SENAI-RS SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL DEPARTAMENTO REGIONAL DO RIO GRANDE DO SUL CONSELHO REGIONAL



Documentos relacionados
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ABNT NBR ISO 14001

APRESENTAÇÃO. Sistema de Gestão Ambiental - SGA & Certificação ISO SGA & ISO UMA VISÃO GERAL

PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE NAS UNIDADES DE SAÚDE

POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E BEM ESTAR NO TRABALHO

Estudo de Caso: Aplicação de Produção Mais Limpa no Processo de Embalagem de Soquetes de Luminárias

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE PLANOS DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PGRS

POLÍTICA DE SEGURANÇA POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E BEM-ESTAR NO TRABALHO

MMX - Controladas e Coligadas

SÉRIE ISO SÉRIE ISO 14000

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L) Vera Lúcia Pimentel Salazar Bióloga, Dr., PqC do Polo Regional Centro Sul/APTA

Política de Sustentabilidade das empresas Eletrobras

18/06/2009. Quando cuidar do meio-ambiente é um bom negócio. Blog:

Sistemas de Gestão Ambiental O QUE MUDOU COM A NOVA ISO 14001:2004

MANUAL PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS. Junho, 2006 Anglo American Brasil

CHECK - LIST - ISO 9001:2000

1 Apresentação

Sistema de Gestão da Qualidade

SISTEMA DA GESTÃO AMBIENTAL SGA MANUAL CESBE S.A. ENGENHARIA E EMPREENDIMENTOS

Código de Fornecimento Responsável

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

ISO As três primeiras seções fornecem informações gerais sobre a norma, enquanto as cinco últimas centram-se na sua implementação.

MASTER IN PROJECT MANAGEMENT

Política Nacional de Resíduos Sólidos

A importância da Manutenção de Máquina e Equipamentos

Sistemas de Gestão da Qualidade. Introdução. Engenharia de Produção Gestão Estratégica da Qualidade. Tema Sistemas de Gestão da Qualidade

Sistema de Gestão Ambiental

Importância da normalização para as Micro e Pequenas Empresas 1. Normas só são importantes para as grandes empresas...

Sistema de Gestão Ambiental

22/06/2015. Cronograma finalização da disciplina GA I. Instrumentos de Gestão Ambiental. ambiental. Auditoria Ambiental

PRÊMIO ESTANDE SUSTENTÁVEL ABF EXPO 2014

1. OBJETIVO 2. APLICAÇÃO 3. REFERÊNCIAS 4. DEFINIÇÕES E ABREVIAÇÕES GESTÃO DE RESÍDUOS

Sistema de Gestão Ambiental. Seis Sigma. Eco Six Sigma

Elaboração Item 2 inclusão do PG-C-01 Programa Integrado de SSTMA Item 2 Codificação dos documentos de referência

Política de Sustentabilidade das Empresas Eletrobras

SGA. Sistemas de gestão ambiental. Sistemas de gestão ambiental. Sistemas de gestão ambiental 07/04/2012

Desenvolve Minas. Modelo de Excelência da Gestão

Vice-Presidência de Engenharia e Meio Ambiente Instrução de Trabalho de Meio Ambiente

"Água e os Desafios do. Setor Produtivo" EMPRESAS QUE DÃO ATENÇÃO AO VERDE DIFICILMENTE ENTRAM NO VERMELHO.

Estabelece os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais.

AUDITORIA AMBIENTAL. A auditoria ambiental está intimamente ligada ao Sistema de Gestão Ambiental.

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

Universidade de Brasília Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação Departamento de Ciência da

ISO Estrutura da norma ISO 14001

Certificação. Segurança e Saúde no Trabalho. Soluções para a Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho

1. Metodologias de gestão ambiental com enfoque em prevenção da. 3. Metodologia de produção mais limpa desenvolvida pela UNIDO/UNEP

Gestão de Segurança, Meio Ambiente e Saúde

POLÍTICAS DE GESTÃO PROCESSO DE SUSTENTABILIDADE

Código de prática para a gestão da segurança da informação

ATO DA COMISSÃO DIRETORA Nº 4, DE 2013.

Distribuidor de Mobilidade GUIA OUTSOURCING

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL SEBRAE - SP

Abordagem de Processo: conceitos e diretrizes para sua implementação

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA Gabinete de Consultoria Legislativa

TERMO DE REFERÊNCIA (TR) GAUD VAGA

engenharia de embalagens UMA ABORDAGEM TÉCNICA DO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE EMBALAGEM Maria Aparecida Carvalho Novatec

Termo de Referência nº Antecedentes

Gestão da Qualidade Políticas. Elementos chaves da Qualidade 19/04/2009

Governança de TI. ITIL v.2&3. parte 1

Relatório de Sustentabilidade 2014

POLÍTICA DE SEGURANÇA, MEIO AMBIENTE E SAÚDE (SMS) Sustentabilidade

PLANOS DE CONTINGÊNCIAS

AUDITORIA DE DIAGNÓSTICO

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

Qualider Consultoria e Treinamento Instrutor: José Roberto

ECS -ASSESSORIA E CONSULTORIA TÉCNICA. ISO 14001:2015 Tendências da nova revisão

Conjunto de pessoas que formam a força de trabalho das empresas.

PAPEL DO GESTOR AMBIENTAL NA EMPRESA

ESCOLA SENAI CELSO CHARURI CFP 5.12 PROGRAMA DE CONTROLE DE CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA

OS 14 PONTOS DA FILOSOFIA DE DEMING

Empresa como Sistema e seus Subsistemas. Professora Cintia Caetano

Programa de Consumo Consciente nas Instituições de Ensino Superior Particulares FOREXP. Fórum de Extensão das IES Particulares

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE

22/02/2009. Supply Chain Management. É a integração dos processos do negócio desde o usuário final até os fornecedores originais que

EDITAL SENAI SESI DE INOVAÇÃO. Caráter inovador projeto cujo escopo ainda não possui. Complexidade das tecnologias critério de avaliação que

11º GV - Vereador Floriano Pesaro

PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE

feema - Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente Curso de Legislação e Normas para o Licenciamento Ambiental Junho de 2002

Tecnologia e Sustentabilidade

Proposta para Formataça o de Franquia

QUEM TRATA BEM DOS SEUS RESÍDUOS É BEM TRATADO PELO MERCADO!

NORMA ISO Sistemas de Gestão Ambiental, Diretrizes Gerais, Princípios, Sistema e Técnicas de Apoio

LOGÍSTICA MADE DIFFERENT LOGÍSTICA

O papel da empresa na relação com o meio natural

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE PLANOS DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PGRS)

CURSO: GESTÃO AMBIENTAL

Roteiro para Elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentáveis PLS. Departamento de Logística e Serviços Gerais

Portaria Inep nº 249, de 02 de junho de Publicada no Diário Oficial da União em 04 de junho de 2014.


Indicadores Ambientais

Promover um ambiente de trabalho inclusivo que ofereça igualdade de oportunidades;

Unidade I FINANÇAS EM PROJETOS DE TI. Prof. Fernando Rodrigues

PROJETO DE LEI N.º 4.194, DE 2012 (Do Sr. Onyx Lorenzoni)

Política Nacional de Resíduos Sólidos e Logística Reversa

Transcrição:

SENAI-RS SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL DEPARTAMENTO REGIONAL DO RIO GRANDE DO SUL CONSELHO REGIONAL Presidente Paulo Fernandes Tigre Presidente do Sistema FIERGS Conselheiros Representantes das Atividades Industriais - FIERGS Titulares Ademar De Gasperi Astor Milton Schmitt Manfredo Frederico Koehler Suplentes Arlindo Paludo Paulo Müller Pedro Antônio G. Leivas Leite Representantes do Ministério da Educação Titular Antônio Carlos Barum Brod Suplente Renato Louzada Meireles Representante do Ministério do Trabalho e Emprego Titular Neusa Maria de Azevedo Suplente Elisete Ramos Diretor Regional e Membro Nato do Conselho Regional do SENAI-RS José Zortea DIRETORIA SENAI-RS José Zortea Diretor Regional Paulo Fernando Presser Diretor de Educação e Tecnologia Paulo Fernando Eiras dos Santos Diretor Administrativo e Financeiro

PRODUÇÃO MAIS LIMPA EM CONFECÇÕES 2007, CNTL SENAI-RS Publicação elaborada com recursos do projeto Publicação Casos de Sucesso em Produção mais Limpa sob a orientação, coordenação e supervisão do Centro Nacional de Tecnologias Limpas CNTL SENAI Coordenação Geral Coordenação Local Coordenação do Projeto Paulo Fernando Presser Diretoria de Educação etecnologia Paulo Antunes de Oliveira Rosa Diretor do CNTL SENAI Joseane Machado de Oliveira Coordenadora de Núcleo Tecnológico de Projetos Especiais CNTL SENAI Elaboração Maria Julieta Espíndola Biermann Revisão gramatical Jairo Brasil Vieira S 491 p SENAI. Departamento Regional do Rio Grande do Sul. Produção mais Limpa em Confecções/SENAI - Departamento Regional do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Centro Nacional de Tecnologias Limpas SENAI, 2007. 64 p. il. 1. Produção mais limpa 2. Indústria do vestuário I. Título CDU- 504:687 Catalogação na Fonte: Enilda Hack - CRB 599/10 Centro Nacional de Tecnologias Limpas SENAI Av. Assis Brasil, 8450 Bairro Sarandi CEP 91140-000, Porto Alegre RS Fone: (0xx51) 3347-8400 Fax: (0xx51) 3347-8405 E-mail: cntl.tecnologias@senairs.org.br SENAI Instituição mantida e administrada pela indústria.

APRESENTAÇÃO O guia Produção Mais Limpa em Confecções, projeto do Centro Nacional de Tecnologias Limpas SENAI/ UNIDO/ UNEP CNTL, que tem o apoio do SENAI Departamento Nacional, através de sua Unidade de Tecnologia Industrial UNITEC, tem como principal propósito apresentar às empresas e a profissionais do ramo algumas das medidas implantadas por empresas que já adotaram esta prática, auxiliando-as no processo de implementação de PmaisL. Com a correta destinação, reutilização e economia de matéria-prima, as empresas que adotam estas práticas colaboram para o uso sustentável de nossos recursos naturais, bem como asseguram a melhoria de seu desempenho e competitividade. 5

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 07 1. CARACTERÍSTICAS GERAIS...07 1.1 HISTÓRICO DO SETOR DE CONFECÇÃO NO BRASIL...07 1.2 SETOR TÊXTIL...08 1.3 COMPETITIVIDADE DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO...08 1.4 MEIO AMBIENTE E O SETOR DE CONFECÇÃO...08 1.5 OBJETIVOS DESTE DOCUMENTO...09 2. LEGISLAÇÃO...10 2.1. NORMAS E LEGISLAÇÃO PERTINENTES À INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO...10 3. PRODUÇÃO MAIS LIMPA...14 3.1. VANTAGENS DA PmaisL...14 3.2. APLICAÇÃO DA PmaisL...15 3.3. HISTÓRIA DA PmaisL...17 3.4. PORQUE INVESTIR EM PmaisL...17 3.5. PmaisL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...18 3.6. PmaisL E SEGURANÇA OCUPACIONAL...19 3.7. IMPLEMENTAÇÃO DE PmaisL...22 4. Descrição do processo de confecção...30 4.1. SÍNTESE DO PROCESSO DE CONFECÇÃO...31 5. Estudos de Caso... 34 5.1. ESTUDO DE CASO 1...35 5.2. ESTUDO DE CASO 2...39 5.3. ESTUDO DE CASO 3...41 5.4. ESTUDO DE CASO 4...43 5.5. ESTUDO DE CASO 5...46 5.6. ESTUDO DE CASO 6...49 5.7. ESTUDO DE CASO 7...50 5.8. ESTUDO DE CASO 8...51 6. Gerenciamento de Resíduos...51 6.1. ETAPAS DO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS...52 7. Dúvidas freqüentes...56 REFERÊNCIAS...59 SITES CONSULTADOS... 61 GLOSSÁRIO... 62

INTRODUÇÃO Este Manual apresenta uma revisão dos processos de Confecção, evidenciando os tipos de rejeitos gerados, os riscos à saúde dos trabalhadores e, principalmente, o método de Produção mais Limpa (PmaisL) aplicada ao setor e as respectivas leis ambientais inerentes, viabilizando a redução da geração dos resíduos na fonte. O desenvolvimento do tema considera os aspectos tecnológicos e ambientais do processo de confecção, visando estabelecer estratégias de prevenção que reduzam impactos ambientais, custos de gerenciamento, riscos à saúde e ao meio ambiente. Além disso, há o objetivo de disponibilizar informações a respeito das formas de tratamento e disposição adequados para os resíduos gerados neste processo. O presente manual aborda estratégias que permitem reduzir o impacto ambiental e econômico e é dirigido aos empresários, prestadores de serviços e colaboradores do setor de confecção, consultores, universidades e instituições de conhecimento, instituições governamentais, comunidades e iniciativa privada. 1. CARACTERÍSTICAS GERAIS 1.1 HISTÓRICO DO SETOR DE CONFECÇÃO NO BRASIL A indústria Têxtil e de Confecção deu origem ao processo de industrialização no Brasil. O início desta história precede a ocupação do país pelos portugueses, já que os índios exerciam atividades artesanais, com técnicas de entrelaçamento manual de fibras vegetais, produzindo telas com diversas finalidades, inclusive para proteção corporal. No período de colonização, a indústria ainda sofria forte influência de acordos internacionais e era extremamente descontínua. As diretrizes da política econômica das colônias eram ditadas pela Metrópole e aconteciam conforme os interesses do colonizador. Mas, foi neste período que começou a primeira política industrial nacional, em 1844, quando foram elevadas as tarifas alfandegárias para a média de 30%, fato que propiciou um estímulo à industrialização, especialmente para o ramo têxtil. Mas o processo foi lento. Em 1864 funcionavam vinte fábricas no Brasil, com cerca de 15.000 fusos e 385 teares. Menos de vinte anos depois, ou seja, em 1881, aquele total cresceria para quarenta e quatro fábricas, totalizando 60.000 fusos e gerando cerca de 5.000 empregos. Nas décadas seguintes, houve uma aceleração do processo de industrialização e, às vésperas da I Guerra Mundial, existiam duzentas fábricas que empregavam 78.000 pessoas. Em 1929, a grande crise que se abateu sobre a economia mundial propiciou nova oportunidade de crescimento da indústria brasileira, a exemplo do que havia ocorrido durante a I Guerra. A capacidade de importação foi drasticamente reduzida, levando praticamente todos os países a adotarem políticas de substituição dos importados pela produção interna das mercadorias necessárias a seu abastecimento. O número de operários ocupados no ramo têxtil e de confecção triplicou no período de 1920 a 1940. Em 1958, foi fundada a Fenit, a primeira Feira Nacional da Indústria Têxtil, que aconteceu no Pavilhão Internacional do Parque do Ibirapuera, dando origem a dezenas de 7

outras feiras têxteis e de confecção espalhadas por todo o território brasileiro. A evolução da Indústria têxtil e do vestuário, ao longo dos últimos dez anos, ficou marcada por um forte investimento em tecnologia, com especial destaque na informação e comunicação. As indústrias têxtil e do vestuário assumiram posição de destaque nas exportações nacionais. 1.2 SETOR TÊXTIL O valor da produção da cadeia Têxtil e de Confecção representa o equivalente a pouco mais de 4% do PIB total brasileiro e de 17% da indústria de transformação. Emprega cerca de 1,5 milhão de trabalhadores, o que representa 1,7% da população economicamente ativa do país e 16,9% do total dos trabalhadores alocados na indústria da transformação. Isso faz dela a segunda maior empregadora formal deste aglomerado. Estes dados demonstram claramente que a cadeia Têxtil e de Confecção mantém seu status de setor de grande relevância para a dinâmica da economia do país, além de trazer forte impacto social, sobretudo por conta do perfil do trabalhador, constituído em sua maioria por mulheres, e com baixo grau de instrução. (Associação Brasileira das Indústrias Têxteis ABIT, 2003) 1.3 COMPETITIVIDADE DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO Debate-se com um conjunto de mudanças fundamentais, nomeadamente num contexto em que coexistem três formas principais de concorrência: - indústrias de capacidade, onde a principal vantagem competitiva reside na produção em massa; - indústrias mistas, que asseguram o domínio da produção e a capacidade de produzir pequenas séries e, finalmente, - indústrias imateriais, que se caracterizam pelo domínio de competências específicas na criação, na organização do processo, na redução de perdas e na capacidade de distribuição. A confecção que aposte em fatores imateriais, dinâmicos de competitividade, é cada vez mais dependente do conhecimento técnico, de produtos, de processos com máximo aproveitamento de recursos e dos mercados. É neste quadro que a metodologia da Produção mais Limpa vem constituir um forte apoio à definição das estratégias empresariais. Como mais de 80% das empresas nacionais de confecção são de micro, pequeno e médio portes, em que, muitas vezes, o maior fator de competitividade está na redução dos custos operacionais, a Produção mais Limpa contribui com a redução de desperdícios e a minimização dos impactos ambientais, além de propiciar ganhos econômicos através da máxima utilização dos recursos. 1.4 MEIO AMBIENTE E O SETOR DE CONFECÇÃO A expectativa da sociedade está voltada à melhoria das condições de vida. Neste enfoque, as pressões sociais sobre as empresas estão cada vez mais fortes, de tal forma que modificam o comportamento delas e, muitas vezes, determinam sua extinção. 8

A demarcação do nível de poluição socialmente aceitável está diretamente relacionada ao nível de incômodo que a sociedade está disposta a suportar e, sobretudo, qual a contrapartida de recursos que está disposta a abrir mão para melhorar o seu meio ambiente. As preferências têm variação entre regiões, crenças, classes sociais, culturas e ideologias. Dentro desta ótica, as organizações podem agir de forma pró-ativa, reduzindo a quantidade de material usado nos produtos e serviços, o consumo e o custo de energia, criando novos produtos e serviços para novas oportunidades de mercado, de forma a possibilitar a redução dos riscos ambientais, aplicando e adquirindo tecnologias novas, bem como, melhorando de forma geral a imagem pública da empresa. As figuras 1 e 2 ilustram os principais resíduos gerados no processo de Confecção. Figura 1 - Resíduos sem segregação. Figura 2 - Resíduos por planejamento inadequado. 1.5 OBJETIVOS DESTE DOCUMENTO São objetivos fundamentais desse documento: - Contribuir com o processo de implantação das técnicas de Produção mais Limpa nas indústrias de Confecção; - Orientar para a gestão adequada dos resíduos de Confecção, levando em consideração os aspectos sociais, tecnológicos e econômicos; - Promover o uso de tecnologias de Produção mais Limpa, tendo por finalidade a prevenção e minimização de resíduos na fonte; - Caracterizar os tipos de resíduos gerados no setor da Confecção; - Construir uma ferramenta de fácil consulta que contenha as medidas e tecnologias de prevenção aplicáveis, minimizando o impacto dos rejeitos gerados sobre o meio ambiente e apresentando formas de destino adequadas; - Apresentar as vantagens de natureza técnica, ambiental e econômica que advêm da aplicação das tecnologias e das medidas de prevenção e redução de resíduos de Confecção; 9

2. LEGISLAÇÃO Todas as empresas deverão observar os requisitos legais inerentes às suas atividades, adotando para tanto medidas que possam evitar os danos ambientais causados por seus processos de produção. No ordenamento jurídico brasileiro é grande o número de normas que visam a proteção dos recursos ambientais. Esta legislação requer uma adequada aplicação, de forma a permitir o desenvolvimento sustentável, sendo a variável ambiental parte integrante desse desenvolvimento. Significa dizer que a empresa deverá considerar as questões ambientais, dentro do seu planejamento, como instrumento que permita a gestão racional dos recursos ambientais. Para atender os requisitos legais, os empreendedores devem adotar medidas preventivas e corretivas, planejando o uso dos recursos ambientais, de forma a minimizar os impactos negativos sobre o meio ambiente e permitir assim, o desenvolvimento sustentável. Existem várias normas aplicáveis à proteção do meio ambiente, em nível federal, estadual e municipal. 2.1. NORMAS E LEGISLAÇÃO PERTINENTES À INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO A constituição de 1988 mudou o sistema de competências ambientais. A competência para legislar e proteger o meio ambiente foi dada à União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O licenciamento é um dos instrumentos de gestão ambiental estabelecido pela lei Federal n.º 6938, de 31/08/81, também conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. Em 1997, a Resolução nº 237 do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, definiu as competências da União, Estados e Municípios e determinou que o licenciamento deveria ser feito em um único nível de competência. As atividades de confecção de peças e acessórios do vestuário, roupas profissionais, peças interiores, fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos para vestuário estão dispensadas do licenciamento. Neste caso, o interessado pode comparecer ao órgão ambiental e solicitar o Certificado de Dispensa de Licença - CDL. Entretanto, a Indústria de Confecção que fabrica tecido e artigos de malha fabricação de meias, tecidos de malha e outros artigos do vestuário que contenham materiais além de tecido é considerada fonte poluidora e requer o Licenciamento Ambiental. Resíduos sólidos Segundo Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a Norma Brasileira (NBR) 10.004/2004 estabelece que resíduos sólidos são os resíduos nos estados sólidos e semisólidos, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de 10

controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia possível. A periculosidade de um resíduo é a característica apresentada por um resíduo que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, pode apresentar: a) risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices. b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada. Classificação dos Resíduos sólidos Os resíduos sólidos são classificados conforme a NBR 10004/2004, como: - Resíduos Classe I Perigoso São aqueles que apresentam riscos a saúde pública, provocando ou acentuando, de forma significativa, um aumento de mortalidade ou incidência de doenças e/ou riscos ao meio ambiente, quando o resíduo é manuseado ou destinado de forma inadequada. Estes resíduos podem apresentar uma das seguintes características: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade. A figura 3 a seguir ilustra exemplos de resíduos de classe I Perigosos provenientes do setor de Confecção, segundo NBR 10004/2004: Lâmpadas Solventes usados em limpezas das peças Óleo lubrificante usado ou contaminado Pano e estopa contaminado com óleo lubrificante usado ou contaminado Figura 3 - Resíduos Classe I 11

- Resíduos Classe II A Não Inerte São aqueles que não se enquadram nas classificações de Resíduo Classe I (perigoso) ou de Resíduo Classe II B (inertes), nos termos da norma. Podendo ter propriedades como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. A figura 4 ilustra exemplos de resíduos de classe II A Não Inertes, do setor de Confecção, segundo NBR 10004/2004: Resíduos têxteis, retalhos e aparas de tecido Resíduos de plástico Resíduos de papel e papelão Resíduos de linhas e fios Resíduos de restaurante (restos de alimento) Figura 4 - Resíduos Classe II A 12

- Resíduos Classe II B: INERTES Quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma forma representativa, segundo ABNT NBR 10.007, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou deionizada à temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. A figura 5 ilustra exemplos de resíduos de classe II B Inertes, provenientes dos setor de confecções, segundo NBR 10004/2004: Resíduos de vidro Sobras de botões Figura 5 - Resíduos Classe II B: INERTES Leis Federais - LEI N.º 6.938, de 31 de agosto de 1981 - Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências. - LEI N.º 7.347, de 24 de julho de 1985 - Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (vetado) e dá outras providências. - LEI N.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 - LEI DE CRIMES AMBIENTAIS Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. 13

3. PRODUÇÃO MAIS LIMPA Produção mais Limpa (PmaisL) é a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integrada, nos processos produtivos, nos produtos e nos serviços, para reduzir os riscos aos seres humanos e ao meio ambiente. São ajustes no processo produtivo que permitem a redução da emissão/geração de resíduos diversos, e que podem ser compostos de pequenas reparações no modelo existente até a aquisição de novas tecnologias (simples e/ou complexas). As tecnologias ambientais convencionais trabalham principalmente o tratamento dos resíduos gerados. Por isso, esta abordagem estuda os resíduos no final do processo de produção, sendo então denominada de técnica Fim de Tubo. A mesma é caracterizada essencialmente pelas despesas adicionais para a empresa e por uma série de problemas. (Exemplo: contratação de empresa licenciada para disposição final dos retalhos de corte). 3.1. VANTAGENS DA PmaisL Comparada à disposição através de serviços externos ou às tecnologias de Fim de Tubo, a PmaisL apresenta algumas vantagens: - Produção mais limpa apresenta um potencial para soluções econômicas, no sentido de reduzir a quantidade de materiais e energia usados; - Devido a uma intensa exploração do processo de produção, a minimização de resíduos induz a uma técnica de inovação dentro da empresa; - A responsabilidade pode ser assumida para o processo de produção como um todo, e os riscos no campo das obrigações ambientais e da disposição de resíduos podem ser minimizados; - A minimização de resíduos é um passo em direção a um desenvolvimento sustentável. O objetivo da PmaisL é chegar à ponta do processo, sem redução dos valores qualitativos e quantitativos de produtos, com menores gastos de energia, água e material, gerando menos poluentes. Isso é possível com a alteração de linhas de processo, substituindo matéria-prima e capacitando os trabalhadores. O quadro 1 compara a gestão de resíduos convencional e a produção mais limpa: Quadro 1: enfoque da Gestão convencional X Produção mais Limpa em relação aos resíduos Gestão convencional de Resíduos O que se pode fazer com os resíduos, existentes? Quais as formas de se livrar deles? Quem pode comprar retalho? Produção mais Limpa De onde vêm os resíduos? Como eliminar ou reduzir na fonte? Por que são gerados? 14

3.2. Aplicação da PmaisL As possíveis modificações decorrentes da implantação de um programa de PmaisL ocorrem em vários níveis de aplicações de estratégias, de acordo com a figura 6. Figura 6 - Níveis de oportunidades de PmaisL Nível 1 Redução na fonte O primeiro nível de aplicação de PmaisL, prioriza as medidas que reduzam a geração de resíduos na fonte. Estas incluem modificações no processo, nos serviços e no produto. Modificações no processo As modificações no processo devem reduzir a geração dos resíduos, efluentes e emissões. Por processo, entende-se toda a transformação de materiais, energia e recursos diversos em produtos. As modificações do processo compreendem um conjunto de medidas: Housekeeping Boas Práticas de PmaisL Define-se como o uso cuidadoso de matérias-primas e insumos, incluindo mudanças organizacionais. Na maioria dos casos, estas são as medidas economicamente mais interessantes e que podem ser facilmente colocadas em prática. O início do programa de Produção mais Limpa deve contemplar primeiramente a análise das práticas operacionais e buscar soluções práticas de housekeeping. As economias proporcionadas pelas boas práticas operacionais podem viabilizar novos investimentos na empresa, inclusive em novas tecnologias. 15

São exemplos de boas práticas de PmaisL: - Organização do estoque de matéria-prima e aviamentos; - Organização do layout conforme a seqüência operacional de montagem das peças; - Reorganização dos intervalos de limpeza e de manutenção; - Eliminação de perdas devido à procura de materiais; - Melhoria de logística de compra, estocagem e distribuição de matérias-primas, insumos e produtos; - Elaboração de manuais de boas práticas operacionais; - Capacitação de pessoal envolvido no programa de PmaisL; - Otimização dos fluxos de material; - Melhoria do sistema de informação; - Padronização de operações e procedimentos; - Substituição de matérias-primas e aviamentos. As matérias-primas e aviamentos que geram baixo índice de aproveitamento, devido à baixa qualidade ou têm dificuldades para reciclagem podem, muitas vezes, ser substituídas por outras menos prejudiciais, auxiliando na redução do volume de resíduos. Como exemplo, se pode citar a substituição de fornecedor cujos tecidos possuem alto grau de defeitos ou irregularidade na largura. Modificações tecnológicas As modificações variam desde um nível relativamente simples até mudanças substanciais que interfiram na perda de tempo em operações, no consumo de energia ou na utilização de matérias-primas. Freqüentemente, estas medidas precisam ser estudadas e combinadas com housekeeping e a seleção de matérias-primas. Como exemplo, tem-se: substituição do processo de encaixe e risco da modelagem, de um modelo manual para digitalizado. Modificações no produto Após as oportunidades mais simples terem sido esgotadas, a modificação no produto é uma abordagem importante. As modificações no produto podem levar a uma situação ecológica melhorada em termos de produção, utilização e disposição do resíduo. Elas podem conduzir à substituição do produto ou de seus detalhes. As alterações devem melhorar o aproveitamento do tecido sem comprometer a qualidade do produto. Neste contexto, o termo design ambiental tem ganhado importância no mundo da moda. Nível 2 - Reciclagem interna Os resíduos que não podem ser evitados com a ajuda das medidas acima descritas devem ser reintegrados ao processo de produção da empresa. Isto pode significar: - Utilizar os resíduos das matérias-primas no desenvolvimento de produtos alternativos, como por exemplo, produtos compostos por pequenos pedaços de tecido. 16

Nível 3 - Reciclagem externa Após esgotar as oportunidades acima se deve optar por medidas de reciclagem de resíduos fora da empresa. Nestes ambientes é possível a recuperação de materiais de maior valor e sua reintegração ao ciclo econômico, como papel, aparas e retalhos de tecido. Os exemplos aplicados para a reciclagem interna também se aplicam para a reciclagem externa. Normalmente, é mais vantajoso buscar fechar os circuitos dentro da própria empresa, mas se isto não for viável técnica e economicamente, então se deve buscar a reciclagem externa. 3.3. HISTÓRIA DA PmaisL A UNIDO e UNEP criaram, em 1994, o programa de Produção mais Limpa, voltado para a preservação ambiental. O Programa de Produção mais Limpa é uma estratégia integrada e preventiva que visa aumentar a produtividade da empresa, diminuindo os custos de matéria-prima, energia, recursos naturais, e conseqüentemente reduzindo o impacto ambiental de maneira sustentável. Para implementar o programa e promover a aplicação da Produção mais Limpa por empresas e países em desenvolvimento existem cerca de 31 Programas nacionais de Produção mais Limpa (NCPPs) e Centros Nacionais de Produção Mais Limpa (NCPCs). Além disto, outros centros estão em fase de planejamento. Esses centros localizam-se em diversas partes do mundo, e têm como papel principal promover demonstrações na planta industrial, treinamento de todos os envolvidos, disseminação das informações e avaliação das políticas ambientais. Em julho de 1995, foi inaugurado o NCPC brasileiro, denominado Centro Nacional de Tecnologias Limpas CNTL SENAI e que está localizado no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI, em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. O CNTL SENAI tem a função de atuar como um instrumento facilitador para a disseminação e implantação do conceito de Produção Mais Limpa em todos os setores produtivos. O programa desenvolvido no Brasil é uma adaptação do programa da UNIDO/UNEP e da experiência da Consultoria Stenum, da cidade de Graz, na Áustria, que desenvolveu o projeto Ecological Project for Integrated Environmental Technologies ECOPROFIT. 3.4. PORQUE INVESTIR EM PmaisL O Programa de Produção mais Limpa visa fortalecer economicamente a indústria, através da prevenção da poluição, inspirado pelo desejo de contribuir com a melhoria da situação ambiental de uma região. Baseado em problemas ambientais conhecidos, o Programa de Produção mais Limpa investiga o processo de produção e as demais atividades de uma empresa e estuda os do ponto de vista da utilização de materiais e energia. Esta abordagem ajuda a induzir inovações dentro das próprias empresas, objetivando introduzilas na direção de um desenvolvimento sustentável, juntamente com a região onde estão estabelecidas. A partir disto, são criteriosamente estudados os produtos, as tecnologias e os materiais, a fim de minimizar a geração de resíduos e encontrar modos de reutilizar aqueles considerados inevitáveis. Neste sentido, este Programa é ferramenta lucrativa por estabelecer um conceito holístico. 17

Algumas razões que levam a implantação do programa de Produção mais Limpa são: - Baixa os custos da produção, de disposição final, dos cuidados com a saúde e da limpeza do meio ambiente; - Melhora a eficiência do processo e a qualidade do produto, contribuindo para a inovação industrial e a competitividade; - Baixa os riscos aos trabalhadores, comunidade, consumidores de produtos e gerações futuras, decrescendo assim seus custos com riscos e prêmios de seguros; - Melhora o conceito público da empresa produzindo benefícios sociais e econômicos intangíveis. 3.5. PmaisL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Entende-se por Desenvolvimento Sustentável, aquele que atende as necessidades da geração atual sem comprometer o direito das futuras em satisfazer as suas próprias necessidades. Pela análise desta definição tem-se dois conceitos fundamentais: o das necessidades variam de sociedade para sociedade, mas que devem ser satisfeitas assegurando as condições essenciais de vida a todos; e o da limitação, que reconhece a necessidade da tecnologia em desenvolver soluções para conservar recursos disponíveis atualmente, permitindo sua renovação na medida em que são necessários às futuras gerações. O uso racional de matéria-prima, água e energia, para reduzir a poluição significa uma opção ambiental e econômica definitiva. Diminuindo os desperdícios, tem-se maior eficiência no processo industrial e menor investimento para soluções de problemas ambientais. A empresa torna-se mais competitiva ao transformar matérias-primas, água, energia em produtos, e não em resíduos. O tema Produção mais Limpa não é apenas um tema ambiental e econômico. A geração de resíduos em um processo produtivo, muitas vezes, está diretamente relacionada a problemas de saúde ocupacional e de segurança dos trabalhadores. Desenvolver a Produção mais Limpa minimiza estes riscos, contribuindo para a melhor qualidade do ambiente de trabalho. Uma conseqüência positiva, muitas vezes difícil de mensurar, é o fortalecimento da imagem da empresa frente à comunidade e autoridades ambientais. Como justificativa, apresenta-se também o fato de que os consumidores de hoje exigem cada vez mais produtos ambientalmente corretos. Estes consumidores assumem previamente que as empresas sejam tão responsáveis quanto à qualidade de seus produtos, como em relação ao meio ambiente nas suas práticas produtivas. Definições de desenvolvimento sustentável mencionam as responsabilidades quanto ao emprego mais eficiente possível de recursos naturais, de maneira que não prejudique as gerações futuras. Relacionando esta definição com Produção mais Limpa, pode-se observar que produzir sustentavelmente significa, em palavras simples, transformar recursos naturais em produtos e não em resíduos. 18

Neste contexto, a Produção mais Limpa consolida-se como uma ferramenta extremamente útil para a promoção do desenvolvimento sustentável, pois, se por um lado, aumenta a eficiência dos processos produtivos, melhorando a competitividade das organizações, por outro, racionaliza o consumo de recursos naturais e reduz a geração de resíduos. Em um mercado cada vez mais exigente e competitivo passar a entender o que acontece com as organizações que implementam ações visando reduzir os impactos sobre o meio ambiente, pode tornar-se um diferencial. Ao mesmo tempo, essas empresas podem aumentar seus ganhos e sua competitividade, assumindo um caráter estratégico e mercadológico, promovendo mudanças na cultura da organização e ajudando a projetar uma nova imagem junto à sociedade. Exemplo de desenvolvimento humano e ambiental O CNTL SENAI realiza inúmeros eventos para a promoção da produção mais limpa em diversos setores industriais brasileiros. Apesar de sempre otimizar de maneira racional os recursos utilizados nestes eventos, ocorreu, no ano de 2002 no III Fórum de Produção mais Limpa, uma sobra de sacolas de tecido utilizadas para a distribuição do material técnico e promocional. O evento teve um grande público participante, contudo, cerca de 90 pessoas que eram esperadas, não compareceram. E agora, o que fazer com estas sacolas remanescentes? Com objetivo de unir o desenvolvimento social com atitudes ambientais surgiu então a idéia de realizar o reaproveitamento das sacolas, contratando, com o apoio do SENAI Departamento Nacional, o trabalho da Griffe Morro da Cruz. Esta Griffe é formada por um grupo de mulheres do Morro da Cruz, uma comunidade humilde de Porto Alegre. Este grupo, pioneiro na reciclagem de tecidos e de peças de vestuário, elaborou uma arte original nas sacolas, que serão distribuídas com alguns exemplares deste guia. É a criatividade das moradoras do Morro da Cruz agora presente em sacolas pelo Brasil inteiro. Para obter mais informações sobre o trabalho da Griffe do Morro da Cruz, entre em contato pelo telefone: 51-3318-2875. 3.6. PmaisL E SEGURANÇA OCUPACIONAL A redução da geração de resíduos no processo contribui para a minimização dos riscos ocupacionais, uma vez que há uma menor quantidade de resíduos a ser acondicionada, transportada e para disposição final. A aplicação da PmaisL em segurança no trabalho também proporciona condições para que o trabalhador esteja perfeitamente inserido ao meio, de forma segura e confortável, analisando o layout de processo, procedimentos e infra-estrutura, preconizando não somente a melhoria tecnológica, mas a aplicação de know-how e a mudança de atitudes. 19

O know-how significa aprimorar a eficiência adotando melhores técnicas de gestão. Mudar atitudes significa encontrar uma nova abordagem para o relacionamento entre os objetivos e o ambiente de trabalho, pois reavaliar um processo ou um produto pode trazer significativos resultados, sem requerer novas tecnologias. A organização e limpeza do ambiente, que geralmente é a primeira manifestação do PmaisL, contribuem para desobstruir áreas de circulação (como salas de depósito de retalhos), bem como reduzir as atividades que envolvem resíduos. Reduzem os riscos aos trabalhadores, não somente pelas práticas organizacionais que conferem menor negligência no ambiente de trabalho, mas também pela consciência criada. A redução de riscos aos trabalhadores interfere diretamente na redução dos custos, tanto pela redução de acidentes que levam a ausência ao serviço, como pelo custo do afastamento do trabalho. Classificação dos riscos ocupacionais no setor de Confecção a) Riscos Ambientais: de acordo com a Norma Regulamentadora Nº 9 - NR-9 da Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, riscos ambientais são aqueles causados por agentes físicos, químicos ou biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração, intensidade ou tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. b) Riscos Ergonômicos: são aqueles relacionados com fatores fisiológicos e psicológicos inerentes à execução das atividades profissionais. Estes fatores podem produzir alterações no organismo e estado emocional dos trabalhadores, comprometendo a sua saúde, segurança e produtividade. Exemplos: movimentos repetitivos, levantamento e transporte manual de pesos, movimentos viciosos, esforço físico intenso, postura inadequada, mobiliário com regulagem inadequada, etc. c) Riscos de Acidentes: são quaisquer circunstâncias ou comportamentos que provoquem alteração da rotina normal de trabalho. 20