UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM II



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Transcrição:

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM II Gerência em Enfermagem 1 Dutra, Herica Silva 2 Todo trabalho diretamente social ou coletivo, executado em grande escala, exige com maior ou menor intensidade uma direção que harmonize as atividades individuais e preencha as funções gerais ligadas ao movimento de todo o organismo produtivo, que difere do movimento de seus órgãos isoladamente considerados. Um violinista isolado comanda a si mesmo; uma orquestra exige um maestro. K. Marx 1. Objetivos Compreender o exercício da gerência como atividade essencial do enfermeiro para organização da unidade e da assistência em enfermagem; Identificar competências gerenciais essenciais ao exercício da enfermagem; Discutir tendências e perspectivas da gerência em enfermagem. 2. Introdução Para iniciar nossas discussões sobre a Gerência em Enfermagem é importante lembrar que o enfermeiro tem assumido cada vez mais responsabilidades e enfrentado diversos desafios no cenário da saúde, a fim de promover o cuidado à saúde dos indivíduos desenvolvendo atividades de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação. Nessa perspectiva cabe destacar que o aumento de responsabilidades reflete a importância do profissional de enfermagem e do produto de seu trabalho no complexo contexto da saúde em nosso país. Reforçam as afirmações acima a Lei 7498/86, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Em seu Art. 11, inciso I, destaca as atividades privativas do enfermeiro, dentre elas: a) direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem; b) organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços; c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de Enfermagem. Além disso, como integrante do serviço de saúde aponta que ao enfermeiro compete dentre outras funções: a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde; b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde (BRASIL, 1986). O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (Resolução COFEN 311/07) destaca em seu preâmbulo: O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a necessidade e o 1 Este texto foi elaborado como material instrucional para a Disciplina Administração em Enfermagem II, para os acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem do 7º período da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, em 18 de março de 2014. Pedimos que caso haja o interesse em utilizar este material para outro fim seja citada a referência, outras informações podem ser solicitadas pelo seguinte e-mail: herica.dutra@ufjf.edu.br 2 Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem, Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Básica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora.

direito de assistência em enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua organização. Além disso, destacamos o Art. 66 quando afirma que é direito do enfermeiro exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu exercício profissional e do setor saúde (COFEN, 2007). A Deliberação COREN-MG 176/07 que baixa normas para definição das atribuições do Enfermeiro Responsável Técnico aponta que o Enfermeiro Responsável Técnico tem sob a sua responsabilidade a direção, organização, planejamento, coordenação, execução e avaliação dos serviços de enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares (COREN, 2010). E por fim as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) no que se refere aos cursos de graduação em Enfermagem, publicadas oficialmente na Resolução CNE/CES Nº 03 de 7/11/2001, onde em seu Art. 4, inciso V aponta como competência ou habilidade exigida dos enfermeiros a Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho quanto dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde (BRASIL, 2001). Assim podemos compreender a importância e necessidade de discutir a Gerência em Enfermagem. A gerência pode ser conceituada como a arte de pensar, julgar, decidir e agir para obter resultados ; porém, para ser gerente é preciso desenvolver a capacidade na arte de pensar e julgar para melhor decidir e agir (MOTTA, 2002 apud SANCHES; CHRISTOVAM; SILVINO, 2006). 3. Inserção da Enfermagem no processo de trabalho em saúde e na gerência em serviços de saúde A inserção da enfermagem no mundo do trabalho e na atenção à saúde tem sido marcada por determinantes históricos, sociais, econômicos e políticos (FELLI; PEDUZZI, 2005). Historicamente, a enfermagem moderna se consolida a partir dos trabalhos de Florence Nightingale na Guerra da Criméia na segunda metade do século XIX. Devido à necessidade de organização do atendimento aos soldados em hospitais militares em um primeiro momento, porém atendendo às demandas sociais de manutenção das forças de trabalho de um projeto capitalista, a enfermagem atendeu às demandas políticosociais da época e inseriu-se no processo de trabalho em saúde. O trabalho em enfermagem foi organizado em três vertentes: organização do cuidado aos pacientes (através da sistematização das técnicas de enfermagem); organização do ambiente terapêutico (aplicação de mecanismos de purificação do ar, limpeza, higiene, e outros); e organização dos agentes de enfermagem (por meio de treinamento e disciplina) (GOMES, 1997 apud FELLI; PEDUZZI, 2005). O processo de trabalho em enfermagem particulariza-se em uma rede ou subprocessos que são denominados cuidar ou assistir, administrar ou gerenciar, pesquisar e ensinar (FELLI; PEDUZZI, 2005: p.6). Portanto, pode-se entender que a enfermagem moderna iniciou suas atividades pautadas no gerenciamento, pois incluía em suas atividades a organização da unidade e da equipe de trabalho. Além disso, as atividades de enfermagem incluíam também a organização do cuidado mostrando que tais atividades não podem ser dissociadas (GOMES, 1997 apud FELLI; PEDUZZI, 2005). Ao longo do tempo, o papel administrativo desempenhado pelo enfermeiro tem ganhado destaque, devido a fatores políticos, sociais e culturais vigentes nas instituições de saúde e na sociedade (SPAGNOL, 2002). No processo de trabalho gerencial, os objetos de trabalho do enfermeiro são a organização do trabalho e os recursos humanos de enfermagem. Para a execução desse processo é utilizado um conjunto de instrumentos técnicos próprios da gerência, ou seja, o planejamento, o dimensionamento de pessoal de enfermagem, o recrutamento e seleção de pessoal, a educação continuada e/ou permanente, a supervisão, a avaliação de desempenho e outros. Também se utilizam outros meios ou instrumentos, como a força de trabalho, os materiais, equipamentos e instalações, além dos diferentes saberes administrativos (FELLI; PEDUZZI, 2005: p. 6). 2

A gerência em Enfermagem pode ser discutida a partir de dois grandes modelos. O modelo racional apresenta a gerência fundamentada pela Teoria Geral da Administração, tendo enfoque Taylorista voltado para produção em massa. Têm-se como meta atender aos objetivos da organização, para isso utilizando-se de ferramentas administrativas (planejamento, organização, direção, coordenação, controle). Ocorre o controle de tempos e movimentos, trabalho fragmentado por funções, divisão entre concepção e execução do trabalho e alienação do trabalho coletivo (FELLI; PEDUZZI, 2005). Esse modelo gerencial pauta-se basicamente no controle de tarefas e comportamento dos trabalhadores e pode ser observado em diversos serviços de enfermagem, especialmente em grandes hospitais. Nessas instituições é comum um modelo clássico de gestão, caracterizado por poder centralizado, hierarquia rígida, relações impessoais, decisões lentas, comunicação vertical, dentre outras (SPAGNOL, 2002). Entre outras críticas a esse modelo pontua-se a ênfase em tarefas e técnicas, uso de manuais normalizadores, assistência fragmentada e supervisão controladora e disciplinar. A ação do enfermeiro em geral é limitada no que se refere à tomada de decisão e mudanças que realmente interferem na assistência prestada aos pacientes. Mais recentemente, têm ocorrido mudanças nesse modelo, com maior ênfase no trabalho em equipe, organização do trabalho flexível e agilidade na adaptação dos instrumentos. Isso se deve às rápidas mudanças impostas pelos avanços tecnológicos e pela globalização. Houve também destaque à inserção de ferramentas de qualidade nos serviços de saúde, porém a intensificação do ritmo de trabalho da enfermagem destaca-se como uma consequência dessas políticas que tem como real intenção a lucratividade das organizações (FELLI, 2002 apud FELLI; PEDUZZI, 2005). Outros fatores relacionados a essas mudanças incluem os crescentes custos da atenção à saúde, a necessidade de ampliação da cobertura dos serviços e o aumento das exigências dos consumidores (BRITO; MONTENEGRO; ALVES, 2010). A gerência com base no modelo histórico-social foca o atendimento das necessidades de saúde da população, promovendo a democratização das instituições de saúde e ampliação da autonomia dos usuários e trabalhadores envolvidos no processo de cuidado além de preocupar-se com as demandas da organização e com o controle do processo de trabalho (FELLI; PEDUZZI, 2005). 4. Gerência em Enfermagem No exercício de suas atividades profissionais, o enfermeiro desempenha atividades gerenciais continuamente, quer seja gerenciando o cuidado aos pacientes, quer seja gerenciando o serviço de enfermagem. Na Enfermagem uma vez que nosso trabalho é desenvolvido por mais de uma categoria profissional, e ocorre através de ações hierarquizadas que são distribuídas segundo graus de complexidade, pressupõe-se que se tenha um trabalhador o enfermeiro melhor preparado que garanta a unidade e organização desse trabalho coletivo e que seja capaz também de planejar e desenvolver novos processos, métodos e instrumentos. Além disso, o mercado profissional espera do enfermeiro uma capacidade para trabalhar com conflitos, enfrentar problemas, negociar, dialogar, argumentar, propor e alcançar mudanças, com estratégias que o aproximem da equipe e do cliente, contribuindo para a qualidade do cuidado, ou seja, espera-se do enfermeiro uma capacidade para gerenciar (...). Na enfermagem, nos dias de hoje, falamos em gerência de unidade que consiste na previsão, provisão, manutenção, controle de recursos materiais e humanos para o funcionamento do serviço, e gerência do cuidado que consiste no diagnóstico, planejamento, execução e avaliação da assistência, passando pela delegação das atividades, supervisão e orientação da equipe (GRECO, 2004: p.505). Na gerência do cuidado, o uso do Processo de Enfermagem é apontado pela Resolução COFEN 358/09 que Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Este documento destaca que o processo de Enfermagem é um instrumento metodológico que orienta o cuidado 3

profissional de Enfermagem e a documentação da prática profissional bem como evidencia a contribuição da Enfermagem na atenção à saúde da população, aumentando a visibilidade e o reconhecimento profissional. Portanto, o processo de Enfermagem é a ferramenta de gerenciamento do cuidado direto ao paciente que o enfermeiro dispõe para proporcionar uma assistência de qualidade e com menor riscos. O gerenciamento do serviço de enfermagem implica em desenvolver atividades que garantam o melhor funcionamento possível da unidade onde os cuidados são prestados, incluindo o gerenciamento de recursos físicos, materiais, humanos, financeiros, políticos e de informação com vistas à prestação da assistência de enfermagem. Dessa forma, podemos perceber que tanto o gerenciamento do cuidado como o gerenciamento do serviço de enfermagem tem como objetivo a assistência ao paciente, sendo ambas indissociáveis e interdependentes. 5. Perfil de competências para gerência em Enfermagem A velocidade com que as mudanças ocorrem no mundo globalizado tem imposto uma exigência ao perfil dos profissionais que desempenham funções gerenciais, inclusive em serviços de saúde, buscando aqueles capazes de atender prontamente a essas mudanças. Assim, adaptar-se a novas situações, ser flexível e ter capacidade de relacionamentos, assumir desafios, entre outras, parecem ser requisitos imprescindíveis ao gestor neste novo milênio (CUNHA; XIMENES NETO, 2006: p. 480). A cada dia aumentam as responsabilidades dos enfermeiros na função gerencial. Isso se deve ao enxugamento hierárquico das organizações e à incorporação de tarefas por profissionais que fazem parte do quadro de gerência (BRITO; MONTENEGRO; ALVES, 2010). Dessa forma, passam a valorizarem-se as competências de um indivíduo, as quais o tornam qualificado para realizar determinada atividade (CUNHA; XIMENES NETO, 2006: p. 480). Pode-se definir competência como um saber agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo (FLEURY; FLEURY, 2004 apud CUNHA; XIMENES NETO, 2006: p. 480). Do enfermeiro é exigido conhecimento (que conheça o que faz), habilidades (que faça corretamente) e tenha atitudes adequadas para desempenhar seu papel objetivando resultados positivos. É, portanto, exigido que ele seja competente naquilo que faz, bem como garanta que os membros da sua equipe tenham competência para executarem as tarefas que lhes são destinadas (MARQUIS; HUSTON, 1999 apud CUNHA; XIMENES NETO, 2006: p. 481). No exercício da gerência em enfermagem são destacadas algumas competências, habilidades e atitudes, tais como: disponibilidade; capacidade de mediar conflitos e estabelecer relações; buscar o autodesenvolvimento e de sua equipe; trabalhar em equipe; atender às demandas da organização; exercer liderança; planejamento; organização; tomar de decisões com base no pensamento crítico e reflexivo; persuasão; criatividade, atração pelo novo e capacidade de enfrentar desafios; assumir responsabilidades e ter visão estratégica. Existem três tipos de habilidades fundamentais para o gerente: - Habilidade técnica: baseia-se em utilizar conhecimentos, métodos, técnicas e equipamentos para execução de tarefas, através da experiência profissional. Relaciona-se com o fazer, por meio de sua instrução, experiência e educação. - Habilidade humana: caracteriza-se pela capacidade e pelo discernimento de trabalhar com pessoas em equipe. Lida com a interação entre pessoas e envolve a capacidade de se comunicar, motivar, coordenar, liderar e solucionar conflitos pessoais ou grupais, visando cooperação, participação e envolvimento das pessoas. 4

- Habilidade conceitual: constitui-se na capacidade para lidar com idéias e conceitos abstratos, e está ligada a pensar, raciocinar, diagnosticar situações e formular alternativas de solução para os problemas. É perceber oportunidades onde ninguém enxerga coisa alguma. Essas três habilidades requerem competências pessoais distintas, as quais traduzem qualidades de quem é capaz de analisar uma situação, apresentar soluções e resolver os assuntos ou problemas, constituindo, assim, o maior patrimônio pessoal do administrador: seu capital intelectual (CHIAVENATO, 2004 apud SANCHES; CHRISTOVAM; SILVINO, 2006). Para melhor discutir esse tema, sugere-se a leitura dos textos O processo de construção do perfil de competências gerenciais para enfermeiros coordenadores de área hospitalar (MANENTI et al, 2012) e Perfil e competências de gerentes de enfermagem de hospitais acreditados (FURUKAWA; CUNHA, 2011). 6. Tendências e perspectivas na gerência em enfermagem A gerência clássica não atende mais as demandas do mundo moderno, pois trabalhadores e usuários estão mais cientes de seus direitos e o acesso a informações tornou-se uma arma poderosa de reivindicações e mudanças. Os profissionais de enfermagem desejam participar democraticamente das decisões que afetam o rumo das organizações onde estão inseridos e buscam melhor qualidade de vida no ambiente de trabalho. Portanto, torna-se imprescindível pensar numa forma mais flexível, humanizada e compartilhada de se organizar o trabalho na enfermagem (SPAGNOL, 2002). Aos trabalhadores tem sido oferecida oportunidade de participação efetiva nas discussões e aperfeiçoamento constante do processo de trabalho, com autonomia para desenvolvimento de projetos e novos métodos de trabalho (FERNANDES et al, 2003). Algumas propostas para mudanças nos modelos de gestão apontam para uso de processos estratégicos na empresa, estrutura organizacional organizada em células gerenciais, atividades estruturadas por processos, pessoas organizadas em equipes de trabalho, interação constante com o mercado e com os clientes, uso de recursos tecnológicos da informação e preocupação permanente com referenciais de excelência (TACHIZAWA; SCAICO, 1997apud SPAGNOL, 2002). 7. Considerações finais Ao final de nossas discussões sobre gerência, resta questionar se estamos realmente preparados para novas formas de gestão, visto que temos um passado sólido de práticas clássicas adotadas por muitos anos dentro dos serviços de enfermagem. Assim, enquanto futuros enfermeiros, somos desafiados a construir mudanças que beneficiem os pacientes, a equipe de enfermagem, as instituições onde atuamos e nossa profissão. É fundamental acreditar que ao compartilhar a gestão não estaremos perdendo poder, e sim, ganhando oportunidades de crescimento e renovação de nossas práticas. Para isso, é essencial agir de maneira diferente para que as mudanças realmente possam acontecer. Assim, trabalho em equipe tende a substituir estruturas engessadas, emergindo uma gerência democrática e compartilhada, e por isso, mais eficaz e eficiente, pois considera a perspectiva de todos os envolvidos. Administrar a assistência de enfermagem implica em conhecer os problemas mais comuns do setor de trabalho, levantar as necessidades da clientela atendida, gerenciar os conflitos da equipe de enfermagem, além de desenvolver habilidades técnico-científicas e de liderança, para desempenhar um papel de articuladora entre os demais profissionais que atuam nas unidades, tendo como objetivo principal a assistência prestada aos usuários que necessitam desses serviços (SPAGNOL, 2002; p. 127). 5

6 Referências BRASIL. Lei 7498 de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Disponível em: http://www.corentocantins.org.br/eupload/arquivos/8/lei%20n%c2%ba%207.498.pdf. Acesso em 05 abr 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES Nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces03.pdf. Acesso em 06 abr 2012. BRITO, M.J.M; MONTENEGRO, L.C.; ALVES, M. Experiências relacionais de poder e gênero de enfermeiras-gerente de hospitais privados. Rev. Latino-Am. Enfermagem. v.18, n. 5, 9p, 2010. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução 311/07 de 08 de fevereiro de 2007. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Disponível em: http://www.seet.org.br/upload/file/ca79c11d529ef3e39f2410d563c69995.pdf. Acesso em: 05 abr 2012. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução 358/2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Disponível em: http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html. Acesso em: 30 set 2013. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE MINAS GERAIS. Deliberação nº. 176, de 06 de agosto de 2007. Baixa normas para definição das atribuições do Responsável Técnico. In: Legislação e Normas. Ano 12, n.1. Belo Horizonte, 2010. Disponível em: http://www.corenmg.gov.br/anexos/legislacao_normas_pb.pdf. Acesso em: 06 abr 2012. CUNHA, I.C.K.O.; XIMENES NETO, F.R.G. Competências gerenciais de enfermeiras: um novo velho desafio? Texto Contexto Enferm. v. 15, n. 3, p. 479-82, 2006. FELLI, V.E.A.; PEDUZZI, M. O trabalho gerencial em Enfermagem. In: KURCGANT, P. Gerenciamento em Enfermagem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. FERNANDES, M. S. et al. A conduta gerencial da enfermeira: um estudo fundamentado nas teorias gerais da administração. Rev. Latino-Am. Enfermagem. v. 11, n. 4, p. 161-167, 2003. FURUKAWA, P.O.; CUNHA, I.C.K.O. Perfil e competências de gerentes de enfermagem de hospitais acreditados. Rev. Latino-Am. Enfermagem. v. 19, n. 1, 9p., 2011. GRECO, R.M. Relato de experiência: Ensinando a Administração em Enfermagem através da Educação em Saúde. Rev Bras Enferm. v. 57, n. 4, p. 504-7, 2004. MANENTI, S.A. et al. O processo de construção do perfil de competências gerenciais para enfermeiros coordenadores de área hospitalar. Rev Esc Enferm USP. v. 46, n. 3, p. 727-33, 2012. SANCHES, V.F.; CHRISTOVAM, B.P.; SILVINO, Z.R. Processo de trabalho do gerente de enfermagem em unidade hospitalar - uma visão dos enfermeiros. Esc. Anna Nery, v. 10, n. 2, p. 214-20, 2006.

SPAGNOL, C.A. Da gerência clássica à gerência contemporânea: Compreendendo novos conceitos para subsidiar a prática administrativa da enfermagem. R. gaúcha Enferm., v. 23, n. 1, p. 114-131, 2002. Exercícios de fixação 1. Cite e comente três competências para o desenvolvimento da gerência em enfermagem. 2. Comente sobre a gerência do cuidado e a gerência do serviço de enfermagem como atividade do enfermeiro. 3. Quais são as perspectivas para o futuro da gerência em Enfermagem? Comente. 7