LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS ARTIGOS DA ÁREA DE GESTÃO DO PRODUTO PUBLICADOS NOS ENEGEPS DE 2008 A 2011

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Transcrição:

LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS ARTIGOS DA ÁREA DE GESTÃO DO PRODUTO PUBLICADOS NOS ENEGEPS DE 2008 A 2011 Marcel de Gois Pinto (UFPB) marcel@ct.ufpb.br Manuela Carla de Albuquerquer Carneiro (UFPB) manukinha_ac@hotmail.com Hanelle Vanderlei Xavier Galvao de Andrade (UFPB) hanellegalvao@gmail.com Este artigo visa levantar a contribuição da engenharia de produção na área de engenharia de produto nos últimos quatro anos, tendo como base de dados os anais do Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) nos anos de 2008 a 2011. Não obstante ao fato de tal base de dados ser insuficiente, pode-se considerar que é o início de um trabalho a ser realizado. A realização deste trabalho partiu do levantamento de todos os artigos publicados nos anais do evento separados por ano e por subárea da engenharia do produto (Pesquisa de mercado, Planejamento do produto, Metodologia de projeto de produto, Engenharia de produto, Marketing de produto). Posteriormente ao levantamento foi gerada uma planilha eletrônica em MS Excel 2007 para a tabulação dos dados, onde foram identificados de cada artigo o ano, a subárea, a instituição do primeiro autor, o tipo de produto abordado (bem ou serviço), o setor econômico ou indústria (ramo de atividade) e o tema principal abordado. Palavras-chaves: Gestão do Produto, Artigos, ENEGEP

1. Introdução Durante muitos anos o Brasil foi caracterizado como sendo um país exportador de toneladas de matérias-primas e importador de gramas de produtos acabados. Estes últimos vinham sempre com grande valor agregado, principalmente na forma de tecnologias. Sendo assim, grande parte das inovações tecnológicas aqui existentes advinha da importação ou substituição de importações. Tal perfil confere a quem o tem o papel secundário na economia, notadamente na acumulação de riquezas. A saída para tal processo de dependência tecnológica implica em produzir inovação. Isto significa investimento em pesquisa básica e aplicada, principalmente nas áreas da engenharia, que pode ser averiguado a partir do número de patentes e publicações científicas encontradas. Neste sentido, a engenharia de produção tem, enquanto campo de engenharia, suas contribuições a dar. Tais subsídios se constituem no campo da organização da produção e seus sistemas de gestão, bem como na engenharia de produto. Digno de nota é o fato de a Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO) considerar a engenharia do produto como uma das áreas de atuação de um engenheiro de produção. A importância desta menção deve-se ao fato que parece ser mais fácil relacionar outras áreas da engenharia, como a civil e a mecânica, com a engenharia do produto. O senso comum colocaria o engenheiro de produção como um cliente que recebe o projeto do produto e projeto, implanta e gerencia o sistema para a produção daquele bem. A referida especificação da ABEPRO clarifica a inconsistência desta visão, chegando ainda a subdividir a área em três itens, quais sejam: (1) Gestão do Desenvolvimento de Produto; (2) Processo de Desenvolvimento do Produto; e (3) Planejamento e Projeto do Produto. Assim sendo, este artigo visa levantar a contribuição da engenharia de produção na área de engenharia de produto nos últimos quatro anos, tendo como base de dados os anais do Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) nos anos de 2008 a 2011. Não obstante ao fato de tal base de dados ser insuficiente para analisar um cenário nacional em termos de engenharia do produto e da contribuição da engenharia de produção nesta, pode-se considerar que é o início de um trabalho de profundo levantamento a ser realizado. A intenção é identificar no rol de artigos publicados nos últimos quatro ENEGEPs os principais temas publicados, as abordagens mais utilizadas, as indústrias onde há maior incidência de trabalhos de engenharia do produto, quais instituições mais publicam, entre outros aspectos que possam ser considerados importantes. 2. Abordagem da Engenharia do Produto O Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) são as atividades e decisões que envolvem o projeto de um novo produto ou serviço, ou a melhoria em um já existente. Este processo inicia-se desde a identificação dos desejos dos clientes, passando pelas especificações de soluções técnicas, lançamento, até a retirada do produto no mercado. (BACK, 1983; PAHL et al., 2005; ROZENFELD et al., 2006; SALGADO et al, 2010). Os profissionais e pesquisadores que atuam no campo da engenharia do produto têm desenvolvido, no passar dos anos, várias metodologias e ferramentas para dar suporte ao processo de desenvolvimento de produto. Atualmente é possível sintetizar o conhecimento desenvolvido na área e agrupá-lo, por exemplo, em correntes de pensamento ou abordagens. 2

Tais correntes vêm evoluindo desde o princípio da administração científica, onde o desenvolvimento dos produtos era realizado de maneira sequencial. O princípio é utilizar uma ordem lógica para o desenvolvimento dos produtos, onde determinada área funcional deveria entregar resultados para o próximo setor iniciar suas atividades, havendo pouca interação. Posteriormente surgiram estudos que visavam determinar a melhor metodologia de projeto. A proposta era encontrar a sequência de etapas e atividades considerada mais racional para se desenvolver um produto (ROZENFELD et al., 2006). Nessa abordagem cada setor da empresa realiza apenas as atividades que são relacionadas com sua especialidade. A partir da evolução das metodologias de projetos surgiu, entre outras, a engenharia simultânea, que visava ampliar a integração entre as diferentes áreas funcionais, enfatizando a importância da realização de atividades simultaneamente. Além disso, nesse viés verificou-se a importância de introduzir os fornecedores e os clientes no processo de desenvolvimento. Seguindo a cronologia constante na literatura, a próxima abordagem de desenvolvimento de produtos é a do funil de desenvolvimentos. Para autores como Wheelwright e Clark (1992) desenvolver produtos consiste em levar uma ideia do conceito à realidade, começando com um leque de ideias e gradualmente refinando e selecionando-as. Assim, apenas uma fração das ideias iniciais é totalmente desenvolvida em produtos. Para Cooper e Edgett (1999) o PDP, como qualquer outro processo, precisa ser gerenciado; e é esta ideia que origina a abordagem do stage-gate. A intenção é obter uma maior qualidade no produto final a partir de uma análise formal que compara resultados esperados e atingidos em cada mudança de estágio no PDP. A passagem para uma nova fase só é feita após a validação dos resultados da fase anterior de modo a garantir a qualidade do processo. Finalmente, chega-se à era do desenvolvimento integrado, bem como abordagens novas como o desenvolvimento lean e o ecodesign. (ROZENFELD et al., 2006) Devido à variedade de métodos à disposição, e buscando encontrar o melhor caminho no projeto de produtos, um tema que vem crescendo é o desenvolvimento de modelos de referência para as empresas. Tais modelos são guias flexíveis às necessidades de cada organização, sendo considerados os ramos de atuação da empresa, a complexidade do produto e o nível de inovação do produto em projeto. Neste sentido, Rozenfeld et al. (2006) desenvolveram um modelo unificado de desenvolvimento de produtos que se originou da união de metodologias, estudos de casos, modelos e experiência em desenvolvimento de produtos adquiridas por equipes de pesquisadores. Este modelo promove uma integração entre as diversas abordagens para a gestão do PDP, sendo assim um modelo bastante genérico, podendo ser adaptado e aplicado ao desenvolvimento de diversos tipos de produtos. O modelo proposto por Rozenfeld et al. (2006) está representado na Figura 1. O modelo divide o PDP em três macrofases, pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pósdesenvolvimento, que são subdivididas em fases. Na macrofase de pré-desenvolvimento encontram-se as fases de planejamento estratégico dos produtos e planejamento do projeto. Na primeira fase é realizado o alinhamento estratégico dos produtos com a estratégia da unidade de negócios e é decidido o portfólio de produtos. Na última fase, cada ideia é avaliada individualmente como um novo projeto, requerendo uma equipe, plano e recursos. Na macrofase de desenvolvimento as necessidades de mercado identificadas são atendidas por 3

novos bens desenvolvidos e implantados na produção. Aqui são realizadas as fases de projetos informacional, conceitual e detalhado, além da preparação do produto para a produção e seu lançamento no mercado. No pós-desenvolvimento é dada ênfase, primeiramente, ao acompanhamento do produto no mercado e no processo de produção. Posteriormente, é estudado como será descontinuada a produção do produto, bem como sua retirada do mercado, seu destino após a utilização e a finalização de todo tipo de assistência técnica prestada pela empresa. Em cada fase do PDP Rozenfeld et al. (2006) sugere uma porção de atividades que devem ser realizadas para finalizar a fase com sucesso. O autor utiliza-se ainda de diversas ferramentas como a análise do ciclo de vida e matriz QFD Quality Function Deployment, no projeto informacional, análise da viabilidade econômica, no projeto conceitual, sistemas CAD/CAE, FMEA Failure Mode and Effect Analysis, no projeto detalhado entre outras. Figura 1 Modelo de desenvolvimento de produtos Fonte: Rozenfeld et al. (2006) 3. Metodologia A pesquisa realizada e aqui apresentada pode ser classificada como bibliográfica, pois sua fonte de dados foi apenas os Anais Eletrônicos do Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Além disso, a pesquisa tem a finalidade exploratória, pois têm a finalidade de ampliar o conhecimento a respeito de um determinado tema. (TRAVIÑOS, 1987; VERGARA, 1997; ZANELLA, 2006) A realização deste trabalho partiu do levantamento de todos os artigos publicados nos ENEGEPs de 2008 a 2011 e constantes nos anais do evento. A partir daí, todos os arquivos eletrônicos de artigos relacionados com a engenharia do produto foram renomeados com seu título de publicação e separados em pastas por ano do evento e por subárea da engenharia do produto, conforme classificação do ENEGEP, a saber: - Pesquisa de mercado; - Planejamento do produto 4

- Metodologia de projeto de produto - Engenharia de produto - Marketing de produto Tal subcategorização dos artigos da área de engenharia de produto no ENEGEP foi um dos critérios utilizados para selecionar apenas os eventos dos últimos quatro anos. Isto porque nos anos anteriores ou não havia subcategoria presente no CD-ROM dos Anais, ou as subcategorias eram outras. Somada a esta questão, não houve tempo disponível para a pesquisa e tabulação dos dados anteriores ao ano de 2008. Dando prosseguimento ao método utilizado, posteriormente ao levantamento foi gerada uma planilha eletrônica em MS Excel 2007 para a tabulação dos dados, onde foram identificados de cada artigo o ano, a subárea de engenharia do produto, a instituição do primeiro autor, o tipo de produto abordado (bem ou serviço), o setor econômico ou indústria (ramo de atividade) e o tema principal abordado no artigo. Finalmente, o resultado deste levantamento e tabulação é apresentado nos tópicos que se seguem deste artigo. 4. Perfil dos artigos publicados na área de engenharia do produto nos últimos ENEGEPs Os artigos publicados nos últimos quatro ENEGEPs (2008 2011), na área de engenharia do produto, ou gestão do produto, totalizam 162 publicações pesquisáveis. A esse conceito entendam-se os artigos que listados nos anais e que estão com os arquivos eletrônicos funcionando corretamente. Este destaque se fez necessário ao verificar-se que alguns artigos listados não estavam funcionando corretamente. Por esta razão, foram excluídos da análise. Na Figura 2 são apresentados os totais de artigos por ano da área de objeto de análise deste levantamento. Figura 2 Evolução anual dos artigos na área de gestão do produto 5

Estes trabalhos foram classificados conforme as subáreas apresentadas na sessão anterior (Método). A partir dessa categorização, escolhida pelos próprios autores no momento da submissão dos artigos, foi possível construir um gráfico com a evolução, ano a ano, dos trabalhos enviados em cada estrato (Figura 3). Figura 3 Evolução anual dos artigos por subárea de gestão do produto A partir da Figura 3 é possívelperceber que os artigos classificados como Metodologia de Projeto de Produto tem o maior destaque, considerando o volume de trabalhos publicados, exceto no ano de 2011, onde os artigos de Planejamento do Produto foram os de maior destaque. Em uma posição intermediária encontram o trabalhos classificados como Engenharia do Produto. Tais posições podem ser explicadas pela forte relação entre os dois primeiros temas e aquilo que se espera da Engenharia de Produção no que se refere à sua contribuição da área de desenvolvimento de produtos: a gestão do processo de desenvolvimento. Isto inclui metodologias de projeto e planejamento da atividade. A Engenharia de Produto, enquanto subárea, pode ser entendida como uma atividade mais técnica, ligada com o projeto detalhado dos sistemas, subsistemas e componentes do produto. Sendo assim, é natural que ocupe uma posição intermediário. Supõe-se que seus autores estejam ligados às outras engenharias ou às engenharias de produção com vinculação com outra engenharia clássica, tal como um curso de engenharia de produção mecânica. Por sua vez, os trabalhos classificados como Pesquisa de Mercado e Marketing do Produto têm sido os de menor volume de publicações. De certa forma, este comportamento não consiste em algo inesperado, considerando que tais temas têm, usualmente, mais ligação com outras áreas do conhecimento, tais como a Administração de Empresas. Os dados apresentados por meio de uma evolução anual na Figura 3 estão agregados no gráfico apresentado na Figura 4. Nesta imagem é possível perceber de maneira mais clara a 6

participação de cada subárea na totalidade dos artigos enviados entre 2008 e 2011. Após a identificação destas características, julgou-se importante identificar quais insituições mais publicaram artigos na área de gestão do produto nos úlitmos ENEGEPs. Para obter tal dado, cada artigo foi aberto e apenas a instituição do primeiro autor foi contabilizada como responsável pela publicação. Apesar de reconher-se que tal critério possa ser considerado questionável, pareceu ser a melhor forma de não contabilizar uma mesma instituição duas ou mais vezes casos os diversos autores de um determinado artigo pertencessem à mesma instituição. Figura 4 Total dos artigos publicados por subárea de gestão do produto (2008 2011) Sendo asssim, os dados foram compilados em um gráfico de pareto a fim de identificas as instituições que mais colaboram com o ENEGEP nesta área de interesse (Figura 5). Figura 5 Total dos artigos publicados por instituição do primeiro autor (2008 2011) 7

Analisando a Figura 5 é possível perceber que não há poucas instituições dominando a área de gestão do produto com muitas publicações. As catorze instituições que mais publicaram no período correspondem a apenas 56,8% do volume de trabalhos (92 artigos), enquanto as demais cinquenta instituições correspondem a 43,2% deste contingente (70 artigos). Há outros dados importantes a se extrair da Figura 5, a exemplo da localização geográfica e da natureza das instituições que publicam. É possível perceber que dentre as 14 instituições apresentadas explicitamente no gráfico, encontram-se representantes de diversas regiões do Brasil (Sul, Sudeste e Nordeste). Além disso, é possível perceber que todas as são instituições de ensino. Ou seja, nenhuma empresa do setor produtivo ou de pesquisa, governamental ou não, publicaram muitos artigos nos ENEGEPs de 2008 a 2011. Prosseguindo a análise, foram identificados os principais temas tratados nos artigos, por meio da leitura de título, palavras-chave e resumo. Quando estes tópicos se mostraram insuficientes para entender do que o trabalho tratava foi realizada uma análise mais profunda, sendo estudados outros tópicos de cada artigo, tais como o método e a apresentação dos resultados. Neste contexto, o primeiro aspecto analisado foi o tipo de produto que cada publicação trata, ou seja, se o artigo trata de bens ou serviços. Além disso, foram criadas as categorias Bem ou serviço ou Não se aplica quando os trabalhos não fizerem menção a quaisquer tipos de produtos ou quando a metodologia apresentada não fizer distinção entre bem e serviço. A síntese deste trabalho é apresentada no Quadro 1. Tipo de Produto Quantidade de artigos Bem 122 Serviço 33 Bem ou Serviço 4 Não se aplica 3 Total geral 162 Quadro 1 Tipos de produtos tratados nos artigos (2008 2011) No que se refere aos setores econômicos (ramo ou indústria), foi possível perceber que os artigos que tratam de bens são em sua maioria não aplicados, consistindo em trabalhos teóricos (13%). Após isso, ganham destaque os setores de alimentos, eletroeletrônicos, automobilístico e Tecnologias Assistivas, ou seja, produtos voltados para o público portador de deficiências. No Quadro 2 são apresentados mais detalhes desta análise. Setor econômico Percentual de Artigos Não aplicados 13% Alimentos 8% Eletroeletrônico 7% Automobilístico 6% Tecnologia Assistiva 5% 8

Indústria moveleira 4% Construção Civil 3% Material de construção 3% Máquinas de grande porte 3% Artesanato 2% Outros 45% Quadro 2 Setor econômico dos artigos que tratam de bens (2008 2011) Quanto aos artigos que tratam de serviços, percebeu-se que a grande maioria dos artigos é aplicada. Os setores mais relevantes em termos de volume de publicações são os de educação, software, supermercados, telecomunicações e mídia. No Quadro 3 são apresentados mais detalhes desta análise. Setor econômico Percentual de Artigos Educação 15% Software 12% Supermercados 9% Telecomunicações 9% Mídia 6% Hotelaria 6% Comércio e Serviços 6% Serviços de saúde 6% Logística 3% Comércio 3% Outros 24% Quadro 3 Setor econômico dos artigos que tratam de serviços (2008 2011) Finalizando a análise, foram identificados os temas tratados em cada artigo, classificados conforme a literatura de engenharia do produto e apresentados no Quadro 4 por subárea de estratificação já apresentadas anteriormente. Engenharia do Produto Abordagem de desenvolvimento QFD Modelos de referência do PDP Arquitetura de Marketing do Produto Comportamento e Necessidades do Consumidor Satisfação do Consumidor Publicidade e propaganda Marketing de Metodologia de Projeto Gestão de projetos Abordagem de desenvolvimento Gestão do PDP Design Adaptação do Pesquisa de mercado Comportamento e Necessidades do Consumidor Satisfação do Consumidor Viabilidade técnica e econômica Planejamento do produto Desenvolvimento de um produto Gestão do PDP Ecodesign Atividades de prédesenvolvimento 9

produtos Melhoria do produto Relacionamento Estratégias de marketing PDP Embalagem Estratégia competitiva Maturidade do PDP Quadro 4 Temas mais abordados nos artigos por subcategoria de engenharia do produto (2008 2011) É possível perceber, pela análise do Quadro 4 que as subáreas de Marketing do Produto e Pesquisa de Mercado estão focadas prioritariamente no mercado, ou seja, naquilo que convencionou-se chamar de voz do cliente. Por sua vez, os temas constantes em Engenharia do Produto, Metodologia de Projeto e Planejamento do Produto versam sobre áreas técnicas e gerenciais do desenvolvimento de produtos, sem uma clara separação entre estes e as subcategorias. 5. Considerações Finais Desenvolver tecnologias e produtos diferenciados deve ser uma meta importante para qualquer empresa ou país que vise alcançar mais retorno em seus negócios, gerando e distribuindo mais riqueza. Indubitavelmente, as metodologias de projeto de produto fazem parte deste escopo. Sendo assim, esse artigo visou identificar qual o perfil dos artigos publicados nos últimos quatro ENEGEPs na área de gestão do produto, visando iniciar uma investigação acerca das potencialidades da contribuição da engenharia de produção neste tema. Como achados foi possível verificar que a maioria dos artigos é de natureza aplicada e tratam do desenvolvimento ou análise mercadológica de bens. Além disso, pode-se perceber que as áreas mais claramente identificadas com a engenharia de produção, tais como Engenharia do Produto, Metodologia de Projeto e Planejamento do produto também contribuem com mais artigos que as áreas de Marketing do Produto e Pesquisa de mercado, usualmente ligadas com a Administração de Empresas. Por fim, é importante destacar que foram identificados os setores econômicos e os temas abordados nos artigos. Relativamente ao ramo de atuação, foram identificados desde setores inovadores, como automóveis, softwares e eletroeletrônicos, como setores mais tradicionais, como artesanato e supermercados. Com relação aos temas, é possível encontrar tanto artigos de natureza quantitativa, quanto qualitativa. Além disso, verifica-se que a grande maioria tem conteúdo mais gerencial que técnico dos produtos. Por fim, deve-se destacar que a pesquisa realizada encontra algumas limitações, tais como a profundidade de análise dos artigos e o uso apenas dos Anais dos ENEGEPs como fonte de consulta, o que impede generalizações sobre a área de Gestão do Produto no Brasil. Para tal, é necessário pesquisar artigos publicados em Periódicos e em outros eventos. Sugere-se, assim, a continuidade deste trabalho de levantamento e investigação a fim de identificar pontos positivos e de oportunidades de novas pesquisas nesta área no país. Referências ABEPRO. Anais do XXVIII ENEGEP - Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 2008, Rio de Janiero, RJ. Anais do XXVIII ENEGEP, 2008. ABEPRO. Anais do XXIX ENEGEP - Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 2009, Salvador, BA. Anais do XXVIII ENEGEP, 2009. 10

ABEPRO. Anais do XXX ENEGEP - Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 2010, São Carlos, SP. Anais do XXX ENEGEP, 2010. ABEPRO. Anais do XXXI ENEGEP - Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 2011, Belo Horizonte, MG. Anais do XXX ENEGEP, 2011. BACK, N. Metodologia de projeto de produtos industriais. Rio de Janeiro: Guanabara Dois: 1983. COOPER, R. G.; EDGETT, S. J. Product development for de service sector: lessons from market leaders. New York: Basic Books, 1999. ROZENFELD, H. et al. Gestão de Desenvolvimento de Produtos: Uma referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006. SALGADO, E. G. et al. Modelos de referência para desenvolvimento de produtos: classificação, análise e sugestões para pesquisas futuras. Revista Produção Online v.10, n.4, 2010. TRAVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 1997. WHEELWRIGHT, S. C.; CLARK, K. B. Revolutionizing product development. 10. ed. New York: The Free Press, 1992. ZANELLA, L. C. H. Metodologia da pesquisa. Florianópolis. SEaD/UFSC: Ressuscitar, 2006. 11