POLÍTICA PÚBLICA PARA O ACESSO E A PERMANÊCIA DE ESTUDANTES NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIO A SER LANÇANDO. Resumo



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Transcrição:

POLÍTICA PÚBLICA PARA O ACESSO E A PERMANÊCIA DE ESTUDANTES NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIO A SER LANÇANDO Resumo O presente trabalho objetiva a reflexão sobre as políticas publicas de acesso no ensino superior. Temos como foco pensar as ações afirmativas a partir das pesquisas desenvolvidas com uma parte do corpo docente a fim de instigar à reflexão a respeito de uma das formas de acesso a universidade por intermédio das políticas de Ações Afirmativas. Abordamos o conceito dessas ações e casos de Universidades brasileiras que aderiram a este método e como este fato se aplicaria no contexto atual da UNIRIO a partir da analise dos perfis dos ingressantes e em contrapartida os posicionamentos dos docentes. Palavras chaves: Ações afirmativas, Universidades, Permanência, Acesso e Políticas Públicas Abstract This work aims to reflect on the policies of public access in higher education. We think the focus and affirmative action from the research developed with the faculty in order to instigate the discussion about a way of access to university through the policies of Affirmative Action. We address the concept of actions and cases of Brazilian universities that joined in this method and apply this fact in the current context of UNIRIO from the analysis of profiles of freshmen and contrast the positions of teachers. Keywords:affirmative action, universities, Residence, Access, and Public Policy

1.INTRODUÇÃO Este artigo é resultado da Pesquisa Ações Afirmativas, Diversidade e Desigualdade na Universidade, desenvolvida pelo Programa de Extensão - Programa Conexões de Saberes na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro(UNIRIO). Neste trabalho buscamos entender a concepção dos docentes da UNIRIO, sobre as políticas de cotas como uma das formas de aplicação efetiva das Ações Afirmativas no Ensino Superior. Analisando os dados obtidos através dos perfis dos ingressantes da Unirio, foi possível perceber a ausência do negro em determinados cursos de maior prestigio econômico e maior valorização social. Isso nos mostra que as oportunidades entre negros e brancos não se dão de forma igualitária, este fato acaba refletindo na realidade educacional. O espaço acadêmico é o local atualmente onde a realidade se expressa com uma maior intensidade. O que pretendemos demonstrar é que se faz necessário a ampliação da discussão a respeito das Políticas de ações afirmativas na esfera científica, para que possamos equipará o acesso de forma igualitária para todos. Diante disso é necessário compreender o conceito de Ação Afirmativa e outras noções afins, como as de igualdade, políticas compensatórias e reparatórias. Apresentaremos alguns desafio das implementações de políticas públicas direcionada para o acesso de grupos vulneráveis que enfrentam preconceitos e sofrem discriminação. 2.Conceito de Ações Afirmativas e Princípio de Igualdade Segundo Barbosa (2001), as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário (p.5), com intuito de combater a discriminação racial, de gênero, deficiência e nacionalidade, para reparar os efeitos discriminatórios gerados historicamente, tendo o objetivo de igualar o acesso aos bens fundamentais tais como educação e emprego, e além disso, tende a promover a oportunidade de ascensão de grupos majoritários ou minoria que não se sentem representados socialmente.a política de ação afirmativa tende a atender um grupo específico que seriam a população negra, indígenas, pessoas com deficiências, estudantes da rede pública, mulheres negras, grupo este que de certo modo sofreram com algum tipo de discriminação historicamente

As Ações Afirmativas podem ser vistas como uma ação compensatória, reparatória, e/ou preventiva que busca corrigir uma situação de discriminação e desigualdade imposta a certos grupos no passado, que ainda permanecem nas ações preconceituosas do cotidiano. As Ações Afirmativas atingem uma série de objetivos que tende a concretizar o princípio de igualdade de oportunidades, mas, nos focalizaremos no acesso democrático a educação superior, em que as cotas se incluem políticas de ações afirmativas. Vemos que a educação possibilita ao indivíduo apreender aspectos culturais da sociedade, de modo que o mesmo se reconheça com suas habilidades, atue participativamente e se auto-valorizando. De acordo com Bergman (1996), o conceito de ação afirmativa é tratada de forma bastante ampla, pois insere aspectos sociais, culturais e psicológicos. As ações afirmativas podem representar grupos majoritários, como por exemplo, os negros, que quando se trata de questões sócias, políticas e econômicas a representação é mínima e quando existe esta representatividade a mesma é insignificante. Segundo Barbosa (2008), a noção de igualdade surge como categoria jurídica no final do século XVIII. De acordo com esta categoria e perante a lei a igualdade deve ser igual para todos sendo assim uma construção jurídico formal, genérica e abstrata, por não considerar os aspectos étnicos, raciais e/ou de gênero de uma população. Por não haver distinção entre pessoas, a lei quando for aplicada, deve se incidir de forma neutra sobre as situações jurídicas, concretas e sobre os conflitos interindividuais. A noção de igualdade tinha como objetivo abolir os privilégios do antigo regime para dar cabo às distinções e discriminações baseadas na linguagem, no <<rang>>, na rígida e imutável hierarquização social pó classes (<<classement par ordre>>) (p.2), no período da revolução burguesa. Recaindo assim sobre os próprios sujeitos a responsabilidade do fracasso ou sucesso no sistema. Tratar da igualdade é reconhecer, inicialmente, as enormes diferenças que integram a estrutura política, histórica e social de um povo; é perceber a multiplicidade e a necessidade de coexistência de concepções distintas; é aceitar e respeitar as diversidades, reconhecendo que todos, independentemente de suas aptidões ou condições, detém os mesmos direitos 3.Síntese das ações afirmativas nas Universidades Públicas Federais no Brasil.

No final da década de 1990 o Brasil adotou em consequência da preparação para a III Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata, que se realizou em Duban, as políticas de acesso a universidade pública diferenciadas para negros. No ano subsequente, como meta o Programa nacional de Direitos Humanos II institui que o número de alunos universitários seja o espelho da diversidade racial e cultural da sociedade brasileira, visando à promoção igualitária de acesso ao ensino superior. Com as discussões levantadas, os grupos da sociedade mais conservadores sentiam que esta seria uma tentativa de modificação da estrutura social no país. Mesmo com esse embate político, no pais, diversas Universidade como: Estado Norte Fluminense (UENF) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em consequência a Lei Estadual que reserva 40% das vagas para estudantes negros, foram as primeiras universidades a aderirem ao sistema de cotas no vestibular de 2003 e sendo a Universidade de Brasília a primeira federal em 2004. Atualmente temos no Brasil 52 instituições federais de ensino superior, sendo que 23 contemplam, mediante a realização do vestibular, alguma forma de acesso à educação superior. Segundo observatório de favelas (...) essas políticas de acesso se classificam em: 1. Cotas raciais; 2. Reservas de vagas para estudantes oriundos da rede pública de ensino; 3. Acréscimo na nota no vestibular para os estudantes do ensino público; Com base nas Universidades Federais que contem ações afirmativas diferentes de acesso, foi possível verificar que; dez dessas universidades reservam vagas para negros, cinco para pardos, sete para indígenas, doze beneficiam os oriundos de escolas públicas, uma a negros que vieram de escolas públicas, uma para mulheres negras, duas para portadores de necessidades especiais e quatros IFES tem como ação afirmativa o acréscimo de notas a vestibulandos oriundos de escolas públicas. Por tanto os dados que tivemos acesso através do estudo feito pelo Observatório de Favelas indica que esta experiência pode ser vista de maneira positiva levando a investigações que possam nos revelar outros políticas de acesso dos estudantes na universidade.

Segundo o filósofo Renato Janine Ribeiro em seu artigo um dos melhores meios, mas não necessariamente o único,ou sequer o melhor em si apenas o melhor num arsenal de meios não revolucionários. ( Silva 2001, apud Ribeiro 2000). 4.Posicionamento dos docentes na UNIRIO/ Perfil dos estudantes Dentre as políticas de ações afirmativas temos a políticas de cotas como um dos processos de entrada nas universidades públicas ou privadas, em que não se deixa de lado a questão do mérito, ou seja, os ingressantes passariam pelo processo de avaliação, o vestibular. Como a questão das cotas ainda gera polêmicas em nossa sociedade até mesmo no meio acadêmico, direcionamos algumas reflexões sobre a aceitação da política de cotas na visão dos docentes da Unirio, que consta em algumas pesquisas 1 do Programa Conexões de Saberes. Ao analisarmos o posicionamento dos docentes quanto à política de cotas raciais, percebemos que 54% dos entrevistados são contra as cotas, enquanto 36% são a favor da adoção e 4% fazem ressalvas quanto às cotas. Se fossemos avaliar fenotipicamente os entrevistados, observaríamos duas pessoas negras em que apenas uma delas argumentou ser favorável às cotas. Diante disso, percebemos nos discursos dos docentes que as cotas podem atingir o principio de igualdade constitucional; o principio do mérito; reforçar a estigmatização do negro e o problema do acesso é uma questão social e não racial. E a partir desses discursos temos alguns contra-argumentos nos estudos do autor Medeiros (2005) que nos auxiliará refletir alguns efeitos no meio acadêmico. Medeiros (2005) argumenta que se pensarmos as cotas como o principio de igualdade, teremos apenas uma justiça formal na sociedade, que apenas se baseia nos direitos iguais à todos diante das leis. Mas a população negra no Brasil ainda está longe de atingir o mesmo direito político, social e cultural dos grupos que se consideram branco. Notamos isso na citação de Henriques, (...)todos os níveis de escolaridade dos adultos negros em 1999 são inferiores aos indicadores dos adultos brancos em 1992. Destaca-se em particular, a taxa de analfabetismo de mais de 15 anos: em 199 essa taxa era de 19,8% entre os negros, sendo que 1992 era de 10,6% entre os brancos. Observamos, portanto, que à medida que avançamos nos 1 Pesquisa realizada no ano de 2006/2007 com 30 docentes da universidade que ministram em diferentes centros de ensino.

níveis de escolaridade formal da população adulta, as posições relativas entre brancos e negros são crescentemente punitivas em direção aos negros. (HENRIQUES,2001:29) Considerando a questão do mérito, que traz diversas discussões sobre o vestibular como forma de avaliação, em que surge desconfiança quanto ao desempenho dos ingressantes por meios das políticas de cotas. No entanto, destacamos que os resultados no vestibular não garantem se o ingressante terá ou não um bom desempenho acadêmico na graduação, como reflete Medeiros: De acordo com muitos especialistas, o vestibular não serve para avaliar as possibilidades de sucesso do estudante, seja do ponto de vista acadêmico ou principalmente do futuro desempenho no mercado de trabalho. Para eles, o vestibular mede unicamente a capacidade de fazer vestibular. Exemplo disso são reportagens recentemente publicadas mostrando que os reitores de nossas principais universidades públicas, caso se submetessem aos vestibulares de suas próprias instituições, não passariam. E a maioria dos alunos aprovados num vestibular também não passaria, caso fosse submetida a este no ano seguinte. (MEDEIROS, 2005, p. 128). Referente ao problema ser social e não racial, alguns estudos 2 comprovam a desigualdade racial está conjuntamente atrelada a desigualdade social. Isso exige que haja distintas soluções, principalmente a população negra, pois não haveria os mesmos benefícios tanto ao pobre branco como são apresentadas em reportagens sobre as diferenças salariais de gêneros e raças. Como último contra-argumento sobre a estigmatização do negro por ser vista como algo prejudicial ao negro. Mas os ingressantes das politicas de cotas ou não precisam preencher os requisitos estabelecidos pela instituição para adquirir a obtenção do diploma acadêmico. Ao analisar os dados do perfil dos ingressantes 3 de 2007, perceberemos que 15% dos cursos de pesquisados possuem alunos negros, enquanto 85% se consideram brancos. Já em relação, a escolaridade notamos que apenas os cursos de Biblioteconomia com 59% e Arquivolgia com 60% são alunos oriundos da escola pública, ressaltando que esses cursos se encontram em turno noturno. 2 Estudo de Ricardo Henriques (2001) comprovando que nos últimos 70 anos, as políticas educacionais que melhoram os padrões do ensino público beneficiam mais os pobres brancos que os pobres negros. 3 Referente apenas há 13 cursos de graduação: Biblioteconomia, Pedagogia, Teatro, Direito, Biologia, Enfermagem, Arquivologia, Nutrição, Sistema de Informação, Medicina, Turismo, História e Museologia.

Se pensarmos nas diferentes políticas adotadas em outras universidades públicas, e diante do perfil de ingressantes na Unirio, sugerimos serem adotadas as cotas para negros conjuntamente com cotas para oriundos da escola pública, mas isso também exige repensar nas políticas de permanência na própria universidade. 5.Ação como Permanência É necessário pensar a permanência da população negra, indígenas e dos estudantes de origem popular no ensino superior no Brasil, pois este fato constitui um grande desafio para a sociedade no qual se diz ser verdadeiramente democrática. É preciso prover de recursos básicos para estes estudantes de modo que os mesmo possam ultrapassar os obstáculos e superar os empecilhos que posam intervir no seu bom desempenho acadêmico. Após o ingresso no ensino superior, tais estudantes se encontram em grandes dificuldades socioeconômicas, pois muitas das vezes eles estes são os primeiros da família a ingressar no ensino superior, sendo assim, a família se reuni para ajudar nos custeios de sua manutenção ou situação contraria, são estes mesmos jovens que ajudam no custeio da manutenção familiar e acabam se vendo sem condições financeiras para manter seu curso de graduação. Quando se trata de condições adversas de permanência nas Universidades Públicas brasileiras, o estudante negro de baixo poder aquisitivo clama por ações que venham assistir em todas as instâncias da sua vida acadêmica. As ações em questão seriam: condições a saúde; acesso a instrumentos pedagógicos básicos para a formação social e profissional nas mais diferentes áreas do conhecimento; acompanhamento aos alunos com necessidades especiais e recurso mínimos para a sobrevivência do estudante tais como moradia, alimentação, transporte e recurso financeiro. É preciso chamar a atenção para a evasão e a retenção que ocorre dentro das instituições de ensino superior, esses fatores representam grandes prejuízos sociais e financeiros. Primeiro porque quando o aluno evadi, todo o recurso que foi investido nele se perde, consequentemente, passa a existir uma vaga ociosa daquele que não entrou por cauda da oferta de vagas. Por outro lado, temos os estudantes que retardam o término do curso devido as dificuldades econômicas. Neste caso, o estudante acaba ocupando uma vaga que poderia estar sendo ocupado por outro candidato. É importante citar, como exemplo, o resultado do estudo realizado pela UFMG, que comparou o desempenho

acadêmico de seus estudantes. Foi constatado que os bolsistas dos programas de assistência não apresentaram diferença no desempenho acadêmico, quando comparados aos demais, apesar das diferenças socioeconômicas entre os dois grupos. Além disso, o estudo revelou que os estudantes apoiados pela instituição concluíram seus cursos em menor tempo, apresentaram menor percentual de abandono, de mudança de curso e de trancamento de matrícula.( observatório de Favelas Estudos sobre políticas de ação afirmativa na universidade pública brasileira) Não devemos pensar políticas de permanência apenas como ações de assistência direta ao estudante, mas, como um conjunto de ações que venha a acrescentar a discussão com uma visão democrática para os estudantes universitários. 6.Considerações finais Com o estudo realizado, percebemos a necessidade de ampliar os debates sobre políticas de ações afirmativas no meio acadêmico. Não basta termos uma política que viabilize a entrada de estudantes negros e de origem popular nas Universidades se não houver uma discussão concomitante, como de permanência visando uma política que ofereça condições de vida, moradia estudantil, alimentação e apoio no material didático. Essas questões devem ser aprofundadas no âmbito educacional, não adianta apenas vislumbrarmos o acesso sem olharmos também para a permanência desse estudante na Universidade. Os dados que tivemos acesso possibilitou uma possível simulação de uma possível implementação de ações afirmativas que podem ser vista de maneira positiva e que futuramente serviram para investigações de novos métodos de entrada no ensino superior, de estudante de origem popular e negros. Será possível com essas informações pensar discussões de ações afirmativas na Unirio, onde não encontramos nenhuma dessas ações. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

MOEHLECKE, S. Ação Afirmativa: história e debates no Brasil. Cadernos de Pesquisa, n. 117, nov. 2002, p. 197-218 GOMES, Joaquim B. Barbosa, (2001). Ação afirmativa e principio constitucional da igualdade. O direito como instrumento de transformação social. Rio de Janeiro. BARBOSA, BRANDÃO, CARVALHO, SILVA, LANNES. (2007) Estudos sobre políticas de ação afirmativa na universidade publica brasileira. Rio de Janeiro.