Reações de Substituição Nucleofílica Alifática ao Carbono Saturado

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Transcrição:

Reações de Substituição Nucleofílica Alifática ao Carbono Saturado Em reações de substituição ocorre a troca de um grupamento por outro em uma molécula. Ocorre a quebra de uma ligação, liberando um grupo ao qual chama-se Grupo Abandonador (GA) e a formação de uma nova ligação com um Nucleófilo (Nu). O nucleófilo não pode se adicionar antes da saída do grupo abandonador caso contrário, teríamos um carbono com cinco ligações. Com isto, existe duas possibilidades de mecanismo reacional que podem ocorrer. Na primeira opção, o GA sai deixando o carbono com uma carga positiva. Somente depois o Nu ataca este carbono formando o produto. Este mecanismo é chamado mecanismo SN1. A segunda possibilidade, mostra que a única forma de o átomo de carbono aceitar elétrons é ele perder elétrons ao mesmo tempo. Este mecanismo chama-se SN2 e a quebra da ligação com o GA ocorre ao mesmo tempo da formação da ligação com o Nu. 1. Mecanismo SN1 Neste mecanismo ocorre a clivagem da ligação C-GA como primeira etapa, formando intermediário carregado positivamente (Carbocátion C + ). Como o GA é mais eletronegativo que o carbono, ele sai com os elétrons da antiga ligação deixando o carbono com deficiência de elétrons.

A segunda etapa é o ataque do nucleófilo ao carbocátion e a formação do produto. A etapa mais lenta da reação é a primeira etapa, pois forma uma espécie carregada a partir de uma neutra. Além disto, por ser muito reativo, o carbocátion reage rapidamente com o Nu. Por isto, a segunda etapa é a etapa rápida. Por ser a mais lenta, a primeira etapa é a determinante da velocidade. Como o mecanismo ocorre em duas etapas, tem-se dois estados de transição (ET). O primeiro ET, leva ao carbocátion (C + ) e o segundo ET leva ao produto, conforme pode ser observado no gráfico abaixo. A reação que ocorre através de mecanismo SN1 é UNIMOLECULAR, pois no ET determinante da velocidade, somente o substrato participa (somente uma espécie participa). Como a etapa determinante da velocidade não envolve o nucleófilo, adicionar maior quantidade desta espécie não faz com que a reação seja mais rápida. Observando a equação da velocidade, vemos que a cinética da reação é de primeira ordem em relação ao substrato da reação SN1, ou seja, proporcional a concentração desta espécie. Uma vez, que somente o substrato está envolvido na etapa lenta e determinante da velocidade. A

velocidade da reação também depende da estrutura do substrato, pois depende disto a estabilidade do ET/carbocátion. A equação que descreve a velocidade desta reação é de primeira ordem global, e só depende do substrato. V = K [substrato] V = velocidade da reação K = constante de velocidade [substrato] = concentração do material de partida Como este mecanismo também pode ser chamado de solvólise, pois geralmente o solvente age como nucleófilo e, realmente pensarmos no nucleófilo como solvente da reação, este raciocínio fica ainda mais fácil. O solvente está em uma quantidade muito maior que o substrato e, portanto, sua concentração pode ser considerada constante e não afeta a reação. Mas, não é somente a quantidade de nucleófilo que não importa, a natureza ou reatividade também não. 1.1. Estrutura do Carbocátion Quando ocorre a quebra da ligação e o grupo abandonador fica com o par de elétrons da ligação e o carbono fica deficiente em elétrons (carregado positivamente). Um intermediário carregado é, geralmente, mais instável que um composto neutro. A maneira mais estável de acomodar os elétrons é nos orbitais de mais baixa energia, deixando os orbitais mais energéticos vazios. O substrato que gera o carbocátion está centrado em um átomo de carbono sp 3. Porém, é mais favorável energeticamente que ocorra uma planarização levando a orbitais preenchidos sp 2 e um orbital vazio p. Os orbitais sp 2 são mais estáveis que os sp 3, pois tem maior caráter s. Somado a isto, é muito mais estável ter uma deficiência eletrônica ou carga positiva o mais longe possível do núcleo. Como fator final, a repulsão eletrônica entre as ligações é muito menor em carbono sp 2 que tem estrutura trigonal plana (120 0 ) do que em carbono sp 3 com estrutura tetraédrica (109 0 ).

1.2. Estabilidade do Carbocátion Quando a reação é realizada utilizando um material de partida que leve a um carbocátion mais estável, a reação é mais rápida (pois o ET que leva ao C + também tem menor energia). Por isto, avaliar a estabilidade de carbocátions é relevante. Grupos que doam elétrons ajudam a estabilizar esta espécie. Grupos alquila, por exemplo, doam elétrons por efeito indutivo. Com isto, C + mais substituídos são mais estáveis. Uma estabilização mais efetiva pode ocorrer por conjugação ou pares de elétrons não compartilhado. Compostos alílicos levam a cátions com um orbital ligante contendo dois elétrons deslocalizados por três átomos e um orbital vazio com contribuições somente dos átomos do final da cadeia. Este orbital vazio é o que vai ser atacado pelo nucleófilo, fazendo com que ele se adicione no final da cadeia carbônica. As duas estruturas deslocalizadas são idênticas e a ligação π é compartilhada igualmente pelos 3 átomos. Como a deficiência eletrônica fica concentrada nas extremidades, um cátion alílico simétrico pode levar somente a um produto de SN1, decorrente do ataque em uma das extremidades que são equivalentes.

No entanto, algumas vezes, quando o cátion alílico não é simétrico, pode ocorrer a formação de misturas de produtos. O nucleófilo pode não atacar o carbono que perdeu o grupo abandonador, e sim o carbono na posição β. Neste caso podemos dizer que o mecanismo seguido é o mecanismo SN1. O carbocátion I é um carbocátion secundário, com dois grupos alquila doando elétrons. O carbocátion II é terciário, com 3 grupos alquila. O carbocátion II é mais estável que o I, levando um rearranjo de carbocátion que é favorável energeticamente. Então, o produto formado via SN1 é majoritário. O cátion benzílico é tão estável quanto o cátion alílico. Neste caso, a carga positiva formada é deslocalizada através do anel aromático. Apesar disto, o ataque nucleofílico ocorre na cadeia lateral, fazendo com que a aromaticidade seja mantida. Uma estabilização extra pode ser conseguida pela troca de um dos por grupos doadores de elétrons. Estes grupos devem estar ligados nas

posições o/p para que a carga positiva alcance o carbono diretamente ligado a eles e tenha uma estabilização efetiva. A cadeia lateral também pode aumentar a estabilidade se contiver grupos doadores de elétrons. Outro tipo de carbocátion bastante estável é aquele formado a partir de substrato contendo um grupo doador ligado ao carbono que contém o grupo abandonador. Um caso clássico é o MeOC 2 Cl, que perde o íon cloro em solventes polares formando um cátion estável mesmo sendo primário. Além disto, cátions aromáticos são muito estáveis. Um exemplo é o íon tropílio. O material de partida não é aromático, pois um dos carbonos é sp 3. No entanto, com a saída do GA este carbono planariza ficando sp 2. A carga positiva do C + fica no orbital p. Agora todos os carbonos tem orbital p e o total de elétrons nestes orbitais é 6 e, portanto, 4n + 2 = 6 e n = 1. Com isto este cátion é aromático (número inteiro para n, cíclico e planar). Cl Solvente Íon Tropílio No entanto, um carbocátion, mesmo terciário, é instável se não pode planarizar. Um caso clássico é o carbocátion em cabeça de ponte de biciclos. Devido a tensão angular o carbono continua sp 3 e não ocorre formação do C +, não havendo reação através de mecanismo SN1. Substratos vinílicos e arílicos também não formam carbocátion estável (carga em orbital sp 2 ) e não sofrem reações via SN1. GA GA

1.3. Rearranjo de carbocátion Carbocátions são espécies muito reativas. Uma das maiores evidências para sua formação é que estas espécies podem levar a outras reações além de simples adições de nucleófilos. O esqueleto carbônico pode se rearranjar e isto ocorre sempre que uma espécie mais estável é formada. Para isto pode ocorrer migração 1,2 Alquila (geralmente Me) e 1,2-. Br -Br - Carbocátion Secundário Rearranjo por migração de 1,2- Carbocátion Terciário Nu - Nu Br -Br - Me Carbocátion Secundário Rearranjo por migração de Me 1,2-Me Me Carbocátion Terciário Nu - Nu Me 1.4. abilidade do Grupo Abandonador (GA) O GA faz parte do material de partida e pode influenciar a velocidade da reação SN1. Quanto melhor for o GA, mais fácil ele é eliminado e mais rápida é a reação. Para avaliar-se a habilidade do GA deve-se considerar a força da ligação do GA com o carbono e a estabilidade do GA após sua saída (após a saída o GA forma uma espécie carregada negativamente). Por exemplo, para os halogênios a força das ligações segue a ordem: C-F > C-Cl > C-Br > C-I. Portanto é mais fácil romper uma ligação C-I. Observando a estabilidade do íon formado após a quebra da ligação, tem-se que uma base fraca é mais estável, ou acomoda melhor a carga. Como F é um ácido mais fraco tem uma base conjugada mais forte que I e, I - é mais estável que F -. Com isto, dentre os halogênios, o iodeto é o melhor GA (C-I mais facilmente rompida e base liberada mais estável). Ordem de habilidade: I - > Br - > Cl - > F - O íon hidróxido, que seria o GA em álcoois não é um bom grupo abandonador. Por isto, álcoois só sofrem SN1 se estiverem em meio ácido.

Desta forma o grupo O é protonado e ocorre a eliminação de água como GA (água é um bom GA, pois é neutro, é base fraca). Outra forma de reagir álcoois por SN1 é transformar o O em outra espécie como -OPBr 2, -OMs, -OTs. 1.5. Efeito do Solvente A Reação SN1 é favorecida por solventes polares próticos (solventes polares que tem o ligado a elemento eletronegativo). Isto acontece por que a etapa determinate da velocidade leva formação de íons e, por isto, o ET é mais polar que o material de partida. Assim, o solvente solvata com maior eficiência o ET e o C+ e reduz energia de ativação. A solvatação do nucleófilo não importa, pois este não particida da etapa determinente da velocidade. Exemplos de solventes polares próticos: água, ácidos carboxílicos, metanol, etanol,

1.6. Estereoquímica O mecanismo SN1 ocorre via intermediário planar, fazendo com que a probabilidade de ataque do nucleófilo por ambos os lados seja igual. Por exemplo, partindo de um substrato enantioméricamente puro e reagindo via SN1, ocorre a racemização total. 2. Mecanismo SN2 O mecanismo SN2 ocorre em uma etapa sem a formação de intermediários. A ligação com o GA é rompida ao mesmo tempo que a nova ligação com o Nu é formada. O estado de transição (ET) é como se fosse a metade do caminho entre o material de partida e o produto. A ligação com o nucleófilo está parcialmente formada e a ligação com o grupo abandonador (GA), parcialmente rompida. A energia necessária para quebrar a ligação C-GA é suplantada pela formação simultânea da ligação C-Nu. Orbital p do carbono tem ligações parciais: O ET tem um orbital p no carbono do meio, este compartilha um par de elétrons entre a velha e a nova ligação com um ângulo de 180 0. Após ET, o GA é expelido e carbono fica tetracoordenado novamente.

A reação SN2 é BIMOLECULAR, pois conta com o Nucleófilo e com o Substrato no Estado de Transição (ET). Além disto, o mecanismo é de segunda ordem global. Primeira ordem em relação ao substrato e primeira ordem em relação ao nucleófilo. V = K [Substrato] [Nucleófilo] Com isto, a velocidade depende tanto do substrato quanto do nucleófilo. Concentração e natureza das espécies interferem. Deve-se olhar: impedimento estérico do substrato, habilidade do GA e força do nucleófilo. 2.1. Melhores substratos para SN2 Como o mecanismo SN2 ocorre em uma etapa, o Nu ataca diretamente o substrato (na face anti). Portanto, os melhores substratos devem ter pouco impedimento estérico ao redor do átomo de carbono para facilitar este ataque. Para SN2 tem-se que: Metila ligada a GA, grupos alquila primários ótimos substratos: pouco impedidos ( pequeno). Compostos alquílicos secundários: podem reagir menor velocidade que o anterior Compostos terciários: não reagem Substratos alílicos e benzílicos: reagem rapidamente - carbono pouco impedido e conjugação estabiliza ET.

No exemplo acima, o aumento do impedimento estérico ao redor do carbono diretamente ligado ao GA, diminui a velocidade da reação SN2. Assim como para SN1, compostos alílicos e benzílicos reagem rapidamente por SN2, pois tem o GA ligado a carbono pouco impedido. Além disto, a dupla ligação em compostos alílicos pode estabilizar o ET por conjugação. O grupo benzila age do mesmo modo que o grupo alila, utilizando o sistema π do benzeno para conjugação com o orbital p do estado de transição. Quando tem-se a dupla ligação vizinha ao C-GA pode ocorrer mistura de produtos. O Nu pode atacar o carbono da dupla ligação em um

mecanismo SN2. O mecanismo SN2 prevalece quando a ligação C-GA está muito impedida. Substratos biciclos com GA em cabeça de ponte também não reagem por SN2, pois tem a face anti impedida. Assim como substratos vinílicos e arílicos. R Cl X aleto vinílico Nucleófilo X Br Nucleófilo aleto arílico Br X Nucleófilo aleto em Biciclo Nucleófilo é repelido pela nuvem de elétrons p Impedimento Estérico 2.2. Nucleofilicidade A nucleofilicidade ou habilidade do Nu é importante para reações SN2, pois o Nu participa da etapa determinante da velocidade e da equação da velocidade. Nu melhores levam a reações SN2 mais rápidas. Em reações bimoleculares temos dois fatores gerais que podem afetar a reação: (1) a atração eletrostática entre as espécies e (2) a interação do OMO do nucleófilo com o LUMO do eletrófilo. Em reações via SN2, que envolvem ataque à carbono saturado, a separação de cargas é pequena (pequena carga δ+ concentrada no carbono) quando comparada à abstração de um próton ácido ou ataque ao grupo carbonila (grupamento com concentração maior de δ+ no carbono). Portanto, o fator primordial em SN2 é a interação OMO-LUMO. Por isto, nucleófilos com OMO de maior energia levam a resultados melhores. Espécies básicas são, geralmente, nucleófilos bons por terem um OMO de mais alta energia. Qualquer grupo que estabilize a carga ou o par de elétrons não compartilhado diminui a nucleofilicidade. Quando há estabilização extra através de conjugação e/ou presença de grupos

retiradores de elétrons, a energia do OMO é menor e a espécie menos nucleofílica. Para nucleófilos centrados no mesmo átomo, espécies carregadas são mais fortes e levam a reação mais rápida. Um exemplo é O - e 2 O. O íon O - é nucleófilo mais forte (e também mais básico). Quando compara-se espécies que tem a carga no mesmo elemento devemos considerar se há efeito químico envolvido. A nucleofilicidade abaixo está na ordem decrescente: O - > PhO - > AcO - > TsO - Os grupos Ph, Ac e Ts ajudam a estabilizar a carga negativa, com isto deixam as espécies menos básicas e menos nucleofílicas. Quando compara-se átomos do mesmo período da tabela, temos que levar em conta a eletronegatividade. Átomos mais eletronegativos estabilizam melhor a carga, ou o par de elétrons não compartilhado, e são menos básicas e menos nucleofílicas. Por isto, os Nu abaixo estão em ordem decrescente de nucleofilicidade. 2 N - > O - > F - No entanto, quando compara-se espécies centradas em átomos do mesmo grupo da tabela periódica deve-se tomar cuidado, pois a ordem de basicidade e nucleofilicidade não é a mesma. A nucleofilicidade depende também da polarizabilidade do orbital e esta é melhor em átomos grandes, com orbitais grandes. A nucleofilicidade depende ainda da energia do orbital, OMO de maior energia leva a Nu mais forte. A basicidade leva em consideração o tamanho do orbital e a concentração de carga. Por isto, comparando I - e F -, o I - é mais nucleofílico e menos básico. Isto ocorre por que o iodo é maior e espalha mais sua carga, sendo menos básico. Ao mesmo tempo, o iodo tem orbital de maior energia (OMO de maior energia) e um orbital maior que pode ser distorcido. Além de, por ser maior, não ser solvatado tão fortemente. A solvatação atrapalha o ataque ao carbono.

Outro ponto a ser observado é o efeito estérico. A nucleofilicidade é mais afetada pelo efeito estérico do que a basicidade. Os prótons a serem abstraídos por uma base estão na superfície da molécula, neste caso, o efeito estérico não atrapalha tanto. Pode-se observar abaixo um resumo de espécies que podem ser utilizadas como nucleófilo e/ou base:

2.3. Estereoquímica Em uma reação SN2 o nucleófilo ataca o carbono pelo lado oposto ao grupo abandonador e o carbono tem o chamado efeito guarda-chuva ou inversão de configuração. O mecanismo SN2 é estereoespecífico e ocorre com inversão de configuração do carbono atacado. O motivo pelo qual o ataque do nucleófilo ocorre anti ao grupo abandonador é por que o orbital ligante está ocupado com os elétrons da ligação C-GA e, o orbital antiligante está vazio. O orbital antiligante fica anti a ligação C-GA e é o LUMO (orbital σ*) do substrato. Pensando no ET descrito anteriormente, se o nucleófilo atacasse do mesmo lado em que o grupo abandonador está, ambos Nu e GA se sobreporiam com o mesmo lobo do orbital p, o que não é possível.

3 C C 2 C 3 (S) Br + O - SN2 C 2 C 3 O C 3 (R) + Br - 2.4. Efeito do Solvente Solventes menos polares são a melhor opção de escolha para SN2. O solvente somente deve ser polar o suficiente para dissolver os reagentes. A explicação reside no fato de que a reação SN2 mais comum usa um ânion localizado como nucleófilo e, o ET é menos polar que esta espécie, pois tem a carga dispersa entre dois átomos. Deste modo, solventes polares iriam solvatar com maior intensidade o nucleófilo, fazendo com que a reação fosse mais lenta. O solvente também deve ser aprótico (sem hidrogênio ligado a átomo eletronegativo), pois dificulta mais a solvatação do nucleófilo deixando-o livre para reagir. Solventes que podem formar ligação de hidrogênio tendem a desativar o par de elétrons do nucleófilo por solvatação. Este efeito aumenta com a diminuição do número atômico do átomo nucleofílico, pois assim a carga fica mais concentrada atraindo maior solvatação. Exemplos de solventes apolares/menos polares apróticos que podem ser utilizados em SN2 são: benzeno, CCl 4, acetona, éter dietílico. No entanto se a SN2 for realizada com materiais de partida neutros e ocorrer a formação de um produto carregado, um solvente polar será melhor. Porém, o solvente ainda deve ser aprótico para não interferir na nucleofilicidade. Neste caso pode-se utilizar DMSO ou DMF, por exemplo.

3. Como saber qual mecanismo ocorre? SN1 x SN2! Para responder qual mecanismo ocorre, o fator mais importante é o esqueleto carbônico do substrato. Compostos que levam a carbocátions estáveis, geralmente, reagem por SN1. De fato, de maneira geral, fatores estruturais que levam a carbocátions instáveis, fazem com que uma reação via SN2 seja rápida. No entanto, alguns substratos podem reagir pelos 2 mecanismos, como substratos secundários ou alílicos e benzílicos. Neste caso deve-se olhar para as condições reacionais utilizadas. 4. Substituição Nucleofílica Intramolecular A SN intramolecular pode ocorrer quando na mesma molécula houver um bom GA e um bom Nu e, o Nu um está no Cβ ao GA. Esta reação, geralmente, é muito rápida, pois as duas espécies reagentes estão próximas. Ela ocorre como duas SN2 consecutivas e ao final tem-se retenção de configuração. Na primeira etapa o Nu interno ataca e forma um intermediário cíclico. Na última etapa o Nu externo libera o grupo vizinho. Lei de velocidade: primeira ordem para o substrato primeira ordem global: V = K [substrato] Nu externo não participa da etapa determinante

5. Bibliografia Material baseado ou retirado de: