Nota Técnica. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA



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Transcrição:

Nota Técnica Cenários para Exportação de Etanol para os EUA

GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA MME/SPE MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA MMEE Ministério de Minas e Energia Ministro Edson Lobão Secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis Marco Antônio Martins Almeida Nota Técnica Cenários para Exportação de Etanol para os EUA Diretor do Departamento de Combustiveis Renovaveis Ricardo de Gusmão Dornelles. Empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, instituída nos termos da Lei n 10.847, de 15 de março de 2004, a EPE tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e eficiência energética, dentre outras. Presidente Mauricio Tiomno Tolmasquim Diretor de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustível Elson Ronaldo Nunes Superintendente de Derivados de Petróleo e Biocombustíveis Ricardo Nascimento e Silva do Valle Coordenação Técnica Frederico Ventorim Elaboradores André Borges Landim Antonio Carlos Santos Euler João Geraldo da Silva Leônidas Bially Olegario dos Santos Pedro Ninô de Carvalho Rafael Barros Araujo URL: http://www.epe.gov.br Sede SAN Quadra 1 Bloco B Sala 100-A 70041-903 - Brasília DF Escritório Central Av. Rio Branco, 01 11º Andar 20090-003 - Rio de Janeiro RJ EPE-DPG/2010 Data: 03 de março de2010 N o Cenários para Exportação de Etanol para os EUA i

ÍNDICE 1. OBJETIVO... 1 2. EISA E EPA... 1 3. CENÁRIOS... 4 3.1. CENÁRIO I... 4 3.2. CENÁRIO II... 5 3.3. CENÁRIO III... 6 4. ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DE ATENDIMENTO AOS CENÁRIOS 8 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 14 Cenários para Exportação de Etanol para os EUA ii

1. Objetivo O objetivo deste estudo é elaborar cenários de exportação brasileira de etanol para os EUA, tendo em vista a decisão da Environmental Protection Agency - EPA de 04/02/2010, que definiu o etanol de cana-de-açúcar como biocombustível avançado (capaz de reduzir 61% das emissões de GEEs), baseada nos dispositivos estabelecidos pela Energy Independence and Security Act of 2007 - EISA. O foco deste estudo é de curto a médio prazo, entre 2010 e 2014, período em que as metas americanas (EISA) já estabelecem um consumo de volumes expressivos de biocombustíveis avançados. O Plano Decenal de Energia 2010-2019, recém elaborado pela EPE, não contempla esta decisão, visto que foi finalizado em data anterior à ocorrência deste fato. Com isso, todos os volumes de etanol projetados no PDE serão mantidos no presente estudo, exceto a parcela de etanol a ser exportado para os EUA. Para esta, serão realizados três cenários, assim como será avaliada a capacidade do setor sucroalcooleiro de atendimento a essa demanda adicional. É importante mencionar que essa Nota Técnica é resultado de discussões, ainda em desenvolvimento, sobre os cenários qualitativos que embasarão o próximo Plano Decenal de Energia 2020 e, ainda, o Plano Nacional de Energia 2035. 2. EISA e EPA Em 19 de dezembro de 2007, foi aprovada a lei Energy Independence and Security Act of 2007 EISA. Seu objetivo principal é promover a independência e segurança energética dos Estados Unidos, seja pelo uso de fontes renováveis de energia, seja pela melhoria do rendimento de produtos, edificações e veículos e pela proteção dos consumidores, dentre outros. O estabelecimento de um mercado interno de biocombustíveis é uma das estratégias da lei para aumentar a independência energética, principalmente em relação aos combustíveis fósseis. A lei apresenta diversos programas de incentivo à promoção do uso de energias renováveis, desde o fomento à produção de biocombustíveis ao estabelecimento da infra-estrutura necessária ao mercado. A EISA estabelece metas de consumo de combustíveis renováveis ao longo do período de 2006 a 2022 [Gráfico 1]. Dos volumes estipulados de combustível renovável, uma parcela deverá ser oriunda de processos tecnológicos avançados. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 1

Segundo a lei, os biocombustíveis avançados são todos aqueles oriundos de biomassa, exceto o etanol produzido do amido de milho, nos quais sua utilização resulte em emissões de gases de efeito estufa (GEE) que sejam no mínimo 50% menores que os emitidos quando da utilização do combustível fóssil a ser substituído, níveis estabelecidos pelo Environmental Protection Agency EPA [4]. O volume de biocombustíveis avançados contempla uma parcela de celulósicos e outra de etanol de cana-de-açúcaraçúcar e biodiesel, dentre outros. Gráfico 1 Metas de consumo de combustíveis renováveis, estabelecidas pelo EISA Fonte:EISA [5] Para o ano de 2014, foco desse estudo, os volumes estabelecidos pelo EISA são de 68,7 bilhões de litros de combustíveis renováveis, sendo que 14,2 bilhões são de combustíveis avançados e o restante de etanol de milho. Dos 14,2 bilhões de litros de avançados, 6,6 bilhões de litros são de biocombustíveis celulósicos [Figura 1]. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 2

Figura 1 Metas de consumo de biocombustíveis renováveis, avançados e celulósicos conforme EISA Fonte: EISA [5] Apesar do PDE 2010-20192019 abordar a EISA, as projeções de exportação de etanol brasileiro para os Estados Unidos foram conservadoras, assumindo-smanteria suas políticas de protecionismo, conforme apresentado no Gráfico que este país 2. Gráfico 2 Projeções de exportação de etanol PDE 2019 Fonte: Elaboração EPE a partir de EIA [3], F.O.Licht [7], Petrobras [10] Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 3

Recentemente, em 4 de fevereiro de 2010, a EPA reconheceu que o etanol de cana é um combustível avançado, alcançando uma redução de emissões de GEEs de 61%. Com esta decisão, poderão surgir oportunidades de aumento dos volumes exportados pelo Brasil, que dependeriam de várias condicionantes, conforme os cenários a seguir. Nestes, variam-se os volumes exportados para os Estados Unidos, mantendo as quantidades exportadas para os demais mercados idênticas àquelas explicitadas no PDE. 3. Cenários 3.1. Cenário I Neste cenário, os Estados Unidos não produziriam os volumes requeridos para biocombustíveis avançados (etanol de celulose, biodiesel e outros) estabelecidos pelo EISA, em 2014, devendo atendê-los totalmente pela importação. O Brasil manter-se-ia como o principal produtor mundial de etanol e fornecedor do biocombustível para os Estados Unidos, seja por exportação direta ou via CBI. Assim, seriam demandados pelos EUA 14,2 bilhões de litros em 2014 [Gráfico 3], muito além dos 0,46 bilhão de litros previstos no PDE. Gráfico 3 Exportações Brasileiras. Cenário I Fonte: Elaboração EPE a partir de EIA [3], EISA [5], F.O.Licht [7], Petrobras [10] Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 4

3.2. Cenário II Os Estados Unidos conseguiriam atender às metas de biocombustíveis celulósicos (6,6 bilhões de litros em 2014), mas não teriam capacidade de atender ao restante demandado de combustíveis avançados. Logo, necessitariam importar 7,6 bilhões de litros de etanol de cana do Brasil em 2014 [Gráfico 4], representando um acréscimo de cerca de 7 bilhões de litros acima do previsto no PDE. Gráfico 4 Exportações Brasileiras. Cenário II Fonte: Elaboração EPE a partir de EIA [3], EISA [5], F.O.Licht [7], Petrobras [10] Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 5

3.3. Cenário III Os Estados Unidos teriam capacidade de atender à demanda de combustíveis celulósicos e cinquenta por cento (50%) do restante da demanda de combustíveis avançados. O resto seria atendido pela importação do etanol de cana brasileiro. Nessas condições, o Brasil exportaria um volume total de 3,8 bilhões de litros para aquele país [Gráfico 5] em 2014, ainda assim, bem superior aos cerca de 0,5 bilhão de litros estimados no PDE. Gráfico 5 Exportações Brasileiras. Cenário III Fonte: Elaboração EPE a partir de EIA [3], EISA [5], F.O.Licht [7], Petrobras [10] Comentários sobre os três cenários: Os cenários I e II se contrapõem aos objetivos explicitados no EISA de utilização de fontes energéticas produzidas pelos EUA, visando a segurança e independência energética do país. Neste sentido, é de se considerar que os EUA têm grandes possibilidades de produzir etanol lignocelulósico e biodiesel para atender a estas metas. Os investimentos do governo norte-americano no desenvolvimento de biocombustíveis avançados somam cerca de US$ 1,3 bilhão desde 2002. As principais iniciativas Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 6

incluem a destinação de recursos para 19 biorrefinarias e parcerias com empresas de biotecnologia. Pode-se destacar também a criação, em 2009, do Biofuels Interagency Working Group, entidade que tem como objetivo principal a coordenação das atividades de pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis no país. Com relação ao biodiesel, os EUA possuem capacidade para produzir cerca de 10 bilhões de litros ao ano, desde 2009, segundo a National Biodiesel Board - NBB. Esta capacidade seria suficiente para o cumprimento da demanda específica de biocombustíveis avançados em 2014 (7,6 bilhões de litros). Como informação adicional, os EUA foram exportadores de biodiesel para a UE nos anos de 2008 e 2009. Assim, infere-se que estes cenários teriam muito baixa probabilidade de ocorrência. Quanto ao cenário III, mais realista, mesmo assim deve-se considerar que os EUA poderão manter políticas de proteção da indústria doméstica, em detrimento do etanol importado, visto que, conforme já mencionado, a capacidade produtiva de biodiesel é de 10 bilhões de litros e possui ociosidade de mais de 70%. Junte-se a isto o fato de que os EUA são os maiores produtores de soja do mundo, o que facilitaria seu uso como matéria-prima, mesmo que através de algum subsídio. Menciona-se que a lei de incentivo a produção de biodiesel nos EUA expirou em 31 de dezembro de 2009 mas foi reestabelecida em 10 de março de 2010, extendida até 31 de dezembro deste mesmo ano. Essa lei estabelece um incentivo de um dólar por galão de biodiesel misturado 1. A lei de incentivo à produção e mistura de etanol expira em dezembro de 2010, mas já existem movimentos para sua prorrogação, como aponta o documento escrito pela Renewables Fuel Association - RFA [11]. Além disso, vale ressaltar que a própria EISA prevê a revisão de suas metas, caso não haja a possibilidade de cumprimento das mesmas. 1 H.R.4213 - American Workers, State, and Business Relief Act of 2010. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 7

4. Estimativa da capacidade de atendimento aos cenários Como referência, são expostas a seguir, de forma resumida, as projeções de demanda e oferta de etanol constantes do PDE 2019. Gráfico 6 - Projeção da Demanda Total de Etanol PDE 2010-2019 70 64,0 1,7 60 9,9 Bilhões de Litros 50 40 33,7 1,4 3,4 30 47,0 1,7 6,3 39,0 52,4 Demanda Interna Carburante 29,0 20 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Fonte: Elaboração EPE a partir de BRASKEM [1], EIA [3], EISA [5], F.O.Licht [7], Petrobras [10] e SOLVAY [12] A demanda total exposta no gráfico acima refere-se à demanda brasileira de etanol carburante, à exportação prevista de etanol e à demanda brasileira para outros usos. No Brasil, a parcela mais importante da demanda de etanol é para uso como carburante em veículos leves, com ênfase nos veículos flex-fuel. A demanda não carburante concentra-se na produção de bebidas, cosméticos, produtos farmacêuticos e químicos, além de projetos de alcoolquímica, em fase de implantação. A parcela de exportação do etanol brasileiro corresponde ao Gráfico 2, já apresentado. O gráfico a seguir mostra o balanço de demanda e oferta de etanol para o período 2010-2012 segundo metodologia adotada no PDE 2019, a qual verifica os projetos anunciados de novas usinas. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 8

Gráfico 7 - Projeções de demanda total e produção de etanol até 2012 PDE 2010-2019 44 40 40,0 Bilhões de Litros 36 32 28 24 26,7 33,7 33,7 37,0 38,3 41,1 20 2009 2010 2011 2012 Projeção EPE de produção de etanol (usinas operando + implantação) Produção 2009 Demanda de Etanol Total EPE Fonte: elaboração EPE a partir de EPE, MAPA [8], UNICA [14] e UDOP [13] Ressalta-se que, para o período 2013/2019, os volumes de oferta passam a ser equivalentes aos da demanda total, de acordo com a metodologia adotada no PDE. A Tabela 1 mostra a quantidade de usinas novas que entram em operação anualmente até 2014, segundo o PDE. Tabela 1 Usinas previstas no PDE 2019 2010 2011 2012 2013 2014 20 7 3 9 12 Fonte: EPE a partir UNICA [14], UDOP [13], BRENCO [2] e ETH ODEBRECHT [9] Para se estimar a capacidade de oferta brasileira para o atendimento aos cenários propostos neste estudo, os quais possuem volumes acima daqueles do PDE, é necessária a análise da possibilidade de instalação de novas usinas e da expansão do plantio da cana-de-açúcar em montantes adicionais àqueles estimados no PDE 2019. Como o tempo necessário para a construção, implantação e operacionalização de uma usina é de, no mínimo, três anos, assumiu-se que as usinas adicionais começariam a produzir apenas a partir de 2014. Com base no ano de 2008, que registrou o maior número de usinas instaladas desde 2005, considerou-se que o máximo que o setor teria condições de instalar em 2014, seriam 30 novas usinas, incluindo as 12 já previstas no PDE (vide Tabela 1). Assumiu-se também que cada nova usina teria uma capacidade média de produção Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 9

de 280.000 m³ (de acordo com o PDE 2019) e produtividade industrial de 80 litros/toneladas de cana, sendo que, a cada ano, um terço de sua capacidade entraria em operação, até atingir o total. O Gráfico 8 compara a projeção de demanda total de etanol do PDE com as três demandas totais resultantes dos novos cenários de exportação para os EUA analisados neste estudo. O objetivo do gráfico é mostrar o impacto das exportações para os EUA nos três cenários distintos, com relação à demanda do PDE. Além disso, o gráfico ilustra a produção adicional de etanol que seria possível para o ano de 2014, em um esforço para atendimento a uma maior demanda dos EUA. Pode-se verificar que a produção adicional àquela do PDE seria insuficiente para atender à demanda total, em qualquer um dos três cenários. Gráfico 8 Demandas Totais de Etanol Brasileiro e oferta adicional Bilhões de Litros 65,0 60,0 55,0 50,0 45,0 40,0 35,0 30,0 33,7 37,0 40,0 43,6 2010 2011 2012 2013 2014 Demanda Total PDE Demanda Total (Cenário I) Demanda Total (Cenário III) 60,7 54,1 50,3 48,6 47,0 Prod. Adicional Demanda Total (Cenário II) Fonte: Elaboração EPE a partir de BRASKEM [1], EIA [3], EISA [5], F.O.Licht [7], Petrobras [10] e SOLVAY [12] O Gráfico 9 mostra os volumes de etanol que não poderiam ser atendidos por exportações brasileiras, considerando-se a oferta adicional do Brasil apresentada no gráfico anterior. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 10

Gráfico 9 Demanda americana de etanol não atendida pelo Brasil Bilhões de litros 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 2,9 2,5 0,9 4,6 3,7 1,6 10,1 7,3 6,3 5,4 2,6 3,0 12,1 5,4 1,7 0,0 2010 2011 2012 2013 2014 Cenário I Cenário II Cenário III Fonte: Elaboração EPE a partir de BRASKEM [1], EIA [3], EISA [5], F.O.Licht [7], Petrobras [10] e SOLVAY [12] A Tabela 2 apresenta a diferença entre os volumes de exportação para os EUA dos cenários e do PDE em 2014. Nesta tabela não consta a produção adicional. Tabela 2 Cana-de-Açúcar, Usinas e Áreas adicionais para atender aos cenários propostos Fonte: Etanol Adicional* Cana Açúcar Adicional (Milhões de tc) Cana Açúcar Total (Milhões de tc) Usinas necessárias adicionais em 2014 Hectares adicionais (Milhões) Cenário I 13,731 170 1.039 146 1,93 Cenário II 7,107 88 957 76 1,00 Cenário III 3,321 41 910 35 0,47 *Diferenças entre os volumes de etanol a serem exportado para os EUA em cada cenário e os previstos no PDE No cenário I, haveria a necessidade de 146 usinas adicionais em 2014 e 1,93 milhões de hectares de plantio de cana-de-açúcar. No cenário II, seriam necessárias 76 usinas adicionais e 1,0 milhão de hectares, enquanto que, no cenário III, seriam 35 usinas adicionais e 0,47 milhão de hectares. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 11

5. Considerações Finais A probabilidade de ocorrência dos três cenários analisados é baixa, porém, caso houvesse um choque de demanda externa, a produção brasileira não seria suficiente para suprir plenamente esta demanda, no período analisado. Com relação à demanda americana de biocombustíveis avançados descritas no EISA, deve-se ressaltar que: 1. Esta legislação foi criada devido a preocupações quanto à independência e segurança energéticas do país. Ela determina que ações sejam realizadas no sentido de manter protegida e ampliada a produção doméstica de biocombustíveis; 2. A meta de biocombustíveis avançados contempla lignocelulósicos, para os quais há investimentos maciços aplicados em desenvolvimento científicotecnológico; 3. Caso a produção de etanol avançado não atinja as metas pretendidas, a indústria de produção de biodiesel, cuja capacidade instalada é de 10 bilhões de litros anuais (dezembro, 2009), poderia suprir grande parte das necessidades. Conforme citado, a lei que garante o subsídio de um dólar por galão de biodiesel misturado ao diesel fóssil foi reestabelecida pelo congresso americano em 10 de março de 2010. Some-se a isso o fato de que os Estados Unidos são os maiores produtores de soja do mundo; 4. A própria EISA admite revisão das metas, caso estas se mostrem inatingíveis nos prazos estabelecidos ou antieconômicas. Estudo recente da PFC Energy sinaliza para a confirmação desta revisão; Com relação ao potencial de oferta brasileira de etanol para atendimento dos cenários propostos, observa-se que: 1. O horizonte analisado (2014) é exíguo para a implantação e operacionalização da quantidade de usinas necessárias e, em consequência, não haveria disponibilidade plena dos volumes requeridos pelos EUA; 2. Outros produtores de etanol, principalmente da América Central, possuem projetos em implantação e têm acordos comerciais com os Estados Unidos e poderiam suprir parte da demanda; Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 12

Apesar de o estudo analisar apenas as exportações para os EUA, alterações em outros mercados poderiam modificar a capacidade de atendimento aos cenários analisados. Exemplo disso seriam as alterações possíveis nos acordos comerciais sigilosos entre empresas brasileiras e japonesas. Assim, os volumes estimados no PDE 2019 e no presente estudo podem estar sujeitos a alterações. Cenários para Exportação de Etanol para os EUA 13

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