Vantagens e Desvantagens Comparativas da Região Centro-Oeste em função da Legislação Ambiental



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Transcrição:

Estado de Mato Grosso Secretaria de Estado de Fazenda Secretaria Adjunta da Receita Pública Assessoria de Relações Federativas Fiscais Vantagens e Desvantagens Comparativas da Região Centro-Oeste em função da Legislação Ambiental Cuiabá Mato Grosso Janeiro 2006

1. O CENÁRIO AMBIENTAL DO CENTRO-OESTE... 3 1.1 O PANTANAL MATO-GROSSENSE... 3 1.2 BIOMA AMAZÔNIA NO CENTRO-OESTE... 4 1.3 O CERRADO... 4 2 RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL AOS BIOMAS PRESENTES NA REGIÃO CENTRO-OESTE... 5 2.1 O CÓDIGO FLORESTAL - LEI Nº. 4.771 DE 15 DE SETEMBRO DE 1965... 5 2.2 A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67 DE 24 DE AGOSTO DE 2001 QUE ALTEROU O CÓDIGO FLORESTAL 6 2.3 LEI DE CRIMES AMBIENTAIS - LEI Nº 9.605 DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998... 7 2.4 LEI DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS - LEI Nº 9.433 DE 8 DE JANEIRO DE 1997... 7 2.5 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA DO PANTANAL... 7 2.6 ÁREAS PROTEGIDAS DECORRENTES DA LEGISLAÇÃO SOCIOAMBIENTAL LEI Nº 9.985 DE JULHO DE 2000 8 2.6.1 Unidades de Conservação: conceito e base legal... 9 2.6.2 Terras Indígenas: conceito e base legal...10 2.7 PROPOSTAS DE ALTERAÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS SOBRE DISTINÇÃO DE COMPETÊNCIA ENTRE UNIÃO E ESTADO...10 3 VANTAGENS E DESVANTAGENS COMPARATIVAS DO CENTRO-OESTE EM RELAÇÃO A OUTRAS REGIÕES DO PAÍS DO PONTO DE VISTA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL...12 3.1 RESERVA LEGAL...13 3.1.1 Região Centro-Oeste x Região Norte...13 3.1.2 Região Centro-Oeste x Regiões Sul, Sudeste e Nordeste...13 3.2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO...14 3.3 TERRAS INDÍGENAS...15 3.4 SÍNTESE DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS COMPARATIVAS ENTRE O CENTRO-OESTE E DEMAIS REGIÕES EM FUNÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E TERRAS INDÍGENAS...15 3.4.1 Impactos das variáveis socioambientais: Unidades de Conservação + Terras Indígenas nos estados da Região Centro-Oeste...17 4 MUDANÇAS NO PADRÃO DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL E DE USO DOS RECURSOS NATURAIS NA REGIÃO CENTRO-OESTE...18 4.1 MUDANÇAS EM FUNÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE OCUPAÇÃO DAS REGIÕES CENTRO-OESTE E NORTE DO BRASIL...18 4.2 EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA...18 4.3 MUNICÍPIOS...20 4.4 ÁREA PLANTADA...21 4.5 EXPANSÃO DA PECUÁRIA - REBANHO BOVINO...22 4.6 A EVOLUÇÃO DO PIB REGIONAL...24 4.7 A VARIÁVEL AMBIENTAL : DESMATAMENTO...26 5 INICIATIVAS DE COMPENSAÇÃO ECONÔMICA PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS QUE CONTRIBUEM PARA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL...27 5.1 PROPOSTAS INOVADORAS...27 5.2 INICIATIVAS FISCAIS COM PRESSUPOSTOS AMBIENTAIS...29 5.3 COMPENSAÇÕES AMBIENTAIS...31 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...31 7 BIBLIOGRAFIA...35 Página 2 de 37

1. O CENÁRIO AMBIENTAL DO CENTRO-OESTE A Região Centro-Oeste está inserida em três biomas 1 : Pantanal, Amazônia e o Cerrado, cada bioma compreendendo uma variedade de ecossistemas específicos, mas afins. 1.1 O Pantanal Mato-grossense O Pantanal é o único bioma que só existe na Região Centro-Oeste, não existe em outras regiões brasileiras. Mas ele se estende além das fronteiras brasileiras, ocupando também parte da Bolívia, do Paraguai e da Argentina, onde recebe a denominação de Chaco. Na Região Centro-Oeste, o Pantanal se concentra em dois estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Sua área total é de 15,3 milhões de hectares (6,3 milhões de hectares em Mato Grosso e 8,9 milhões de hectares em Mato Grosso do Sul), correspondendo a 9,49% da área total do Centro-Oeste 2. O Pantanal é formado pela Bacia do Paraguai, pelo Rio Paraguai e afluentes, entre eles os rios Cuiabá, São Lourenço e o Taquari, que nascem na parte de maior altitude no planalto e descem no sentido Norte-Sul para a planície pantaneira onde no período de cheia transbordam alagando vasta área, formando baías (lagoas) e corixos (canais, pequenos cursos d água). Este fenômeno natural de cheia e vazante caracteriza o Pantanal, assim como as áreas periodicamente alagáveis que possibilitam um ciclo de vida apropriado para as espécies vegetais e animais lá existentes, ou que para lá migram temporariamente. Sua vegetação é uma combinação de cerrado com floresta de transição: ora campos de pastagens naturais, ora matas de galeria. É um bioma muito sensível às alterações impostas pela ação humana. 1 Bioma constitui um conjunto de tipos de vegetação, identificável em escala regional, com suas floras e faunas associadas. 2 Área correspondente à planície pantaneira segundo Mapa de Biomas do Brasil IBGE/MMA 2005. Página 3 de 37

1.2 Bioma Amazônia no Centro-Oeste O Bioma Amazônia é caracterizado por uma grande malha de rios, liderado pelo Rio Amazonas, e por uma vasta floresta que varia em densidade e composição (em alguns pontos há floresta de transição e, em outra parte, savanas ou capinaranas de várzeas), gozando de altos índices pluviométricos e baixas altitudes. Um número importante de rios da Amazônia nasce no Centro-Oeste, geralmente no cerrado ou em áreas de transição; cita-se o caso do Xingu, do Teles Pires e do Juruena (que formam o Tapajós), do Guaporé e outros. A parcela do Bioma Amazônia que se situa no Centro-Oeste está no Estado do Mato Grosso. Segundo o Mapa de Biomas do Brasil, cerca de 54% do território de Mato Grosso é classificado como Bioma Amazônia, ou seja, cerca de 487.813 km 2 (48.781.327 ha) que correspondem a 30,37% da área do Centro-Oeste. Importante ressaltar que o Mapa de Biomas do Brasil, que respalda o Código Florestal, considera a floresta de transição como Floresta Amazônica. Desnecessário discorrer sobre a riqueza da flora e da fauna do Bioma Amazônia, basta assinalar que mais de 90% da madeira consumida no Brasil é de origem amazônica (não se contabiliza a biomassa de florestas plantadas voltadas para fornecer polpa para a indústria de celulose e papel). Dada as suas dimensões (que apenas no Brasil compreende cerca de 4 milhões de km 2 de floresta tropical, e cerca de 10% da água doce disponível no mundo), e sua megadiversidade biológica, o Bioma Amazônia assume importância global. As alterações impostas pela ação humana na região, como o desmatamento, ou a seca do ano de 2005, por razões naturais ou resultantes de modificações climáticas globais, são motivos de preocupação e debate internacional. 1.3 O Cerrado O Cerrado é o bioma que mais identifica a Região Centro-Oeste: vegetação variável, desde campos de pastagens naturais, com arbustos, até matas com Página 4 de 37

árvores encorpadas; cortado por nascentes e rios, além de regime regular de chuvas, alternando um período concentrado com um período de estiagem. Boa parte do Cerrado é região de planalto, que ultrapassa o Centro-Oeste, atingindo também parte do Norte (Tocantins), do Nordeste (Piauí e Maranhão) e Sudeste (Minas Gerais e São Paulo). O Cerrado ocupa cerca de 905.841 km 2 (90.584.185 ha) do território do Centro-Oeste, que corresponde a 56,39% da sua área total. 2 RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL AOS BIOMAS PRESENTES NA REGIÃO CENTRO-OESTE 2.1 O Código Florestal - Lei nº. 4.771 de 15 de setembro de 1965 A Legislação Ambiental é vasta, contudo, destacamos o Código Florestal dada a sua antiguidade e amplitude, porque estabelece as normas e restrições de ocupação, de conversão (da cobertura vegetal natural) e do manejo dos recursos florestais. Para os objetivos deste trabalho merecem destaque os seguintes conceitos e normas: a) Área de Preservação Permanente APP: área de cobertura vegetal natural (seja ela floresta densa, arbustiva ou pastagem natural) que não pode ser convertida (desmatada) ou alterada. Situada às margens de rios, nascentes, e, também, nas encostas dos morros com declividade acima de 45. Não varia conforme o bioma, varia, por exemplo, em função da largura dos rios. A supressão total ou parcial da APP só é admitida por permissão do Poder Público Federal (ou de outro Poder Público por delegação daquele) em caso de utilidade pública ou de interesse social. b) Reserva Legal RL: área de cobertura vegetal natural de toda e qualquer propriedade que não pode ser convertida em pastagens ou culturas plantadas, ou seja, não pode ser desmatada e usada para agricultura ou pecuária. Varia conforme o bioma: na Floresta Página 5 de 37

Amazônica a reserva era até meados de 1996 de 50% da área total da propriedade. No Cerrado era de 20% da área total da propriedade. c) Manejo Florestal: permite o uso comercial da floresta, seja ela em área de Reserva Legal ou em área sobre a qual pode ocorrer conversão, desde que seja pelo método do manejo florestal. Observação: não permitia, e até hoje não permite, manejo florestal em Área de Preservação Permanente -APP. 2.2 A Medida Provisória nº 2.166-67 de 24 de agosto de 2001 que alterou o Código Florestal Em 1996, o Presidente da República editou a Medida Provisória nº. 1511/1996 (com força de lei) que modificou alguns artigos do Código Florestal, vigente até hoje. Essa Medida Provisória sofreu várias edições, sendo a última a de nº 2.166-67 de 24 de agosto de 2001, que consolidou a seguinte posição: Reserva Legal: a) em caso de propriedade na Floresta Amazônica, a Reserva Legal foi elevada de 50% para 80% de sua área total; b) em caso de propriedade em Bioma do Cerrado, a Reserva Legal foi aumentada de 20% para 35% da área total da propriedade, desde que situada na Amazônia Legal. Observação importante: a Reserva Legal em propriedade no Bioma do Cerrado fora da Amazônia Legal é de 20%. Neste caso o tratamento diferenciado só atinge o Estado de Mato Grosso, onde a Reserva Legal no Cerrado é de 35%. Para se ter noção da dimensão quantitativa da restrição imposta por estes dois conceitos de restrição ambiental (APP e RL) a FEMA/MT Fundação Estadual do Meio Ambiente 3 estimou, em 1999, que a área abrangida e protegida por Reserva Legal e Área de Preservação Permanente no Mato Grosso era da ordem de 13,14 3 Atualmente SEMA, Secretaria de Estado do Meio Ambiente Página 6 de 37

milhões de hectares, dos quais 4,22 milhões de hectares no Bioma Cerrado e 8,92 milhões de hectares no Bioma Amazônia, que somados correspondem a 14,5% do território do estado. 2.3 Lei de Crimes Ambientais - Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 A Lei de Crimes Ambientais é muito importante, embora não estabeleça normas diferenciadas para a Amazônia Legal ou para o Centro-Oeste. Sua principal norma é a criminalização de pessoas físicas e jurídicas que infringirem certas normas ambientais, inclusive do Código Florestal. 2.4 Lei de Gerenciamento de Recursos Hídricos - Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997 É a lei das águas; ela criou o sistema de gerenciamento dos recursos hídricos por meio dos Comitês de Bacias, e as normas de acesso, da outorga, e da cobrança da água retirada dos rios (por exemplo para agricultura irrigada), controlados pelos Comitês de Bacia. No caso da Região Centro-Oeste é relevante porque existem muitos rios que nascem ou atravessam a região, atingindo mais de um estado, e por isto mesmo são considerados nacionais. Existem ainda rios que são de soberania partilhada com outros países, como é o caso do Rio Paraguai. Ainda não existem os Comitês de Bacia dos rios que cortam a Região Centro-Oeste, mas já existem demandas neste sentido. 2.5 Legislação específica do Pantanal O Pantanal é um bioma que necessita de uma legislação própria, mais acurada, embora seja declarado na Constituição Federal como Patrimônio Nacional (art. 225, 4º). Seus limites estão prefixados pelo Mapa de Biomas do Brasil. Contudo, existe um consenso de que o Pantanal merece um tratamento específico, dada as suas fragilidades ambientais e suas vocações naturais. Página 7 de 37

A Lei Federal nº 328 de 1982 estabelece normas de proteção à Bacia do Rio Paraguai e impõe restrições a empreendimentos no bioma Pantanal. Existem resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA, mais específicas, que restringem determinadas ações antrópicas, especialmente, a conversão da vegetação natural. O padrão de ocupação secular do Pantanal (especialmente na planície pantaneira) é de população rarefeita, de um lado comunidades ribeirinhas, e de outro, fazendas dedicadas à pecuária extensiva. Tanto as comunidades ribeirinhas como as fazendas de pecuária ao longo dos séculos se adaptaram ao bioma, explorando suas potencialidades sem impor alterações importantes na cobertura vegetal natural, reduzindo seus impactos ambientais. O Brasil, contudo, é signatário da Convenção das Áreas Alagadas em função da qual parte do Pantanal é declarada sítio Ramsar 4, e parte ainda maior foi declarada Reserva da Biosfera 5. Alguns países fizeram leis específicas para a sua implantação, o que lhe confere proteção adicional e restrições de conversão da cobertura vegetal natural. A legislação do Estado de Mato Grosso por meio da Lei Complementar nº 38 de 21 de novembro de 1995, em seu art. 62, 3º determina: Para a planície alagável do Pantanal não será permitido nenhum tipo de desmatamento, com exceção daquelas feitas para agricultura de subsistência e limpeza de pastagens nativas e artificiais. 2.6 Áreas Protegidas decorrentes da Legislação Socioambiental Lei nº 9.985 de julho de 2000 Existe um conjunto de áreas protegidas pela Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000 Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza - SNUC, que são 4 Zonas úmidas de importância internacional ver Convenção Ramsar. 5 Reserva da Biosfera são instrumentos de gestão e manejo sustentável que permanecem sob a completa jurisdição dos países onde estão localizadas. Criadas pela UNESCO Comissão das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura. Página 8 de 37

as Unidades de Conservação da Natureza, em regime de proteção diferenciado daqueles estabelecidos pelo Código Florestal para as Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Reservas Legais (RLs). Existem também as Terras Indígenas, com legislação específica, bem como outras áreas protegidas pela legislação federal, como por exemplo, áreas militares que não são objeto deste estudo. 2.6.1 Unidades de Conservação: conceito e base legal Unidade de Conservação é um conceito universal que reconhece a necessidade de se impor restrições de acesso, uso ou conversão à determinada amostra dos ecossistemas, seja pela riqueza de sua biodiversidade, beleza cênica ou valor histórico. Para tal, define-se seus limites territoriais e se estabelece o maior ou menor grau da ação humana sobre os mesmos. Este conceito encontra base no art. 225 da Constituição Federal, e em tratados internacionais como a Convenção da Biodiversidade. Em relação às Unidades de Conservação, a Lei nº 9.985/2000 estabelece duas classes: 1) Unidades de Conservação de Uso Sustentável: são aquelas unidades de conservação onde podem existir algumas atividades antrópicas, Por exemplo APA = Área de Preservação Ambiental; RESEX = Reserva Extrativista; FLONA = Floresta Nacional (art. 14). 2) Unidades de Conservação de Proteção Integral: onde não são permitidas atividades produtivas ou ocupação territorial, como Parques Nacionais, Reservas Biológicas, etc. (art. 8º). No Centro-Oeste existem: 15 Unidades de Conservação Federal de Proteção Integral, totalizando 775.111 hectares, correspondendo a 0,48% do seu território, e 13 Unidades de Conservação Federal de Uso Sustentável, ocupando 1.826.232 hectares, compreendendo 1,13% do território. Ainda há que se considerar as Unidades de Conservação definidas por leis estaduais e, em menor escala, por leis municipais. Página 9 de 37

Deriva da Constituição a competência da União, dos Estados e dos Municípios para definir Unidades de Conservação, observados os ritos mínimos definidos na Lei nº 9.985, dos quais, é importante registrar, que somente por meio de lei é possível alterar os limites territoriais de uma Unidade de Conservação já existente. 2.6.2 Terras Indígenas: conceito e base legal As terras indígenas são territórios reservados aos povos indígenas para que se possa garantir a sobrevivência física e cultural dos mesmos, respeitando seus padrões culturais diferenciados. A Constituição Federal reconhece direitos originários aos povos indígenas sobre esses territórios e estabelece as bases de um direito indígena diferenciado em vários aspectos, objeto de todo o Capítulo VIII da Constituição Federal, intitulado Do Índio. A definição, delimitação, demarcação e homologação de uma Terra Indígena é competência exclusiva da União. Constituída a Terra Indígena em qualquer fase que esteja o processo, são estabelecidas restrições de ocupação e uso sobre as mesmas por pessoas e empreendimentos que não sejam daquela etnia específica, correspondente àquele território. Os direitos dos povos indígenas estão detalhados na Lei nº 6001, de 19 de dezembro de 1973, o Estatuto do Índio e em outras normas subseqüentes, detalhando inclusive o processo de demarcação (Decreto 1775, de 08 de janeiro de 1996). Na Região Centro-Oeste atualmente existem 124 Terras Indígenas, totalizando 14.462.380 hectares, compreendendo 9% do território da região. 2.7 Propostas de alteração da Legislação Ambiental e iniciativas governamentais sobre distinção de competência entre União e Estado Página 10 de 37

Existem várias iniciativas e propostas de alteração na Legislação Ambiental, das quais citaremos as que estão em negociação entre a União, Estados, Municípios, Congresso Nacional e representações da Sociedade: 1. Projeto de Lei de Gestão de Florestas (PL nº 4776/2005): proposta do Executivo que Cria o Sistema Florestal Brasileiro, define Floresta Pública e a possibilidade de cessão de uso para iniciativa privada explorá-las de forma sustentável e transfere competências para órgãos estaduais de meioambiente. Aprovado na Câmara dos Deputados, em discussão no Senado. 2. Ante-Projeto de Lei Complementar que regula o art. 23 da Constituição Federal (PLC nº 012/2003): Define competências da União, Estados e dos Municípios sobre licenciamento ambiental e outras iniciativas. 3. Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, sobre as Áreas de Proteção Ambiental APPs (Resolução nº 010/1988): detalha as possibilidades de uso das APPs, regulamentação do passivo já existente. 4. Zoneamento Ecológico Econômico ZEE: existem iniciativas, algumas já transformadas em leis estaduais, que estabelecem normas de ocupação territorial conforme as variadas zonas do Estado. O Governo Federal em parceria com os estados da Amazônia Legal está fazendo o Macro Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal. Semelhante iniciativa também existe em relação à orla marítima brasileira. 5. Existem também variadas iniciativas legislativas de parte do Congresso Nacional em tramitação, aqui não levantadas. Por outro lado, independentemente de alterações na legislação existente, há iniciativas em curso envolvendo União e Estados, relevantes para o tema aqui tratado, das quais citaremos duas: a) Acordos de Cooperação Técnica: envolvendo transferências de competências administrativas da União para os Estados e/ou partilha de competências e coordenação de gestão nas áreas de fiscalização, monitoramento e licenciamento ambiental. Página 11 de 37

b) Comissões Tripartites: compostas de representações da União, Estados e Municípios estabelecidas com todos Estados, como fóruns para dirimir dúvidas, fazer acordos e agilização administrativa. 3 VANTAGENS E DESVANTAGENS COMPARATIVAS DO CENTRO-OESTE EM RELAÇÃO A OUTRAS REGIÕES DO PAÍS DO PONTO DE VISTA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Olhando do ponto de vista da ocupação territorial, da permissão legal para conversão de cobertura vegetal natural, e de uso de seus recursos naturais, existem algumas condições para a Região Centro-Oeste que podem ser vistas como vantagens ou desvantagens econômicas, conforme a região brasileira a ser comparada. Sem esgotar o assunto seguem algumas indicações em relação às seguintes variáveis: Biomas, Reserva Legal, Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Os Biomas constituem uma variável importante para uma análise comparativa de vantagens e desvantagens para a economia decorrente da legislação socioambiental. A tabela abaixo mostra em que proporções estão distribuídos os territórios das Grandes Regiões pelos biomas brasileiros. TABELA 1 - Distribuição percentual das áreas dos Biomas por Regiões Região Amazônia Mata Atlântica Caatinga Cerrado Pantanal Pampa NO 93,97 - - 6,57 - - NE 7,26 10,09 52,97 29,68 - - SE - 53,98 1,27 44,75 - - SU - 68,51-0,70-30,79 CO 30,37 3,75-56,39 9,49 - Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE e Ministério do Meio Ambiente-MMA Mapa de Biomas do Brasil 2005. Página 12 de 37

3.1 Reserva Legal 3.1.1 Região Centro-Oeste x Região Norte A Região Centro-Oeste possui vantagens comparativas (menor restrição ambiental) em relação à Região Norte quando examinada a variável Reserva Legal, porque nela predomina o Bioma do Cerrado, cuja Reserva Legal é inferior a da Floresta Amazônica. TABELA 2 - Restrição de Conversão da Cobertura Vegetal Natural Centro-Oeste x Norte x Mato Grosso Centro-Oeste Norte Mato Grosso Restrição Floresta Cerrado Floresta Cerrado Floresta Cerrado Reserva 80% 20% 80% 35% 80% 35% Legal Fonte: Medida Provisória nº 2166-67 de 2001. O Centro-Oeste, do ponto de vista da restrição de conversão de desmatamento de cobertura vegetal natural, tem vantagem em relação à Região Norte, exceto o Estado de Mato Grosso que está submetido à mesma restrição da Região Norte. 3.1.2 Região Centro-Oeste x Regiões Sul, Sudeste e Nordeste O Centro-Oeste, exceto o Estado de Mato Grosso, tem maior grau de restrição que as regiões Sul, Sudeste e Nordeste, contudo, em relação ao Sul e Sudeste onde já houve desmatamento generalizado, há restrições mais severas para proteção dos remanescentes da Mata Atlântica 6. TABELA 3 - Restrição de Conversão da Cobertura Vegetal Natural Centro-Oeste x Sul x Mato Grosso Centro-Oeste Sul/Sudeste/Nordeste Mato Grosso Restrição Floresta Cerrado Floresta Cerrado/Caatinga Floresta Cerrado Reserva 80% 20% - 20% 80% 35% Legal Fonte: Medida Provisória nº 2166-67 de 2001. 6 Os remanescentes da Mata Atlântica (cerca de 9% do total antes existente) estão sob restrição total de conversão (proibição de desmatamento) por meio do Decreto nº 750, de 10 de fevereiro de 1993. Página 13 de 37

3.2 Unidades de Conservação As vantagens e desvantagens comparativas da Região Centro-Oeste em relação as demais regiões brasileiras, do ponto de vista de restrições socioambientais decorrentes da legislação e ação do Governo Federal, representados por Unidades de Conservação podem ser observadas na tabela abaixo. TABELA 4 - Restrições socioambientais: Unidades de Conservação Federal Região por Regiões do País - 2005 Área (ha) Unidades de Conservação de Proteção Integral Unidades de Conservação de Uso Sustentável Área (ha) Nº % Área (ha) Nº % NO 385.332.723 23.592.953 42 6,12 27.084.770 79 7,02 NE 155.425.700 2.699.073 33 1,73 3.677.789 35 2,36 SE 92.451.129 791.850 32 0,85 1.158.209 26 1,25 SU 57.640.957 595.722 16 1,03 909.765 9 1,57 CO 160.637.151 775.111 15 0,48 1.826.232 13 1,13 Fontes: Dados do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística IBGE, e Ministério do Meio Ambiente MMA A Região Centro-Oeste é a região que sofre menor restrição quantitativa de uso do seu território decorrente de definição de Unidades de Conservação Federal: a) apenas 0,48% do seu território é definido como Unidades de Conservação Federal de Proteção Integral (de maior restrição), contra 6,12% da Região Norte, 1,73% do Nordeste, 1,03% do Sul e 0,85% do Sudeste; b) apenas 1,13% do seu território é definido como Unidades de Conservação Federal de Uso Sustentável, contra 7,02% no Norte; 2,36% no Nordeste; 1,57% no Sul e 1,25% do Sudeste. Entre os Estados que compõem a Região Centro-Oeste, o Estado do Mato Grosso é a unidade da federação com mais restrições em função das Unidades de Conservação Federal de Proteção Integral: 438.068 hectares, embora Página 14 de 37

em proporção bastante reduzida, só 0,47% do seu território, compreendendo 56,6% da área total destas Unidades de Conservação de Proteção Integral, da Região. 3.3 Terras Indígenas O reconhecimento de Terras Indígenas por determinação constitucional ocorreu mais nas Regiões Norte e Centro-Oeste, de ocupação tardia (segunda metade do século XX) pelos descendentes de europeus que desbravaram o Brasil; quando o Estado Nacional já praticava uma política de proteção aos Povos Indígenas. TABELA 5 - Terras Indígenas por Regiões do país - 2005 Região Área (ha) Terras Indígenas Área (ha) Nº % NO 385.332.723 87.877.060 323 22,80 NE 155.425.700 2.208.582 68 1,42 SE 92.451.129 89.661 28 0,09 SU 57.640.957 233.677 63 0,40 CO 160.637.151 14.462.380 124 9,00 Fonte: Fundação Nacional do Índio- FUNAI Nota: Dados sujeitos a retificação. Possíveis diferenças, de pequena monta, podem ocorrer em função da data da emissão dos dados e partilhamento entre regiões de algumas Terras Indígenas. A Região Centro-Oeste tem a segunda maior restrição à ocupação territorial e à conversão de cobertura vegetal natural em função das Terras Indígenas, com 9,00% do território, sendo superada apenas pela Região Norte que conta com 22,80% do seu território reconhecido como Terras Indígenas. As demais regiões cedem pequena percentagem de seu território para Terras Indígenas. 3.4 Síntese das vantagens e desvantagens comparativas entre o Centro- Oeste e demais regiões em função das Unidades de Conservação e Terras Indígenas A tabela 6 mostra que a Região Norte sofre maior restrição à ocupação territorial e à conversão de cobertura natural (além das restrições à exploração do Página 15 de 37

seu subsolo e demais recursos naturais) com 36,44% do seu território ocupado quando se soma as áreas de Unidades de Conservação de Proteção Integral e as Terras Indígenas. Em segundo lugar está a Região Centro-Oeste que cede 10,62% do seu território para tais compromissos socioambientais. Na segunda coluna da tabela 6 somam-se todas as Unidades de Conservação Federal (UCs de Proteção Integral e UCs de Uso Sustentável) com as Terras Indígenas dando-se uma visão geral da proteção ambiental e do reconhecimento aos direitos constitucionais dos Povos Indígenas. Neste caso, ao se somar as Unidades de Conservação de Uso Sustentável não cabe a mesma análise referente à primeira coluna, porque nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável não há as mesmas restrições que nas Unidades de Conservação de Proteção Integral e Terras Indígenas mas não deixam de ser importantes ambientalmente. TABELA 6 - Áreas Protegidas: Unidades de Conservação e Terras Indígenas Região nas regiões brasileiras - 2005 Área (ha) Total de áreas ocupadas por UCs federais de Proteção Integral + TI Total de áreas ocupadas por UCs federais de Proteção Integral + Uso Sustentável + TI Área (ha) % Área (ha) % NO 385.332.723 113.370.760 29,42 140.437.530 36,44 NE 155.425.700 3.001.907 1,93 6.647.666 4,27 SE 92.451.129 1.025.527 1,10 2.183.736 2,36 SU 57.640.957 685.383 1,18 1.595.148 2,76 CO 160.637.151 15.237.491 9,48 17.063.723 10,62 Fontes: Fundação Nacional do Índio FUNAI e Ministério do Meio Ambiente MMA Nota: Dados sujeitos a retificação. Há sobreposição de algumas Terras Indígenas com Unidades de Conservação de Proteção Integral, principalmente na Região Norte, que se consideradas não alterariam significativamente os totais desta tabela. Página 16 de 37

3.4.1 Impactos das variáveis socioambientais: Unidades de Conservação + Terras Indígenas nos estados da Região Centro-Oeste Particularizando os impactos das variáveis socioambientais Unidades de Conservação de Proteção Integral, Unidades de Conservação de Uso Sustentável e Terras Indígenas (TI) definidas pela Legislação Federal e pela União, na Região Centro-Oeste, analisando a tabela 7, pode-se ter uma noção dos seus impactos diferenciados sobre os Estados, destacando-se o Distrito Federal, quando somadas as três variáveis, em razão do percentual de Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Mas quando analisamos as variáveis com maior grau de restrição, as Unidade de Conservação de Proteção Integral e Terras Indígenas, observa-se que o Estado do Mato Grosso é o que tem maior impacto restritivo. TABELA 7 - Unidades de Conservação e Terras Indígenas nas Unidades UF Unidades de Conservação de Proteção Integral Área (ha) Federativas da Região Centro-Oeste - 2005 Terra Indígena Unidades de Conservação de Uso Sustentável UCs de Proteção Integral + Terras Indígenas UCs de Proteção Integral + UCs de Uso Sustentável +Terras Indígenas % Área (ha) % Área (ha) % Área (há) % Área (ha) % MT 438.068 0,48 13.766.416 15,23 270.493 0,29 14.204.484 15,72 14.474.977 16,02 MS 106.825 0,29 655.601 1,83 690.285 1,93 762.326 2,13 1.345.892 3,76 GO 194.829 0,57 40.463 0,11 386.176 1,13 235.292 0,69 621.468 1,82 DF 35.388 6,09 - - 479.277 82,60 35.388 6,09 514.665 88,70 CO 775.110 0,48 14.462.380 9,00 1.826.231 1,13 15.237.490 9,48 16.957.002 10,55 Fontes: Fundação Nacional do Índio FUNAI e Ministério do Meio Ambiente MMA Nota: Dados sujeitos a retificação. Há sobreposição de algumas Terras Indígenas com Unidades de Conservação de Proteção Integral, principalmente na Região Norte, que se consideradas não alterariam significativamente os totais desta tabela. Como se pode verificar na tabela 7, o Estado do Mato Grosso é a Unidade da Federação do Centro-Oeste com maior restrição para conversão de cobertura natural (exploração dos recursos naturais, etc.) em função de ter 15,72% do seu território destinado a Unidades de Conservação de Proteção Integral e Terras Indígenas. Página 17 de 37

4 MUDANÇAS NO PADRÃO DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL E DE USO DOS RECURSOS NATURAIS NA REGIÃO CENTRO-OESTE 4.1 Mudanças em Função da Política Nacional de Ocupação das Regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil A Região Centro-Oeste brasileira foi objeto de uma política nacional de incentivo à sua ocupação territorial a partir da década de 60 do século passado, por meio de investimentos estatais em infra-estrutura (estradas e energia); incentivo a migração de população originária de outras regiões do país (projetos de colonização); e de incentivos fiscais aos investimentos privados. Entre as iniciativas governamentais que impulsionaram um novo padrão de ocupação territorial do Centro-Oeste vale registrar: a) a construção de Brasília e sua consolidação como Capital Federal; b) a construção das rodovias: Belém/Brasília; Campo Grande/Cuiabá; Cuiabá/Santarém; Cuiabá/Porto Velho/Rio Branco; c) a política de incentivo a colonização privada e a promoção da colonização pública; d) a política de incentivos fiscais a empresas que optassem investir em grandes fazendas de pecuária. Embora o regime militar (1964-85) tenha sido o grande propulsor desta política, ela continuou por mais anos, gerando um novo quadro demográfico, social e econômico para a Região Centro-Oeste. Para dimensionar essas mudanças demográficas, econômicas, sociais e ambientais selecionamos as seguintes variáveis: a) população; b) número de municípios; c) área plantada pela agricultura; d) rebanho bovino; e) PIB; f) área desmatada. 4.2 Evolução demográfica A evolução demográfica da Região Centro-Oeste de 1960 até 2005 é de crescimento extraordinário, da ordem de 386,1%, só sendo superada relativamente pela Região Norte que cresceu 401,67%, enquanto o Brasil, como um todo, cresceu apenas 159,44%. Página 18 de 37

Conclusão: houve migração em grande escala de população de outras regiões para o Norte e o Centro-Oeste, especialmente de 1960 a 2000. TABELA 08 - População das Regiões do Brasil Região 1960 2000 Δ 2000/1960 % 2005 Δ 2005/1960 % NO 2.930.005 12.893.561 340,05 14.698.878 401,67 NE 22.428.873 47.693.253 112,60 51.019.091 127,47 SE 31.062.978 72.297.351 132,70 78.472.017 152,62 SU 11892.107 25.089.783 110,90 26.973.511 126,82 CO 2.678.380 11.616.745 333,70 13.021.576 386,17 Brasil 70.992.343 169.590.693 138,80 184.184.264 159,44 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE/SIDRA. População de 2005 estimada Todas as regiões reduziram sua participação relativa no conjunto da população brasileira de 1960 a 2005, exceto a Região Centro-Oeste que aumentou de 3,77% para 7,07% e a Região Norte de 4,13% para 7,98%. TABELA 9 - Participação relativa da população regional Região População 1960 2005 Participação Relativa População Participação Relativa NO 2.930.005 4,13 14.698.878 7,98 NE 22.428.873 31,59 51.019.091 27,70 SE 31.062.978 43,76 78.472.017 42,61 SU 11892.107 16,75 26.973.511 14,64 CO 2.678.380 3,77 13.021.576 7,07 Brasil 70.992.343 100,00 184.184.264 100,00 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE/SIDRA.População de 2005 estimada O incremento da população tem efeitos econômicos, do ponto de vista de transferências constitucionais obrigatórias do Fundo de Participação dos Estados Página 19 de 37

FPE. Até 1989, os critérios do FPE eram favoráveis às Regiões Centro-Oeste e Norte 7. 4.3 Municípios O aumento da população brasileira e sua consequente urbanização levou à proliferação de Municípios. O Brasil tinha 3.952 Municípios em 1960, já em 2005 atingiu 5.563 municípios - um incremento percentual de 40,76%. Mas, as regiões brasileiras tiveram crescimento diferenciado do número de municípios. A Região Norte lidera com o crescimento de 193,46%, mas a Região Centro-Oeste não acompanhou o ritmo, crescendo apenas 120,38% o seu número total de municípios. TABELA 10 - Evolução do número de Municípios Brasileiros por Região Região 1960 2000 2005 Δ 2005/1960 % NO 153 449 449 193,46 NE 903 1.787 1.793 98,56 SE 1.085 1.666 1.668 53,73 SU 414 1.159 1.188 186,96 CO 211 446 465 120,38 Brasil 3.952 5.507 5.563 40,76 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE/SIDRA Na Região Centro-Oeste o crescimento do número dos municípios no período de 1960 a 2005 não acompanhou o crescimento da população, o primeiro atingindo 120,38% contra 386,17% do segundo. Isto poderia se explicar porque boa parte da migração se concentrou em assentamentos rurais, em projetos de colonização oficiais e particulares, e em projetos de assentamento do Plano Nacional de Reforma Agrária. Fato semelhante também ocorreu na Região Norte, com índices de 7 A lei Complementar nº 62 de 28 de dezembro de 1989 fixou os coeficientes individuais das Unidades da Federação, e desde então não foram alterados. Página 20 de 37

401,67% de crescimento de população e 193,46% de crescimento do número de municípios. Na Região Sul onde o índice de crescimento do número de municípios, 186,96%, supera o índice de crescimento demográfico, 126,82%, ocorreu o inverso. Talvez a explicação esteja, de um lado, no processo de urbanização diferenciado, mais distribuído no Sul, ou, por outro, pode ter ocorrido uma estratégia política de promover a expansão do número de municípios para se captar mais recursos do Fundo de Participação dos Municípios - FPM que, até 1989, era influenciado pelo número de municípios de cada Estado 8. 4.4 Área Plantada A área plantada é relevante para se avaliar simultaneamente o avanço econômico da agricultura e seus impactos ambientais. TABELA 11 Área plantada de lavoura permanente e temporária por região Região 1960 1996 2004 Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % NO 432.302 1,51 1.968.752 3,70 2.773.227 4,40 NE 8.727.700 30,40 12.934.412 24,33 12.603.737 19,99 SE 10.042.241 34,97 12.188.201 22,93 12.355.967 19,61 SU 8.144.087 28,36 18.574.922 34,95 19.877.715 31,53 CO 1.365.879 4,76 7.486.159 14,08 15.426.320 24,47 BRASIL 28.712.209 100 53.152.446 100,00 63.036.966 100 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE/SIDRA A tabela 11 revela que ocorreu uma expansão maior de área plantada nas Regiões Centro-Oeste e Norte em relação às demais regiões do país, que estabilizaram ou reduziram suas participações relativas de 1960 a 2004. 8 Lei Complementar nº 62 de 28/12/1989, art. 5º parágrafo único. Página 21 de 37

No período de 1960 a 2004, na Região Centro-Oeste, a área plantada pela agricultura teve um crescimento excepcional, saltando de 1,36 milhões de hectares para 15,42 milhões de hectares, ou seja, cresceu 11,29 vezes em 44 anos, quando a área plantada pela agricultura no país cresceu apenas 2,2 vezes. Sua participação relativa no total de área ocupada pela agricultura do país saltou de 4,76% para 24,47%, tornando-se a segunda maior região produtora agrícola. Também a Região Norte expandiu a área plantada que de uma base pequena em 1960, de 0,43 milhões de hectares passou para 2,77 milhões de hectares, crescimento de 6,40 vezes no mesmo período. Se observarmos os mesmos dados referentes ao ano de 1996, vemos que deste ano para o ano de 2004 as Regiões Nordeste, Sudeste e Sul decresceram suas participações relativas e praticamente estabilizaram suas participações absolutas, ou seja, quase não cresceram suas respectivas áreas plantadas período este em que as Regiões Norte e Centro-Oeste tiveram acréscimos nas suas áreas plantadas, tanto absoluta como relativamente. Obviamente que esta expansão da agricultura, assim como ocorre com a expansão da pecuária, no Norte e no Centro-Oeste, só foi possível devido a conversão da cobertura vegetal nativa, ou seja, ao desmatamento. É claro também que esta foi a orientação governamental até o final da década de 80 do século passado, que estimulou a migração tanto da população como dos investimentos para aquelas regiões. Alguns destes instrumentos ainda persistem, como os Fundos Constitucionais de Desenvolvimento Regional (FCO, FNO), embora o Nordeste também seja beneficiado com seu respectivo fundo, o FNE. 4.5 Expansão da pecuária - rebanho bovino Durante muitos anos a pecuária foi a atividade principal que sustentou a economia e a ocupação territorial das Regiões Centro-Oeste e Norte. Desde 1960 até hoje continua sendo uma atividade relevante para a economia regional e a principal atividade para ocupação territorial. Página 22 de 37

A tabela 12 abaixo mostra que em 2004 a Região Centro-Oeste concentrou 34,80% do rebanho bovino do país, seguida pela Região Norte com 19,45% do total, enquanto em 1960 o Centro-Oeste detinha 18,79% e a região Norte apenas 2,20% do rebanho bovino brasileiro. TABELA 12 - Rebanho Bovino por região Região Número de cabeças 1960 1996 2004 % Número de cabeças % Número de cabeças NO 1.234.882 2,20 17.276.621 11,28 39.787.138 19,45 NE 11.555.757 20,62 22.841.728 14,92 25.966.460 12,70 SE 21.131.024 37,71 35.953.897 23,49 39.379.011 19,26 SU 11.678.003 20,84 26.219.533 17,13 28.211.275 13,79 CO 10.532.835 18,79 50.766.459 33,12 71.168.853 34,80 Brasil 56.041.835 100 153.058.275 100,00 204.512.737 100 Fonte: IBGE 1960 e 1996, Censo Agrícola Brasil; 2004 IBGE/SIDRA/PPM % O crescimento do rebanho bovino brasileiro de 264%, no período de 1960 a 2004, ocorreu fundamentalmente em função da expansão da atividade pecuária nas Regiões Norte e Centro-Oeste. A região Norte com um crescimento 3.121% e a Região Centro-Oeste com crescimento de 575%. Juntas as Regiões Centro-Oeste e Norte somaram 54,25% do rebanho bovino brasileiro, em 2004. A expansão da pecuária bovina ocasionou grandes impactos ambientais. Se aplicarmos a relação hectare/cabeça de gado bovino encontrada pelo Censo Agropecuário de 1995/1996 9 para o ano de 2004, o rebanho bovino do Centro-Oeste de 71,16 milhões de unidades exigiria 87,53 milhões de hectares de pastagens. A Região Norte, por sua vez, em 2004 exigiria 56,09 milhões de hectares de pastagens para os 39,78 milhões de cabeças de gado bovino. Contudo, para se avaliar os impactos ambientais, é preciso levar em conta a utilização pela pecuária (bovina) das pastagens naturais que, em 1996, correspondiam na Região Centro- 9 O Censo Agropecuário do IBGE 1995/1996 constatou na Região Norte a relação de 1,41 hectare/cabeça de gado bovino e na Região Centro-Oeste 1,23 hectare/cabeça de gado bovino. A mesma fonte informa sobre a participação de pastagens naturais nos totais das áreas de pastagens das referidas regiões Página 23 de 37

Oeste à 27,3% e na Região Norte à 39,47% do total das pastagens; e, finalmente há que considerar o que não foi possível neste texto por falta de estatísticas oficiais adequadas os ganhos de produtividade ocorridos ao longo deste período, promovendo, provavelmente, a ocupação de uma menor área de pastagem por cabeça de gado bovino. 4.6 A Evolução do PIB Regional Os dados existentes sobre a participação do PIB da Região Centro-Oeste e das demais Grandes Regiões do País no total do PIB brasileiro são indicadores do maior crescimento econômico que ocorreu nas Regiões Centro-Oeste e Norte, comparativamente às demais Regiões. No período de 1960 a 1996 a taxa média anual de crescimento do PIB do país foi de 5,2%, enquanto o PIB da Região Centro-Oeste cresceu a 8,1% e o da Região Norte a 8,6%. Igual diferenciação ocorreu com o PIB per capita, enquanto o do Brasil, no período, cresceu a taxas médias anuais de 2,8%, as da Região Centro- Oeste foram da ordem de 4,1% e a da Região Norte de 4,2%. TABELA 13 - Taxas Médias Anuais de crescimento do PIB total e per capita Brasil e Regiões 1960 1996 Região PIB TOTAL PIB PER CAPITA NO 8,6 4,2 NE 5,1 3,0 SE 4,8 2,5 SU 5,1 3,2 CO 8,1 4,1 BRASIL 5,2 2,8 Fonte: Dados Brutos IBGE e IPEA Aristides Monteiro Neto 1996 Esse crescimento desigual do PIB também continuou no período 1997-2003, favoravelmente às Regiões Centro-Oeste e Norte (tabela 14). Página 24 de 37

TABELA 14 - PIB a preços correntes do Brasil e Regiões e Taxa de crescimento no período 1997-2003 Regiões 1997 2003 Δ 2003/1997 % No 38.507 77.346 100,86 NE 113.942 214.598 88,34 SE 509.961 858.723 68,39 SU 153.945 289.253 87,89 CO 54.389 116.172 113,59 BRASIL 870.743 1.556.182 78,72 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE A Região Centro-Oeste foi à região que teve maior incremento do PIB no período 1997-2003, cerca de 113,59%, seguida pela Região Norte com 100,86% - o que explica, dentre outras coisas, o aumento de suas respectivas participações relativas no PIB do país, porque suas economias regionais tiveram dinamismo superior ao do conjunto da economia brasileira (tabela 15). TABELA 15 - Participação Percentual das Regiões no PIB do Brasil Regiões 1970 1985 2003 Δ 2003/1970 (%) NO 2,22 3,84 4,98 124,32 NE 12,03 14,10 13,79 14,63 SE 64,98 60,15 55,18 (-) 15,08 SU 17,11 17,10 18,59 8,65 CO 3,64 4,81 7,47 105,22 Brasil 100,00 100,00 100,00 100,0 Fonte: FGV (1970) - IBGE (1985, 2003) Em 1970 a Região Centro-Oeste contribuía com apenas 3,64% do PIB do país, alcançando 7,47% em 2003 multiplicando por 2 a sua parcela no PIB brasileiro. A tabela 15 mostra que apenas a Região Norte teve um crescimento Página 25 de 37

relativo maior do que a Região Centro-Oeste, partindo de uma base pequena, da ordem de 2,22% em 1970 e atingindo 4,98% em 2003. O crescimento extraordinário da participação relativa das Regiões Centro- Oeste e Norte no PIB brasileiro é devido principalmente às atividades agropecuárias, dentre às quais a cultura da Soja. Contudo, não se deve menosprezar o avanço das atividades industriais e de serviços. No caso da Região Centro-Oeste merece destaque neste sentido o Distrito Federal; e da Região Norte, o Estado do Amazonas, com a Zona Franca de Manaus. 4.7 A variável ambiental : Desmatamento Não há séries históricas de dados estatísticos de impactos ambientais provocados pelo padrão de ocupação territorial e do desenvolvimento econômico sobre os Biomas, com recortes das Grandes Regiões ou mesmo das Unidades da Federação, que possibilitem uma análise comparativa. Por isto mesmo, esta tentativa empreendida neste texto deve ser entendida como uma aproximação bastante primária, indicativa a partir da variável desmatamento. Dados sistemáticos sobre desmatamentos só existem sobre o Bioma Amazônia. Trata-se de uma série histórica de dados anuais produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Ministério de Ciências e Tecnologia desde 1977/78, por meio da análise de imagens de satélite, cobrindo a Amazônia Legal, isto é, toda a Região Norte, e as partes amazônicas dos Estados do Mato Grosso e do Maranhão. As estimativas sobre os outros biomas são de fontes variadas, gerando dificuldades comparativas e analíticas, donde o alerta para considerá-las como uma primeira aproximação sobre o tema. Os dois Biomas sobre os quais se tem dados mais confiáveis sobre desmatamento, são o Bioma Amazônia e o Bioma Mata Atlântica. O Bioma Amazônia apresenta um índice de desmatamento da ordem de 15,5% e o Bioma Mata Atlântica cerca de 90,8%. Página 26 de 37

TABELA 16 - Índice de Desmatamento dos Biomas Brasileiro Bioma Área do Bioma (km 2 ) (1) Área desmatada do Bioma (%) Amazônia 4.196.943 15,5 (2) Cerrado 2.036.448 57,0 (3) Mata Atlântica 1.110.182 90,8(4) Pampa 176.496 - Pampa 150.355 - Brasil 8.514.877 - Fontes: 1. IBGE/MMA Mapa de Biomas do Brasil, 2005; 2. INPE, PRODES, 2005; 3. Conservation International; 4. Rede Mata Atlântica. Nas Grandes Regiões, onde predominam biomas com altos índices de desmatamento, necessariamente, apresentam um grande índice de desmatamento em relação ao seu território. Por exemplo: a Região Sul, onde predominava a Mata Atlântica (69,36% do seu território), ou a Região Sudeste, cujos domínios da Mata Atlântica correspondiam a 53,97% e o Cerrado com 44,75% de sua área. 5 INICIATIVAS DE COMPENSAÇÃO ECONÔMICA PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS QUE CONTRIBUEM PARA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 5.1 Propostas inovadoras Assim como é aceito o princípio ambiental do poluidor pagador, que obriga o agente causador do dano ambiental a se responsabilizar pela sua reparação ou compensação, está crescendo, tanto na comunidade internacional, como internamente no Brasil, a aceitação do princípio ambiental de se premiar, compensar ou remunerar aquele agente público ou privado que promover a preservação ambiental (princípio do preservador-recebedor ). O caso clássico de aplicação deste princípio na esfera internacional é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) criado pelo Protocolo de Kyoto, que remunera aqueles agentes públicos e privados que investem em projetos de redução de emissão de gases de efeito estufa ou captação destes mesmos gases. Página 27 de 37

No plano nacional existem algumas tentativas na administração federal, como o chamado FPE Verde ; e, na esfera estadual, algumas experiências concretizadas, como o chamado ICMS Ecológico. 1 - Medidas Internacionais a) Protocolo de Kyoto É um instrumento da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas. Concebido em 1987, entrou em vigor em 2005. Parte do princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas de todos os países sobre as mudanças globais do clima, recaindo o ônus maior e obrigatório de redução das emissões de gases do efeito estufa sobre os países desenvolvidos. O Protocolo de Kyoto por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MDL, possibilita que países que não têm metas obrigatórias de redução das suas emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEEs), como o Brasil, possam promover projetos de captação do carbono atmosférico (aflorestamento e reflorestamento) ou que evitem emissões de gases, como por exemplo, usinas de captação e destino industrial para gás metano dos aterros sanitários e que possam vender os Certificados de Redução dos GEEs para os países que têm metas obrigatórias de redução destes gases. b) Proposta de Compensação pelo Desmatamento Evitado Foi aceita na Conferência das Partes da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas (COP-11) a proposta para discussão sobre uma compensação financeira para os países que preservam suas florestas (proposta apresentada por Papua Nova Guiné, Costa Rica e Brasil). Pensa-se em um mecanismo extra Protocolo de Kyoto, que será objeto de discussão nos próximos 2 anos. II Iniciativas Nacionais a) Fundo de Participação dos Estados - FPE PLP 351/2002 - Proposta de Projeto de Lei Complementar da Senadora Marina Silva, aprovado no Senado, em tramitação na Câmara dos Deputados. Ementa: Cria uma Página 28 de 37

Reserva do FPE de 2% (dois por cento) do seu total a ser distribuído às Unidades da Federação que abriguem Unidades de Conservação da Natureza ou Terras Indígenas demarcadas. Esta Reserva seria composta de 0,5% do total do FPE destinado a Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (passaria de 85 para 84,5%), mais 1,5% do total destinado a Regiões Sul e Sudeste (passaria de 15 para 13,5%). Se aprovada, esta lei beneficiaria mais as Regiões Norte e Centro-Oeste, que mais cedem parte dos seus territórios para Unidades de Conservação Federal e Terras Indígenas. b) Fundo de Participação dos Municípios FPM PL 93/2003. Proposta de Projeto de Lei do Deputado Pastor Frankembergen, Ementa: Cria Reserva do FPM destinado aos municípios que abrigam Terras Indígenas em seus territórios. A reserva seria criada por 3% dos recursos do FPM, alocada, considerando a porcentagem de território de cada município abrangido por Terras Indígenas. III Iniciativas Estaduais: a) ICMS Ecológico: Trata-se de um mecanismo estabelecido por leis estaduais que estabelecem uma porcentagem do total do Fundo Estadual composto pelo ICMS destinado aos municípios, distribuído segundo critérios ecológicos. Alguns estados já instituíram e colocaram em funcionamento o ICMS Ecológico, por exemplo: PR, SP, MG, MT, GO, MS, TO, RS. O critério mais usado é aquele que compensa os municípios que cedem parte dos seus territórios para Unidades de Conservação e Terras Indígenas. 5.2 Iniciativas fiscais com pressupostos ambientais No Brasil não existe uma política ambiental baseada em instrumentos econômicos (creditícios, tributários), embora exista uma série de iniciativas fiscais com pressupostos ambientais sobre as quais este trabalho fará uma referência. Página 29 de 37

As iniciativas fiscais com pressupostos ambientais geram recursos orçamentários que são compartilhados pela União, Estados e Municípios quase sempre sem condicionalidade ambiental quanto à sua aplicação conforme se pode ver a seguir: a) Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico CIDE: Incide sobre o consumo de derivados de petróleo e gás natural. Estabelecida pela Emenda Constitucional nº. 33/2001, regulamentado pela Lei nº. 10.336 de 19/12/2001 que obriga a utilização de parte dos recursos arrecadados em projetos ambientais (Art. 1º. Parágrafo 1º. Inciso II). A partir de 2004 (Lei nº. 10.866/2004) a União passou a transferir parte dos recursos arrecadados via CIDE (que em 2005 totalizaram 7,8 bilhões de reais) aos Estados. b) Royalty - sobre extração de petróleo e gás natural: Incide sobre a atividade extrativa de petróleo, xisto betuminoso e gás natural. A Lei nº 7.990 de 28/12/1989 fixou em 5% o montante mínimo do valor bruto da produção; alterado para 10% da produção de petróleo e gás natural pela Lei nº. 9478/1997 que é transferido para Estados e Municípios onde se localizam as áreas de exploração, proporcionalmente ao volume produzido. c) Compensação pela utilização de recursos hídricos para fins de geração de eletricidade: Incide sobre a produção de energia por usinas hidrelétricas; correspondendo a 6% do valor da energia produzida, dos quais 45% são transferidos para os Estados e 45% para os Municípios, repartidos segundo a área inundada e outros parâmetros. Criada pela Lei nº. 7.990 de 28 de dezembro de 1989. d) Compensação financeira pela exploração de recursos minerais: Corresponde a 3% do valor do faturamento líquido resultante da venda do produto mineral. Criada pela Lei nº. 7.990 de 20 de dezembro de 1989. Sua distribuição foi assim definida pela Lei nº 9993 de 24 de julho de 2000: 65% para os Municípios; 23% para Estados e Distrito Federal e 12% para União (dos quais 2% para o IBAMA). Página 30 de 37