Tribunal de Contas da União Representante do Ministério Público: LUCAS ROCHA FURTADO; Dados Materiais: (com 02 volumes) Assunto: Recurso de Revisão Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial de responsabilidade do Sr. José Maria Muniz de Castro, ex-prefeito Municipal de Iranduba - AM, instaurada em razão da omissão no dever de prestar contas dos recursos repassados por meio de Convênio nº 031/88, no valor de NCz$ 5.066,52, em 26.09.89. Considerando que na Sessão de 23.04.98 (Acórdão nº 140/98-TCU-2ª Câmara), as contas do responsável foram julgadas irregulares com fulcro nos arts. 1º, I, e 16, III, a, da Lei nº 8.443/92; Considerando que, ciente da decisão, o responsável interpôs recurso de reconsideração, ao qual a 2ª Câmara negou provimento, tendo em vista que o recorrente não logrou justificar a omissão no dever de prestar contas dos referidos recursos (Acórdão nº 252/2000-TCU-2ª Câmara); Considerando que inconformado o responsável interpôs recurso de revisão contra o Acórdão nº 252/2000-TCU-2ª Câmara; Considerando que o recurso de revisão preenche os requisitos de admissibilidade previstos nos art. art. 35, caput e inciso III, da Lei nº 8.443/92; Considerando que os novos elementos juntados aos autos pelo recorrente não são suficientes para sanear ou justificar a omissão no dever de prestar contas; Considerando os pareceres uniformes da Serur e do Ministério Público junto a esta Corte ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, com fulcro nos arts. 31, 32, III, 35, caput e inciso III, da Lei nº 8.443/92, em: a) conhecer do presente recurso de revisão e no mérito negar-lhe provimento, mantendo-se os exatos termos do acórdão recorrido;
Colegiado: Plenário Classe: Classe I Sumário: Recurso de Revisão contra acórdão que manteve a irregularidade das contas do responsável, tendo em vista a omissão no dever de prestar contas. Novos elementos insuficientes para sanear ou justificar a não prestação de contas dos recursos relativos ao Convênio nº 031/88, celebrado com a extinta Fundação Educar. Recurso conhecido e negado provimento. Manutenção do acórdão recorrido. Ciência ao recorrente. Natureza: Recurso de Revisão Data da Sessão: 17/10/2001 Relatório do Ministro Relator: Adoto como relatório a instrução da lavra do AFCE Cláudio Neves Almeida, que foi acolhida pelos dirigentes da Secretaria de Recursos - Serur e pelo Ministério Público junto ao TCU. Trata-se de recurso de revisão interposto por José Maria Muniz de Castro, Prefeito Municipal de Iranduba - AM, contra o Acórdão nº 252/00-2ª Câmara (volume 1, fls. 17), que, em recurso de reconsideração, manteve o disposto no Acórdão nº 140/98-2ª Câmara (v. p., fls. 62), no sentido de decre-tar a irregularidade das contas do Convênio nº 310710, celebrado entre o Ministério da Educação e aquele Município, no valor de NCz$ 5.066,52 (cinco mil, sessenta e seis cruzados novos e cinqüenta e dois centavos), tendo por fim atender despesas com o reajuste do Convênio nº 031/88. I. HISTÓRICO 2. O Convênio nº 031/88 foi celebrado entre a Prefeitura de Iranduba e a Fundação Educar, visando promover ações educativas (volume principal, fls. 14). Os recursos referentes ao reajuste foram transferidos em 26/09/89 (v. p., fls. 15). 3. Em inspeção realizada por auditores do Tribunal de Contas dos Municípios do Amazonas - TCM/AM, constatou-se que os recursos repassados pela Fundação Educar foram utilizados
em desacordo com os objetivos pactuados, o que motivou aquela Corte a formular denúncia ao TCU visando à apuração dessa irregularidade. A SECEX/AM, a quem coube esse encargo, não pôde, no entanto, confirmar o desvio de finalidade. Mas pôde verificar que a Prefeitura se achava omissa na prestação de contas. Em face disso, deliberou o TCU determinar ao Controle Interno do Ministério da Educação que instaurasse tomada de contas especial, caso comprovada a omissão (Decisão nº 171/95 - Plenário, v. p., fls. 04). 4. Embora o responsável continuasse omisso no dever de prestar contas, a Prefeitura de Iranduba, com recursos próprios, recolheu, em 23/06/97, o valor do débito, com os devidos acréscimos legais (v. p., fls. 42). O Controle Interno, então, resolveu suspender a inadimplência da Prefeitura no SIAFI, considerando mesmo assim irregulares as contas (v. p., fls. 48). 5. Já no TCU, o responsável foi regularmente citado (v. p., fls. 54), tendo permanecido silente. Por conseqüência, suas contas foram proclamadas irregulares pelo Acórdão nº 140/98-2ª Câmara, na sessão de 23/04/98 (v. p., fls. 62), com base no art. 16, III, a, da Lei Orgânica, embora tenha sido dada quitação do débito à Prefeitura de Iranduba. O Tribunal houve por bem não aplicar ao responsável multa que havia sido sugerida pelo Ministério Público. 6. Inconformado, o responsável interpôs recurso, nomeado como recurso de revisão (vol. 1, fls. 01/02). Embora conhecido pelo TCU, como recurso de reconsideração, o recurso foi denegado, por não infirmar a omissão na prestação de contas (Acórdão nº 252/00-2ª Câmara, sessão de 04/05/00, vol. 1, fls. 17). 7. Ainda inconformado, o responsável apresentou o presente recurso de revisão (fls. 02/06), acompanhado de documentação (fls. 07/30), que analisaremos nos tópicos a seguir. II. ADMISSIBILIDADE 8. O presente recurso atende aos requisitos de singularidade e de legitimidade, por tratar-se do primeiro recurso de revisão interposto nos autos e por ter sido subscrito pelo Prefeito responsável pelas contas impugnadas. Também é tempestivo, pois o acórdão recorrido, nº 252/00-2ª Câmara, foi publicado no D.O.U. em 17/05/00 e o recurso foi protocolado em 19/06/00 (fls. 02), pouco mais de um mês depois. 9. Resta considerar o problema dos requisitos específicos do recurso de revisão. O recorrente invoca como fundamento para o recurso o inciso II do art. 236 do Regimento Interno, referente à falsidade ou insuficiência de documentos em que se tenha fundamentado o Acórdão recorrido. Não nos parece, contudo, que seja essa a hipótese
apropriada. Tal como no art. 485, inciso IX, do Código de Processo Civil, que menciona como passível de rescisão a sentença fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa, a previsão do inciso II refere-se a erro do julgador que seja aferível pelo exame das provas já constantes dos autos da ação matriz, sendo inadmissível a produção (...) de novas provas para demonstrá-lo (Código de Processo Civil Comentado, Nelson Nery Jr. e Rosa Maria A. Nery, 4ª ed., 1999, p. 944). 10. Ora, como o recorrente traz alguns documentos que não constavam dos autos, essenciais à sua argumentação, parece-nos que o fundamento mais correto, em tese, seria o inciso III do referido artigo do Regimento Interno, idêntico ao inciso de mesmo número do art. 35 da Lei Orgânica: superveniência de documentos novos com eficácia sobre a prova produzida, e correspondente ao inciso VII do art. 485 do CPC, que se refere ao caso em que depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável. 11. Como é razoável admitir que o recorrente não tenha podido fazer uso em ocasião anterior dos documentos ora apresentados e como aqueles referentes à renúncia ao mandato poderiam, em tese, ter o efeito de transferir a responsabilidade pela prestação de contas a seu sucessor, consideramos que o recurso deve ser conhecido, configurando-se a hipótese prevista no inciso III do art. 35 da Lei Orgânica. III. MÉRITO 12. O recorrente alega que renunciou em 02/04/89 (sic), passando então a ser de seu sucessor a responsabilidade de prestar contas, já que este passou a deter a documentação pertinente. Apresenta os termos de posse e de renúncia como comprovação dessa alegação (fls. 07/11). 12.1. Como os recursos foram transferidos em 26/09/89, como visto acima, o recorrente esteve ainda por seis meses à frente da Prefeitura até sua renúncia, em 02/04/90, tempo suficiente para que tivesse providenciado a prestação de contas, ainda mais considerando que se tratava apenas de um reajuste de convênio celebrado anteriormente. O próprio recorrente admite tal fato, ao declarar que as contas efetivamente não foram espontaneamente apresentadas no tempo devido (fls. 05). A responsabilidade do recorrente, que foi signatário do convênio e gestor dos recursos repassados, é inafastável, não tendo cabimento a pretensão de lançá-la sobre seu sucessor. 13. O recorrente menciona a extinção da Fundação Educar e reclama por só ter sido notificado em 1997, oito anos depois da transferência dos recursos. Esse prolongado intervalo teria tornado impossível obter a documentação necessária à prestação de contas.
Menciona também o fato de que a obrigação de guardar documentos de convênios só se estende por cinco anos. 13.1. Como vimos no item anterior, a omissão na prestação de contas, na verdade, deveu-se unicamente à negligência do recorrente em providenciar a prestação de contas no devido tempo, o que estava perfeitamente a seu alcance. Além disso, não havia, à época da celebração do presente convênio, nenhum dispositivo legal ou regulamentar estabelecendo o prazo de cinco anos para a guarda da documentação de convênios, que só viria a ser estabelecido com a edição da Instrução Normativa nº 03, de 27 de dezembro de 1990, da Secretaria da Fazenda Nacional (item 29). O Decreto 93.872/86 men-cionava o referido prazo (art. 66, 2º), mas com respeito unicamente a subvenções e auxílios. Não havia, portanto, nem a obrigatoriedade de guarda de documentos durante o prazo de cinco anos nem a dispensa dessa obrigação decorrido este prazo. 14. O recorrente anexa documentos (fls. 17/20) para demonstrar que os recursos utilizados para o recolhimento do débito foram seus e não da Prefeitura. Declara que efetuou a devolução somente por não ser mais possível obter os documentos para a prestação de contas. Considera, enfim, que o recolhimento sanou as irregularidades observadas. 14.1. Os documentos apresentados correspondem a demonstrativos da receita arrecadada da Prefeitura de Iranduba no ano de 1997, em especial do mês de junho, que foi quando se deu o recolhimento do débito. O recorrente não esclarece porque considera que esses demonstrativos comprovam o fato alegado. Com efeito, são destacados alguns valores referentes a indenizações e restituições, nenhum deles coincidente com o valor do recolhimento, querendo dizer, talvez, que o pagamento efetuado pela Prefeitura se deu com recursos arrecadados do Prefeito. Ocorre, no entanto, que o recorrente, em documento encaminhado ao TCE/AM, declara que o recolhimento não havia sido empenhado e não constava do extrato bancário do Município (fls. 30), e que teria havido um lapso no preenchimento do DARF, fazendo constar o nome da Prefeitura e não do Prefeito. 14.2. O recorrente parece hesitar, portanto, entre dizer que o pagamento foi feito pela Prefeitura mas com recursos arrecadados do Prefeito ou que foi feito diretamente por este, mas atribuído erroneamente àquela. De todo modo, nenhuma das duas versões é comprovada nos autos, pois os valores das indenizações e restituições não coincidem com o valor do recolhimento e não foi anexado o extrato bancário para mostrar que o recolhimento efetivamente dele não consta. Nunca é demais lembrar, aliás, que a prova do recolhimento pelo Prefeito nenhum efeito teria sobre sua condenação, pois persiste o fato de que foi omisso no dever, inscrito na própria Constituição, de prestar contas. A omissão na prestação de contas e o desvio de recursos públicos são condutas que a lei sanciona por si mesmas, independentemente de ter sido sanado o prejuízo causado ao Erário. Por esse
motivo, é pacífico na jurisprudência deste Tribunal que o simples recolhimento do débito não tem o efeito de sanar a irregularidade das contas. 15. O recorrente também faz considerações sobre o parecer técnico, aceito unicamente por gozar de fé pública, embora não estivesse baseado em quaisquer indícios ou documentação. Com base nesse parecer, o recorrente teria sido acusado de ter recolhido os valores com dinheiro público, um crime que jamais teria cometido. Reforça essa argumentação mencionando que suas contas tiveram parecer prévio do TCE/AM pela aprovação. 15.1. As afirmações são absolutamente impertinentes, pois o recorrente não é acusado, no presente processo, de desvio de recursos públicos ou locupletamento, mas unicamente de omissão na prestação de contas, como fartamente mencionado acima. Quanto ao TCE/AM, trata-se de instância inteiramente diversa, que verifica a aplicação de recursos distintos dos fiscalizados pelo TCU. Seus pronunciamentos, portanto, em nada vinculam este Tribunal. Ademais, o recorrente não anexou prova do parecer favorável que menciona. 16. A presente análise permite concluir que, sem sombra de dúvida, persiste a omissão do recorrente em prestar contas dos recursos que lhe foram repassados por via do convênio ora em exame, recomendando-se, pois, a manutenção do julgamento pela irregularidade das respectivas contas. IV. CONCLUSÃO 17. Diante do exposto, submetemos os autos à consideração superior, propondo: a) conhecer o presente recurso de revisão, com fundamento nos arts. 31, 32, inciso III, 35, caput e inciso III, da Lei n 8.443/92; b) no mérito, negar-lhe provimento, mantendo-se os exatos termos do acórdão recorrido; Voto do Ministro Relator: Conforme assinalado pela Unidade Técnica, o presente recurso preenche os requisitos de admissibilidade previstos no art. 35, caput e inciso III, da Lei nº 8.443/92, devendo portanto ser conhecido por esta Corte. 2.Quando ao mérito acolho as manifestações uniformes da Serur, endossadas pelo Ministério Público, uma vez que os novos elementos apresentados pelo recorrente não são suficientes para sanar ou justificar a ocorrência que ensejou a irregularidade das contas do responsável, ou seja a omissão no dever de prestar contas dos recursos recebidos da
extinta Fundação Educar, em 26.09.89, para promover ações educativas. 3.Observo que, de acordo com documentos constantes do volume principal, o prazo final para apresentação da prestação de contas dos recursos recebidos da Fundação Educar expirou em 31.12.89, três meses antes da renúncia do recorrente ao cargo de Prefeito do Município de Iranduba - AM (ocorrida em 02.04.90). Assim, o responsável teve prazo suficiente para apresentar a respectiva prestação de contas à entidade repassadora, não tendo, contudo, cumprido tal dever, conforme confirmado pelo ex-prefeito no presente recurso. 4.Não restou comprovado também que a devolução dos recursos transferidos, acrescidos dos encargos legais, ao Tesouro Nacional, realizado em 23.06.97, tenha sido efetivada com recursos próprios do ex-prefeito, pois as informações constantes do Documento de Arrecadação de Receitas Federais - DARF anexado ao processo indicam que o ressarcimento ocorreu com recursos do Município. Ante o exposto e de acordo com os pareceres, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado. T.C.U., Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 17 de outubro de 2001. UBIRATAN AGUIAR Interessados: Responsável: José Maria Muniz de Castro - ex-prefeito Grupo: Grupo I Indexação: Tomada de Contas Especial; Convênio; EDUCAR; Prefeitura Municipal; Iranduba AM; Omissão; Prestação de Contas; Recurso de Revisão; Data da Aprovação: 24/10/2001 Unidade Técnica: SERUR - Secretaria de Recursos;
Quorum: Ministros presentes: Humberto Guimarães Souto (Presidente), Iram Saraiva, Adylson Motta, Walton Alencar Rodrigues, Guilherme Palmeira, Ubiratan Aguiar (Relator), Benjamin Zymler e os Ministros-Substitutos Lincoln Magalhães da Rocha e Augusto Sherman Cavalcanti. Ementa: Tomada de Contas Especial. Convênio. Fundação EDUCAR. Prefeitura Municipal de Iranduba AM. Recurso de revisão contra acórdão que julgou as contas irregulares e em débito o responsável ante a omissão na prestação de contas. Novos elementos insuficientes para sanear ou justificar a omissão no dever de prestar contas. Conhecimento. Negado provimento. Data DOU: 26/10/2001 Número da Ata: 46/2001 Entidade: Entidade : Município de Iranduba - AM Processo: 225.212/1997-8 Ministro Relator: UBIRATAN AGUIAR;