sul (COMITÊ PCJ, 2011). As Bacias PCJ, todas afluentes do Rio Tietê, estendem-se por 14.137,79 km2, sendo 11.402,84 km2 correspondentes à Bacia do Rio Piracicaba, 1.620,92 km2 à Bacia do Rio Capivari e 1.114,03 km2 à Bacia do Rio Jundiaí (COMITÊ PCJ, 2011). Esse CBH foi o primeiro comitê do estado de São Paulo, criado a partir da Lei 7.663, de 30 de dezembro de 1991 (SÃO PAULO, 1991). Há 76 municípios total ou parcialmente inseridos nas Bacias PCJ; 69 integram os Comitês PCJ, sendo 64 paulistas e 5 mineiros. Em 1991, a população total era de 3.560.345 e em 2010 era de 5.268.798, mesmo com a taxa média de crescimento populacional para o período decaindo, de 2,55% de 1991-2000 para 1,80% de 2000/2008 (COBRAPE, 2011), mesmo assim, em números absolutos, é considerado um aglomerado populacional extremamente significativo. Figura 4 - Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Fonte: Comitê PCJ (2012a). Segundo Jacobi e Barbi (2007), o CBH-PCJ foi o primeiro a ser instalado no país, em 1993, sendo apresentado como modelo organizacional para os demais comitês que surgiram depois e, em 2003, o Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 55

Comitê Federal das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ Federal) foi criado, com base na Lei 9.433/97, pois as bacias PCJ contam com rios de domínio federal. A composição dos Comitês de Bacias Hidrográficas é de 50 membros para o PCJ Federal; são 20 membros dos poderes públicos federal, estaduais e municipais (40%), 20 membros representantes dos usuários de recursos hídricos (40%) e 10 membros representantes de organizações civis (20%), segundo a Lei Federal 9433/97. Para o Comitê de Bacias Hidrográficas PCJ, são 51 membros, sendo 17 representantes de cada setor (1/3), segundo a Lei Estadual de São Paulo 7663/91; e para o Comitê de Bacias Hidrográficas PJ são 12 membros, sendo 3 representantes do governo do estado, 3 prefeitos, 3 representantes dos usuários e 3 representantes de organizações civis, segundo a Lei Estadual de Minas Gerais 13.199/99 (COMITÊ PCJ, 2012b). Na Figura 5, está representado o quadro de membros dos três Comitês presentes nos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, isto é, os Comitês Estaduais de Minas Gerais e de São Paulo e o Comitê Federal e, na Figura 6, está o organograma dos Comitês PCJ. Figura 5 - Integração dos Plenários dos Comitês PCJ (PCJ Federal, CBH-PCJ e CBH-PJ). Fonte: Comitês PCJ, 2012b Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 56

Figura 6 - Organograma dos Comitês PCJ. Fonte: Agência das Bacias PCJ, 2011. Tem-se que, na bacia hidrográfica do rio Piracicaba, os corpos d água estão enquadrados nas classes 1, 2, 3 e 4; na bacia hidrográfica do rio Capivari, os corpos d água estão enquadrados apenas nas classes 2 e 4; na bacia hidrográfica do rio Jundiaí, os corpos d água estão enquadrados nas classes 1, 2 e 4 (COMITÊ PCJ, 2012b), conforme Figura 7. Figura 7 - Enquadramento dos Corpos d Água. Fonte: Comitê PCJ, 2010b. Cabe ainda ressaltar que o trecho mineiro da bacia do Rio Jaguari, na ausência de legislação estadual pertinente, teve seus cursos d água enquadrados na classe 2, em acordo com o disposto no artigo 42 da Resolução nº 357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA. O estudo Bacia do Rio Piracicaba: estabelecimento de metas ambientais e reenquadramento dos corpos d água, concluído em setembro de 1994 pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 57

(SMA, 1994), apresentou alternativas de reenquadramento para os cursos d água da bacia do rio Piracicaba, seguindo as diretrizes da Resolução CONAMA nº 20, que se fazia vigente quando da elaboração do documento. Ponderou-se que não se podia pensar o reenquadramento isoladamente enquanto instrumento de decreto. Foi adotada como unidade de planejamento uma proposta de subdivisão da bacia do Piracicaba em compartimentos ambientais, que eram trechos de sub-bacia que guardavam certa homogeneidade em termos de uso do solo e água. Foram estabelecidos vários cenários de metas no que diz respeito tanto à demanda quanto à qualidade. Os corpos d água da bacia do rio Piracicaba foram agrupados em 5 categorias (grupos) de acordo com o seu potencial para o uso (vigente e futuro), bem como com as características da sua localização, além de considerar o enquadramento estabelecido pela legislação. 7 Os Planos de Bacia Hidrográfica do PCJ O Plano de Recursos Hídricos é um dos instrumentos da Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei 9.433/97), assim como das legislações dos estados dos quais fazem parte a região PCJ: São Paulo (Lei 7.663/91) e Minas Gerais (Lei 13.199/99). Pela legislação federal, os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos. São planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e serão elaborados por bacia hidrográfica por meio dos Comitês de Bacias Hidrográficas, por estado pelo Plano Estadual de Recursos Hídricos e para o país pelo Plano Federal de Recursos Hídricos. A Lei nº 7.663, de 30 de dezembro de 1991, que estabelece normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Estado de São Paulo, define Plano de Recursos Hídricos e Planos de Bacias. E diz que: Art. 16: O Estado instituirá, por lei, com atualizações periódicas, o Plano Estadual de Recursos Hídricos PERH tomando por base os planos de bacias hidrográficas, nas normas relativas à proteção do meio ambiente, as diretrizes do planejamento e gerenciamento ambientais e conterá, dentre outros, os seguintes elementos: (...) A Lei Estadual Mineira nº 13.199, de janeiro de 1999, define os Planos Diretores de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas PDRH como o primeiro instrumento de gestão das águas de uma bacia, uma vez que eles devem fornecer orientações para a implementação dos demais instrumentos de gestão. Alguns pontos serão destacados das conclusões do Plano de Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí de 2010 a 2020 realizado pela COBRAPE (COMITÊ PCJ, 2010b), conforme descritos abaixo: O plano foi construído com base num Sistema de Suporte à Decisão (SSD PCJq) que simula parâmetros de qualidade aliado a um programa que desenvolve diferentes cenários. Os principais problemas apontados foram a acentuada carga poluidora orgânica decorrente de lançamento de esgotos urbanos, a baixa disponibilidade de água e a complexidade dos usos existentes. Como prognóstico, o comitê optou por iniciar o processo de melhoria para os parâmetros DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e OD (Oxigênio Dissolvido), os quais estão intimamente relacionados ao problema da poluição. O planejamento deverá ser contínuo, com revisões periodicamente, para dar subsídio a monitoramento, simulações e análise de investimentos. Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 58

O crescimento das demandas urbanas e industriais no Setor Central das Bacias PCJ poderá exigir o aumento de vazões regularizadas, por isso a importância do planejamento para que não ocorra o comprometimento em curto prazo do desenvolvimento desta região. O recurso deverá ser otimizado, principalmente, na região central da Bacia, isto é, região metropolitana de Campinas e também na Bacia do Rio Jundiaí. As alternativas deverão ser a curto e longo prazo e com abrangência espacial ultrapassando os limites dos municípios. A porção a montante da Bacia foi considerada como produtora de água e deve ser priorizada no controle da poluição e ordenamento territorial. O Sistema Cantareira responsável pelo abastecimento de grande parte da população das bacias PCJ e da Região Metropolitana de São Paulo (através de transposição entre bacias hidrográficas) deverá ser gerenciada para estabelecimento de medidas de proteção e conservação, sendo considerada como questão estratégica desse plano. O plano apontou trechos críticos com déficit de disponibilidade e desconformidade de qualidade frente ao enquadramento desse recurso, assim como ações para o atendimento da qualidade desejada. Esses dados são imprescindíveis para a discussão sobre outorga e licença de novos empreendimentos e renovação dos já existentes. Houve apontamento de implantação de medidas restritivas de uso e ocupação urbana para se alcançar as metas de recuperação da qualidade das águas compatíveis com os usos pretendidos nos trechos críticos. Houve levantamento de zonas ou conjunto de zonas de maior criticidade em relação à quantidade e qualidade a serem individualizadas para que possa ocorrer diferenciação de valores pela cobrança pelo uso da água. Considera-se o Plano de Bacia sempre em elaboração, para melhorar os sistemas de monitoramento e de informações e, desse modo, melhorar as condições de confiabilidade com o intuito de apoio à gestão e benefício de futuros ciclos de planejamento. Foi instalada a sala de situação como um marco no avanço do sistema de informações existentes e, com um gerenciamento específico para a implementação da unidade de gestão, possibilitará criar ambiente adequado para o aprimoramento do Programa de Efetivação do Enquadramento. Levando-se em conta a limitação de informações disponíveis, os comitês PCJ consideram que essa metodologia deverá desencadear um processo de planejamento contínuo na gestão dos recursos hídricos. Esse plano apresenta propostas para sua implementação tidas como necessárias para que ocorra o aprofundamento do Programa de Efetivação. De acordo com os dados apresentados no referido Plano de Bacia, tem-se ideia clara dos problemas enfrentados como prioritários e suas consequências. Segundo o Relatório de Situação (COBRAPE, 2011), o problema de gerenciamento do Plano é que não ocorre uma estrutura ou uma coordenação específica para a implementação do Plano de Bacia, sendo diluída essa responsabilidade na Secretaria Executiva, Câmaras Técnicas e Agência de Bacia. Os tomadores de recursos apresentam dificuldades com documentações técnicas e legais, principalmente as prefeituras, comprometendo, dessa forma, a implementação dos Programas e Ações, os quais sempre ficam mais concentrados nos municípios institucionalmente mais capazes e não necessariamente os que mais necessitam de melhorias urgentes em quantidade e qualidade em direção às metas significativas, além da dificuldade em promover uma articulação maior entre os municípios envolvidos de modo que Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 59

ocorra uma articulação em conjunto para o planejamento e execução de políticas de uso e ocupação do solo. 8 Conclusão O sistema jurídico sobre recursos hídricos possibilita uma análise por meio da elaboração de Planos de Bacias Hidrográficas regionais pelos Comitês de Bacias Hidrográficas de um determinado estado e, após a junção de todos esses Planos de Bacias, ocorre a elaboração de um Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH) único, o qual leva em conta os apontamentos e sugestões de todas essas análises de bacias de um determinado estado. Dessa maneira, o gerenciamento do recurso hídrico considera todas as particularidades de cada Comitê de Bacia e é elaborado na escala regional para depois ser utilizado na estadual e aí na construção da nacional, refletindo uma maior realidade dos dados divulgados. O Plano das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí para os anos de 2010 a 2020 foi elaborado pela primeira vez por meio de um Sistema de Suporte à Decisão, o qual permitiu criar cenários futuros de curto, médio e longo prazo e analisar os dados em conjunto, apresentando-se como uma ferramenta útil para o planejamento e o monitoramento dos corpos d água. Os Comitês PCJ apresentam como desafios maiores a qualidade da água comprometida pelo lançamento de matéria orgânica sem tratamento pelo esgoto in natura, o número cada vez maior da população nessa região, causando um déficit hídrico pela disponibilidade hídrica por habitante e a complexidade dos usos desse recurso nessa bacia hidrográfica. Conclui-se que o Plano de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí é de vital importância para a gestão dos recursos hídricos e para uma ampla visão dos problemas e melhorias ocorridas nessas respectivas bacias hidrográficas. 9 Referências bibliográficas AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ. Relatório sobre a execução do Contrato de Gestão nº 003/ANA/2011. Dez. 2011. ANA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Enquadramento dos corpos d água. 2012a. Disponível em: <http://www2.ana.gov.br/paginas/servicos/planejamento/planejamentorh_enquadramento.aspx>. Acesso em: 03 maio 2012.. Portal da Qualidade das Águas, 2012b. Disponível em: <http://pnqa.ana.gov.br/padres/enquadramento_basesconceituais.aspx>. Acesso em: 25 abr. 2012.. Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil. 2009. Disponível em: <http://conjuntura.ana.gov.br/conjuntura/grh_ceab.htm>. Acesso em: 03 maio 2012.. Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil. Informe 2012. Edição Especial. Brasília, 2012c. 215 p.. Disponibilidade e demandas de recursos hídricos no Brasil. Brasília: ANA, 2007.. O Comitê de Bacia Hidrográfica: o que é e o que faz? Brasília: SAG, 2011. BRAGA, B. P. F. et al. Pacto federativo e gestão de águas. Estudos Avançados, São Paulo, v. 22, n. 63, p. 17-42, 2008. BRASIL. Lei Nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasil, 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm>. Acesso em: 22 ago. 2013. COBRAPE. Plano das bacias hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí 2010 a 2020 Relatório Síntese. Cobrape, 2011. Revista das Faculdades Integradas Claretianas Nº6 janeiro/dezembro de 2013 60

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