RESENHA SEMANAL E PERSPECTIVAS No Brasil, Copom sinaliza condições para cortes de juros, mas ciclo não é iminente. Nos EUA, indicadores de confiança mais fracos afastam alta de juros no curto prazo. No Brasil, a ata do Copom sinalizou as condições para o início do ciclo de juros, mas não indicou urgência na flexibilização. Na discussão sobre o cenário doméstico, o Banco Central avaliou que a economia tem evidências mais claras de estabilização e há sinais de retomada da gradual da atividade econômica. Apesar da inflação registrar resultados acima do esperado no curto prazo e aumento das projeções de inflação para 2016, o Banco Central considera que houve avanços nas expectativas e nas projeções de inflação para horizontes mais longos, que já se encontram em torno da meta de 4,5%. No cenário internacional, a ata salientou o aumento das incertezas quanto ao processo de normalização da política monetária nos Estados Unidos, o que elevou o risco de interrupção do ambiente externo benigno. A implementação e aprovação das medidas de ajuste, em especial, as reformas fiscais foram citadas como fundamentais para o cenário de inflação esperado. A ata discutiu também a decisão de retirar do comunicado da decisão a menção anterior que não há espaço para flexibilização da política monetária. O Comitê entendeu que a mudança de comunicação era necessária para retirar o caráter temporal e estabelecer as condições para a flexibilização da política monetária a fatores econômicos. Assim, a ata reafirmou que a flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação, em especial para 2017. Os condicionantes são a expectativa que a persistência do choque de alimentos seja limitada, os componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade indiquem desinflação em velocidade adequada (recuo das medidas de núcleo de inflação) e a redução da incerteza sobre a aprovação e implementação das medidas fiscais. A ata adicionou que não há fator que individualmente defina o início do processo de flexibilização, e que a avaliação dos impactos desses fatores sobre o cenário de inflação envolverá julgamentos sobre as evidências disponíveis. A ata não modificou nossa avaliação que o processo de corte de juros deverá ser gradual e deverá iniciar com um corte de 50 pontos base na reunião de novembro desse ano. O IPCA de agosto registrou inflação em linha com esperado, mas os núcleos mantiveram-se pressionados. O IPCA registrou alta de 0,44%, em linha com o consenso de mercado e ligeiramente acima da nossa expectativa, que era alta de 0,41%. As principais surpresas com relação a nossa expectativa se concentraram em automóveis novos (alta de quase 1% no mês) e artigos de residência (móveis, TV e som). A inflação de alimentos desacelerou como esperado, passando de alta de 1,32%, em julho, para 0,30%, em agosto. As medidas de núcleo de inflação registraram alta acima do esperado e a média dos núcleos de inflação registrou alta de 7,7% na comparação anual. O índice de difusão subiu para 65,3% e ficou acima da média para o mês de agosto, que é em torno de 60,0%. A inflação de serviços subiu 7,4% na comparação anual, em linha com nossa expectativa, e manteve-se estável e em patamar elevado. Nossa expectativa é que a inflação de alimentos em domicílio deverá permanecer bem comportada, o que deverá permitir que o IPCA desacelere para um patamar em torno de 0,30% em setembro. Nossa projeção é alta de 7,0% para o IPCA em 2016 e 5,0% em 2017. 1
A produção de automóveis registrou queda em agosto, em parte, por fatores pontuais que deverão ser revertidos nos próximos meses. A produção de automóveis e veículos leves registrou queda de 10,1% na margem em agosto, e queda de 19,0% em termos anuais. Esse resultado foi, em parte, reflexo de problemas de oferta de componentes para duas grandes montadoras, o que impactou a produção e reduziu em cerca de 20 a 30 mil unidades a produção de agosto, segundo o presidente da Anfavea. Corrigindo o resultado da produção por essa interrupção, a produção teria caído em 2,3% na margem. Por outro lado, a produção de ônibus e caminhões cresceu 0,5% na margem e subiu 3,1% em termos anuais. O processo de correção de estoques do setor tem avançado e, após atingir 53 dias em dezembro do ano passado, recuou para 36 dias de vendas. O patamar de equilíbrio dos estoques é em torno de 30 dias de vendas, e portanto, esperamos que as quedas de produção em termos anuais sejam mais moderadas daqui em diante visto que o maior parcela de ajuste de produção já ocorreu. 2
Nos EUA, o indicador de confiança do setor de serviços teve forte deterioração em agosto, enquanto oferta de emprego atingiu recorde histórico em julho. O ISM de serviços sofreu forte queda na margem, e passou de 55,5, em julho, para 51,4 pontos, em agosto. Com esse recuo, a confiança atingiu o menor patamar desde o início de 2010. Os componentes também registraram deterioração, e incluíram queda do índice de atividade do setor e do emprego. Essa queda da confiança do setor de serviços juntamente com a piora da confiança da indústria diminuem a probabilidade de alta de juros pelo FED na reunião de setembro. Nossa expectativa é que o FED eleve a taxa de juros na reunião de dezembro. Com relação às expectativas de crescimento do PIB do terceiro trimestre, os dados divulgados até esse momento indicam que expansão entre 3,0 a 3,5% em termos anualizados na margem, e não há sinais de impacto sobre a atividade da deterioração recente da confiança. Os indicadores de mercado de trabalho continuam sinalizando melhora do emprego nos próximos meses. A oferta de vagas atingiu o patamar 5,9 milhões de postos de trabalhos disponíveis em julho, sendo o maior patamar desde 2001. Esse indicador reflete o comportamento do mercado de trabalho pela ótica das empresas e sinaliza a continuidade de melhora do emprego na economia adiante. Os sinais de aquecimento do mercado de trabalho também ficam claros no número de pessoas que pediram voluntariamente demissão, que elevou-se para 3,0 milhões em julho, e atingiu o mesmo patamar pré-crise em 2007. Esses indicadores são importantes pois sinalizam continuidade da tendência recente de aumento do emprego e também de maiores pressões salariais com a aceleração da rotatividade dos trabalhadores. Na Europa, o Banco Central Europeu manteve sua política monetária inalterada, mas sinalizou que novos estímulos podem ser implementados mais à frente. Apesar da decisão do Banco Central Europeu (BCE) ter sido dentro do esperado, a entrevista pós-decisão trouxe uma mensagem mais confiante quanto ao funcionamento da política monetária e a sinalização que o programa de compra de ativos poderá ser revisto para preservar a quantidade substancial de suporte da política monetária incorporada ao cenário esperado pelo BCE. A maior confiança no funcionamento da política monetária ficou clara na baixa revisão das projeções do BCE para o crescimento, inflação e núcleo de inflação para 2016, 2017 e 2018. As projeções de crescimento para esses horizontes tiveram variações marginais como pode ser visto na tabela abaixo. O destaque é a melhora da previsão de crescimento de 2016, que subiu 0,1 ponto percentual para 1,7%, apesar do choque negativo de expectativas resultante do Brexit. Com relação ao programa de compra de ativos, a maior confiança na sua transmissão para a economia reforça a expectativa de ampliação do prazo de 3
vigência de março de 2017 para um período adicional de mais seis a nove meses e também a mudança dos ativos que poderão ser adquiridos. No contexto de boas notícias, a economia do Reino Unido surpreendeu positivamente às expectativas e registrou forte recuperação da confiança do setor de serviços em agosto após a queda acentuada com a divulgação do resultado do Brexit. O PMI de serviços do Reino Unido teve forte alta de 47,4 em julho para 52,9 pontos em agosto. Dessa forma, a confiança se recuperou para o patamar pré referendo e, juntamente com o movimento similar observado no PMI da indústria, indica que a economia deverá ter crescido em torno de 0,2% a 0,3%, no terceiro trimestre, na margem. Caso esse resultado se confirme, os impactos econômicos do Brexit seriam bastante contidos até esse momento. Na China, a balança comercial de agosto surpreendeu positivamente e a deflação dos preços no atacado moderou. As importações tiveram desempenho melhor que o esperado em agosto, e registraram alta de 8,2% na margem, após ter recuado 4,5% em julho na mesma base de comparação. A recuperação das importações refletiram duas forças: aumento da importação de commodities, em especial petróleo e minério de ferro, e forte recuperação da importação de produtos relacionados produção de bens de tecnologia, o que indica aumento das exportações desses produtos mais à frente. Com relação às exportações, houve crescimento de 3,3% na margem em agosto, e também reverteram a contração de 3,8% registrada em julho. Essa recuperação das exportações refletiu a alta das vendas de bens de consumo e produtos mecânicos e elétricos, que subiram 4,8% e 3,0%, na margem em termos dessazonalizados. A recuperação das importações é sinal importante de crescimento da demanda doméstica e confirma nosso cenário de continuidade de crescimento da economia chinesa no segundo semestre desse ano, em torno de 6,5% na comparação anual. A inflação ao consumidor (CPI) registrou desaceleração na comparação anual, e passou de alta 1,8% em julho para 1,3% em agosto. O recuo do CPI deveu-se ao efeito base, pois no mesmo período do ano passado a inflação de alimentos estava pressionada. Na margem, a inflação de alimentos recuou pelo quarto mês consecutivo e registrou deflação de 0,8% em agosto. Por outro lado, a deflação dos preços no atacado (PPI) tem moderado nos últimos meses, e registrou queda de 0,8% em agosto na comparação anual. Os preços no atacado têm registrado deflação nos últimos 54 meses e a diminuição da deflação ajuda a recompor os lucros e a receita das empresas chinesas. Os componentes de preços de insumos das pesquisas de confiança (PMI) indicam que os preços no atacado deverão sair da deflação no início de 2017. 4
Na próxima semana, o destaque ficará por conta da publicação da PMC e da PMS do mês de julho. Na próxima semana, o IBGE publicará a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) na terça-feira e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) na sexta-feira, ambas referentes ao mês de julho. No âmbito internacional, os principais eventos serão a divulgação dos dados de atividade econômica da China (produção industrial, vendas no varejo e investimentos), dos Estados Unidos (produção industrial e vendas no varejo) e na Europa (produção industrial). Além disso, haverá a reunião do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) na quinta-feira para qual a expectativa é a manutenção da taxa de juros de referência e do programa de compra de ativos, bem como a sinalização dos próximos passos da política monetária. 5
INDICADORES DE MERCADO 6
CALENDÁRIO E PROJEÇÕES 7
MARCELO CIRNE DE TOLEDO Economista Chefe marceloc.toledo@bram.bradesco.com.br ANA PAULA ALMEIDA ana.almeida@bram.bradesco.com.br ANDRE NASCIMENTO NOGGERINI andre.noggerini@bram.bradesco.com.br DANIEL XAVIER FRANCISCO daniel.francisco@bram.bradesco.com.br HUGO RIBAS DA COSTA hugo.costa@bram.bradesco.com.br JOSE LUCIANO DA SILVA COSTA jose.costa@bram.bradesco.com.br MARIANNE KOMORI GEHRINGER marianne.e.komori@bram.bradesco.com.br THIAGO NEVES PEREIRA thiago.pereira@bram.bradesco.com.br Tel.: 2178-6600 economia@bram.bradesco.com.br Material produzido em 09/09/2016 às 18h00 Outras edições estão disponíveis no Site: www.bradescoasset.com.br, item Informações aos Investidores / Nossa visão / Informativos de Macroeconomia. As opiniões, estimativas e previsões apresentadas neste relatório constituem o nosso julgamento e estão sujeitas a mudanças sem aviso prévio, assim como as perspectivas para os mercados financeiros, que são baseadas nas condições atuais de mercado. Acreditamos que as informações apresentadas aqui são confiáveis, mas não garantimos a sua exatidão e informamos que podem estar apresentadas de maneira resumida. Este material não tem intenção de ser uma oferta ou solicitação de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro. BRAM - Bradesco Asset Management é a empresa responsável pela atividade de administração de recursos de terceiros do Banco Bradesco S.A. BRAM - Bradesco Asset Management - Todos os direitos reservados. 8