Pº R.P. 241/2008 SJC-CT- Acção proposta no âmbito do artº 205º CPEREF- Ordem de separação de determinado prédio da massa falida Cancelamento de hipotecas e penhoras Insuficiência do título. DELIBERAÇÃO Relatório O prédio da ficha nº 925.era um lote de terreno para construção, inscrito na respectiva matriz sob o artigo 3324, com registo de aquisição a favor de...ldª (insc. G-2 Ap. 23/120399). Pela Ap. 68/071299 foi efectuado um averbamento à descrição para dizer que estava em construção uma casa de cave, rés do chão, andar e anexos. Este prédio foi objecto do registo dos seguintes ónus e encargos : C-2 (Ap. 70/071299), hipoteca voluntária a favor (actualmente) de... S.A.; F-2 (Ap. 34/13012000), penhora a favor da Fazenda Nacional; F-3 (Ap. 37/26052000), penhora a favor da Fazenda Nacional; C-3 (Ap. 51 e 52/24052002), hipoteca legal a favor do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social; e F-4 (Ap. 130/15032005), apreensão em processo de falência. Pela Ap. 34/20070816 foi registada a aquisição do prédio a favor do ora recorrente Américo...e de Maria...pelo, divorciados, por acessão industrial imobiliária, tendo este registo sido oficiosamente rectificado em 11.11.2008 no sentido de que o direito pertence aos titulares na qualidade de contitulares do seu património comum. O título que serviu de base a este registo de aquisição foi uma certidão extraída dos autos de acção com processo sumário (art. 205º do CPEREF), instaurados por apenso aos autos de falência de..., Ldª (nº 398/03.9 do 1º Juízo do Tribunal do Comércio de...), contra os credores da falida e a massa falida representada pelo liquidatário judicial, onde se pediu que fosse reconhecido e declarado o A. e a sua mulher, Maria..., como proprietários em comum e partes iguais do bem imóvel descrito na C.R.P. de... com o número 00925, inscrito na respectiva matriz sob o artigo 3324, integrante da verba nº 26 do Apenso de Apreensão de Bens dos presentes autos e consequentemente, separado esse bem dos restantes bens da Massa Falida e restituído ao A. e à sua mulher como seus verdadeiros e únicos proprietários, e onde o Mmo Juiz proferiu 1
douta sentença em que, relatando que os credores foram citados por éditos para contestarem, mas não contestaram, bem como o liquidatário, e que os réus, devidamente citados para contestar, não contestaram, julgou, tendo em conta o art. 784º do C.P.C., a acção procedente e, em consequência, reconheceu o A. e mulher como proprietários do imóvel identificado na PI e verba nº 26 do auto de apreensão de bens e, em consequência, ordenou a separação da massa falida do mesmo e consequente restituição ao A. Pela Ap. 35/20070816 foi cancelado o registo F-4, de apreensão no processo de falência, ao que parece com base na mesma certidão anteriormente referida (na respectiva requisição não vem mencionado outro título). Pelas Aps. 42 a 45, inclusive, de 18 de Setembro de 2008, foram requisitados os seguintes registos: cancelamento do registo de hipoteca voluntária C-2 (Ap. 70/071299); cancelamento do registo de penhora F-2 (Ap. 34/13012000); cancelamento do registo de penhora F-3 (Ap. 37/26052000); e cancelamento do registo de hipoteca legal C-3 (Ap. 51 e 52/24052002). Para titular os peticionados registos foi junta uma certidão extraída dos mesmos autos de acção com processo sumário (art. 205º do CPEREF), de que apenas consta fotocópia do despacho de 2007.11.29, do seguinte teor: «Fls 61 e ss.: A verba em causa apenas foi apreendida para os autos, não se tendo procedido à venda. Deste modo, parece-nos que o único registo que podemos ordenar o cancelamento/levantamento é o da apreensão F4. Assim, Certifique o requerido na al. a) de fls 61 e ordeno o levantamento da apreensão em processo de falência registada pela Ap. 130/15032005 F4. Notifique». Os pedidos de registo foram recusados, sendo o despacho de recusa do seguinte teor: Recusado 2
Pedem-se registos de cancelamento das inscrições C 2, F 2, F 3 e C 3, que não se encontram titulados nos documentos apresentados. Na verdade, da decisão judicial junta apenas consta a determinação do cancelamento/levantamento da inscrição F 4, já se encontrando esta inscrição cancelada. Art.s 68º, 69º nº 1 al. b) C.R.P.. Do despacho de recusa vem interposto o presente recurso hierárquico, cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos. A Senhora Conservadora sustentou a recusa, em despacho cujos termos também aqui se dão por integralmente reproduzidos. O processo é o próprio, as partes legítimas, o recurso tempestivo, o recorrente está devidamente representado, e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito. A posição deste Conselho vai expressa na seguinte Deliberação 1- O despacho proferido em acção proposta ao abrigo do disposto no art. 205º do CPEREF (Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência) a qual foi julgada procedente, tendo sido ordenada a separação de determinado prédio da massa falida e a consequente restituição ao A. -, que tão somente ordenou o levantamento da apreensão do prédio para a massa falida, é título manifestamente insuficiente para o cancelamento de registos de hipotecas e de penhoras que incidem sobre esse prédio e em que o falido assume a posição de sujeito passivo, pelo que, considerando exclusivamente tal título, deveriam ser recusados os pedidos de cancelamento destas inscrições, nos termos do art. 69º, nº 1, b), do C.R.P. 1 1 - Não está em tabela nos presentes autos a qualificação do pedido de registo de aquisição efectuado pela Ap. 34/20070816. Também não está em tabela a qualificação do pedido de cancelamento do registo de apreensão em processo de falência cujo averbamento foi efectuado pela Ap. 35/20070816. O que nos presentes autos está em causa é a qualificação dos pedidos de cancelamento dos registos de hipoteca voluntária C-2, de penhoras F-2 e F-3, e de hipoteca legal C-3, 3
2- A apreciação da (in)suficiência da sentença que ordenou a separação do prédio da massa falida, com que os interessados também pretendem titular os cancelamentos peticionados, demanda o conhecimento do sentido e alcance do despacho judicial referido na conclusão anterior, o que só será possível mediante a junção do requerimento que determinou a prolação do mesmo. Consequentemente, em cada um dos quais assume a posição de sujeito passivo a titular inscrita..., Ldª, entretanto declarada falida. Ora, estes registos (averbamentos) foram peticionados com base em documento que nos merece as mais sérias reservas. Isto porque o douto despacho foi proferido sobre requerimento que pura e simplesmente é omitido na certidão apresentada. Não sabemos, portanto, o que motivou o despacho (o que efectivamente foi requerido). Parece, em face do teor do despacho, que terá sido requerido ao Mmo Juiz do processo onde foi ordenada a separação do prédio da massa falida o cancelamento daqueles registos de hipotecas e de penhoras. Parece, mas não podemos afirmar. Assim como não podemos adivinhar a fundamentação do pedido. Ora, como aliás acaba por reconhecer o recorrente, o mencionado despacho é título manifestamente insuficiente para os cancelamentos pretendidos. Nem comprova a extinção dos direitos definidos nas inscrições de que se pretende o cancelamento nem ordena o cancelamento dessas inscrições (cfr. art. 13º do C.R.P.). Sendo certo que só podem ser registados os factos constantes de documentos que legalmente os comprovem (cfr. art. 43º do C.R.P.). 4
os pedidos de registo deverão ser recusados nos termos do disposto no art. 69º, nº 2, do C.R.P. 2 Em face do exposto, é entendimento deste Conselho que o recurso não merece provimento. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 29 de Janeiro de 2009. João Guimarães Gomes de Bastos, relator. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 02.02.2009. 2 - Também não se justifica no caso dos autos uma abordagem da argumentação alinhada pelo recorrido, e que, se bem ajuizamos, assenta no entendimento de que a hipoteca não abrange a acessão industrial imobiliária e com esta o terreno pereceu, do que resulta a extinção das hipotecas e das penhoras. Esta abordagem justificar-se-ia se estivessem perfeitamente delimitados os títulos em que são alicerçados os pedidos de registo. Ora, nós não conseguimos compatibilizar estes títulos com a tese do recorrente e com a prática processual por este assumida ao desencadear a prolação do despacho judicial de 2007.11.29. Desde logo porque, como já referimos, não conhecemos o requerimento e a fundamentação sobre que recaiu aquele despacho, do que resulta que não estamos perante todos os elementos atendíveis. Não vamos, portanto, para além do que já afirmámos, emitir pronúncia sobre a tese do recorrente. Só em novo procedimento registral, perante os concretos pedidos formulados e os documentos que, com integralidade, titularem tais pedidos, logrará o recorrente obter resposta do qualificador à sua pretensão. Termos em que se nos afigura que os pedidos de registo deverão ser recusados nos termos do disposto no art. 69º, nº 2, do C.R.P. 5